segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Funcionou!

Não foi fácil esperar para ver o que de fato iria acontecer com a Ciclo Faixa que seria inaugurada com sua abertura para o público já às 07:00h de domingo, e com um ato oficial às 10h30m. O que me passava pela cabeça era um tanto bipolar: ou quero que dê muito certo ou dê muito errado. O único centro verdadeiro, tirada minha grande ansiedade, era o profundo desejo que o ciclista e a bicicleta saíssem fortalecidos deste novo marco da história da bicicleta paulistana. Já disse e repito agora que sei que foi um sucesso: este projeto tem um monte de buracos e abre precedentes que não se sabe bem no que pode dar.
Cruzamos a ponte Cidade Jardim e por sorte vimos os ciclistas da Volta Ciclística de São Paulo passando. É impressionante o ritmo deles. Entramos na Ciclo Faixa pelo Parque do Povo, que cedo ainda estava muito calmo. De cara fizemos o primeiro trecho, do parque até a Juscelino Kubistchek, pela avenida e não pela calçada. É um dos trechos que me incomoda muito. Ciclista na calçada nas proximidades de parque pode criar conflito com pedestres e deficientes de mobilidade – leia-se mães com carrinho de bebe. Já na primeira esquina ficou clara que os funcionários da CET e o pessoal de apoio foram muito bem treinados. Com calma e muita educação pediram que cruzássemos na calçada e assim fomos orientados etapa por etapa a entrar na ciclo faixa segregada por cones da Juscelino. De lá até o Parque das Bicicletas tudo bem sinalizado e orientado. Quis gravar entrevista com um dos marronzinhos, funcionários de rua da CET, mas ele disse que não podia falar e pediu-me para procurar a assessoria de imprensa da própria CET. Continuei pedalando e filmando, num começo de vida da Ciclo Faixa e de um domingo que seria terrivelmente quente e animado.
O ponto central do evento, no Parque das Bicicletas, com umas tantas barracas, foi aos poucos ficando cheio, e de tempo e tempo a sensação que tive era que saia uma leva de ciclistas para pedalar na Ciclo Faixa. Bem organizado, com distribuição de camisetas, água, e outros mais. Lá fora o primeiro ponto que me preocupa é o cruzamento das avenidas Ibirapuera com República do Líbano, no qual os ciclistas são obrigados a cruzar a pé. Nos momentos de pico a coisa fica um pouco confusa, mas para primeiro dia tudo era festa e só com raras exceções houve indisciplinas e maus comportamentos. A cara do pessoal era de festa. Bom ver tantos ciclistas paulistanos felizes juntos. Pelo menos no domingo de 7h às 12h.
O ponto que tem que ser resolvido com mais urgência, segundo me disseram, é o cruzamento da Juscelino com a Faria Lima, duas grandes avenidas. Neste ponto o ciclista é tirado de junto ao canteiro central, tem cruzar a Faria Lima a pé, e ai segue pela calçada até cruzar a Juscelino. Deve ter dado alguma confusão porque mais de uma pessoa avisou que não funcionou. Não vi pessoalmente porque fiquei entrevistando e filmando na República do Libano e Hélio Pelegrino.
Um ponto: O Estado de São Paulo divulgou um mapa errado sobre o trajeto, não sei se na sexta-feira ou no sábado. Pelo trajeto do Estadão a Ciclo Faixa sairia da República do Líbano, desceria a Hélio Pelegrino, entraria na av. Santo Amaro e daí pegaria a Juscelino. Uma besteira, dita errata, que não poderia ter acontecido. Não fez diferença no local, mas deu o que pensar num monte de gente que pensou que a bicicleta iria circular no corredor de ônibus da Santo Amaro. De qualquer forma a comunicação foi feita às pressas e mesmo assim foi boa e eficiente. Não tenho o número oficial, mas parece que pedalaram ai mais de 9 mil. Bom para o primeiro dia. Vamos ver como cresce a coisa.
A maioria dos que entrevistei estavam muito felizes e esperançosos sobre novos tempos. Os que encontrei pelo caminho que são macacos velhos e lutam a muito pela questão da bicicleta vieram me cumprimentar pelo sucesso. Não tenho nada a ver com este projeto e o resultado é mérito do pessoal da CET.
