quarta-feira, 26 de julho de 2023

Siga o dinheiro do que está estranho

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

Quantos bi as apostas em futebol renderam? Foi publicado, eu vi e não acreditei. Quem ganhou com está barbaridade de dinheiro, falo dinheiro grosso, não trocados? A imprensa e mídias não sabiam, nem desconfiavam? Ou ficaram quietas porque estavam sendo patrocinadas? Da mesma forma que alguns resultados de partidas foram... o que mesmo?

O Clube Atlético Mineiro está com uma dívida de quanto em bi? Quem levou? Não se aprendeu nada com a Portuguesa, Guaraní, e tantos outros? Não se aprendeu, nem divulgou rapidamente em nome das torcidas de um esporte que vai de mal a pior, em nome de ter ouvintes, leitores, público... Os bastidores, ora, os bastidores... são só um detalhe? Detalhes, detalhes... fascinante que merece o perdão do silêncio, silêncio que acaba quando explode na cara de todos e então não há mais forma de silenciar? 

Faz 20 anos de Cracolândia, quem seguiu, quem segue o dinheiro? Uma pessoa que faz trabalho social na área, fonte confiável, diz que gira R$1.200.000,00 por dia em drogas lá. Siga o dinheiro, manda a história indicando os bons resultados conseguidos no planeta para situações fora do controle como estas. Siga o dinheiro. Follow the money. Quem se interessou, quem se interessa, quem vai atrás? Que pauta é está?

Misturando lé com cré? É mesmo? Vai nessa. Siga o dinheiro.

Não sou dado nem a teorias da conspiração e muito menos a apontar o dedo sem mais nem menos, mas como brasileiro e  acreditando ter visto um pouco disto que vivemos, como não desconfiar que nas apostas tem coisa, e das grandes? Como não confiar nas notícias que meteram a mão nos clubes, meteram a mão pesada em vários esportes? Sobre a Cracolândia... o que posso dizer? Vinte anos de soluções mágicas? Me engana que eu gosto.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Carta aberta ao macho alfa

Na esquina das ruas (avenidas) Funchal com Gomes de Carvalho um ciclista cabelo e barba brancos que vinha da Juscelino dobrou a esquerda sem olhar, cruzou o sinal vermelho. Um pouco depois foi seguido por uma mulher que também cruzou sem olhar. Dei um urro para pará-la ou iria enchê-la no meio, na velocidade que eu vinha seria acidente feio. O idoso parou um pouco mais a frente na Gomes de Carvalho, jogou a bicicleta e o capacete no chão ameaçadoramente e partiu para cima de mim gritando "Respeite minha mulher, respeite minha mulher, respeite minha mulher..." quando foi agarrado e seguro pela mulher. Eu fiquei distante gritando "Aprende a pedalar". Sair no braço, eu? Nunca em vida saí, não seria agora. Tive vontade de dar meia volta e discutir, mas o ciclista estava completamente fora de si.

Repassando o incidente em casa, a primeira imagem que tenho foi a do ciclista cruzando a Funchal (no vermelho) sem sequer olhar se vinha alguém. Não diminuí porque teria passado por trás dele numa distância segura, sem problema, que talvez ele sequer percebesse. Não ia dar em nada. Na fração de tempo que meu olho ficou acompanhando o ciclista, ela, a ciclista, também começou o cruzamento olhando para frente, acompanhando segura o ciclista, leve, livre e solta e sentindo-se segura. De uma colisão com ela não conseguiria escapar sem o urro que a fez frear.
O detalhe é que quando ele começou o cruzamento sequer olhou para trás para ver onde ela estava, se seria seguro para ela. 

Daí esta carta aberta ao macho alfa:

Primeiro: falando em respeito, todo e qualquer ciclista deve respeitar os bandeirinhas que ficam nas esquinas orientando o trânsito, o que a cada dia acontece menos. Quando estes trabalhadores esticam cruzando a Ciclofaixa de Domingo suas bandeiras vermelhas com um bem visível PARE ao centro, deve-se parar, o que não ocorreu, mesmo que seja por simples respeito ao trabalho destes. Não aconteceu.
Segundo: quando o semáforo está fechado, no vermelho, como era o caso, ciclistas, que pelo CTB conduzem um veículo como qualquer outro, no caso a bicicleta, devem parar, como qualquer outro condutor de qualquer outro veículo. 
Terceiro: eu estava pedalando na rua, o que segundo o CTB só é permitido quando o ciclista circula a pelo menos 50% da velocidade mínima estabelecida para a via, o que era meu caso. Pelo mesmo CTB, em havendo ciclovia ou ciclofaixa, como é o caso no local, como ciclista eu deveria estar pedalando na ciclovia e não na rua. O que se pode colocar em questão é que ciclovia não é lugar para treinar, ou pedalar em velocidade não compatível com a segurança dos outros ciclistas. Eu estava pedalando forte, uma espécie de treinamento, para continuar tentando recuperar minha saúde afetada pelo COVID. Em minha defesa tenho a dizer que era um domingo de férias, com ruas e avenidas praticamente vazias.
Quarto: viesse um carro ou moto elétrica, que não fazem qualquer barulho, a ciclista não teria escapado de um gravíssimo acidente, o pior deles para um ciclista, a colisão lateral, em muitos casos fatal.
Quinto: homem que é homem preocupa-se com quem está pedalando junto, aliás, regra de cortesia básica para todo e qualquer ciclista, seja homem, mulher. Quem guia o passeio tem que olhar pela segurança dos outros.
Último: macho que é macho, homem que é homem, não sai no braço como tudo indica que este ciclista queria e só não o fez porque a mulher o segurou pela mão, demonstrando que está acostumada aos ataques de fúria de seu companheiro. 
"Discutir pode, brigar não pode" sábias palavras deixadas por meu caríssimo amigo Sérgio Luiz Bianco. "Você sabe com quem está falando" é muito simbólico do quem somos, não há como negar. Sair no braço é uma vergonha, deprimente, mas caiu em desuso... 
Nos dias de hoje (Cartomante - Ivan Lins) é bom que se proteja,  ofereça a face para quem quer que seja, nos dias de hoje esteja tranquilo, haja o que houver pense nos seus filhos...

... sair no braço é uma vergonha, deprimente, mas caiu em desuso... Tive sorte de não ter tomado uns tiros, que é o "você sabe com quem está falando" trivial e da moda. Cruzar no vermelho?

De minha parte faço votos que uma hora desta cruze com o ciclista e possa parar e conversar feito gente civilizada. Nada deixaria minha alma mais tranquila.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

"Attenzione pickpocket! attenzione borseghiatori!" e as nossas 550 mil mortes violentas

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo 

Unidos venceremos, ditado tão velho quanto o entendimento da humanidade sobre como agir para ter progresso: só com ordem coletiva e ordem só existe em um conjunto, em outras palavras, com união. Traduzindo: unidos venceremos. No meio da macabra comemoração invertida (não sei o quanto e se dolorida) dos mais de 550 mil assassinatos (oficiais) nestes últimos 10 anos o Brasil se diverte com o meme da italiana que sai pelas ruas de Veneza gritando "Attenzione pickpocket; attenzione borseghiatori" (atenção batedores de carteiras) para alertar turistas e afastar os bandidos, que aliás ao grito saem correndo, fogem como ratos. Faz sentido total sentido a violência que temos no Brasil já que "dedurar" os outros é considerado o pior dos crimes. Nunca vi um cidadão gritando "olha o batedor de celular". Recebi pesadas críticas de todos quando fui atrás de um assaltante, impedindo assim o assalto. E fui chamado de trouxa quando fui ó único a fazer um B.O. da invasão de minha casa, que foi arrombada e roubada junto com outros 9 casas em terrenos contíguos (por que terá sido?) numa rua muito próxima ao metrô Pinheiros. Num condomínio foram roubadas 12 bicicletas numa tacada só e nenhum proprietário fez B.O., só um deles respondeu para Polícia que foi lá que não não iria fazer porque "são só R$ 4.000,00". Histórias como estas são infinitas.
A população berra contra a insegurança, usa as redes sociais para reclamar da ineficiência das autoridades, faz muito barulho, mas se recusa a oficializar os problemas, a meter a mão na massa, a ajudar de fato. A base de qualquer sistema de segurança em qualquer país civilizado invejado por nós é a efetiva cooperação de todos, o unidos venceremos. Estou exausto de ouvir das autoridades que não sabiam de determinado problema, e tenho muitas razões para acreditar que não seja desculpa, mas a mais pura verdade. Não é de nossa cultura "dedurar", seja o que quer que seja esta interpretação burra invertida e criminosa dos fatos. Não existe solução simplista, melhor simplória: bandido bom é bandido morte é de uma estupidez sem tamanho por que só serve para queimar arquivo. Sem arquivo, sem dados, não existe solução, não se resolve nada, tudo fica igual. As 550 mil mortes violentas destes últimos 10 anos é resultado do vergonhoso círculo vicioso que nos impomos, ou seja, têm nossa responsabilidade direta. 
"Attenzione pickpocket! attenzione borseghiatori!" - simples e comprovadamente eficiente unidos venceremos.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

