terça-feira, 25 de agosto de 2020

Falta de critérios prejudicam o bem público

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

É de se elogiar a qualidade do recapeamento que está em andamento na cidade de São Paulo, mas mais uma vez é preocupante o critério do andamento das obras. Estabelecer prioridades parece ser um crônico problema para todas as administrações públicas brasileiras, não só esta. Quando vias secundárias já tinham recebido um asfalto novo com uma qualidade que nunca se viu a av. Magalhães de Castro, a Marginal Pinheiros sentido Santo Amaro na altura do Real Parque, continuava com perenes crateras exatamente no corredor de ônibus. Enquanto o concreto de ciclovias em boas condições de uso era reparado, como ciclista não entendo porque, o concreto da Ponte Bernardo Goldfarb segue se despedaçando em vários pontos. Por lei a dotação de orçamento obriga que a verba destinada para uma obra seja única e exclusivamente destinada para a mesma obra, não importa se tornou se desnecessária, se há outras emergências ou prioridades, ou se ao lado dela tenha desabado o mundo colocando em risco parte da população. Mesmo em tempos de vida tranquila esta obrigação legal já se apresentava como anacrônica, agora nem dizer. Anacronismo complementado pela Lei de Licitação, 8.666 (8 = infinito; 666 número da besta do Apocalipse) que faz com os resultados tardem muito e com frequência falhem. É de se supor que tanto a Obrigação Orçamentária quanto a Lei de Licitação interessam e muito a alguém, ou teriam sido mudadas. Do jeito que estão ninguém duvida que são profundamente prejudiciais a todos brasileiros. A pandemia deixou para todos que falta de critério e anacronismo matam.






sábado, 22 de agosto de 2020

Pequenas vilas turísticas cortadas por estradinhas

Esta primeira foto, que já publiquei, é da estradinha que corta o centrinho de Maringá, RJ. Posso bem imaginar a confusão que deve acontecer nesta estreita estradinha nos fins de semana, além de toda poluição visual chamando para os negócios. Vi a loucura em Penedo, que muito mais maior e ampla. Vê-se o mesmo em inúmeras cidades turísticas do Brasil. 

Procurando fotos para ilustrar o que penso acabei descobrindo que não tenho nenhuma, mas me lembrei de Mont Saint-Michel, na Normandia, França. Desde que Tina e Mané foram para lá no final dos anos 70 eu sonhei conhecer. Havia um misticismo, fantasias girando minha imaginação; a mágica de só ser possível entrar em Mont Saint-Michel com maré baixa, de suas vielas apertadas, do vento frio que gela as entranhas, e outros fatos tirados dos contos que ouvi dos dois na mesa de almoço, arroz, feijão, farinha, couve, linguicinha torradinha e ovos fritos, logo depois de sua volta a casa. Virou realidade que ficou flutuando encantada nos meus sonhos. Depois de longa e incerta espera uma decepção. Os caminhos estreitos de chão de pedra entre construções medievais de poucas e acanhadas janelas, entre escadas, que sobem para maravilhosa igreja abacial de São Miguel e a vista que se tem de seus altos muros estão cheios de vendinhas, penduricalhos, pega-turistas, restaurantes 'típicos' e outras baboseiras mais. Se um dia houve um quê de boa fé, mística e alquimia, ajoelhou-se ao turismo com as bençãos da água quente encanada e o aquecedor para curar os males do frio e o mofo. Já na chegada, no lugar de esperar a maré baixar para alcançar a entrada a pé, não raro com eles molhados, como um rito de passagem, andar sobre as águas gélidas do mar do norte, há um imenso estacionamento de carros e ônibus turísticos pavimentado, seco, como às portas de hipermercado lotado, mau presságio. Turismo indiscriminado de massa, gente olhando rapidamente toda aquela história, um pouco mais cuidadosamente para os badulaques, e com muito cuidado para localizar onde fazer os melhores vários selfies. Terminados os selfies de volta ao conforto dos ônibus e carros, descendo, comprando lembranças, besteiras, muitas igualzinhas a de qualquer outro lugar do planeta. Made in China.
Lá, aqui, acolá, em todos lugares que dá.