O final da história é o seguinte: foi inaugurado, foi um sucesso, e espero que continue sucesso. Provavelmente a CET terá que fazer correções, o que eles tinham consciência que seria necessário.
O que espero mesmo é que os ciclistas paulistanos comecem a exigir a implantação deste mesmo sistema em toda cidade. Se implantaram aqui podem implantar em toda a cidade. Ou os custos operacionais são muito altos e fica complicado?
Este texto foi escrito de enfiada, portanto não tem a correção habitual.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

As ciclovias prometidas, a ciclo-faixa de fim de semana, e eu


“As ciclovias prometidas” é título de texto publicado ontem, dia 25 de Agosto de 2009, no Notas & Informações do jornal O Estado de São Paulo, página A3. Tendo como subtítulo “O aumento do uso de bicicletas exige maior segurança para os ciclistas” o texto dá um apanhado neutro e verdadeiro sobre a situação da bicicleta no Município de São Paulo. É fantástico ver que a questão da bicicleta enfim sai da posição de matéria que tem que ter cheiro de curiosidade, atualidade, moda, para chegar no espaço mais nobre deste que é um dos mais respeitados jornais do país. Alerta sobre incomoda condição do ciclista paulistano e informa sobre o que se pretende e deve fazer para reverter esta situação. Até que enfim caiu a ficha que bicicleta não é brinquedo, esporte ou lazer, e que há uma situação séria a ser enfrentada.
No primeiro parágrafo da terceira e última coluna lê-se “A proposta de instalação de ciclovias provocou a resistência de muitos técnicos dentro da própria CET, preocupados com os riscos inerentes a esse meio de transporte. Os defensores da iniciativa, porém, afirmam que a construção de corredores exclusivos reduzirá os riscos de acidentes”. Bota resistência dentro da CET e por isto venho discordando da posição deles há décadas. Só tenho sérias dúvidas de que se tivesse tido outra forma de aproximação e contato teríamos hoje outra posição e resultados. Para quem me conhece sabe que não preciso me confessar para dizer que minha fala pode ser claramente posicionada, mas é muito agressiva, portanto ruim. E já que sou briguento, como dizem e aceito, venho brigando com meus iguais, ciclistas, contra este discurso bobo sobre a ciclovia, a segregação, como salvação. A meu ver a solução é outra, muito mais ampla, muito mais abrangente, integrada, começando pela bicicleta em si, passando pela questão legal e terminando na falta de cultura do que é uma cidade e a bicicleta e de como usá-las corretamente. Soluções mágicas sempre são atraentes. Ausência é mais tranqüilo ainda.
Neste domingo será inaugurada “uma faixa de lazer para as bicicletas”, nas letras do jornal, ligando os parques das Bicicletas, Ibirapuera e do Povo. Funcionará só aos domingos pelas manhas entre 07h00 e meio dia. As marcações já estão pintadas no asfalto, placas aéreas estão instaladas e funcionários da CET e pessoal de apoio estão prontos para ir às ruas para evitar problemas. Eu fico aqui na reza para que tudo dê certo, porque meu coração está muito apertado. Já escrevi que não gosto nem concordo com as soluções técnicas que foram adotadas. Também escrevi um texto sobre “pelo menos fez algo”. Ciclista pedalando a esquerda de avenida, mesmo devidamente sinalizado, segregado por cones e faixas, e ainda fartamente vigiado, me dá arrepios! Principalmente se for com data e horário determinado por uma simples sinalização aérea. Dá arrepios. Faço votos para que dê tudo certo e que se estenda para o resto da cidade, mas, de novo, a razão alegada pela CET de manter os ciclistas no bordo do canteiro central é para não atrapalhar a fluidez do trânsito motorizado e os lotes lindeiros. Um passo a frente no lazer, dois atrás na boa educação do ciclista e do trânsito.
