domingo, 30 de março de 2014

Teresa livre

Teresa entrou só na galeria, veio até o café, puxou uma cadeira para trás e de forma a dar espaço para sua cadeira de rodas elétrica. Logo foi atendida e servida. 
- Há muita coisa por fazer na Espanha; diz ela a respeito da vida dos espanhóis com deficiência. 
- No Brasil é muito difícil ver pessoas como você circulando nas ruas; respondo eu e ela começa a rir pensando que uma brincadeira minha. 

Pela galeria correm soltas duas meninas, uma de uns 4 anos a outra de uns 2 anos, enquanto seus pais fazem compras numa loja. O pai só sai atrás da pequena quando ela se aproxima da porta de saída para a rua.
Pais despreocupados circulam com crianças pequenas por todas as partes, muitos deles sem sequer segurar as mãos de seus filhos. 

sábado, 29 de março de 2014

Símbolos inequívocos de civilidade

Existe uma pequena diferença entre nosso estágio de civilização e o dos espanhóis e esta diferença, abismal, pode ser vista nestas fotos. 
Num restaurante quatro meninas cegas jantaram tranquilas com seus dois cães de serviço dormindo debaixo da mesa. No Brasil ainda se discute se cães de serviço para cegos podem ou não ser aceitos em locais públicos. Terminaram o jantar e saíram caminhando na rua completamente despreocupadas. Infelizmente não é piada dizer que no Brasil seriam presa fácil para todo tipo de bandido e menores infratores violentos. 




Em Sevilla um grupo de cadeirantes circula com total segurança pelas ciclovias, propriamente sinalizadas para eles.




Mas, marcante mesmo foi ver, também em Sevilla, uma senhora tetraplégica circulando sozinha pelas ruas. Controlava a cadeira elétrica através de pequenos movimentos do queixo. Marco inequívoco de civilidade.

Uma boa ideia do que as fotos acima indicam para a vida de qualquer pessoa normal está na sequência de fotos  http://escoladebicicletafotos.blogspot.com.es/2014/03/madri-vida-do-madrileno-nas-ruasi.html 

quinta-feira, 27 de março de 2014

Politicas e políticos para um novo tempo

Um artigo de uma importante revista de economia francesa coloca a nova realidade para todas cidades num futuro muito próximo: um rápido e inevitável processo de informatização e automatização de praticamente tudo em toda administração e serviços públicos. Já está ocorrendo em várias grandes cidades e inevitavelmente chegará a praticamente toda e qualquer cidade do planeta. Sem isto dentro da complexidade da cidade, principalmente nas grandes e médias, é impossível ter controle de qualidade de serviços prestados à população. É o caminho natural, mesmo que tardio, assim como foi para o setor industrial, comercial e de serviços privados. A quantidade, perfil e qualidade dos servidores públicos vai mudar, e muito, num processo simplesmente inevitável. Já vem mudando, mas num processo mais lento que a realidade demanda.
Mas ai o artigo entra na necessidade urgente dos eleitores repensarem seus próprios valores, inclusive e principalmente como devem escolher seus representantes. Se faz necessário ter políticos capazes de pensar, agir e realizar esta nova realidade que chega. Continuar com políticas tradicionais e primárias é relegar todos ao obscurantismo, a um vácuo de qualidade de vida que dificilmente será recuperado.
É claro que não vai haver uma revolução que mude o perfil e uso da cidade num prazo curtíssimo, assim como é certo que gastar tempo e dinheiro com processos ineficientes é um atraso de vida inaceitável.
Outro artigo que chamou a atenção fala sobre a importância do turismo na macro economia espanhola. Este artigo é publicado depois da divulgação que turismo representa hoje 6.5% do PIB da economia mundial. No ano passado só a Espanha recebeu um pouco mais de 60 milhões de turistas, que deixaram 56 bilhões de Euros nos cofres espanhóis, algo em torno de 6% do PIB. O artigo ressalta os erros cometidos no passado, principalmente com o direcionamento turismo de baixo valor agregado, farofeiro como se diria no Brasil. O turismo hoje, rentável, é voltado para a cultura, educação, lazer e esportes da mais alta qualidade possível. Turista quer se divertir, sentir prazer. Se encontrar gente mal educada, despreparada, violência, sujeira, desordem, preços altos, atendimento precário, turistas grosseiros, barulhentos, sujos... e todas estas coisinhas que conhecemos tão bem, simplesmente escolhem outro destino, que é o que não falta. Sem um alto grau de informatização é simplesmente impossível dar a qualidade de serviço exigida.