O debate da Kombi politicamente correta

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Eugênio Bucci é um dos melhores articulistas do país, merece leitura. Como sempre seu texto "A profanação da Kombi; comercial da marca alemã é um descalabro ofensivo a arte, à música brasileira, à memória de quem partiu desta para a desconhecida" dá o que pensar, o que é ótimo. E discordo. Começar por onde? Descalabro é palavra que desde Marcel Duchamp, lá por 1915, deixou de existir ou, minimamente, se pode colocar em dúvida. Olhe em volta e pense em descalabro, o que será? De onde vem? Qual nossa responsabilidade? Não sei o que Duchamp pensaria sobre "ético" que traduzo subvertendo para o nosso "politicamente correto" tão atual, que é o que se põe em questão com todo este debate sobre esta propaganda da Kombi. "Ofensiva", que está no texto, é a qualidade musical do que se diz ser música popular brasileira dos dias de hoje, que desrespeita nosso passado e da qual só tiram vantagem os que ganham rios de dinheiro com ela. Os outros se calam. Sobre memória de quem partiu os direitos autorais são da família de Elis Regina e ponto final. Em nome da proteção dos direitos autorais, que não reconhece o interesse público de uma obra, a mesma USP não consegue reeditar os livros de meu avô, Fernando de Azevedo, sociólogo, educador, aliás um dos responsáveis pela criação da mesmíssima USP da qual Bucci dá aulas, e disto não se fala uma palavra nunca. Poderia citar "n" obras de "n" autores de importância crucial para a cultura do Brasil que foram ou estão esquecidas ou perdidas em razão de interesses individuais ou coorporativos de ética duvidosa em relação aos interesses coletivos, mas isto é outra história dirão. Belchior, caríssimo Belchior e sua maravilhosa "Como nossos pais"; de novo, pelas mesmas razões de ter Elis cantando no comercial, os direitos autorais são da família ou de alguém que segundo a lei faz o que quer com eles, e ponto final. Mudar a lei, ajustá-la? Primeiro, não sabemos o que Belchior pensava ou o que pensou quando escreveu a obra prima, mas sabemos como levou e principalmente terminou sua vida, alias sem ajuda de alguns que agora reclamam. O resto é suposição de quem não dormia na mesma cama. Fato é que nestas últimas décadas barbarizaram, esquartejaram, aniquilaram nossa riquíssima cultura num taciturno silêncio, incluindo sem perdão das elites e intelectuais. Pobre Museu Nacional! Politicamente correto? Ético? Por fim a Kombi, a mágica Kombi. "Nossas memórias mais preciosas, mais inocentes" que escreve Bucci sobre a Kombi, que as tenho, incluem a de Lula, ainda jovem sindicalista, descendo de uma (Kombi) para negociar o fim de uma greve na mesma VW que a produzia, a mesmíssima VW que "entregava funcionários para a ditadura" (palavras não de Bucci), aliás, VW (traduzindo - carro do povo) que foi criada numa Alemanha que quis ser reino de mil anos (do politicamente correto deles). Acredito que que terá quem me excomungue por citar o brilhante sindicalista, mas o que vale aqui é a incongruência positiva da própria história da Kombi. Neste samba da vida louca (o título original não se pode falar mais em nome do politicamente correto) a Kombi, um projeto genial que vai fundo na forma e função, talvez tenha virado um dos mais importantes elementos de travessia do abismo social que abate a maioria do povo brasileiro. Ter uma Kombi para trabalhar significa ter uma passagem para sair da miséria. Kombi dos mil usos, das mil culturas, Kombi que encheu os bolsos de empresas, Kombi que foi usada pela ditadura, Kombi de inúmeras e infinitas histórias. Marcel Duchamp teria um prato cheio com a Kombi e este debate sobre a propaganda. Aqui, no planeta satélite Brasil, uma coisa é absolutamente certa: o povão não faz ideia do que significa esta "profanação da Kombi", e aliás provavelmente nem se interessa. Tenho certeza que eles ficariam muito mais felizes se os tirassem da pobreza, mesmo que tratando com irreverência e desrespeitando a santidade de suas misérias. Já que é para brincar com contextos, vamos lá: "Quem gosta de pobreza é intelectual", Joãozinho Trinta. 
O Brasil profana constantemente não só seu passado, mas seu futuro, o que é muito pior. E não é só na propaganda. Nosso problema não é a profanação, mas a total falta de objetividade para as prioridades. Finalmente: a VW e a nova Kombi agradecem toda esta discussão. No final das contas a propaganda acertou no olho da mosca.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Famosa pizza da riquíssima cidade