Os ciclistas pedalarão segregados do trânsito e cruzarão ruas e avenidas com o suporte de babas, sem querer ofender. Aceitarão as babas? Segrega-se o que é impossível de conviver, o que causa problema, o que não tem condições de compreender a realidade. Será que o ciclista é tão imbecil assim? Como se justifica a falta de banho de sangue dos 700 mil ciclistas por domingo admitidos pela própria Prefeitura? Sim, há um problema de segurança no entorno do Ibirapuera e de outros parques, mas a razão talvez não seja unicamente a circulação da perigosa bicicleta. O que mais causa acidentes? Como? Onde? Por que? Quando? Com quem? Sobe responsabilidade de quem? Etc...
O número de ciclistas circulando em dia de trabalho em São Paulo, 305 mil segundo o jornal, prova que pedalar na cidade é possível e não é tão inseguro assim. Ou temos um distúrbio psicótico em massa de gente que perdeu a noção de perigo. Há quem diga dentro do governo e dos órgãos técnicos que 305 mil é pouco e há bem mais ciclistas do que divulgado oficialmente. Surgiram do nada?
São Paulo teve 86 ciclistas mortos em 2008 (jornal); número alto segundo padrões internacionais nos quais uma das mais ricas metrópoles do mundo deve mirar-se, mas que não destoa muito da guerra do trânsito que vivemos. Quando se tem conhecimento sobre o ótimo trabalho, realizado pela própria CET, de levantamento de dados sobre estas mortes e suas causas este conceito de que pedalar na cidade é muito perigoso pode começa a mudar. Fica claro o óbvio que a cidade não é perfeitamente homogênea. O perfil da maioria das vítimas é população de baixa renda, trabalhador, adulto pedalando em locais extremamente perigosos e inapropriados para qualquer ciclista, onde há veículos de grande porte, ônibus, caminhões, vans, e ou velocidade alta. Inexiste perícia técnica especializada no veículo bicicleta, portanto é impossível saber se houve alguma falha mecânica, tão comum nas nossas bicicletas populares. Mesmo assim é possível concluir que pedalar em algumas áreas tem tudo para não dar certo. Usar esta premissa com tábua rasa é, a meu ver, um erro.
Mas temos que concordar com todos que recitam que pedalar no trânsito é perigoso. A frase vem sendo repetida em ladainha desde que me conheço por gente deve estar correta. A maioria que pedala sem ter acidente sem dúvida está errada. É lógico que a maioria não sabe bem sobre o que se trata, não quer saber e tem raiva de quem sabe, mas tenhamos uma certeza: usar bicicleta é sempre perigoso. Não importa o que se diga ou prove em contrário. Pavlov que o diga!
É do ser humano ter medo do que desconhece. Creio que seja o que aconteça com a questão da bicicleta. É do ser humano enxergar só o que lhe convém. Todos nós fazemos isto. É óbvio que a bicicleta sempre existiu em São Paulo. Documentos sobre a história desta cidade mostram que antes da década de 60 a bicicleta era muito usada. Como em todas partes do mundo ela teve um quase desaparecimento nos anos 70 e 80, mas partir do início dos anos 90 ela cresceu muito rápido. Mesmo assim não foi visível. Nas periferias nunca desapareceram, mas não interessavam, portanto não eram vistas. Nas das áreas “nobres”, em pequeno número, mas maior do que sempre disseram haver, não causavam problemas, portanto foram desprezadas. Exceto as bicicletas de carga e entrega que iam pelas calçadas, mas a quem interessa o conflito pedestre / ciclista? Se não atrapalhar o fluxo... O fato é que esta massa de ciclistas não surgiu do nada, não apareceu do dia para noite. Mas fazer o que, em São Paulo, uma das cidades mais ricas do mundo, nem sequer se vê o pedestre, um estorno para fluidez dos veículos, e assim sendo morre atropelado de baciada, em números escandalosos. Mas quem se interessa por eles? A própria população? Piada! O governo? Os técnicos de trânsito? Pedestres protestam? De novo, procure ver o perfil dos mortos dos pedestres. Quem são eles a não ser uma massa de invisíveis? A quem interessa baixar este número de acidentados? (OS.: 34% da população de São Paulo transporta-se única e exclusivamente a pé)
“Em São Paulo, os motoristas já são obrigados a conviver com os comboios de motos que circulam entre os veículos, sem respeito às regras mais básicas de trânsito. Se a intenção é estimular também os ciclistas, que seja com o máximo de segurança possível”. Opa!, parece que está caindo a ficha que estamos na eminência de ter uma segunda categoria de motoboys, ou tétricamente “mortoboys”, como queiram. Avisados estão há pelo menos duas décadas que deixar o ciclista abandonado, como ainda está, não iria dar certo. O que temos hoje já é muito ruim, difícil de reverter, mesmo com investimento pesado – que duvido que haverá. Para mim o comportamento do ciclista já é muito ruim. Ele se vê como vítima, se sente agredido, tem cada dia mais raiva do motorista. Creio que já vimos esta história antes.
