quinta-feira, 16 de junho de 2016

Inteligência no Brasil

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Eduardo Cunha colocou o Brasil praticamente a merce de uma única inteligência. Só esta constatação bastaria para colocar todos minimamente de orelhas em pé, mas não. A preocupação geral é com os detalhes: se Cunha é corrupto, se ajuda ou não a deposição de Dilma, se é o único que faz o Congresso funcionar… Que país é este de uma única inteligência? Isto é resultado da aceitação por omissão ou silêncio de todos brasileiros da opção burra, desmedida, pelos pobres, pela mediocridade. Há uma imensa diferença entre responsabilidade social, que é única saída para este Brasil, e a aceitação irresponsável da socialização da miséria, que foi o que tivemos no Brasil do nunca antes. Quanto mais inteligência menos pobreza, isto é líquido e certo. O PT e as esquerdas que os apoiam, exatamente como a história denuncia qualquer grupo autoritário e populista, desintegraram o culto à inteligência, à eficiência, à qualidade. O PT só sobrevive num país imbecilizado. Dai o fenômeno Eduardo Cunha. Deprimente.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Futebol, reflexo da sociedade

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Roberto DaMatta, sociólogo, diz que o futebol é reflexo da sociedade. E é. País de merda, seleção nacional de futebol de merda. 
Ontem a seleção Brasileira de futebol passou outra vergonha histórica e foi desclassificada da Copa América Centenária pelo time Peru. Gol de mão? Sim Gol de mão, mas este não é o ponto. O ponto é que não fomos capazes de ganhar o jogo, de marcar gols. Mais uma vez provamos que somos o pais do futuro. Que futuro? A seleção fez um bom primeiro tempo, mas são dois tempos para a vitória. Para ganhar é necessário mais que um lance de sorte, é preciso fechar um círculo de virtudes, qualidades, esforços. Para vencer é necessário ter outra mentalidade, uma mentalidade vencedora. Nos tornamos chorões que jogam a culpa para todos lados para não assumir nossas responsabilidades mais básicas. "Nós (brasileiros) temos direitos". E os deveres?
Futebol é um cancer nacional. Não se fala, não se tem notícia, nada a respeito de todos outros esportes. Nada. Futebol, futebol, futebol. Não dá para culpar os dirigentes, os jogadores, as redes de rádio e TV pelo que está acontecendo. Eles nada mais são que puro reflexo do que somos como sociedade. 
Vem as Olimpíadas do Brasil e espero que nossos atletas não sejam literalmente massacrados pelo próprio povo brasileiro. Provavelmente serão. O que esperar de um povo ignorante a respeito de qualquer esporte que não seja futebol e que só tem direitos.