Um dos bons exemplos da importância da informatização pode ser visto nas cidades onde as bicicletas comunitárias vão bem. As que estão dando certo usaram tecnologia de ponta para entender seu público usuário e os possíveis usuários futuros. Erros iniciais, como a dificuldade de um turista estrangeiro conseguir usar uma bicicleta com um cartão de crédito, está sendo corrigido rapidamente. A qualidade do serviço prestado pelas bicicletas coletivas mudou outros setores do turismo e até influenciou o setor de bicicletas de aluguel, que vem melhorando muito nestes últimos anos. Ou desapareceria. Simples.

terça-feira, 25 de março de 2014

SlowRoom - bicicletaria chic em Madri

O retorno da bicicleta no Brasil sempre acontece por causa da moda que pega em cheio o pessoal mais abastado, politicamente correto dizendo; ou seja, classe média e dai para cima. Gente chic é outra coisa. Atingiu este pessoal pega fogo e aquilo deu nisto, exatamente como está acontecendo em todas as partes do mundo. Em Madri não está sendo diferente.
O bom e o ruim, ao mesmo tempo, é que com isto está surgindo uma nova espécie de bicicletaria, verdadeiras lojas de grife finas, chiquérrimas. Atende um outro público, diferente do tradicional que já pedala. E ruim por que ventila o incenso do espírito santo da bicicleta e do pedalar que envolve todo um rito de conhecimento da máquina e de si.
É gostoso ver estas bicicletarias de grife, limpas, muito bem decoradas, organizadas, com bicicletas e acessórios sofisticados, de bom design, caros. Sofisticação faz bem à alma. Mas, porém, entretanto, contudo.... boa parte delas tem atendentes escolhidos a dedo para ter um bom faro para carteiras recheadas e clientes "in" que precisam consumir em nome da sobrevivência social (leia-se status).
A SlowRoom fica quase escondida numa pequena praça próxima ao centro velho de Madri. Descobri por acaso. Fui atendido pelo seu dono, uma pessoa educada, sem os vícios de outras bicicletarias sofisticadas. Estava preparando uma exposição de pinturas a ser aberta em dois dias, que é vista nas fotos abaixo. Como sempre cheguei e sai cedo, dai a vernissage ainda vazia.
O projeto da loja, ou butique, é o mais criativo e talvez seja o que mais me agrada dos tantos vi para uma loja de bicicletas. A pequena oficina não se pode ver nas fotos abaixo por que está nos fundos, praticamente escondida.
Mais fotos da bicicletaria http://www.slowroom.es/ no http://escoladebicicletacorreio.blogspot.com.es/
O artista Fe rnando Cuétara montando a exposição






  





quinta-feira, 20 de março de 2014

Madri - normal

Pelo meio da praça cheia de crianças, bebes, cachorros, soltos, pais despreocupados, velhos e velhas conversando, alguns sentados outros em pé, alunos de escola ainda vestindo uniformes brincando, cruzam correndo e olhando para trás dois adolescentes rindo. Atrás deles vem um jovem casal, também adolescentes, passo apressado e firme e reclamando. “Vamos falar com a polícia” diz a menina. Ao encontro dos adolescentes que terminaram de cruzar a praça e estão caminhando na rua em frente segue mais um adolescente magro e alto falando, rindo e um tanto preocupado com alguma situação deixada para trás. Ele para, vira e aponta, rindo, para os próprios olhos desafiando alguém que está de olho. Ninguém na praça está preocupado, percebe ou se dá conta da situação. Parecem jovens brincando, como é normal. Os dois adolescentes que passaram correndo voltam ao centro da praça e juntam-se ao que ri e desafia. Conversam um pouco, rindo, e caminham de volta para a rua.
Os três jovens sentados no mesmo banco onde estou param de conversar e passam olhar para a outra rua com uma leve preocupação, o que me faz olhar na mesma direção. Vejo a porta direita de um carro de polícia abrindo e um policial saindo atrás dos três adolescentes. Todos disparam pela rua e lá na frente dobram a esquina. O carro de polícia sai também atrás, sem fazer alarde.
Tudo acontece sem que a vida da praça mude. Não há um sinal sequer de anormalidade. Crianças, bebes e cachorros continuam livres e soltos, os pais despreocupados, velhos e velhas seguem suas conversas, nas bordas da praça muita gente está sentada nas mesas de rua das cervejarias. O pequenino segue girando pela praça com sua bicicleta sem pedais seguido por sua mãe que empurra o carrinho de bebe com sua irmãzinha que dorme. Uma bola cruza o ar e cai mais uma vez dentro do chafariz...
Aqui o normal é normal.
A dois quarteirões dali, a rua principal do bairro, uma avenida estreitada e muito bem reurbanizada, vive a mesma situação de absoluta tranquilidade, com a população desfrutando da vida coletiva na cidade. Os velhos amigos, bem velhos, estão sentados num longo banco que fica entre dois parquinhos de brinquedos para crianças pequenas. Noutro banco em paralelo com a rua está um grupo de cinco adolescentes. Um pouco a frente é um estacionamento de motos e scooters. O trânsito da rua é intenso, assim como o trânsito de pedestres que passam, fazem compras ou buscam um lugar para tomar um café ou uma cerveja sentados nas mesas da calçada. É uma massa de cidadãos felizes aproveitando a vida.
Esta é a Madri dos madrilenos. Sai da Madri para os turistas, que não é só para turistas, mas para todos; e todos a desfrutam por igual. Passei por um longo calçadão comercial. Mistura-se ai de tudo, de distintas senhoras aposentadas a inconfundíveis jovens putas, de blue collars a mendigos, de crianças soltas a ciclistas costurando com certo perigo a multidão. Onde quer que seja, por praticamente toda Madri, multidão. Tranquilos, felizes, vivendo. É normal.

