quinta-feira, 29 de março de 2012

Paris transporte de massa

Bondes maravilhosos; ônibus confortáveis; metro fácil, mas maltratado. Chega-se facilmente a qualquer destino. Os horários são cumpridos e é previsível o tempo de viagem. Que difereça!!!!
















motos de Paris

Os problemas gerados pelas motos em Paris são menores que em São Paulo, mas bem sensíveis.















A imprensa e os acidentes



Por ai sei que a morte de Juliana na av. Paulista detonou uma onda de protestos e interesse da mídia pelo tema. Minha pergunta é até quando e com que resultado. Não tenho visto qualquer nota sobre o processo do atropelamento fatal do Victor Gurman e muito menos sobre o Leonardo Araújo dos Anjos que morreu atropelado depois da festa de calouro da FEA e que infelizmente e provavelmente passará para história como mais um caso indigente, mesmo já sendo aluno oficial da USP SP. Vi a primeira página do atropelando do ciclista em Brasília pelo filho do Eike Batista com sua Mercedes tri-especial. Este ciclista morreu, mas não ficou no anonimato.
O que me deixou feliz nestes dias foi ver uma discussão entre os membros da UCB, União dos Ciclistas do Brasil, sobre os esquecidos e indigentes. Venho repetindo que “ou todos temos segurança ou ninguém tem segurança”. Não existe esta coisa que eu construo meu próprio castelo, na minha região é mais segura, e outras bobagens que nós, brasileiros ainda estamos acreditando. É uma questão de cultura: temos que perceber que a Idade Média já acabou faz tempo. A sociedade atual tem uma tal dinâmica que qualquer isolamento é facilmente contaminado.
O trânsito previsível de Paris, NY ou Montreal torna-se bastante perigoso quando um adolescente cheio de hormônios ou qualquer um (ou uma) que não saiu da adolescência decide fazer o que quer. Um dos problemas é a situação que eles estão criando naquele exato momento, o outro, muito pior, é a contaminação social. “Se ele pode, eu também posso”, um pensamento normal, mas muito perigoso. Quase proibiram o uso da bicicleta em NY por causa do alto número de acidentes gerados pelos bike courriers. A imagem da bicicleta era a dos courriers e a população nova-iorquina tinha horror a ciclista. Controlaram os ciclistas mais atrevidos e transformaram a cidade numa das mais agradáveis para se pedalar. Notícia ruim é repetida 83 vezes, enquanto as boas novas só são repassadas 3 vezes; diz a ciência.
Por aqui não vejo mais noticia sobre o acidente com o ônibus no túnel de Sierre, Suíça, mas tenho certeza que gente trabalhando no caso e que haverá resultados, tanto na justiça quanto revisão técnica da segurança rodoviária, e assim que houver novidades será publicado. Anormalidades são tratadas com bastante atenção pela sociedade europeia, principalmente quando envolvem crianças. Acidentes como aquele são raríssimos por aqui, mesmo assim ouvi uma conversa de mãe para mãe sobre a preocupação de seus filhos saírem de férias numa excursão em ônibus.