Eu posso estar profundamente irritado com a forma com que a CET conduz esta questão da bicicleta (e dos pedestres também), mas reconheço que a responsabilidade não é só deles. O paulistano é como cidadão absolutamente imaturo, que não consegue ver sua cidade com o respeito, não consegue enxergar sua vida com a qualidade que um agrupamento urbano deve minimamente oferecer. Parece que quer é brincar de bibi fonfom. Minha preocupação com este corpo técnico que forma a histórica CET é que acredito que eles estão lentamente se auto-encurralando. Estão sendo empurrados para uma encruzilhada onde, como a Geni de Chico Buarque de Holanda, serão responsabilizados por tudo de ruim que a cidade tem. Com a questão da bicicleta eles têm uma oportunidade única de dar a volta na situação. Até mesmo porque, por tudo que li e ouvi de técnicos, a bicicleta pode ajudar muito a resolver a questão dos pedestres, este sim uma vergonha sem tamanho para todos nós.
O que dá algum alento é ver que depois de 35 anos como ciclista saiu em espaço tão importante quanto este do O Estado de São Paulo um texto consistente sobre a questão da bicicleta. E que domingo, na Ciclo Faixa Cidade de São Paulo, a coisa corra bem e que seja o início de um novo tempo. Mas, que caminhozinho torto!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ciclo Faixa entre Parques de São Paulo aos domingos

Ontem, 18 de Agosto de 2009, às 17:45, houve uma reunião no novo gabinete de Walter Feldman para apresentação do projeto de Ciclo Faixa nos fins de semana entre os parques da Bicicleta, Ibirapuera e Parque do Povo, que deverá começar operar em breve. O gabinete estava lotado, sem espaço, com gente em pé e até sentada no chão. Walter mostrou o trabalho da FabraQuinteiro, a agência de propaganda, e logo depois fez ver o que a CET está desenvolvendo. O projeto é bom, deve dar resultados, tem que ser apoiado por todos, mas tem lá seus pontos questionaveis.
A idéia é estabelecer o funcionamento de uma ciclofaixa de 5 km através de sinalização vertical e horizontal – só nos fins de semanas, repito. Foram desenvolvidas placas aéreas (de poste) que serão fixadas ao longo e nas transversais da ciclo-faixa, e pintura de solo definindo o local de rolamento para os ciclistas. Nas avenidas República do Libano, Hélio Pelegrino e Faria Lima (até o retorno próximo à Juscelino Kubistchek) a ciclo-faixa será posicionada junto a canteiro central, e partir daí, na lateral tanto da Faria Lima quanto da Juscelino Kubistchek. Quando os ciclistas chegarem à altura do Parque do Povo passarão a circular pela calçada em transito partilhado. Pelo que entendi alguns cruzamentos serão realizados desmontados. Haverá uma equipe da CET operacionalizando e uma equipe de apoio previamente treinados.
André Pasqualine mostrou sua preocupação com a pintura da ciclo-faixa junto ao canteiro central porque pode induzir os ciclistas que passam por lá durante a semana a pedalar na ciclo-faixa de fim de semana. A CET respondeu que a sinalização deixa claro que aquela situação só é valida em fins de semana. E que tendo a ciclo-faixa junto ao canteiro central evita que se trave o trânsito de outros veículos no horário. Além do mais, dizem, há o problema de entrada e saída dos lotes lindeiros, no que estão corretos. Laura Ceneviva elogiou a idéia da CET em vista da situação existente. Mas daí um dos da CET afirmar que uma das razões para a ciclofaixa estar no canteiro central é problema do comportamento das motos, é esticar um pouco demais a corda e subestimar os presentes. A área em questão é nobre e nos fins de semana praticamente não circulam ai motoboys, que é o problema real.
