segunda-feira, 16 de maio de 2022

Domingo de merda

Quem aí sabe o que é uma festa de criança? "Criança cansa"! Panqueca, cachorro-quente, pizzinha mole, pipoca, refrigerante, cerveja, gritaria, parabéns a você, bolo, brigadeiro, fica mais um pouco.... "Posso pular pela janela?" Pois bem, no sábado tive que ir a uma e saí de lá sonhando era no domingo ter um pouco de paz, ficar quieto, não ver ninguém, sair para pedalar um pouco e comer a comida mais sadia e leve possível. "Pelo amor de Deus, pensar em comida agora não!" 

Acordei cedo no domingo, olhei pela janela e vi que um dia lindo. Tomei o café da manhã vendo O mágico de Oz original enquanto esperava o começo do Globo Rural. Em minha santa inocência nunca tinha reparado que o leão é completamente gay.  E tocou o celular. Vejo TM, olho para o relógio e acho estranho. "Tão cedo?"
- Bom dia
- Acordei e olha o aconteceu, e saiu caminhando com o vídeo aberto. Minha ansiedade começou a subir. Quando a imagem parou vi uma bagunça que não entendi. - A estante (da cozinha) caiu a noite e eu não ouvi. Quebrou tudo.
- Ai!, ai!, foi todo o mel? 
- Foi tudo.
- Espera que vou para aí e te ajudo a dar ordem. Desliguei o celular e imediatamente passou o filme: "puta merda! Acabou meu domingo!"
Terminei rapidamente o café da manhã, fiz a barba, escovei os dentes e deixei minha casa sem olhar para trás com cara de quarto de adolescente revoltado porque foi acordado cedo depois de uma madrugada de rede social. Peguei a bicicleta, fui pelo caminho longo. Boa notícia, mesmo pedalando um pouco mais pesado foi a primeira vez que não senti o cansaço impiedoso que o pós Covid provoca. Horroroso, dolorido, completamente diferente de um cansaço sadio. Qualquer esforço um pouco além do normal e do nada, sem nenhum sinal prévio, como se você sem querer tivesse batido num interruptor, o corpo desliga seguido de uma dor macabra, sim, macabra. Estive com João uns dias antes e ele disse que está sentido igual, o mesmo João que antes da pandemia foi para Salvador pedalando. 
Suado entro no apartamento. Olho o desastre. "Ai! meu mel. PQP, foi também o mel da terra (muito raro e caro)". Mãos a obra. Deu trabalho e depois de umas duas horas o chão e tudo mais estava limpo, até os menores cacos que queriam continuar escondidos foram recolhidos. Caixa de papelão cheia, fechada num saco de lixo, aviso colado: Cuidado! Vidro, desastre levado para lixeira no térreo. Sem um corte na mão. Alegria!
- Espaguete alho e óleo?
- Opa! Cervejinha e depois soneca.
Ainda meio torto da soneca toca o celular. Pego de má vontade, olho a tela, Bel. "Bel? O que será desta vez?" Atendo e antes de entrar o vídeo ouço o pranto. Imagem a postos, palavras a mil, não entendo metade, meio rolo de papel higiênico limpando a chuva de lágrimas e melecas, muitas melecas.  
- O que houve? Mas antes dá para parar de tirar meleca ao vivo?
- Quando eu choro não para de sair meleca... E toca contar as novas, as velhas, as raivas... e eu ouvindo uma, duas horas. Enquanto tentava acalmar, ou, tentava acalma-la para desligar e me mandar para meu domingo sonhado... pensei, ora pensei, que Deus me perdoe, pensei "tenho que ser bonzinho", mas Deus que me perdoe pensei  "Puta que o pariu! acabou o domingo!". 
Uma, duas horas depois, terminada a conversa, conversa?, abri a porta e saí correndo. Atordoado, pego a bicicleta e... e... e... a porra da portaria eletrônica não lê minha digital. Portão aberto, bunda no selim, olho para o céu, final de tarde de outono. Lindo. "A pá puta que os pariu todos, inclusive eu, vou pedalar até a puta que o pariu. Foda-se! Sei lá o que tenho que fazer amanhã? A puta que o pariu o amanhã. Foda-se!" e disparo sem saber onde ir, nem tinha cabeça para tanto, as duas horas pela manhã, mais as duas horas à tarde, mais minha vontade de peidar alho, tudo junto na cabeça rodando como nuvem, e para ajudar passo rua França e sou cercado por carros manobrando para tudo quanto é canto. A barrulheira e gritaria não nega: festa de criança. "Pelo amor de Deus, deixa sair correndo daqui'. Para onde vou? Fui.






















Feliz. 
E cansado.
Paro, tomo um açaí. Ainda tenho fome. Paro de novo um pouco mais a frente e peço um hambúrguer de frango. Sento fora, começo a comer. Bom, feito na hora, crocante, "Vai cair bem". Sentados na mesa vizinha dois funcionários em hora de descanso conversam. 
- Não acreditei quando vi você lá dentro (da hamburgueria) travada (bêbada).
- Cheguei direto da balada. Amigo, você nem viu quando fui pro banheiro e despejei (vomito). 
- Não, acho que os outros também não.
- Amigo, não consegui no banheiro, então despejei no matinho (o jardim da hamburgueria, mas fiquei na dúvida, qual deles, o da esquerda ou direita?).
"O que eu faço? Caio na gargalhada ou despejo meu hambúrguer no colo desta idiota?"

Home, sweet home.
e gran finale, Lua de sangue. Amanhã as bruxas nos salvarão.  

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