Desci do bonde - VLT - vindo da simpática Mestre e cruzei o canal pela ponte de vidro, a Ponte da Constituição, que dá para a estação de trem Santa Lucia de Veneza; e de lá pretendia ir a Praça São Marcos pelas estreitas ruas entre comércios pega turistas, todas iguais, qualquer que seja o caminho mais direto para a cereja do bolo. Pretendia. Dei alguns passos numa 25 de Março em época de Natal, dei meia volta com dificuldade para me mexer e quase voltei para Mestre. Não tenho foto, mas guardo a imagem com horror. Turismo? Pega turista é mais apropriado. Felizmente Veneza está muito perto de dar um basta limitando o acesso de turistas à belíssima cidade histórica e patrimônio da humanidade. Não é a única cidade que sabe que a situação passou e muito dos limites. Turismo sim; farofeiro, como dizemos no Brasil, inclusive os endinheirados, não. Precisa ter algum valor agregado, precisa ter qualidade, não dá para continuar do jeito que vem há muito.
Acabei dando sorte, porque em vez de voltar emburrado para o hotel, vi que a lateral da estação ferroviária estava vazia, entrei por lá para a Veneza dos fundos, a dos moradores, não turística, que é belíssima, calma, instrutiva e principalmente vazia, cheia de vida. Perto da igreja de San Francesco della Vigna com sua torre tão torta quão a Torre de Pisa e a beira da vista da ilha do cemitério de San Michele, acabei almoçando num restaurante popular, Osteria Ale Do Marie, para trabalhadores e peões locais; ótimo. Queria mesmo encontrar o pequeno restaurante e muito simples a beira do mar que almoçou o saudoso Anthony Bourdein.
A foto abaixo não passa nem perto da situação que vi depois da ponte de vidro, mas retrata um pouco do caos que estão estes caminhos para a Praça São Marcos. Pergunto: qual a diferença para um shopping center? Talvez as pizzas que tem uma cara muito melhor, mas no geral...
Em Las Vegas tem um shopping que imita os canais de Veneza, mas lá é o desvario que reina e vale. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa; e como é!

De volta a Maringá e olhando e foto seguinte, de uma cidadezinha na Áustria, o que chama a atenção é a limpeza e principalmente a inexistência de fiação aérea e postes. Rua ou apertada estradinha que corta qualquer centro de cidadezinha europeia é construída num plano só, sem meio fio, com piso perfeito, liso, pensado para dar boas vindas aos pedestres, quando muito com uma diferença de textura indicando o caminho dos carros, em boa parte nem isto. A prioridade é total para o pedestre, incluindo idosos e deficientes, e muito depois para ciclistas que tem permissão de circular se e quando o local tiver poucos cidadãos caminhando ou sentados em mesinhas. 



Carro estacionado numa via tão estreita, com em Maringá, nem pensar. Em muitos casos nem mesmo os carros dos moradores podem entrar no centrinho, ficam estacionados fora. As entregas de mercadoria ou são feitas em horários muito específicos, quando todos e tudo param pacientemente atrás do furgão e aguardam pacientemente; o que se vê numa micro vila da Itália ou em Paris. Ou as entregas são realizadas em carrinhos de mão com furgão ou caminhão deixado estacionado fora do centrinho. Em Roma antiga, antes de Cristo, já se usava um sistema de entregas com horários determinados e cumpridos. 
Durante o dia, quando a vida se faz presente, em algumas situações especiais previamente autorizadas carros, motos, scooters, bicicletas e qualquer outro veículo, motorizado ou não, passam pelo meio do povo a passo de tartaruga. Como detalhe, a água da chuva escorre pelo meio da rua, o que facilita a entrada nas lojas, restaurantes, cafés, hotéis e poucas residências. Tudo é pensado para o máximo prazer e segurança no uso do espaço público.



Ter uma paisagem destas poluída por postes, fiação, e um outdoor do tamanho de um bonde que a noite só dá ele é de uma burrice sem tamanho. Lembrem que aqui em São Paulo quando foi imposto o Cidade Limpa foi uma gritaria de todos lados, e depois de retirada toda a poluição visual todos perceberam que a cidade ficou muito mais leve. No turismo isto é básico, essencial, faz toda diferença no valor agregado do local, portanto em sua rentabilidade.