Fui a uma pizzaria muito bem montada e frequentada em Ribeirão Preto e comi a pior pizza de minha vida. Olhando em volta a arquitetura agradável, as excelentes cadeiras e mesas com espaço farto entre elas, pratos e talheres bem-postos, vendo o público de classe média alta entrando e se acomodando feliz, não pude deixar de pensar na total incongruência com a péssima qualidade da pizza que seria servida, repito: péssima. Perguntarão: se você (eu) sabia que a pizza era tão ruim por que foi comer lá? Experimentar, principalmente. O que não esperava é que o jantar fosse virar um redemoinho de pensamentos sobre quem somos, nós brasileiros e principalmente, aquele povo que se deliciava lá com aquilo que ofende todas as pizzas do mundo. De fato, esta pizza vai ficar 'famosa'.

A pizzaria foi recomendada por uma senhora de classe média alta, com um ótimo nível de educação, casada com reconhecido e respeitado professor universitário. Por causa deles tive a oportunidade de comer n'a' pior trattoria de minha vida, disparado. Confesso que nunca imaginei que um restaurante fosse tão ruim, que erros tão grosseiros pudessem passar desapercebidos por aquele povo. Aliás, com o mesmo casal tive a sorte (?) de comer nos cinco piores restaurantes italianos de toda minha vida, incluindo 'a' trattoria. O impressionante é que todos, incluindo 'a' trattoria, têm público cativo e são tidos como referência de comida italiana; pior, muito pior, recebem elogios e são recomendados.

"Nós é que somos bestas!" me foi dito. Não, definitivamente não! Não é o caso, definitivamente não é o caso. Mesmo que haja alguma bestice, vai muito, muito, muito mais além de nossa bestice, estes 'restaurantes, cantinas e trattorias' embutem em si fatores sociais e culturais que apontam o que é de nossas vidas. Gastronomia é reflexo de seu povo, de sua cultura, de suas tradições, e principalmente de seu modo de vida. Melhor, o simples comer, se alimentar, nem isto é respeitado. Não é besta quem se auto respeita. Comer porcaria de vez em quando vai, mas mesmo a porcaria tem limites. 

A pizzaria em questão, a que me leva a todos estas reflexões, está em Ribeirão Preto, num dos melhores pontos de um dos mais ricos bairros de uma das cidades mais ricas do estado mais rico do país, no país mais rico da América do Sul e América Latina; este é o ponto, é o que muda tudo e descarta a bestice. Aquela coisa que chamam de pizza tem toda uma simbologia que não deve é impossível de ser descartada. Como pode um povo tão 'rico' achar bom algo que é tão ruim, que desrespeita princípios básicos da cultura e educação? A dita pizza não está isolada neste ponto. Como pode um povo tão rico achar normal tantas barbaridades, tantas estupidezes, que fazem parte do seu dia a dia? Como podem cometer erros tão grotescos com suas vidas?

- Não me interessa. Adoro este lugar, é o melhor lugar do mundo e daqui não saio. 
- Mas você conhece outros lugares?
- Não conheço e não quero conhecer. Não me interessa.
A resposta, que já ouvi inúmeras vezes na vida, é muito parecida com a de meu neto quando tinha 2 anos de idade e se recusava a experimentar qualquer sorvete que não fosse de morango. 