É literalmente deprimente a baixa qualidade de vida que estamos tendo no Brasil. Nossas cidades não merecem ser assim chamadas. São praças de guerra, mesmo nos lugares mais tranquilos, menos violentos. Menos violentos – ridículo, ridículo, ridículo! Anormalidade não é normal.

Nestes anos de economia estabilizada brasileiros viajaram muito para fora. Saem do Brasil e fazem um turismo essencialmente de compras. Paupérrimo, imbecil, mesquinho, inútil, imprestável. A maioria não aprendeu absolutamente nada sobre civilidade. Zero. 

Madri, trânsito e ciclistas

Madri é surpreendentemente agradável. Limpa, tranquila, organizada, rica, sempre cheia de gente vivendo a vida por todas os lados, gente feliz, educada, cordial, atenciosa. Há uma real sensação de segurança. Pode-se caminhar, parar, manusear a carteira, usar celular, tirar fotos com I-pad, sentar no meio das praças e trabalhar ligado no WiFi público. Algumas lojas tem segurança interna, mas não se vê um homem de óculos e terno preto no meio da rua. Segurança é responsabilidade da segurança pública, uns vestidos de amarelo e outros de azul. Como em qualquer lugar do universo que é civilizado não há brincadeira, jeitinho ou coitadinhos. Tal qual outras grandes cidades até os pedintes e mendigos sabem que há regras para o bem coletivo. Mas não os ciclistas.
O trânsito flui relativamente bem, sem altas velocidades, sinalizado, pouco poluído e é normalmente silencioso. Madri é deliciosamente menos barulhenta que qualquer cidade que conheci, o que é ótimo para o estado de espírito. Não se vê conflitos a não ser quando um carro avança sobre a faixa do pedestre. Ai o famoso espírito espanhol vem a público e o tom da voz sobe alto instantaneamente.
Segundo os madrilenos o número de usuários da bicicleta tem crescido rapidamente, e com eles os conflitos, principalmente com os pedestres. Não há muitos ciclistas circulando, mas infelizmente a maioria acha que pode fazer o que bem entende, em particular circular pelas calçadas de uma forma muito pouco civilizada. Homens, mulheres, jovens de ambos sexos, todos enfim usam qualquer espaço público como se fosse uma ciclovia de mão única vazia.

Óbvio que a administração da cidade está se mexendo, implantando ciclovias, ciclo-faixas e faixas partilhadas sinalizadas, boa parte delas evitadas, vazias. A opção é pedalar pela calçada, não sei porque. Mesmo no interno de bairro onde a velocidade é bem baixa e não seria necessário o pessoal vai pelo exíguo espaço dos pedestres. Infelizmente a história se repete em todas as partes, em todos continentes: ciclovia dá voto, educação dos ciclistas vale zero. Os trouxas compram a enganação. Em Madri não é diferente. A população está irritada e com razão. 