A paida é que terminei este texto quase a meia noite e fui dormir e tive um pesadelo que estava viajando num lugar nos USA bem pega turista e fui rapado. Levaram tudo, minha bagagem, minha barrinha de alimentação, meus tênis, celular... Acabei ficando só com a carteira e rindo. Trouxa tem que rir para não chorar. Quando acordei ficou claro que só faltou dizer que turismo de massa é prato cheio para ladrões.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Pedalada irresponsável, mas deliciosa

Um final de tarde em Penedo deu uma coceira daquelas e saí para pedalar quase no por do sol. Fui descobrir um caminho novo que passa por cima da cidade. Depois que se sai da Dutra tem duas entradas para a cidade, a primeira quase imperceptível que só vi pelo maps.google, desta que falo, e a entrada principal mais a frente, com direito a rotatória e portal, que dá na rua principal de Penedo. A "rua de cima", como passei a chamá-la, tem várias vistas lindas, começando pela vista do centrinho que parece presépio, já que Penedo foi cidade de filandeses, terra de Papai Noel. Mais frente este caminho dá vista para as montanhas do Parque do Itatiaia e para o Vale do Paraíba no sentido de Resende. O sol foi se pondo, eu parando para fotografar e ganhando entusiasmo, e não me aguentei e caí na Dutra atrás dos últimos raios de luz. E de um triste incêndio. Cheguei até a entrada da cidade de Itatiaia apaixonado pela paisagem e pela loucura e retornei já no escuro. Não recomendo, ou não devo recomendar pedalar no breu, mas que é divertido é, muito melhor que túnel fantasma. Tomei dois sustos, um com um ciclista trabalhador sem refletores ou farol vindo na contramão que simplesmente só vi quando estava bem em cima; e numa saída para os carros onde descobri que a confusão dos faróis dos carros e caminhões não dá noção clara de distância e posicionamento deles. Para cruzar saídas no escuro se faz obrigatório parar e cruzar na certeza a 90º, na perpendicular, o mais rápido possível. Buracos e obstáculos? Deixa o corpo completamente mole e solto com os pés bem apoiados; e conta com a sorte. Ou sai com um farol, o que os sábios recomendam.

Loucuras de vez em quando não fazem mal a ninguém, muito pelo contrário. Tem que extravasar, faz parte de uma mente sadia.













domingo, 16 de agosto de 2020

obesidade assustadora

Fiquei muito assustado com a quantidade de mulheres jovens obesas que vi nas cidades turísticas do Rio de Janeiro onde estive. Conversando com a população local de onde tirei as fotos todos afirmaram que a maioria delas vem da periferia do Rio. Interessante foi que no segundo domingo em Penedo, quando a cidade fez um bloqueio mais seletivo por conta da pandemia, só liberando a entrada dos que tinham reserva em hotéis, as obesas praticamente desapareceram, o que me leva a acreditar que eram turistas de um dia, o famoso bate e volta. 
Poderia ter fotografado dezenas, talvez centenas, muitas praticamente em situação de obesidade mórbida. O problema da obesidade no Brasil há muito é grave, já sendo considerado epidêmico. Uma busca rápida no Google mostra números assustadores, me lembrando que a obesidade está cada dia mais presente entre crianças de todas idades, o que é péssimo. Triste.
Não é uma questão de beleza, mas de saúde. Somos um país que tem parâmetros de beleza que considero exagerados, para não dizer distorcidos, o que deve colocar muito mais pressão em cima destas meninas. E o poder público se omite vergonhosamente.




 

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Subida da serra de Engenheiro Passos à Garganta do Registro

Cada subida é uma subida, disto nunca tenha dúvida. Mesmo que seja a mesma subida.

O que se pode aprender destas longas subidas?  Sem dúvida que quanto mais repertório técnico, mas fácil fica pedalar e mais longe se vai.


Alguém falou sobre Engenheiro Passos, as boas pousadas próximas e a beleza da natureza. Não dei muita atenção na hora, mas quando voltei para o hotel fui xeretar para ver o que tinha por lá e dei de cara com a altimetria da subida para uma das entradas do Parque Nacional do Itatiaia, a que fica no topo da serra. Pelo Maps Google se vê uma subida constante de 1.214 metros. E começou a coceira.