Alto da Boa Vista em Ribeirão Preto é um bairro construído não faz muito, com um planejamento tipicamente americano, avenidas largas, arborizadas, edifícios altos, espaçados entre si, várias praças, um comércio de rua rico, um dos melhores shoppings, grandes revendas de BMW, Porsche, Audi e marcas nacionais, ótima hotelaria, bons restaurantes, parques, condomínios de casas murados, enfim, padrão classe média alta e alta, como de Miami, o que aliás lembra muito, se não me falha a memória acho que a SW 3rd Ave e redondezas. Não sei qual é o PIB local, mas com certeza é alto, bem alto. 
Esta forma de urbanismo hoje é considerado um erro grosseiro e está sendo pesadamente criticado inclusive em inúmeras cidades americanas, que tentam reverter o desastre, vide NY. A horrível pizza em certa forma reflete o bairro ou bairro reflete a pizza?

O PIB da cidade de Ribeirão Preto é dos mais altos do Brasil, mas quando se coloca na conta a Região de Ribeirão Preto o volume de dinheiro circulando na cidade aumenta e muito. Enfim, é muito alto. Pelo que parece não se reflete na busca do conhecimento do que de fato há de melhor mundo afora, a maior riqueza que um povo pode ter, diz a história.


Um desastre gastronômico naquele lugar pode ser facilmente justificado pelo que parece e é, mas não é exatamente o que parece. Infelizmente ter preocupação com cultura é comumente confundido com "bestice". Saber comer, muito além do prazer, é uma questão de formação cultural, de compreender quem somos, onde estamos, para onde vamos, o que pretendemos. Por favor não fazer confusão simplória com refinamentos bobos ou bestices. A boa cozinha, a boa culinária, não necessariamente está ligada a assinatura Michelin, muito menos com pagar uma conta astronômica. Estou cansado de comer porcaria em restaurante caro ou da moda. Recomendaram estes, estou fora. Por sinal, a segunda pior pizza que comi na vida foi numa pizzaria que só se encontra nos melhores pontos dos Jardins e também lá no Alto da Boa Vista de Ribeirão Preto. Péssima! Péssima! Mesmo feita com trigo, tomates e muçarela importados de Napoli, segundo o gerente, o resultado é muito pior que a maioria das pizzas de padaria amanhecidas. Péssima! Mas tem gente que adora, vai fazer o que, está no direito deles. Só não consigo definir se batem o pé que a pizza é ótima pelo lugar chique (?) da moda ou se o paladar não funciona. Aposto no primeiro, lugar chique.

Um pouco mais a frente um pequeno e excelente mercado gastronômico tem pequeno público cativo e tenta formar novos consumidores. Segundo um dos donos o problema é que o povo mais abastado prefere viajar 300 km para comer e fazer suas compras, quando não voa para o exterior para gastar o rico dinheirinho. Causa muito mais impacto na conversa social. Chique no último!

Do outro lado da avenida onde está a pizzaria de Ribeirão tem uma loja de roupas femininas muito bem montada, grande, vitrine para a rua, onde está exposta um conjuntinho para jovens que remete a completa falta de refinamento da famosa pizza. Quase cai sentado quando a noite parei e olhei a qualidade do corte e principalmente da costura, completamente enrugada. Para piorar, colocaram uma iluminação nas peças que só acentua os defeitos. Não gosto de fazer compras, mas por uma questão de cultura passei a gostar olhar vitrines e, dependendo, entrar nas lojas e xeretear. Confesso que nunca vi um erro tão grosseiro. Como pode uma coisa destas dentro do contexto daquele bairro?

Nunca entendi como a população de operários que trabalha sob o sistema ISO de qualidade não replica as mesmas práticas em seus bairros, suas casas, suas famílias, nas escolas de seus filhos...
Como entender que uma sociedade intimamente ligada a cultura da cana de açúcar, que hoje tem uma Embrapa por trás, empresa referência internacional de avanço, não tenha tido um incremento geral de cultura.

Pizza e roupa feminina de péssima qualidade parecem detalhes, mas denunciam uma coisa líquida e certa: independente do abismo social, o nível cultural geral é muito muito baixo.