Eu ponderei que a CET está abrindo a caixa de Pandora contra si própria, o que me preocupa. E faço as palavras do André as minhas. Ciclista é condutor de um veículo sim, e como tal é obrigado a seguir as leis de trânsito e sua sinalização. Mas ciclista é também um condutor não habilitado e pode ser menor de idade. Nos fins de semana provavelmente estará dentro do efeito manada e, com exceção de um ou outro, o geral deve acontecer dentro dos conformes, sem acidentes. Mas e durante a semana? Legalmente a CET está coberta e é isto que importa a eles. Como afirmam a cada momento: o importante é a segurança do ciclista. Se é por que não se faz absolutamente nada por aqueles que usam a bicicleta como transporte, portanto pedalam durante a semana? E por que será implantado um projeto que deixa dúvida.
É importante estimular o uso da bicicleta, diz a CET, para ir ampliando o processo, no que concordo. É preciso educar, afirma a CET, o que são de fato obrigados por lei, pelo Código de Transito Brasileiro, mas não me lembro que tenha sido cumprido, exceto numas poucas aulas dadas na Barra Funda. Se o Ministério Público sabe ou se satisfaz com a situação é outra história, mas não deveria. Trabalho de educação para a massa de 300 mil ciclistas dia de semana e 700 mil em um domingo eu não me lembro de ter sido realizado. Se foi, não atingiu os objetivos determinados pela lei. Os números provam o que digo. Daí a “preocupação” minha e de André com fazer a coisa correta, ou seja, a ciclo-faixa à direita, e não a esquerda, só para lazer, só para fins de semana, um pouco confusa para outros fins.
Outra questão é o uso partilhado da calçada para acessar o Parque do Povo. Naquele trecho o número de pedestres é baixo, já que a maioria vem do Itaim Bibi, ou seja, do outro lado da avenida que contorna o parque. Mesmo assim, e de novo, este uso é preocupante porque dá falsa compreensão do que um ciclista pode fazer. A discussão sobre o uso da calçada por ciclistas é muito complicada. Pela lei só pode quando autorizado e sinalizado pelas autoridades, mas pela realidade não é assim que funciona porque a lei tem um buraco no que diz respeito à criança conduzindo a bicicleta, e esta pedalando na calçada. A opção por colocar os ciclistas naquela calçada sinaliza que os cruzamentos de pedestres para acesso ao parque são ineficientes. Sinaliza outros problemas de engenharia de trânsito, como a velocidade local. Por outro lado bicicleta sobre a calçada sempre foi um cavalo de batalha para a CET. Não, não e não. Mesmo quando foi pedido com sinalização, empurrando e tudo dentro da lei. Não, não e não. Estranho esta posição atual.
A CET está abrindo uma caixa de Pandora contra si própria porque neste projeto experimenta de uma maneira muito agressiva, porque está se posicionando perante a lei no limite, porque usa a prerrogativa que a lei permite dá de criar alternativas locais. Laura Ceneviva ressaltou isto, e é de fato muito bom. E concordo; em parte. Infelizmente vocês não participaram das reuniões que participei para ter ouvido as razões alegadas pela CET para frear todas as propostas apresentadas até hoje. Infelizmente não conhecem o histórico para compreender ao certo o que afirmo.