Subir:

Saindo de Penedo, 26 km até Engenheiro Passos, mais 26 km de subida. O ideal seria sair cedinho, mas com esta história de Covid tive que esperar o café da manhã até as 8:30 h e sair mesmo do hotel só as 10:00 h. (Número dois)

Demorei um pouco mais que uma hora nos primeiros 26 km, da Dutra. Tive que parar num posto para tirar dinheiro e se não tivesse parado talvez fizesse em menos de 1:00h, o que poderia ter sido mais devagar para preservar forças. Comece devagar para terminar rápido. Acabei parando em Engenheiro Passos para atender o celular, o que foi uma sorte porque tomei a santa água de coco. E subi em quase batendo nas 3:00 h. Muito bom se comparado ao Desafio do Rio do Rastro. 

Subir é um exercício de economia de energias. Não errar marchas, manter a cadência, não forçar em nenhum momento, ir olhando a paisagem, beber água... Excepcionalmente fui com um Cateye, portanto lendo distâncias, velocidade, tempo, média, o que gera ansiedade. Óbvio que lá em cima esqueci de ver a média. Os tempos sei por conta das marcações das fotos.    


Descansar:

Lá por 1992, numa palestra de Ned Overend, um dos melhores competidores de MTB da história e mais velho que a maioria de sua geração, eu o ouvi dizendo em alto e bom tom que descanso é tão importante quanto treino, algo que não se falava na época. Desde então venho tomando cuidado com os dias seguintes de meus pedais ou corridas mais pesadas; e funciona, como funciona! Tenho diabetes infantil, tive montes de lesões, umas tantas graves, e só depois que adotei estes descansos é que praticamente acabaram meus problemas. Mais, melhorou e muito minha condição física.


65 anos, cada vez mais apaixonado por subidas.

Já desci bem, mas hoje meu olho não acompanha minha técnica de descida, ou seja, treme tudo, enxergo mal. Ademais, por causa da diabete, se tomo um chão demora... demora... demora para ficar bom. Então, se decida não dá, vamos para a subida. E subir é do cacete, é um ótimo exercício de autoconhecimento e autocontrole.


Quando vim para Penedo a ideia era subir uma única serra, a de Visconde de Mauá, 1.298 metros de altimetria, o que fiz no terceiro dia. No dia seguinte estava cansado, mas bem mais inteiro que esperava e com uma coceira sem tamanho para fazer a curta e grossa subida de Visconde de Mauá até o topo. A descida para Penedo dispenso. 

No terceiro dia depois da subida fui ao excelente Restaurante Rosmarinus em Maromba, que recomendo muito. Fica um pouco pra frente de Visconde de Mauá. De lá pretendia fazer os pesados 8.8 com 310 metros de altimetria da subida, quase toda nos km finais. Uma parede. Esfomeado como sempre, terminei com bucho cheio, fui sábio e fiquei quieto; e um tanto frustrado. E aí surgiu a história de Engenheiro Passos. Opa!


Entre as duas longas subidas foram 7 dias, um período relativamente curto para a recuperação completa da musculatura de um paulistano de 65 anos que simplesmente pedala, vez ou outra faz um pedal mais longo e forte, e que não tem treino estruturado. Minha família tem um sábio ditado: "Velho não se mete a besta"; que deixo a todos como recomendação. Olhe com auto-respeito sua real condição física e não exagere; respeite-se, e nunca, jamais se meta a besta. 

Nas duas subidas fui para o "se deu deu, se não deu, não deu", o que acredito que tenha ajudado a dar. E deu!


Técnicas mais que úteis.

O maratonista olímpico Jeff Galoway, criou uma técnica de corrida a pé, a Run Walk Run, que simplesmente mudou minha vida de praticante de esportes, inclusive ciclismo. Correr, caminhar, correr, esta meio paradinha faz milagres, aumentando a distância percorrida quanto melhorando o tempo. Quando você caminha está limpando a musculatura das toxinas, este é o segredo (pelo que entendi). Jeff Galoway chegou a ganhar maratonas profissionais com esta técnica. Se a distância de pedal é maior que a que está acostumado dê paradinhas. Só consegui terminar a subida de Engenheiro Passos por que parei para água de coco. No Desafio da Serra do Rio do Rastro parei para fazer pipi ou chegaria molhado, bem dito mijado, assado e fedendo. Como vêem paradinhas são mais que providenciais.