Exclusividade nossa, dos brasileiros? Definitivamente não. Mal mundial. Vide nossos hermanos, que já foram uma das referências mundiais de educação e hoje... Ou os redneck, ou algumas populações europeias, ou... ou... ou... Não importa o ambiente riquíssimo e o dito ótimo nível cultural, o produto final no geral é de completa incoerência.

"Eu me orgulho de quem sou e não vou mudar".
Sem dúvida, a terra é plana. 
Urge aplicação de inteligência, de uso de toda cultura possível existente, para não entrarmos em colapso. A famosa pizza que aqui descrevo avisa: 'temo mal!

São inúmeros os artigos científicos que quase imploram para que façamos o correto. Faremos? Duvido. 




BRASILSUSTENTABILIDADE
Mudanças climáticas chegaram a um ponto ‘sem retorno’, diz estudo
Pesquisadores encontraram 55 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa no solo
O Globo
02/12/2016 - 08:15 / Atualizado em 02/12/2016 - 10:54

terça-feira, 4 de julho de 2023

"...eles não têm capacidade de ter iniciativa..."

... ter iniciativa ... empreender... 

Afinal, o que é ser empreendedor? Quais as condições para ser um empreendedor, as condições pessoais digo, não as financeiras?

Empreender não é para qualquer um. Tem pessoas que empreendem naturalmente, nascem com o dom, e outras que são incapazes de empreender; é da natureza humana. Mas há um fator que faz muita diferença para que os empreendedores venham a tona: o ambiente em que vivem. Tem que ter uma cultura local que facilite e estimule para que as ações acabem resultando em algo positivo. Num país onde a burocracia é insana, onde são estabelecidas umas 800 novas normas comerciais por semana, que há 27 legislações estaduais, onde tem lei que cola e lei que não cola, onde o sistema tributário é irracional, onde os especialistas têm correr atrás para saber o que está valendo naquele exato momento, como o Brasil, o estímulo para empreender não é estimulante, mesmo assim o pessoal empreende. E a maioria se dá mal. 
Ou seja, de novo, empreender não é para qualquer um. 
  
A ideia de escrever sobre um tema que pouco sou afeito veio enquanto fazia a barba com a TV francesa transmitindo uma reportagem muito bem documentada sobre a imigração ilegal de africanos para a Europa, em particular para a França. Indo muito além da tragédia dos frequentes naufrágios, a reportagem para lá de consistente, com pesquisa, entrevistas, depoimentos e dados oficiais, olha a vida dos africanos já no continente europeu. Vale lembrar que a TV5 francesa tem repórteres espalhados pela África e diariamente notícia sobre a vida lá. Voltando a matéria; termina com a fala de um especialista sobre a questão afirmando "Eles (africanos) não têm capacidade de ter iniciativa", provavelmente se referindo às dificuldades enfrentadas pelos que já estão na Europa. Para que a afirmação dura não saísse do contexto, o programa termina com um africano falando que se ele soubesse o que sabe agora que conhece a cultura europeia não teria saído de seu país de origem; deixando a entender que teria seu próprio negócio, empreenderia, e teria sobrevivido na África.
Acontece só com os africanos? Definitivamente não. 
Óbvio que um africano na Europa encontra dificuldades que vão muito além das que um empreendedor europeu tem. Não é raro encontrar árabes e orientais que têm seus negócios funcionando bem por lá. 

O que a matéria da TV5 me deixou foi a pergunta o que é ter iniciativa? O que determina ser capaz ou não de ter iniciativa? 

Boa parte da cultura africana foi secularmente transmitida por via oral, sem escrita, o que dificultou a capacidade de boa parte da África em acompanhar e fazer frente ao eurocentrismo que domina o mundo faz milênios, mesmo antes do colonialismo. É óbvio que houve empreendedores africanos, mas provavelmente nos termos desta transmissão oral, e tribal, imagino eu, assim como é óbvio que há modernos empreendedores africanos adaptados ao sistema que nos rege hoje.

Não precisa ir longe. A mesma coisa aconteceu até muito pouco tempo nos internos analfabetos deste Brasil. O analfabetismo anda de mãos dadas com a pobreza, vale para todo mundo e para o Brasil. O não letrado tem sérias dificuldades para ter iniciativas que sejam producentes, e falo aqui producentes para si próprio, não só as monetárias.
Vale ressaltar que nós brasileiros, temos inúmeros casos de analfabetos que empreenderam com grande sucesso, pelo menos no lado financeiro.