quinta-feira, 22 de março de 2012

Paris, projeto urbano e Velib


Ontem, finalmente, depois de uma longa luta para conseguir preencher os quesitos necessários, consegui sair pela primeira vez numa Velib. Basta desbloquear, ajustar o selim e sair pedalando. Há postos Velib por toda a cidade e é fácil largar a bicicleta. Mas foi para mim, um estrangeiro, uma luta conseguir preencher o formulário na internet. No final quem conseguiu foi uma amiga francesa.
A experiência foi até emocionante, mesmo sendo eu bem vivenciado nas coisas da bicicleta. A bicicleta em si é pesada, mas roda muito bem, é estável, tranquila, previsível. Tem 3 marchas internas no cubo e freios convencionais. Ao primeiro movimento o dínamo interno ao cubo de dianteira aciona automaticamente o farol e a lanterna traseira e mesmo depois de parado estas permanecem acesas por um bom tempo. A cestinha dianteira é obviamente prática e conta com um cabo de tranca em espiral. A conservação está sendo bem feita e é difícil ver alguma torta, desalinhada ou muito desajustada. Já usei 4 delas e só em uma o câmbio poderia estar mais bem ajustado. Tentei ajustar, mas obviamente o sistema, como toda bicicleta, é estanque a curiosos.
É possível contratar por um dia, sete dias ou um ano, que foi o que fiz. Dai as minhas complicações. Por um dia basta colocar o cartão de crédito e sair pedalando, o que muito turista faz, mas eu não consegui. Ontem tentei ajudar uma carioca que também não conseguiu.  Quando se vai para um ano há duas opções: 29 Euros para 30 minutos de uso por vez, ou 39 Euros para 45 minutos por vez. Optei pela segunda, mas mesmo assim creio que tenha estourado o tempo na numa das saídas. Vou ter que pagar um acréscimo.
Numa das saídas acabei seguindo uma senhora de uns 50 e poucos anos que também estava numa Velib. Ela estava pedalando numa ciclovia de avenida que termina na rotatória do Trocadero, que é um pouco complicada para ciclistas. Fiquei impressionado com a forma como ela se lançou ao transito. Quando ela terminou a rotatória conversei com ela, que confessou que passar por ali não é fácil, mas que o prazer e facilidade de pedalar compensa. O trânsito de Paris é bem fácil porque os motoristas estão bem acostumados com os ciclistas e não há agressões de ambas as partes. As avenidas são bem largas o que diminui o nível de tensão geral, mesmo quando a bicicleta está no interno de bairro que é muito estreito e faz com que o motorista tenha que se manter atrás.

O Velib, as tão famosas bicicletas comunitárias de Paris, não foi o passo inicial para estimular o uso da bicicleta, mas foi a sequencia final de um projeto de transformação da cidade. O problema no Brasil é que queremos discutir bicicleta sem fazer ideia do que é, ou deveria ser, uma cidade. Parece que vão colocar 300 postos de bicicletas comunitárias em São Paulo, mas o dever de casa da CET não foi cumprido e o ciclista está jogado a sua própria sorte. Infelizmente os políticos entendem mesmo é de festa e votos e repetem a Ciclo Faixa de Domingo de São Paulo em várias cidades do páis, mas não fazem praticamente nada pelo uso da bicicleta como modo de transporte. Repito: o caso da Ciclo Faixa de Domingo é resultado de uma briga de foice no escuro entre o primeiro escalão de Serra, que queria a bicicleta no dia a dia, e uma CET desinteressada por qualquer coisa que não fosse motorizado. Fazer para o lazer acabou virando propaganda política. Provavelmente como será o Velib paulistano, ou de qualquer outra cidade. Vai funcionar? Claro que sim. A demanda reprimida é enorme, em todas grandes cidades. A população não aguenta mais a cidade na qual vive. Nossa qualidade de vida é muito ruim.

domingo, 18 de março de 2012

Beleza, futuro, susto e inconsciencia


Dentro do vagão de metro, em uma composição que imagino seja dos anos 50 ou 60, de vagão pequeno, estreito, paredes finas e janelas grandes, a maravilhosa mulher jovem sentada a minha frente, pequena, delicada, de traços fortes e pintura de rosto discreta, não tira seus olhos verdes, como água translúcida de nascente, contornados por rímel azul escuro, do texto do I.phone. Seus dedos e unhas redondas, bem tratadas e pintadas num vermelho discreto, praticamente acariciam em movimentos suaves, como se ajeitasse a seda do lenço florido, a tela. O vestido preto preso à cintura por um cinto bem estreito feito de pequenos adereços variados e parisienses marca o corpo jovem de pernas cruzadas que apontam uma bota de cano longo e salto não muito alto. A expressão compenetrada traz a ela um ar elegante, de mulher...