Variar o treinamento e as pedaladas: Fartlek

Não treino, mas brinco feito criança. Um dia pedalo calmo, outro dou tiros, daí mudo o caminho e pego subidas, mudo de bicicleta, faço caminhos diferentes.... Brinque de correr - gostei da expressão usada pelo site Sua Corrida. Brinque de pedalar, seja criança, seja feliz, não só no pedalar, em tudo que faz no dia a dia. Não seja monótono, faz mal a saúde.

 

Ressuscitar:

Muito mais importante e com melhores resultados que simplesmente pedalar constante e forte é saber pedalar com todas as técnicas possíveis, usando corretamente as qualidades que corpo e mente oferecem e driblando as deficiências. Há uma neurose no ar de "quem é melhor" e o pessoal sai e continua feito vaca louca, um erro bobo, muito comum, que deve ser evitado.

Tenho muitas décadas de pedal e - principalmente - de leitura, ouvir, procurar me informar sobre técnicas corretas de pedalar, e a bem da verdade "quanto mais sei, mais sei que nada sei". Já pedalei como vaca louca, já cometi erros básicos, já fiz muita besteira, como qualquer um. Vergonha é persistir no erro.

Há uma forma de pedalar correto e quem a definiu foi a ciência. Tem gente que acredita em terra plana, vai fazer o que.

 

Subi devagar, trocando marchas no tempo certo, de tempos em tempos mudando um pouco a posição no selim, que é muito importante, relaxando a musculatura das costas e braços sempre que as percebia rígidas, mas... comi uma barrinha que me desequilibrou a musculatura das pernas, que começou a ter câimbras. Aprendi faz muito pouco tempo que subir nos tamancos, ou pedalar em pé, dá uma sobrevida, e deu. Pedalando em pé você passa de um pedal aeróbico para um anaeróbico - o resto desta ciência pergunta para quem entende - e funciona.

Outro ponto é abstrair mentalmente a câimbra, um pouco mais difícil, mas possível. Se nada funcionar espanque a musculatura que está com câimbra, o que tive que fazer mais de uma vez. Mesmo assim a perna direita travou por completo por uns minutos. Grite, alongue a respiração, esmurre a perna, volte a pedalar e - por incrível que pareça - engate uma marcha mais dura por alguns 50 metros. Funcionou. Ressuscitei o que restava da perna e terminei os dois últimos km.

 

Desviar o pensamento, desligar da dor.

No Desafio do Rio do Rastro todos falam dos últimos 5 km, "aí o bicho pega". É o trecho mais difícil, mas foi para mim muito mais fácil que os últimos 5 km da serra de Engenheiro Passos. A diferença provavelmente é que aqui não tinha com quem conversar, brincar, o povo a estimular, e uma vista aberta para olhar. Desta vez subi só, no meio de uma mata, com poucos pontos onde a maravilhosa paisagem se abria para o olhar, com carro, caminhão ou moto passando muito de vez em quando, ou seja, sem nenhuma distração a não ser a dor nas pernas e o cansaço. No Desafio várias vezes pedalei de olho fechado sentindo a respiração e o batimento cardíaco para tirar o foco das pernas e ajudou uma barbaridade. Aqui foi com grande dificuldade que consegui desviar a cabeça do sofrimento, o que piorou a situação. Um dos treinamentos que ciclistas profissionais recebem é controlar a ansiedade, que cansa, mata. Mesmo nas ruas, quando tenho que ir muito rápido, fico boa parte do tempo controlando minha ansiedade.


Cada subida é uma subida, e esta serra de Engenheiro Passos foi a mais pesada que já experimentei. Espero um dia poder voltar e repetir as duas subidas para entender melhor o que aconteceu. Provavelmente aprenderei algo novo.


"Pense em longo termo que os resultados virão mais cedo e mais consistentes que você espera" foi um dos posicionamentos que ajudou a fazer toda diferença. Ser imediatista é ter lesões, se machucar. 

Neste mesmo sentido vem o "comece a subida devagar para terminá-la mais rápido".