Fato é que a definição de empreendedorismo ainda hoje vem sofrendo uma transformação, uma revisão, pelo que noto perdendo a conotação restrita no financeiro. 
Tenho plena consciência de minha ignorância e o que quero é nada mais que levantar uma poeira para pensar. O "...eles não têm capacidade de ter iniciativa..." é para se pensar

Fim de documentário, TV apagada, rua, fim de inverno, saí andando pelas calçadas parisienses do XVI arrondisement (bairro), no meio do pseudo socialismo empírico dos mantos azul marinho dos franceses (e de toda Europa), e me deu mais ainda o que pensar. Todos se vestem muito parecido, uma formalidade que os une em que? Sobrevivência, unidos pela sobrevivência individual sob a tutela coletiva, simples assim, não tenho duvidas. Unidos venceremos, e a história prova que venceram. O estar parecido é uma iniciativa atávica individual doutrinada na educação funcional coletiva. Uma sobrevivência aquecida pelas comodidades conquistadas, as mesmas do passado. A lógica do empreender fica muito mais fácil num caminho claro e pré estabelecido.

Os povos do hemisférico norte vivem meses de frio, o que obrigou em tempos remotos, segue e seguirá obrigando a uma mudança no comportamento social. Em condições muito adversas tem que ter iniciativa para sobreviver. Não dá para sair às ruas, tem ficar dentro de casa, família, é obrigado a pensar na sobrevivência, no como e o que produzir quando estiver no tempo de calor, nos contados a fazer, como funcionar, tudo para sobreviver ao novo frio que com certeza virá daqui uns meses. É um ciclo de vida climático muito bem estabelecido que força a estratégias de vida também muito bem estabelecidas e pensadas. Muito diferente de um eterno tempo quente, um clima que dá liberdade todo ano, todos anos, sempre.

Outro ponto é que as iniciativas do unidos venceremos está escrita letra por letra. É seguido, revisto, discutido, repensado, tudo escrito e reescrito letra por letra, em pontos uniformes e funcionais, até mesmo o empreendedorismo individual. Não é mais uma tradição oral, tribal ou local, deixou de ser a milênios. 
O progresso ficou muito mais fácil quando se uniformizou pela escrita. Não estou sendo contra as tradições ancestrais, que são pouco conhecidas, estudas, respeitadas e aproveitadas, e que em vários casos são vistas como um perigo para iniciativas eurocentradas. Aliás, a bem dizer, estas tradições estão todas secularmente sendo colocadas no papel; até as mais remotas. 

Nos países mais ricos não existe preocupação em ser diferente porque eles sabem lidar com as diferenças. As diferenças mudaram de patamar. Existe a obrigação de empreender para sobreviver, de ter iniciativas para seguir em frente. O sistema todo está montado em iniciativas, em novidades, das bobas, inúteis e perigosas, às efetivas.

Brasil é um dos países com maior índice de empreendedorismo, ao mesmo tempo é um dos mais altos, se não o mais alto índice de empresas que fecham logo após serem abertas. Pelo que me lembro em 2 anos fecha até 90%, uma loucura.
Outra questão que rema contra a boa maré é nosso individualismo igualitário. Há uma obrigação de sobrevivência social em ser diferente, cada um tem que exacerbar sua individualidade, reflexo de uma sociedade muito pobre e dividida em sua educação e cultura.

José Luiz Tejon em suas falas na Rádio Eldorado vive reforçando a importância do cooperativismo e onde as pessoas se juntam com um mesmo objetivo a coisa anda para frente, dá certo. Os números não mentem, estão aí para quem quiser ver. Eurocentrismo? Com certeza, é o que dá certo e num passado muito distante o que fez civilizações serem grandes, marcarem história.

O incrível é que temos ótimos exemplos de iniciativas, empreendedorismo. O Brasil é um país de uma riqueza raríssima no planeta, e mesmo assim não vamos para frente. 
Mais interessante é que a maioria que viveu fora, nos países ricos, no hemisfério norte, volta para o Brasil (quando volta) com uma outra cabeça. Se pode dizer que repetem o que o africano entrevistado disse para a TV francesa: "Se eu soubesse..."