Uma imagem explode na janela e nesta fração de segundo percebo passar luzes de janelas que vão na direção contrária, junto com o barulho de sua composição que logo silencia e só me resta a desorientação dos ecos e rangeres do metro que estou viajando. A deslumbrante jovem sequer moveu os olhos da celular. Para ela aquela composição que passou simplesmente não foi registrada, não existiu. Olho para os lados procurando rostos, expressões, e todos seguem em suas realidades. Minha cabeça assustada está acessando acidentes, colisões, o ocorrido nesta semana no túnel de Sierre, Suíça, onde 28 dos 50 passageiros morreram numa colisão sem explicação dentro de um túnel. Vinte e duas das vítimas eram crianças.

Lembro dos velhos filmes de competição de carros, dos primeiros anos de Fórmula 1 que acompanhei onde era comum haver algumas mortes por ano, de minhas loucuras quando comecei a dirigir, de colisões frontais que já vi. Passo para os biciclos, as primeiras bicicletas de roda grande na frente, que eram extremamente perigosas. Vejo a gravura de um livro que mostra uma “bonne shaker” (biciclo) prestes a começar uma descida íngreme onde se lê um aviso sobre o perigo da descida para os ciclistas. Muitos se machucaram feio, mas provavelmente machucar-se era natural à vida, a sobrevivência numa época ainda sem piedades.

Na linha do metro na qual estou as composições passam realmente muito perto uma da outra. A velocidade normalmente é baixa porque há muitas curvas, mas naquele exato momento íamos bem rápido. Nos acostumamos a que o sistema do ir e vir funcione, que coisas passem raspando sem que tenhamos qualquer reação. “Vai dar certo” está tatuado em nossas cabeças e não poderia ser diferente. Do contrário não teríamos seguido em frente.

Há um paralelo ai com a coisa virtual. Se a evolução fosse deixada para os mais velhos, a maioria assustada com as mágicas assustadoras desta nova era, não teríamos chegado onde chegamos. Mudou tudo, mas não mudou o processo de evolução. A cada evolução novos temores que depois se dissipam e só voltam a tona quando o que pode não dar certo volta, por alguma razão, à tona. E então os temores voltam, algumas vezes apavoram, mas normalmente passam. “Vai dar certo”.

Não me lembro qual o nome daquele filme no qual uma garrafa de Coca Cola cai de um avião e é pega por um menino de uma tribo primitiva da África, entendida como algo divino que tem que ser devolvida aos seus donos, homens europeus. Esta armada a confusão da novidade, o desconhecimento, e a procura por solução. Ninguém se entende porque a realidade dos fatos é tão obvia e distantes entre as partes que não faz sentido. O obvio não assusta. Depois que se habituou fica mais fácil, não se pensa nos efeitos, nas consequências.

O velho vagão de metro de Paris segue em frente. “Qual será sua manutenção?”, penso eu. A jovem maravilhosa continua ali, encrustada em sua tela. Seu mundo é outro. Como terá sido a transição desta nova geração de eletrônicos, binários, digitais, ou que quer que seja,  que hoje pedala comigo. Como foi sair da verdade virtual para a realidade dos pedais. Como terão sido as emoções, os primeiros medos, o cair na vida real do perceber, mesmo que só num sutil pensamento, que somos frágeis, mas que a liberdade vale mais que a fragilidade, o desaparecer. Será que o digital oferece esta opção de realidade?

Chegou minha estação. Espero a composição parar e aciono a alavanca de abertura da porta, que se abre. Desço, ando uns poucos passos, mas paro e volto meus olhos para as grandes janelas em busca de uma última visão da linda jovem. A composição passa e não a vejo. Está escondida no meio da massa, provavelmente olhando para sua tela. A composição entra pelo túnel e desaparece. Silêncio. Olho para escada de saída para rua e vejo que a vida continua.