Laura diz que tudo tem seu tempo. Há muito venho pedindo, inclusive em proposta oficializada na própria Prefeitura e assinada por ex-funcionários da própria CET, que se diminua a velocidade nos fins de semana no entorno de parques e locais de atração pública. Vejam no http://www.saopaulodapedal.kit.net/ - http://www.saopaulodapedal.kit.net/sao%20paulo%20450%20anos/sao%20paulo%20450%20anos.htm . Hoje se propõe isto neste projeto, e parece que irão implantar com sinalização, ou seja, em cima da lei. Abre um precedente que se a população não usar contra a CET é porque é burra. Sempre lutei para que as coisas se transformassem e crescessem com calma, lentamente, em ordem. Sempre fui a favor de manter a caixa de Pandora sob controle. O crescimento do uso da bicicleta em São Paulo, como mostra o estudo de Carlos Paiva, da CET, está sendo mais rápido que o esperado e isto pode não ser bom tanto para os ciclistas como para a cidade. Tudo o que São Paulo não precisa é mais uma espécie de motoboy e seus problemas. Que eu esteja errado na minha avaliação.
Com os instrumentos legais que se abrirão com esta ciclo-faixa de fim de semana será possível fazer novos e interessantes pedidos de melhorias de segurança e conforto para ciclistas, pedestres e outros não motorizados.
Espero que dê certo e acredito piamente que venha a dar nos fins de semana. Tem que dar certo para se multiplicar na cidade. Mas não há dúvida que o correto seria fazer a implantação desta experiência baseado na sensatez de levar em consideração que a bicicleta é um veículo sim, que já é usado por 300 mil ciclistas/dia/ trabalho. Educar a futura população de ciclistas, que não para de crescer, seria mais fácil se o processo fosse único e para todos. Separar fins de semana com dias de trabalho pode ser um problemão. Espero que não seja, mas esterno minha preocupação. Que eu esteja “overreacting”.
Finalmente: seria educado e de extrema simpatia que não se repita o fato de ter diretor da CET fazendo comentários jocosos ou impertinentes pelas costas no meio da reunião. O fato já aconteceu outras vezes, uma delas numa apresentação de proposta, a do Dia sem Carro do Movimento Nossa São Paulo, com o Prefeito Kassab por perto. Eu, Arturo, tenho prazer ao debate, de expor idéias, de tentar provar minhas teses, até em campo se necessário. A CET, presta um serviço público e deveria, até por lei, ter apreço ao diálogo sincero. Pedestres sabem como é. A CET tem a lei e um poder político imenso a sua disposição e faz o que bem entende, geralmente faz correto, mas faria melhor se abrisse o diálogo. Como cidadão e com alguma noção do que falo creio que mereço ser ouvido. Tenho o maior respeito pelo trabalho da CET e os números da própria CET mostram quem ela é. Para quem estiver interessado, por favor, comparem os números daqui, São Paulo, com os números dos Estados Unidos - http://www.itsbenefits.its.dot.gov/its/benecost.nsf/SearchBenefits?SearchView&Query=Transportation AND Fatalities AND by AND Mode&SearchFuzzy=FALSE&SearchWV=TRUE. Tire suas conclusões.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Dor de barriga

Meu pai sempre diz que depois dos 50 (anos) se você acorda sem dor é porque está morto.
Escrevi esta frase há uns 4 dias atrás porque estava com uma ligeira dor de barriga e a idéia era falar sobre sentir-se bem. Mal terminei de digitar a frase larguei às pressas o teclado e o que aconteceu nas 20 horas que se seguiram foi um horror não merece descrição, mas vocês bem podem imaginar. Umas 36 horas depois, mesmo ainda muito fraco, consegui sentar na cama com força no corpo suficiente para ficar estável e ver pela janela a maravilha do límpido azul do céu de inverno senti mais uma vez um pequeno renascer. Sentir-se vivo é algo muito intenso que só percebemos quando passamos por algo que nos mostra nossa real fragilidade.
A vida se abre para quem quer vê-la em um strip tese fragmentado. As peças do quebra-cabeça nos são entregues em mãos como por ato de ironia. Vê quem está disposto e também vê quem não quer ver. E se não viu, não percebeu nada, desculpe, mas procure ajuda ou se cale para sempre. É um strip tese sagrado, abençoado, surpreendente, a cada peça único.
Descobri efetivamente o que é a vida no dia seguinte ao que tive uma overdose e apaguei para valer. O que se supõe é que o fumo zerou minha glicemia e cheguei ao que é conhecido como “pequena morte”. Mesmo as apavorantes 4 pré-comas glicêmicas que tive pela vida, causadas por situações que não entorpecentes, não foram tão marcantes. Sou diabético o que explica as situações. Lembro que no dia seguinte a minha pequena morte parei num jardim e olhei aquilo como houvesse descoberto a vida. O óbvio está grudado na ponta do nariz e não enxergamos. A vida é muito mais simples, rica e divertida do que nos forçamos a querer ver.