terça-feira, 18 de março de 2014

Vencedoras e perdedores

No Charles de Gaulle, aeroporto de Paris, imensos banners pendurados do teto mostram rostos de mulheres, uma mulher por banner, de diversas nacionalidades, etnias, mulheres maduras simplesmente clicadas em seus locais de trabalho. O conjunto de fotos é simples, direto, impressionante, memorável. Mesmo com uma certa perplexidade a primeira coisa que veio à cabeça foi propaganda de algum produto, mas com olhando com calma vi que todas aquelas lindas mulheres tiveram seus trabalhos de vida premiados pelo http://www.womeninscience.co.uk/about-the-awards.php . Imediatamente tive vontade de gritar e chorar. Gritar de alegria, felicidade, pela divulgação de trabalhos científicos, cultura, educação, refinamento, luta, persistência... Tive vontade de chorar pela glória, pelo sucesso, pelo futuro..., pelo bem, pelo que sempre sonhei, pelo que minhas famílias e amigos sonharam, lutaram. Futuro. Para nós não existe a palavra futuro que não seja pelo pacífico e promissor. Acabei estatelado, no meio da passagem dos que desembarcavam, olhando para o alto em louvor, derramando uma lágrima contida provavelmente com uma expressão que não sei descrever.
Tomada consciência do que estava ali tive vontade de gritar com raiva, ódio, desprezo pelo que nos transformamos, pelo caminho rumo à obscuridade que o Brasil do nunca antes ruma. Optamos por socializar a riqueza em nome da pobreza ou optamos por simplesmente socializar a pobreza em nome do sentimento de culpa coletivo?
Isto foi em 2012. Na volta para o Brasil, já com os pés no aeroporto de Cumbica, Guarulhos, feio, apertado, sujo, banheiro com cheiro de mijo, nada funcional, a fila para passar pela Polícia Federal extrapolou o apertado espaço e subiu as escadas, invadiu o corredor. Chegaram três aviões grandes juntos e com eles uma pequena multidão de uns 600 passageiros que se irritaram profundamente com a ineficiência e por muito pouco não espancaram os servidores.  Propagandas? De futebol.

2014: No Figaro distribuído a bordo do voo para Madri uma foto de página inteira com a foto de uma mulher, linda mulher, lutadora mulher, vencedora mulher, Prêmio Womens in Science. Novamente me senti profundamente feliz e deprimido, ao mesmo tempo. 

Publico fotos depois

quarta-feira, 12 de março de 2014

A conta sempre vem, para o mal ou para bem

Ele segue caminhando por ai. Estudou comigo e era um garoto normal. Um dia exagerou na dose e o barato saiu caro, muito caro. Ele chegou na festa completamente empapuçado e ao passar por uma parede espelhada, daquelas que se vê o corpo inteiro, não sabia mais de que lado do espelho estava. A partir daí nunca voltou ao normal. Pirou total. Estava ao lado dele, era a outra imagem em pé refletida no espelho, e imediatamente percebi que ele não estava brincando, mas realmente não sabia mais quem era quem, se ele ou a imagem. Sempre o vejo pelas ruas caminhando com sua pastinha debaixo do braço. Fala sozinho, de vez em quando parece que está falando com você, dando uma bronca ou reclamando enfaticamente sobre algo incompreensível.
Naquela exata noite fumei pela primeira vez um baseado. Foi uma das mais mágicas experiências de minha vida. No carro de um amigo ouvi Yes, And You and I, a primeira viagem. Ri sem parar por mais de 30 minutos. A maconha daquela época, lá pelo início dos anos 70, tinha outra qualidade, muito mais leve, alucinógena, risível. Todos nós, os fumantes, tínhamos limites, e mesmo alucinados procurávamos manter um mínimo de educação, cordialidade social e civilidade. Pelo menos tentávamos. Violência ou grosseria eram consideradas inaceitáveis; quem extrapolava não era bem visto e afastado. Era uma curtição aparentemente inconsequente.
Por alguma razão a boa maconha foi desaparecendo. O barato foi ficando a cada dia mais pesado, depressivo, desagradável. Fazia mal. Até ouvindo boa música a viagem nunca mais foi igual. A saudade do passado virou uma constante nas conversas de praticamente todos fumantes, excluindo viciados e chatos. Estavam adubando a erva? Possível. Nós havíamos mudado? Com certeza. A maioria foi largando e tomando suas vidas adultas.
A maconha e outras drogas começaram a me incomodar depois de ter visto uma campanha na Suíça que dizia, com toda a razão, que cada cigarro (de haxixe) fumado (portanto comprado) significava uma bala de fuzil na mão de traficantes de guerrilha. Foi “O” tapa na cara. Ainda fumei durante alguns anos, cada dia com sentimento de culpa e mais incomodado com a perda dos “bons modos” de todos, fumantes, distribuidores e das bocas de fumo (traficantes). A gota d’água, vergonhosamente tardia, veio quando um amigo que teve que puxar a arma para sair inteiro da boca de fumo que sempre o serviu. Engenheiro agrônomo, “por sorte” sempre teve que andar armado por causa de bichos do mato e grileiros, estes então cada dia mais violentos. Os suíços estavam absolutamente corretos: cada puxada (tragada) é uma bala para os inimigos.
“Não existe almoço grátis” (There is no free lunch - Milton Friedman) é uma verdade incontestável. Minha geração, pós Woodstock, encantada errônea e tardiamente com o Paz e Amor do Flower Power, viajou sem consequência. O resultado está ai. Não sei quanto aos meus amigos, mas eu peço desculpas a toda sociedade. Sou responsável por parte da barbárie que está ai, não posso negar. Se pudesse voltar atrás..., mas é impossível. Tenho que tentar limpar a merda, que é o mínimo.
Bicicleta acabou sendo meu novo barato. Como não tenho paciência nem para vícios o pedalar sempre me fez bem. E continua fazendo.