Chove e faz frio. Caminho para casa de cabeça baixa e vejo no chão um jornal de hoje com uma manchete sobre o acidente de Sierre. Passados quatro dias a notícia ainda está fresca nos corações e mentes europeus. Acidentes como este são raríssimos por aqui, quase o oposto do que acontece no Brasil. Não se sabe a causa, mas há duas hipóteses fortes: mal súbito do motorista ou falha mecânica do ônibus. No dia seguinte já se falava nas medidas que devem ser tomadas imediatamente para evitar a repetição do fato. Mas todos vão se cruzar de frente bem próximos e rápidos.

Vou comer alguma coisa. Entro num restaurante e dou com um grupo de jovens sentados numa mesa, cada um teclando seu celular e todos em silêncio. O garçom deposita os pratos na mesa e só um deles olha para ele e agradece. Não há nem velocidade, nem colisão. De novo voo nas imagens e lembro um grave acidente aqui em Paris, com um Renault Clio destroçado na traseira por uma Mercedes. E um rapaz aos urros no celular. Segui em frente a pé para meus estudos. A curiosidade estava satisfeita. Depois das aulas já não me lembrarei mais da jovem, do susto, e desta colisão. A vida é assim.

sábado, 17 de março de 2012

Ratos, treinamento, futuro



Ainda novo, na faculdade, nas aulas de pedagogia e sociologia, aprendi o óbvio que hoje estamos vivenciando intensamente no dia a dia: qualquer espécie viva precisa de um determinado espaço para viver e quanto mais adensado for o ambiente, mais tenso se torna a relação entre os indivíduos. A demonstração científica é simples: basta em um espaço determinado ir aumentando progressivamente o número de ratos. A condição individual e coletiva vai degradando até o ponto de ruptura social, com a consequente luta pelo espaço próprio de sobrevivência, ou seja, explosão da violência.

            Humanos tem um grau de adaptabilidade enorme, se comparado a outras espécies. Como espécie, chegamos onde estamos porque fomos capazes de organizar a vida comum através de treinamento e educação. Mesmo assim estamos passando por uma época de ruptura social de consequências ainda não definidas.

Até os animais passam por estes estágios de aprendizado. O primeiro está relacionado às habilidades físicas, hoje também considerada uma inteligência, que qualquer animal, incluindo da espécie humana, forma através de testes que chamamos de brincadeiras, o treinamento básico para a sobrevivência. A partir de um determinado estado evolutivo é necessário educar para tarefas específicas, o que nós, humanos, fazemos dentro de escolas e faculdades num trabalho mais mental, normalmente pouco prático. Outras espécies educam pela prática, como mostra qualquer documentário de vida animal.

            Trânsito, no sentido de movimentação de seres e objetos, é um dos sistemas de organização social mais básico. Mesmo um retardado profundo, com suas limitações claríssimas, aprende que tem que passar pela porta e não pela parede, e que para caminhar na rua tem que desviar dos obstáculos do caminho. É um aprendizado que parece simples, mas na realidade é muito complexo, dado a quantidade de informações aprendidas, e é feito através principalmente de treinamento de erros e acertos. Uma vez aprendido como “cruzar” as coisas sem se machucar o resto do processo é procedimento normalmente simples de ser assimilado.

            Qualquer um consegue se locomover no trânsito das cidades atuais por que é essencialmente uma questão física de sobrevivência. Um vira lata aprende a cruzar a rua e caminhar nas calçadas. Mas as movimentações aumentaram, se complicaram e sofisticaram a tal ponto se tornou necessário educar as pessoas para sobreviver neste caos controlado. As regras do funcionamento de trânsito, que existem a milênios, foram sendo desenvolvidas para facilitar a vida de todos e ser cada dia mais segura, como de fato é. Hoje as informações para os usuários das vias são simples, básicas, de fácil e rápida compreensão para todos; independente da capacidade mental.

            Adensamento do trânsito e consequente aumento de agressividade; mais tempo gasto em transporte e consequente perda de tempo de convívio; um sistema de comunicação digital eficiente, e cada dia mais portátil, que supre o tempo perdido nos deslocamentos, mas que reprime o treinamento do convívio humano, do partilhar, da sobrevivência coletiva. Chegamos à comodidade da individualidade desconectada de qualquer pressão de organização relacionada à sobrevivência coletiva. Grande parte da sociedade está ou no vício do automóvel e ou profundamente contaminada por seus traficantes. E novos vícios entranham a sociedade gerados pelo computador e sua inteligência artificial. Interessante a expressão “inteligência artificial”. Aumentar o número de ratos no mesmo espaço e dar-lhes uma inteligência artificial.