sábado, 11 de junho de 2016

ciclistas na Rodovia Ayrton Senna

Ainda me lembro a primeira vez que pedalamos, eu, Tio Lu e Teresa, pelos primeiros quilômetros da Rodovia Ayrton Senna. Ir até o aeroporto de Guarulhos, o GRU, foi um dos "pedais especiais" que repetimos várias vezes. Lembro também a primeira vez que passei pelo acesso ao aeroporto e segui em frente no sentido de Mogi - Guaratingueta. Era uma estrada movimentada até um pouco depois da entrada para Jardim Helena, mas havia espaço para pedalar no acostamento e seguimos com certa tranquilidade.
vim a descobrir que existia uma ciclovia paralela à estrada sentido Capital muito depois quando um funcionário da rodovia me contou a história da sua construção. Coisa de um funcionário, um engenheiro se não me falha a memória, que quis frear o número absurdo de acidentes, inclusive com mortos, envolvendo ciclistas trabalhadores. Eu passava de carro por lá com frequência e nunca havia visto a bendita ciclovia. Só em 2011 é que fui pedalar nela. Começava no entrocamento com a Rodovia Hélio Smidt, a que vai até o aeroporto de Guarulhos, e seguia no sentido Mogi por uns 10 ou 15 km, exatamente a área de trânsito mais intenso e perigoso. Era estreita, mas segura, corria fora da estrada, depois do guard rail, tinha um acesso para a avenida Santos Dumont, onde fica o parque industrial de Guarulhos, outro para o Jardim Helena, talvez mais um outro, os necessários. O fato é que funcionava bem, salvou vidas, facilitou o uso da bicicleta e de pedestres que circulavam ali de madrugada. Junto com o adesivamento de refletivos nas bicicletas reduziu drasticamente os acidentes. 
Reformaram para alargar a Ayrton Senna, como fizeram em todas as grandes rodovias de acesso para São Paulo, e com isto boa parte da ciclovia desapareceu. Com o alargamento no sentido contrário, para o interior, boa parte do acostamento também desapareceu. Pedalar na Ayrton Senna ficou realmente perigoso, desagradável.  Deve ser um horror para os trabalhadores que madrugam.
Hoje o pior trecho é entre o Parque Ecológico do Tiete, passando pelo acesso / saída da rodovia Hélio Smidt, e até o acesso ao Jardim Helena. Praticamente não há acostamento e é horrível para o ciclista. Está quase pronta uma ciclovia paralela à estrada no sentido interior, ou seja, do lado contrário da antiga, mas, repito, está quase pronta... dá para pedalar em caso de desespero. E tem a ciclovia que vem desde a Penha, passa pelo parque Ecológico do Tiete e segue até a avenida Jacupessego, completamente isolada, bem construída, mas famosa pelos assaltos. Tem ainda a avenida Assis Ribeiro, paralela a estrada, mas horrorosa, para mim um dos locais mais desagradáveis da cidade. Enfim, ciclista não tem muita escapatória. 
 A antiga ciclovia, sentido Capital, ainda existe em alguns trechos, mas picotada, com acesso difícil, passando por um barranco muito alto e obrigando o ciclista a ir para o acostamento em vários pontos. O interessante no restou é que tem uma ponte onde instalaram uma passarela de aço apoiada na estrutura da ponte por mãos francesas, uma solução que chegamos a pedir para algumas pontes e viadutos de São Paulo e nos disseram ser impossível. 
A movimentação de ciclistas trabalhadores é altíssima na área, a maioria indo trabalhar no parque industrial de Cumbica, Guarulhos, que é cortado pela avenida Santos Dumont. Faz um bom tempo Reginaldo Paiva me levou para ver a multidão de trabalhadores pedestres e ciclistas que cruza pela ponte da avenida Assis Ribeiro para a avenida Santos Dumont em Guarulhos, isto de madrugada, entre 4:30 h e máximo 7:00 h. Uma loucura. A quantidade de ciclistas saindo da Ayrton Senna na cabeceira da ponte é enorme. São os ciclistas invisíveis para as autoridades porque só aparecem quando os colarinhos brancos ainda estão tomando café da manha.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

para Aparecida do Norte

Faz muito estou me devendo ir pedalando para Aparecida do Norte. Pagar promessa para mim mesmo, pedido para Deus do Céu me mandar de rezar o terço completo cada vez que eu escrever mim mesmo. Amim!, Ops, amém.
Faz um tempo estive em Aparecida para dar uma entrevista na TV Aparecida, que tem uma PQP (desculpe Senhor) audiência. Aproveitei para visitar a Basílica e fiquei muito impressionado com a beleza. Eu só a tinha visto em obras. Agora está terminada.
Fiz uma tentativa de ir pedalando faz uns meses, mas não deu certo. Errei, me superestimei, sai mais tarde do que devia, fiquei debaixo de um sol de racha coco, tive que fugir de uma tempestade e já no cruzamento para Mogi dei meia volta, pedalei a milhão feito um retardado até o aeroporto, cheguei lá nem gota caiu. Voltei para São Paulo de ônibus sem saber se estava feliz ou de orelhas de burro baixas. Castigo dos céus. Comporte-se menino, melhor velhinho. Hoje dou risada da cascata de trapalhadas.
Um dia destes tento de novo com menos entusiasmo e respeitando as regrinhas básicas.
Básico do básico: Fique de frente para um espelho e veja se consegue olhar quem está do outro lado. A maioria reza "espelho, espelho meu...". Tenho 61 anos, não tenho mais 35, mas... Bem, sendo realista..., não se pode comparar o que aconteceu no passado com o de hoje. Tudo mudou, você, a bicicleta, o trânsito, o acostamento, a cor dos meus cabelos...
Primeira regra: comece devagar e com distâncias mais curtas do que você imagina. Olhei, olhei os mapas, fiz uns cálculos, mais outros, e achei que conseguiria chegar em Guararema ou até mesmo a Jacareí. Sei como anda meu condicionamento físico e até onde posso chegar. Um pouco menos de 100 km num dia. Fácil. Fácil sem o stress da saída de São Paulo, que virou uma merda, perigosa, muito diferente de quando pedalei lá faz uns tantos anos. Tensão mata.
Nesta altura do campeonato (dos 61) o correto teria sido pedalar até um hotel em Guarulhos no primeiro dia e pronto. Eu teria deixado a loucura da saída de São Paulo para trás e teria uma segunda etapa muito mais tranquila tanto em distância como em stress.
Segunda regra: "Acorda vagabundo!" Mas que nada, acordei no horário normal, tomei o café da manha de sempre, ajeitei minhas tranqueiras e saí cedo. Cedo, mas um pouco tarde. Burrice. Mais cedo, menos calor. Bem cedo bem menos trânsito. Mesmo com tempo nublado é lógico que o meio dia sempre chega e com ele o calor tropical. E abriu um inesperado sol. Dancei. 
Terceira regra: Devagar se vai longe. Ainda consigo fazer 100 km em umas 4 horas, mas não se deve contar com esta média num passeio e com uma bicicleta mais lenta. O correto é fazer cálculo com médias bem abaixo das de treino. Que tal menos de 20 km/h? Tem o cafézinho, o pão de queijo, a parada parada uma foto... fazer pipi, fazer pipi, fazer pipi. Viva a diabetes! (Número 2 só no conforto do trono do quarto do hotel trancado a sete chaves e com fósforos na mão).
Tem mais regras. Eu mesmo escrevi o texto sobre ir mais longe e cicloturismo que está publicado na Escola de Bicicleta, mas rindo de minha própria vergonha não quero lembrá-los aqui. Quero me divertir. E exatamente porque quero me divertir vou brincar de fazer a coisa certa. Ainda chego em Aparecida. Vou rezar com fé agradecendo a graça de ter deixado a burrice para trás.
Não existe liberdade sem disciplina.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Um velho chato na vertical