A maioria dos que pedalam conseguiriam subir, basta respeitar técnicas e regras.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Penedo - Engenheiro Passos - Garganta do Registro; fotos

De Penedo até Engenheiro Passos pela Dutra, tranquilo e dependendo da hora cheio de ciclistas. O único cuidado é para cruzar o pedágio, mas tive sorte e um caminhão ficou travado na barreira. São 26 km com uma única subida mais acentuada.
De Engenheiro Passos até o topo da serra, Garganta do Registro, mais 26 km de uma estradinha maravilhosa, asfalto de primeira, delícia de rodar, com os primeiros talvez 8 ou 10 km com acostamento. Mesmo onde não tem acostamento pelo que senti os motoristas estão acostumados com os ciclistas e passam longe. É bem seguro. De qualquer forma eu estava vestido com uma camiseta "pink elétrica" que assustou macacos, gaviões, gambas e outros bichos das matas, e que os motoristas viam umas cinco curvas antes. Recomendo.  
A paisagem é de matar de linda, não importa onde você esteja. O Parque Nacional do Itatiaia e seu recorte é maravilhoso. Se puderem vejam pessoalmente.




































segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Duas Maringás.

Restaurante Rosmarinus, um pouco antes da vila de Maringá, um dos mais refinados da região, ótimo. O padrão é europeu. Próximo há alguns hotéis que visualmente se encaixam no mesmo padrão. A paisagem de montanha é linda e chegasse lá por uma estradinha estreita e sinuosa, bem conservada, cheia de lombadas.








Seguindo um pouco mais a frente do Restaurante Rosmarindus está a vila de Maringá e seu comércio, restaurantes, pousadas, boa parte concentrado numa única rua, que é a estradinha. Passei por Maringá, RJ, num dia de semana, sem turistas, pouca gente pelas ruas, os carros estacionados de um lado da via principal mesmo com sinalização de proibido estacionar. Mesmo muito tranquilo deu confusão para ver quem passa primeiro, os que vem ou os que vão. Nos fins de semana as autoridades não permitem o estacionamento ilegal, os carros, vans, peruas, ônibus, caminhões quase conseguem circular; os que passam pelo bloqueio, mas aí tem muita gente caminhando na rua já que não há calçadas. Não vi pessoalmente, mas o que contaram é fácil imaginar. Ademais, vi este tipo de caos em Penedo, Guarujá, Ilha Bela....
Situação como esta, via única, estradadinha, muito pouco espaço para muito turista e ainda por cima veículos passando, é muito comum na Europa, e quando isto acontece normalmente as autoridades retiram a separação pedestres / veículos, além de postes, fiação elétrica aérea. Vira um calçadão de parede a parede das casas e negócios. Funciona perfeitamente. E autoridade, não só para com os veículos, mas com pedestres, ciclistas, motociclistas... E autoridade que não permite sujar a cidade: ordem nos cartazes, placas, anúncios... Não é uma questão estética, mas funcional, econômica, de riqueza.
A lógica é: pequenas medidas, um pouco de autoridade, igual a um bom valor agregado. Ou seja, dinheiro no bolso do povo.
Quando voltar para São Paulo publico aqui a foto de uma vila na Áustria que exemplifica perfeitamente o que digo.  