            Tendo justamente neste momento de crescimento urbano a beira do colapso, e tendo em vista que a educação formal, escola e faculdade, está cada vez mais rala, incipiente, e provavelmente ainda deve piorar, e que ainda não fazemos ideia no que vai dar esta formação mental gerada pela mídia eletrônica, só nos resta procurar uma saída para sobrevivência geral. Acredito que o caminho está em reorganizar a sociedade urbana através de um sistema simples, basicamente binário, permitido – proibido, vai – fica, o que já vivemos no trânsito. A responsabilidade de quem está envolvido neste meio é muito maior que possa parecer a princípio. É crucial. É dos poucos nós que oferece resultados à curto prazo e ser desatado com certa facilidade.


quarta-feira, 14 de março de 2012

Bike thief NY

Infelizmente nao posso escrever um texto agora, mas a questao do roubo de bicicleta aqui em Paris é bem complicado.
Este artigo sobre o problema de roubos em NY mostra uma situacao que provavelmente vamos chegar em todo Brasil
http://www.nytimes.com/2012/03/13/opinion/bike-thief.html?_r=1&emc=eta1

Ps. estou escrevendo de um teclado muito diferente do usado por nos no Brasil
abracos > ou abrassos, como queiram

terça-feira, 13 de março de 2012

Paris, motos, bicicletas e ônibus


Estou há uns 10 dias aqui em Paris, vivenciando dois bairros que normalmente um turista não vê, mesmo sendo os dois na área central da cidade. Um deles, atrás da Estação de trem de Montparnasse, de gente mais simples. O outro é La Mouet, a uns 2 km do Arco do Triunfo, bem mais sofisticado, com construções antigas e algumas realmente maravilhosas.

Há muito mais motos e principalmente scooters circulando pela cidade do que da última vez que estive por aqui, creio que em 2007. Estão estacionadas por todas as partes, inclusive calçadas, e parece que as autoridades fazem vista grossa quando estas realmente atrapalham a passagem dos pedestres, o que é relativamente comum. O número de estacionamentos regulamentados está muito longe de suprir a demanda. Mas o que me espantou foi ver, várias vezes, motociclistas circulando pela calçada, alguns até em velocidade alta. Nem em São Paulo vi tanta cara dura. Os parisienses parecem resignados e não reclamam. Numa das situações perdi a cabeça e desandei a gritar com um motociclista, e o gozado é que todos olharam para mim espantados, mas gostaram.



Estou numa lavanderia esperando a máquina terminar o trabalho. Ao meu lado há uma menino de uns 4 ou 5 anos, máximo, completamente quieto, me vendo teclar. Acabei abrindo uns filmes que tenho de Montreal e NY para ele ver e em todos não vi uma moto sequer circulando pelas ruas. Complemente diferente de Paris.

O interessante daqui é acordar cedo e ver pais e mães levando seus filhos para a escola. Há muita menina nova, lindas e bem vestidas, circulando em pequenas scooters réplicas de Lambretas. Há também várias Vespas e Lambretas originais, restauradas, perfeitas, sem soltar qualquer fumaça. Muitas scooters recebem uma espécie de capa de proteção para as pernas do motociclista, o que no frio deve ajudar muito. Há um modelo da Honda que é intermediário entre uma moto normal e uma scooter, ou seja, uma scooter com rodas grandes. Bem interessante.

Fiz uma foto de uma velhinha que espero que gostem. Eu adorei. Se pudesse obviamente a teria comprado. Linda! Aliás, eu gostaria de levar ela, mais uns Renault 4, Citroen 2CV, Fiat 500 original e outras coisinhas velhas, estranhas e especiais que ainda circulam normalmente. Maravilhosas!!!