Exatamente como o barato das drogas, a bicicleta esteve e está ligada a um sonho de uma vida mais leve, alegre, divertida e fácil para todos. Foi e é uma viagem maravilhosa e principalmente real, digna, de futuro. Para quem pedalou o sonho viveu um barato que valeu a pena, mesmo que hoje se venha sentindo alguns efeitos negativos causados pela minoria viciada, pelos fanáticos, ortodoxos, chatos, medíocres, sempre presentes, ativos e infelizmente marcantes em sociedades pouco afeitas à realidade, como a nossa, brasileira.


sábado, 8 de março de 2014

Randy Pausch Last Lecture: Achieving Your Childhood Dreams

Tive que procurar um arquivo muito antigo e dei com o link para esta palestra de Randy Pausch, a mais impressionante que vi. A saber, Randy era paciente terminal e morreu algum tempo depois desta palestra. Não é uma fala sobre morte, mas um discurso impar sobre a vida. É longo, mas vale. 

quarta-feira, 5 de março de 2014

Sábio conselho

Vinha eu correndo a pé pela rua Itápolis quando um senhor preto quase maltrapilho sai da calçada e começa a vir em minha direção. Logo fui pensando que estava bêbado, mas depois de ver os passos firmes e alegres dados por ele ficou claro que bêbado não estava. Diminui um pouco meu já lento ritmo, mas ele continuou vindo em minha direção. O senhor preto, corpo magro, forte e duro, de gingado suave, logo se deu conta de minha preocupação e desviou discretamente sua trajetória. Olhando nos meus olhos disse: “Ô atleta!... endireita estas costas. Você está correndo olhando para o chão. Olha para frente”. Tomei um susto com a bronca pertinente e imediatamente estiquei costas e o pescoço. Comecei a correr mais leve e agradeci. De canto de olho vi que ele seguiu cruzando a rua me olhando com atenção. Sorrindo e agradeci novamente. Quando já estava uns 30 metros atrás gritou “Abaixa o ombro esquerdo. Está tenso! Vai atleta!”. Nem olhei para trás e agradeci como se deve agradecer a seu bom treinador. Só bem mais a frente, já no final da subida, prestando atenção a minha postura ao correr, me bateu forte curiosidade. Quem será ele? Ainda vou acha-lo. Deveria eu ter parado? Não, ele não gostaria.
Ouvir conselhos é bom. Os que não gostam de ouvir usam o ditado “Se conselho fosse bom era vendido”. Por que não se permitir ser ajudado por outros? Estes últimos anos fizeram que as pessoas estejam mais impermeáveis aos conselhos, por mais simples e sensatos que sejam. Porque? Fruto da brutal violência que vivemos? Individualismo? Soberba? Quantos fatores serão? Quantos forem, é uma pena, ou melhor, uma tragédia.
Infelizmente praticamente parei de dar “conselhos” para os ciclistas, por mais inexperientes que sejam. Conselho parece ter virado ofensa. “Como você ousa interferir na minha forma de ser?” Sempre que pego a mochila pesada lembro das ferramentas que levo ali e que são carregadas para ajudar os outros. Hoje um esforço quase inútil. O ciclista está caminhando a pé empurrando a bicicleta, mas se recusa a receber ajuda dando qualquer desculpa. Dar conselho então... Quase não adianta tentar encontrar o discurso correto para fazer os outros entenderem que o selim está fora de posição, que precisam reaprender a partir ou parar a bicicleta, que luz branca piscando na cara de todo mundo e principalmente dos ciclistas é desagradável e perigoso para todos, principalmente para o próprio ciclista que usa a luz piscante desregulada. Acerta a cadência... Vira intromissão. “Quem é você?”

Conselho remete a autoridade, este é o problema. Autoridade? No Brasil?