sábado, 8 de agosto de 2020

Turismo destrutivo

Cheguei de carro em Penedo no final da tarde de domingo, 02 de Agosto, e minha primeira imagem da estrada foi apavorante: uma fila interminável de carros descendo a passo de tartaruga a serra, um grudado no outro, para pegar a Dutra e voltar para casa. No portal de Penedo há um bloqueio "pandemia" controlado pela GCM local e só passava quem está hospedado ou com reserva, além de moradores e trabalhadores locais, mesmo assim o centrinho estava lotado de gente e carros circulando mais devagar que os pedestres. Mesmo estando algo em torno de duas horas e meia do Rio de Janeiro o povão vem passar o fim de semana ou até mesmo o domingão em Penedo e lá em cima em Visconde de Mauá, Maringá e Maromba. Segundo o povo que mora na região o caos nos fins de semanas é total já faz tempo, muito tempo. Pelo que soube, boa parte da população de Penedo e Visconde Mauá quer um dar um basta já, e este 'já' já tarda muito. Não vale a pena para as pousadas, restaurantes, comércio no geral, para moradores não só pela confusão. Não vale a pena até para a economia da cidade.
Estive em Serrinha de Alambari, um punhado de casas bem espalhadas com um micro centro para lá de simpático, 14 km de Penedo. Conheci uma senhora que teve um restaurante popular por 5 anos em Penedo e decidiu fecha-lo porque não aguentou a bagunça e falta de educação do pessoal que chegava com os ônibus fretados. A má fama dos farofeiros vai longe.
Em Penedo há uma briga com as autoridades que querem a qualquer custo construir uma rodoviária e inchar mais ainda o turismo popular. Pelo que dizem o babado chama-se "construir uma rodoviária", grande desejo de prefeito e vereadores, mais sabe-se lá quem. É bom lembrar que Santos, Guarujá, Ubatuba, Caraguatatuba, Ilha Bela, das que me lembro, praticamente fecharam as portas para estas excussões bem populares fazerem o que bem entendessem. Aliás, se não me falha a memória o próprio Rio de Janeiro fez o mesmo, entre outras. Mais, as autoridades de trânsito de todo país vivem correndo atrás de uma boa parte destes ônibus fretados porque são piratas e com uma frequência muito além do desejável criam problemas, quando não graves acidentes. O dono de um café de Penedo contou que os próprios turistas de baixa renda acabam 'bravos' porque são enganados pelas agências piratas de turismo e associados.
Ou seja, este tipo de turismo definitivamente não funciona, é prejudicial para todos, para o próprio turismo. Turismo de verdade é construtivo para todos.

Como já contei estive em Visconde de Mauá em 1982 e na época fomos até Maringá e Maromba, uns quilômetros mais a frente. Visconde de Mauá até que está preservada, mas Maringá cresceu muito e virou um sei lá o que. Eram casinhas de moradores espalhadas, hoje lembra uma vila medieval de uma rua só, estreita, cheia de casinhas, de portinhas, e até ai sem problemas. Mas tudo é comercial oferecendo a mesma coisa que se encontra em qualquer outra parte do planeta. É um visual confuso, entulhado, agressivo. Fiquei imaginando aquilo lotado de gente e carros parados. O que entra na economia da cidade não vale para a comunidade. Tem um custo ambiental que definitivamente não vale a pena, para a natureza e o urbano.
O povão de baixa renda não só tem direito a fazer turismo, como deve fazê-lo por que é um fator de desenvolvimento importantíssimo para a cidade, o estado e o país. Turismo é cultura, turismo é educação, turismo é crucial para "todos crescimentos" da população, especialmente os mais vulneráveis, exatamente o povão dos fretados, os famosos farofeiros, isto quando traz consigo valor agregado. Que seja melhor planejado, mais organizado, balizado, com limites, com valor agregado, que deixe alguma coisa na cabeça do pessoal quando eles voltarem para casa. É o mínimo.

Os erros aqui no Brasil são crassos. Que bom fossem só no turismo.
Penedo, como toda cidade turística deste país, está cheia de cartazes, cavaletes, propagandas dos mais diversos tipos, formas, e enunciados, para tudo que se possa imaginar, em todos cantos. Diferente de qualquer outra cidade turística do Brasil? Não! Nem de qualquer outra cidade brasileira: a baderna é generalizada. Igual em todo lugar do mundo? Definitivamente não! O turismo brasileiro rende o seu potencial? Não, definitivamente não! Nós, brasileiros, picamos montanhas de dinheiro. Olhe em volta, veja nossas belezas naturais. Cara, não é piegas, é literalmente real. Brasil é belíssimo, mas tem um povinho....

Turismo em todo planeta sofre muito com certos públicos. Chineses desembarcam de excursões baratas, destoam, chegam a incomodar, mas gastam muito. A diferença é que em países sérios a polícia funciona, tem autoridade e faz cumprir, e os limites são impostos a qualquer um, não importa quem.
As cidades são agradáveis, atrativas, convidativas. Não se vê esta baderna de placas, cavaletes, cartazes e outras imundices que interferem com a paisagem, com o espírito da cidade, não interessa que tipo de  turismo o local tem, mesmo que seja o mais popular de todos. 
O que gera riqueza é organização, limites, parâmetros, preservação da história e do espírito dos locais. 

Boa notícia: uma semana depois foi decretado em Penedo um basta a baderna. Só entra na cidade quem tiver reserva comprovada de hospedagem. Boa!