Um detalhe muito interessante: vi algumas 125 YBR circulando por aqui. O pessoal usa mesmo moto grande – todas com silenciador em ordem – ou scooter. Moto pequena é rara. Há uma Ducatti bicilíndrica em V imensa, que não faço ideia do que seja, mas é linda.

Todos os ônibus de transporte municipal são automáticos e com piso baixo em toda a cabine. Os nossos ditos piso baixo tem um degrau no meio que sempre considerei um crime. Paris é praticamente plana, o que ajuda no uso dos ônibus automáticos, mas tenho a sensação que os daqui são mais suaves. Pode ser por causa do treinamento dos motoristas, que no geral são muito suaves na condução. Mais ao estilo brasileiro só uma motorista mulher, grande, bonita, simpática, mas uma verdadeira vaca louca para os padrões da cidade. A madame sabia muito bem o tamanho do ônibus e em nenhum momento sentiu qualquer constrangimento em usar sua força – sorrindo, é lógico. Ao contrário dos homens que tem um cuidado na incrível condução.

A relação dos ônibus com as bicicletas é tranquila. Os ciclistas, com raríssimas exceções, tem um comportamento tranquilo e seguem as regras. Muita mulher pedalando, todas bem vestidas. É muito raro ver um ciclista vestido de “franga”. Há uma quantidade relativamente grande de bicicletas elétricas, mas geralmente o pessoal pedala e usa o motor em momentos específicos, como subidas ou rotatórias.

Para terminar, fiz uma pequena excursão no fim de semana, e fomos num ônibus com câmbio mecânico de 12 marchas, 6 normais e 6 reduzidas, mas de acionamento computadorizado e automático. É como se um piloto de Fórmula 1 estivesse mudando as marchas de um câmbio tradicional, até com punta-taco, aquela técnica de redução de marchas usando a ponta do pé no freio e o salto do sapato no acelerador para acertar o giro e fazer as marchas entrarem no tempo. Tivemos que fazer uma frenagem de emergência e eu ainda estava achando que o ônibus era mecânico puro. Fiquei pasmado com a redução de marchas absolutamente precisa. O motorista, Ms. Theiry, tinha 30 anos de estrada, dirigia com uma suavidade incrível, duas mãos ao volante, braços a 45 graus, passar de mãos sobre o volante clássico, perfeito nas curvas, o que ajudou demais na agradabilíssima viagem, talvez a melhor que fiz na vida.

Desculpem, a foto da moto velhinha está na maquina lá em casa e mando depois. Até.

terça-feira, 6 de março de 2012

Juliana: mais uma

Os números oficiais e uma conclusão besta.

Nos últimos 10 anos pararam no IML paulistano mais de 6.000 pedestres. Os mesmos números dão conta que hoje temos um pouco mais de 60 ciclistas mortos por ano. Fazendo a regra de 3 é possível concluir que dentro 100 anos as autoridades competentes vão tomar alguma providência em relação a segurança dos ciclistas.

A brincadeira, aparentemente de mau gosto, tem lá seu sentido.

O pouco que foi implantado até hoje é praticamente todo voltado para lazer. Ciclista que se transporta, que é quem está mais exposto às tensões do trânsito, continua largado à própria sorte. O maior progresso que tivemos foi o fato de que as próprias autoridades terem percebido que a quantidade de ciclistas apontada pela OD Metro está muito abaixo da realidade. Ninguém sabe ao certo quantos ciclistas circulam nos dias de semana pelas ruas de São Paulo, mas todos concordam que está crescendo rapidamente. A morte de Márcia, que chocou a cidade, não diminuiu o ritmo de crescimento, e não será a morte de Juliana que o fará.

Eu já cheguei ao ponto de acreditar que o caminho é investir unicamente na educação e deixar de lado planos mirabolantes de ciclovias, ciclofaixas e outros. Duvido que o façam porque educação é planejamento para longo prazo e absolutamente invisível aos olhos do eleitor. Ademais há um problema de cultura das próprias autoridades, que em boa parte são xucros. 