A dimensão da pequenez e fragilidade humana só fui ter quanto estava em alto mar, há alguns dias de distância da terra, sem interferência de luzes urbanas, numa noite de lua nova e mar relativamente calmo, depois de um dia inteiro sem ver ou ter nada além das águas e suas vagas, e um céu que simplesmente passava levemente nublado. Foi um dia de solidão imensa e silêncio entre todos do navio cargueiro. Deitado no deque superior, ao balanço do mar, por horas e por horas atento à noite, já sem nuvens, e quanto mais meus olhos se adaptavam mais e mais apareciam estrelas, planetas, asteróides, cores brilhantes, formas, um universo sem fim, quieto, maravilhoso, de fato infinito. Sabia que era assim, mas nunca havia vivenciado tantos pontos luminosos. Somos insignificantes.
Não faz muito tempo, voltando pedalando para casa por uma rua tranqüila, tive um surto de pânico causado por stress. A coisa funciona mais ou menos assim: você está bastante cansado, acredita que tem a situação sob controle e sem mais nem menos “clique”, a massa cinzenta ou desliga ou entra num outro parâmetro. Experiência horrorosa. As referências mudam completamente. A sensação de estar sobre uma bicicleta a uns 30 km/h me foi desvendada pela síndrome do pânico. Hoje tenho uma referência mais precisa de como se sente um aluno tentando se equilibrar numa bicicleta pela primeira vez na vida. É maravilhosamente assustador. Em estado normal não percebemos que a bicicleta acaba nos levando a um vôo rasante controlado. Por isto faço questão de ensinar traumatizados a pedalar. Ver seus rostos emocionados depois do primeiro vôo, primeira pedalada, é sentir o prazer não só que se está vivo, mas que se está dando vida.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A primeira pedalada


Numa rápida manha e alguns tombos adiante eu estava dominando a pequena bicicleta sem as rodinhas e sem freios. Pensando bem não sei como meu pai, sempre tão cuidadoso com as coisas técnicas, não se apercebeu que para parar aquela bicicleta a coisa era um pouco complicada. Fui autorizado a pedalar na calçada de minha rua, para lá e para cá. Nada de ir para a rua, para o asfalto, de cruzar a rua, de me afastar do portão. Não sei bem para que porque nunca havia ninguém olhando por mim. Não demorou muito para que começasse a fugir de casa e fazer coisas que me eram proibidas. Primeiro dobrei a esquina, depois dei minha primeira volta completa no quarteirão de dia e, não demorou muito e ainda posso me lembrar com detalhes, a mágica volta no mesmo quarteirão iluminada pela luz de um incrível farolete-buzina movido a pilhas. Não sei como não cai ou acertei uma árvore ou poste porque fiz a volta completa com olhos grudados no farolete. Terminada minha excursão parei no portão e como ninguém me notasse sai para outras muitas voltas. Quando cansei entrei em casa em silêncio, mas seguramente com cara de criminoso bem sucedido. Aos poucos fui indo mais longe, explorando todas calçadas do bairro, até o dia que acertei a porta de um carro que saía da garagem rua Polônia. Voei por cima do capô, tive que espaçar do motorista e moradores da casa que queria a todo custo me levar de volta para casa e voltei apavorado, pedalando amuado, com a certeza que minhas peripécias seriam descobertas e eu tomaria mais uma surra.
Provavelmente não me passou pela mais remota imaginação que tirar uma foto com a pequena bicicleta com seu garfo torto iria denunciar-me à eternidade. Talvez desde aquela época eu já tenha sacado que divertido mesmo é pedalar de chapéu cowboy, mas não tão divertido é voar por sobre o cavalo de ferro, a bicicleta.