Ficar fora da boiada é estar exposto ser marginalizado a ataques de predadores ou a ataques de predadores.

Mais uma vez cai na cilada de entrar em discussão sobre a questão cicloviária de São Paulo. "O importante é fazer; faz depois corrige; ficou muito melhor do que estava antes; pelo menos eles fizeram, quem estava antes não fez nada...", dizem. E mais uma vez sai da história me sentindo mal, não pelas minhas posições, mas porque virei, mais uma vez alguém que discorda de pontos considerados pacíficos e comuns para a maioria. Velho chato e inconveniente.


E neste contexto veio o fim de semana do Bicicultura que aconteceu no Centro da Cidade de São Paulo. Eu não teria ido, mas Eric veio de Mossoró e ficou em casa para participar e dar palestra e acabei o acompanhando até o Bicicultura para ele fazer a inscrição. Enquanto o esperava na porta do Olido, na deprimentemente emporcalhada av. São João, começaram aparecer alguns velhos amigos e minha tensão foi-se diluindo. Da Galeria / Cine Olido, onde foram recebidos os participantes e foram dadas palestras, para a Praça das Artes, imponente obra de arquitetura em concreto aparente centro de vários eventos e palestras, várias pessoas vieram me cumprimentar em tom de festa, o que confesso não esperava dado minhas duras críticas ao que vem acontecendo.
Brinco com os velhos amigos que virei um velho chato que tem pouco a acrescentar e que não entendo esta nova geração. Muitos fazem piada disto. Felizmente tenho um celular Nokia preto, pequeno, resistente, que tem bateria para uma semana e felizmente (de novo) só funciona para ligações e mensagens. Nada de zapzap e estas outras porcarias (para mim). Meu celular ser "burro". Ótimo conversar olhos nos olhos. Facebook? Tenho, mal sei usar e pouco entro. Enfim, não sou um conectado, ou o que quer que seja ser conectado, estar em rede social ou sei lá o que mais. Quem não é conectado praticamente não existe. Ótimo, não existo. Nunca gostei de telefone, imagina estas coisas. Dizem que tudo isto é mais democrático, mas duvido. "É horizontal?" Definitivamente não é. Ou é para quem? Não, não é, não é mesmo! Estas coisas mudaram nossa gênese e via torpedo derrubaram as habilidades espeficas de cada indivíduo? Não. Então mantemos a hierarquia mesmo sendo conectados? O que você acha? É óbvio que vai dar em alguma coisa completamente nova, mas no que? Não tenho medo da solidão, pelo menos não desta. Meu medo é não saber bem quem controla este dito poder horizontal. Quem são os donos do ferro de passar roupa? Boiada. A humanidade foi assim, é assim e será assim. É biológico.
O Bicicultura foi um belo evento, com cheiro de festa de cicloativistas para cicloativistas, das mulheres empoderadas para as mulheres empoderadas, das minorias para as minorias, da bicicleta para a bicicleta. Horizontal? Em que plano?
Vi quinze minutos de uma das mais esperadas palestras mais festejadas do evento e sai. Não tenho mais paciência, sempre a mesma coisa, sempre o mesmo discurso. O Velo City de Nantes foi exatamente por ai. Lá reclamaram que tinha sido uma festa de egos. Pelo menos saí de Nantes com o comentário de que fiz a palestra mais estapafúrdia do evento.