Juliana

Diferente do acidente da Márcia, quando consegui falar com policiais que trabalharam no processo, o pouco que sei sobre o acidente de Juliana Ingrid Reis é o que está escrito nos textos publicados na Internet. E segundo depoimentos de testemunhas colhidos por estes, Juliana perdeu o equilíbrio depois de tirar a mão do guidão para argumentar com um dos motoristas envolvidos no acidente.

Infelizmente não temos uma polícia técnica com condição de trabalho ideal que permita saber exatamente o que houve. Acredito que a única saída para nossa guerra civil, sim, guerra civil, está na lei, no legalismo. Me recuso a apontar culpados, me recuso a linchar.




“Qualquer veículo mal conduzido é perigoso” – Luiz Dranger.

Sou guia de passeios desde 1988 e ensino quem não sabe pedalar a mais de 8 anos. Não tenho a menor dúvida que a maioria dos acidentes envolvendo bicicletas decorre do erro do próprio ciclista. Não é uma luz empírica de minha cabeça, mas o que os números internacionais apontam isto. Repetindo, como sempre: mais de 50% dos acidentes é responsabilidade direta do ciclista e em 90% dos casos o condutor (de qualquer veículo) tem alguma responsabilidade sobre o ocorrido.

No atual fenômeno do crescimento do uso da bicicleta pela classe média brasileira fica claro que há um grave problema na forma de condução destes novos ciclistas. Os erros vão desde bicicleta inapropriada para o uso, o mais comum, passando pelos vícios trazidos da condução do automóvel ou moto, e terminando na natural falta de prática, maturidade ciclística. O pior deles talvez seja acreditar que é um ciclista só porque consegue equilibrar a bicicleta. A tradicional classe média está passando por uma crise de identidade pesada que bate até na questão da bicicleta, mas é ir muito longe.



Escolha: conflito ou paz?

É absolutamente certo que quem briga no trânsito está muito mais suscetível a cometer erros ou sofrer acidente. É absolutamente básico em segurança geral, não importa se de trânsito, trabalho, caseira, ou onde quer que seja. Aumentou a tensão, aumentou o risco. Um mais um são dois.

Estimular para o conflito é absolutamente improdutivo, a história está farta de provar isto, mas há quem ainda acredite que é a única saída. Inocência, imaturidade, falta de cultura ou burrice mesmo? Um pouco de cada e todos juntos, mas normal em um país em guerra civil não declarada como o nosso.



Controle social, multa e educação

Desculpem os inocentes, mas sem controle social, sem punição e sem educação não se vai a lugar nenhum. Aliás, vai: se chega aos bairros das gangues, do tráfico, da violência. Anarquismo, não é o que maioria delira, definitivamente não é. Anarquismo para valer, com “A” maiúsculo, depende de uma sociedade altamente educada, muito responsável e, por consequência, com uma noção claríssima de coletividade. Completamente diferente da mediocridade que está por ai.

Trânsito e baderna mata. É simples. Ponto final. O contrário é disciplina no trânsito, que oferece segurança, tranquilidade e salva vidas. O Brasil não está preparado para esta entender esta diferença, principalmente agora que todos ganharam carro “quase de grátis”. “Liberô geral”. Foda-se a cidade, foda-se a vida.

Não conheço o orçamento da CET, mas a sensação que dá é que o investimento em educação para o trânsito é pífio. O que há está longe de ser o necessário. E não gosto do teor do programa implantado para pedestres. Gostaria de ouvir os criadores do programa para entender sua pedagogia, mas duvido que eles queiram vir a público.



Recomendação simples:

Por causa da minha prática com ensinar a pedalar eu recomendaria que se ensinasse a parar os veículos, o que a maioria dos condutores, principalmente motociclistas, faz mal. Tirar o pé ou a mão do acelerador é algo que não passa pela cabeça do pessoal. A diferença de tempo ai é grande e muda todo cenário de perigo.