Enquanto isto não saímos do lamaçal.

substantivo masculino
ADMINISTRAÇÃOMARKETING
  1. 1.
    disposição ou capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços, negócios.
  2. 2.
    inciativa de implementar novos negócios ou mudanças em empresas já existentes, ger. com alterações que envolvem inovação e riscos.
  3. 3.
    FIGURADO
    conjunto de conhecimentos relacionados a essa forma de agir.

https://languages.oup.com/google-dictionary-pt/

Implantar a segurança em círculos de virtude

Brasil é um dos países com piores índices de segurança no mundo. Como mudar esta situação?
Acredito que se tenha que parar de brincar de fazer o que manda a lei, o dito correto, para avançar respeitando os vícios existentes. Penso que deva ser como educar criança ou adolescente: quanto mais você diz não pode, mais eles são tentados a fazer, e acabam fazendo. 

Sempre vale a pena olhar para o que dá certo em outras áreas.
Uma das técnicas para ensinar a ler e escrever é começar pelas palavras que o aluno já consegue identificar, como Coca-Cola, Vivo, Claro, pare, metrô, etc... Em muitos casos é possível fazer o aluno sentir-se mais seguro, baixar a ansiedade, ou parar com a sua auto negação. 
É muito provável que exista uma pedagogia específica para ensinar e treinar procedimentos de segurança, mas provavelmente deve ter sido pensada para o público trabalhador, o que põe em jogo uma regra impositiva: se fizer besteira perde o emprego e com isto o salário.
Interessante é que esta mesma população que trabalha em locais que têm certificado ISO fora da área de trabalho não usa os ensinamentos, práticas e procedimentos que fazem a fábrica, por exemplo, funcionar bem e progredir.

No norte e nordeste boa parte da população usa moto sem capacete e sem respeitar qualquer regra de segurança que é, ou deveria ser, o básico do bom senso. Autoridade entrar de sola multando, aprendendo as motos, mandando para a moto escola, ou tomando qualquer outra atitude pouco ou absolutamente nada resulta, só dá raiva no povo que vai seguir fazendo as mesmas besteiras. Não funciona, simples assim. 

Vivemos numa sociedade que foi construída sob a força do medo imposto, uma forma secular de manter o povo controlado. A questão é que esta técnica a cada dia é mais contestada e menos eficiente. 

Segurança não pode ter qualquer relação com ansiedade, que por sua vez gera medo. 
Boa parte dos que não conseguem pedalar olham para a bicicleta e tem um surto de ansiedade. Se conseguir desviar o pensamento do aprendiz, e com isto enganar a ansiedade, ele sai pedalando. Tive um aluno que não conseguia pedalar mais que uns poucos metros. No meio de uma destas tentativas passou uma menina bem ajeitada e ele descontraiu, imediatamente mandei ele seguir aquela bunda e foi a primeira vez que ele pedalou com segurança.

É comum o uso inconsciente da negação para passar do medo gerador de ansiedade para uma liberdade inconsequente. Faz tudo sem avaliar, vai na louca, e se esborracha, o famoso "não vai acontecer comigo". Como frear o entusiasmo deste pessoal? Se conselho fosse bom seria vendido. 
 
Em qualquer escola de pilotagem para competição uma das regras básicas que é constantemente repetida é pilota relaxado. Se a mão começar a agarrar o guidão ou volante, relaxa, solta os dedos, solta a mão, os braços. Opa! não falei solta do guidão ou volante, falei solta, relaxa. Mas de novo, como ensinar?

Dados bem precisos confirmam que quanto mais relaxado está a pessoa mais segura também está. Relaxado, não desligado, repito; há uma sensível diferença entre os dois estados mentais. De novo, só estando relaxado é que se tem segurança; vale para tudo, não só dirigir, pedalar, pilotar.

Segurança não tem meu jeitinho, esta é minha forma, o que eu faço é seguro, mas..., infeliz e mortal vício brasileiro, mas... como reverter este nosso  jeitinho tão perigosamente peculiar?

A melhor forma de mudança é pelo respeito a verdade do outro, mas sem se curvar. É uma comunicação complicada que tem que dar bons resultados ou cai no vazio, quando não piora a loucura.

Uma coisa é líquida e certa: ainda não aprendemos a ensinar segurança. Urge criar círculos de virtude.