Nunca soube ao certo se foi influência das aulas que meu pai me deu, ou pela falta de freio da pequena bicicleta, mas pedalar devagar nunca foi meu forte. Subia na bicicleta e voava para a liberdade. E com isto os tombos se sucederam pela vida. Quem voa toma tem suas quedas; faz parte. Os que caí em cercas de espinhos foram os mais marcantes. Podem imaginar quão divertido minha mãe achava ficar sentada retirando os espinhos do meu corpo. Eu tratava de não reclamar para não piorar as coisas. “Meu filho!” dito uma única vez, de forma dolorida, era o único que ela dizia. O que a gente faz mãe sofrer é vergonhoso, mas fazer o que?
Num determinado momento a bicicleta sumiu de minha vida. Sim, agora me lembro porque: em um dia claro, na hora do almoço, a porta de aço da garagem foi silenciosamente aberta e as duas bicicletas, minha e de minha irmã, foram levadas. A história toda é absurda porque esta porta era daquelas onduladas, típicas de lojas, padarias, e outros, que você puxa para cima para abrir e no enrolar acabam fazendo uma barulheira infernal. Não se ouviu nada, mesmo a janela da cozinha sendo há uns poucos metros. A imagem de nós, duas crianças desoladas, olhando para dentro da garagem vazia ainda entristece.
Só voltei a ter minha bicicleta alguns anos depois. Fui chamado por minha avó até a garagem dela e lá puxaram para cima o mesmo tipo de porta, com o mesmo barulho de enrolar que tínhamos em nossa velha casa, vi o sol progressivamente invadir o fundo da garagem e lá, encostada na parede havia uma bicicleta um tanto empoeirada. Não me dei conta do que se tratava. A bicicleta era meu presente atrasado, proibido de ser entregue no momento correto, aniversário ou Natal, por meu pai que dizia ali, ao meu lado, que eu não a merecia. Ela estava não só empoeirada, mas um pouco enferrujada, apesar de nova, de nunca ter sido rodada. Mas que pré-adolescente se preocupa com estes detalhes. Rodei muito com ela. Fiz coisas que não me lembro, mas que Renata, minha prima, conta rindo. Um dia, de boa fé deixei-a na porta do supermercado e não a vi mais. O segundo roubo.
Santo irmão não deveria servir para isto, mas fazer o que. Um dia ele, justamente ele, o bom homem sério grudado aos livros e ao trabalho, foi até a Sears e comprou uma bicicleta para si próprio. Talvez ele tenha esquecido de olhar que o moleque da casa já tinha sua altura. Saiu para dar sua primeira volta pelo bairro, voltou logo em seguida e contou o que havia feito. É lógico que pedi autorização, assim como é lógico que aos poucos me apoderando a bicicleta. Nem tanto, porque depois de alguns meses juntei dinheiro e comprei uma igual, mas com três marchas. Infelizmente não me lembro de termos saído para pedalar juntos, o que teria sido fantástico. A partir daquelas duas bicicletas encontrei meu caminho, este que quem me conhece sabe bem qual é. Mesmo depois que tirei carta a bicicleta não desapareceria mais de minha vida.
O tempo seguiu seu caminho e passei a titio. Confesso que não sei se ela sabe pedalar. Que vergonha! E a família parou por ai, uma sobrinha, e agora uma sobrinha neta. Hora de corrigir o erro.
Há mais de cinco anos venho ensinando quem não consegue pedalar a se virar. Uns ficam felizes porque pedalaram algum dia em suas vidas, outros pedalam por ai com a proteção divina (como a maioria dos ciclistas) e até tive o prazer de ter alunos que hoje pedalam com “P” maiúsculo. Não tive filhos biológicos, mas todos estes meus alunos são intimamente meus filhos. Sempre senti a coisa assim. E neste último dia dos pais um aluno, Sérgio, me mandou uma mensagem “Feliz Dia dos Pais”, que quase me fez enfartar de felicidade. É muito bom. Li o brevíssimo e adorável texto, olhei para meus três pequenos netos enteados e tive um acesso de ansiedade. Não vejo a hora de cada um deles chegue. E pelas costas do futuro ciclista sentirei um prazer indescritível. Ali é pode ser o começo do caminho para a liberdade, se assim eles quiserem.