Av. Paulista

Como fizeram a reforma da av. Paulista sem pensar nos ciclistas o mal já está feito. Só um cego não consegue ver a quantidade de ciclistas que passa por ali. Não dá para acreditar que simplesmente “esqueceram”. 

Não há outro caminho tão reto, plano e natural para o ciclista. As paralelas são mais estreitas, não são planas, estão saturadas, tem um trânsito que vai aos trancos, tem menos luz, há uma grande variação de sombra e luz,  situações pouco apropriadas para ciclistas.

A av. Paulista está congestionada boa parte do tempo. Gostaria de saber qual é a velocidade média dos carros e dos ônibus. Não deve estar longe da do ciclista. Talvez ai esteja a solução. Em Paris vários trechos de avenidas são partilhados entre bicicletas e ônibus, praticamente sem conflitos. Não sou estúpido, sei que há diferenças fundamentais, que são propositadamente exageradas em nossas pastagens, mas nada que creio seja impossível de resolver, pelo menos em São Paulo. O não reconhecimento do legado da CET por ela própria sempre aparece rapidamente quando os próprios não estão afins de algo. Nestas horas deixamos de ser todos humanos e os motoristas paulistanos passam a categoria de bestas do apocalipse.

O que nos falta?

·         Os ônibus parisienses são automáticos. O nível de ruído na cabine é muito menor que o dos nossos. O motorista é autoridade máxima dentro de seu veículo, o que faz uma brutal diferença no equilíbrio emocional do próprio motorista. Ele trabalha resguardado por uma meia cabina, que com um simples levantar de um vidro o deixa completamente isolado. Há policiais em bicicleta coibindo para valer, com multa imediata, qualquer invasão de motorista na faixa exclusiva dos ônibus. A sinalização viária é farta. O pavimento não tem buracos. O motorista dirige muito menos estressado e só trabalha por 7 horas diárias, máximo.

·         Julgar que o motorista de ônibus paulistano nunca conseguirá chegar ao nível de qualquer motorista de primeiro mundo é ter muita má vontade ou, pior, má fé. Pior, é não reconhecer o trabalho destes homens, o que é uma sacanagem.

·         Pela quantidade de pessoas circulando na Paulista os motoristas deveriam ter um critério de escolha e treinamento específico. Creio até que já haja algo neste sentido, mas se houver precisa ser aperfeiçoado. E de preferência manter sindicatos e outras corporações fora do jogo. Vai dirigir na Paulista e em outras vias específicos que tiver cacife para tanto. Meritocracia, meus caros, meritocracia. Um valor ainda complicado para brasileiros, mas garanto que meritocracia faz bem para a saúde geral da nação.

Tem gente que simplesmente acha impossível....




Pão e circo

Política é feita no reflexo do balanço das boas e más notícias. Numa situação crítica como a esta, de morte de uma menina na Paulista, entra no jogo especialistas em comunicação de emergência, com técnicas velhas conhecidas, para apagar o incêndio. Normalmente apagam com poucos danos colaterais, principalmente aqui no Brasil que a memória é curta. Basta dar presentes ao público e bater forte na divulgação de meio verdades. É a cabeça esmagada do ciclista em contrapeso da ciclo faixa de domingo. Bato uma aposta que ganha de lavada o lazer.










Julgamento

Bato uma aposta que quando alguém for julgado, por este nosso fantástico sistema de justiça, e condenado o demônio terá sido colocado atrás das grades e o caso encerrado. Lincha, lincha, lincha!!!! Assasssino!!!

Praticamente não foi tirado nenhum proveito da morte de Márcia, como bato aposta que não será tirado da morte de Juliana. Transitado, julgado, caso encerrado!

domingo, 4 de março de 2012

Sob a morte de Juliana Ingrid Dias na Paulista

"Não assino porque tenho filho para criar..."

Ciclistas morreriam com ou sem implementação de projetos de segurança. A lei, sempre a lei. Mas há algumas diferenças entre fazer ou não fazer. Ô se há!