terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Rota Márcia Prado 2012 - outra história


 
Domingo fiz os 100 km de pedal da Rota Márcia Prado, a descida de São Paulo para Santos pela via Grajau, Bororé, estrada de manutenção da Imigrantes, Bairros Cota e Cubatão. Novamente adorei. Sai às 6:08 h da Ponte Cidade Universitária, praticamente uma hora antes da largada oficial, que aconteceu na entrada Vila Olímpia da Ciclovia Pinheiros, já havia uma massa de ciclistas circulando e pegando o trem da CPTM para Grajau, o segundo ponto de partida. A largada oficial foi dada às 7:00 h na patética entrada Vila Olímpia da Ciclovia Pinheiros, que virou um festivo caos.

Mais de 7.200 inscritos pela Internet, na CicloBr.org.br, já é uma quantidade de ciclistas notável; mas a divulgação boca a boca apontava para números que chegaram a assustar. Quantos iriam? 10.000? mais? Ninguém sabe ao certo quantos foram, mas mesmo com um tempo esquisito e chuvoso a conta fecha para lá dos 8.000.

Eu cruzei a primeira balsa, de Bororé, em uns 30 minutos, se tanto, mas teve gente que demorou 4 horas para cruzar. Quando cheguei na Imigrantes, lá pelas 11:00 h, conversei com os Policiais Rodoviários, que afirmaram que naquele momento já tinha passado muito mais gente que no ano passado. Vale a pena ver as fotos do Willian Cruz no Facebook, que fez o fechamento do passeio e comparar com as minhas, do início. Fácil entender o tamanho da brincadeira: exatamente às 19:30h, quando passamos a Serra do Mar de volta para São Paulo ainda tinha muita gente pedalando na estrada de manutenção. Simples.

Pessoalmente gostaria de ver o circo pegando fogo. Com a Ciclo Faixa de Domingo e outras iniciativas abriram a caixa de pandora da diversão e hoje tem muita gente que sabe que consegue pedalar com facilidade até grandes distâncias. Perderam o medo e descobriram que “fazer loucuras” não tem nada de loucura, de sair por ai de bicicleta, muito perlo contrário, é muito bom para a alma e não em preço. Se não acabou a mentira de que “bicicleta não existe” ou “é perigosa”, deu-se um salto imenso no sentido contrário.

Um passeio destes destrói paradigmas negativos sobre a bicicleta e cria demandas que deveriam ter sido resolvidas a muito pelo poder público, o que obviamente também não será atendido amanha nem depois de amanha. Sabe lá Deus quando a absurda lentidão da coisa pública conseguirá fazer sua parte e quais serão as consequências. Se com chuva juntou esta massa para a aventura e diminuiu sensivelmente o número de ciclistas na Ciclo Faixa de Domingo, imagine se tivesse feito tempo legal... Se o evento mais que dobrou do ano passado, o que acontecerá nos próximos anos? Pior, o pessoal que experimentou e gostou provavelmente não vai mais ficar sujeito à programação oficial dos fins de semana e, pior ainda, vai ‘incitar’ os novatos. Situação deliciosamente perigosa.  

Como já disse, quem organizou foi a CicloBr.org.br, que fez um ótimo trabalho, principalmente em se tratando de voluntariado. Que inveja eu tenho desta nova geração de ciclo-ativistas... Houveram pouquíssimos incidentes e acidentes, principalmente dadas as condições.

Prefeitura de São Paulo e Governo do Estado deveriam estar mais atentos e presentes. Não cabe mais não vi para não me responsabilizar. É lógico que Guarda Florestal, PM, Polícia Rodoviária estavam lá e fizeram um ótimo trabalho, mas a dimensão do que aconteceu, e todo mundo sabia que iria acontecer, demanda muito mais. Por exemplo: não dá mais para negar que os ciclistas descem o ano inteiro pela estrada de manutenção, portanto é ridículo não sinaliza-la oficialmente, principalmente no dia do evento. Enfim, a burrice está nos estertores finais da negação da existência da bicicleta e ciclistas, que existiam muito antes destes eventos e daqui para frente tende a existir muito mais. Ser burro é uma coisa; agora ser burro, estúpido, cego, surdo e  mudo é outra (sem ofensa aos burros, que são quadrupedes bem inteligentes).

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Rota Márcia Prado 2012

Eu sai da Ponte Cidade Universitária às 6h08m para evitar o tumulto que vei atrás, dai aparente pequeno de ciclistas na Rota Márcia Prado. Mesmo assim, quando cheguei na Rodovia dos Imigrantes os policiais rodoviários já diziam que tinha muito mais ciclista que no ano passado.
É um passeio maravilhoso, obrigatório, um espécie de rito de passagem para quem pedala.


Primeira balsa: eu ainda passei rápido. Quem chegou depois enfrentou uma espera cada vez maior, que acabou chegando a 4 horas.


Primeira balsa


Da primeira balsa, deixando São Paulo para trás


Estrada de Bororé: entre balsas

Saída da segunda balsa

Rodovia congestionada para os carros e com um policiamento amigável para as bicicletas...

apesar dos absurdos cometidos por vários ciclistas que vieram pedalando pela rodovia

Alça de ligação Imigrantes - Anchieta

passando por baixo da Imigrantes, com névoa e piso bem escorregadio

Chegada no posto de fiscalização antes de iniciar a descida da estrada de manutenção.

Lá em baixo é possível ver a fila para conferir a inscrição e checar a bicicleta, tudo feito com calma, ordem e muita educação do pessoal da CicloBr. As notas erradas foram tocadas por uns raros ciclistas que se sentem melhores que os outros. Pobres infelizes...

Nunca mostro minha cara, mas vale como exemplo que como estava o espírito geral do povo

Vistas maravilhosas é o que não falta. Isto ajuda a segurar o pessoal e fazê-los descer mais devagar. O piso estava realmente muito escorregadio, até dentro da "faixa de segurança", o meio da estradinha

O barato é sentir que você está completamente livre e se divertindo uma barbaridade e lá em cima o trânsito está quase parado, cheio de mal humorados...

Uma das cachoeiras e ponto de culto de umbanda, infelizmente muito descuidado.



Já em Cubatão, pedalando no pé da serra. Este é o canal que traz as águas da Usina Henry Borden, que fica no topo da serra, na Represa Billings

Petrobras, que de automóvel se vê ao pé da Serra do Mar, entre a Anchieta e a Estrada Velha

o mesmo da anterior, mas voltado para a Anchieta.
E a partir daqui a máquina não aguentou a chuva e parou de funcionar...

Sai exatamente às 6h08m e cheguei em Santos às 14h00m, como já disse, com um poucos (?) ciclistas descendo (só alguns milhares). No dia anterior tive medo de não conseguir terminar ou chegar moído. Muitíssimo pelo contrário. O entusiasmo leva a gente para frente. Hoje continuo ótimo, no alto de meus 57. Se o veínho foi...

Infelizmente soube, a confirmar, do tombo de meu amigo Ton (a esqueda da foto "Da primeira balsa, deixando São Paulo para trás" com capacete azul, no fundo da balsa) que 'parece' acabou quebrando as mãos. Melhoras, meu caro. Houveram muitos outros tombos, normais numa situação daquelas. Foi avisado pela organização antes e na hora do controle. Há alguma sinalização e nos pontos críticos estava alguém da organização sinalizando. Tem que ser complementada e oficializada. Não dá mais para negar os ciclistas que passam por ali o ano todo.
Infelizmente houveram bicicletas roubadas, umas poucas, apesar dos PMs circulando por lá. Infelizmente, neste Brasil do nunca antes, é uma situação que é dificílima de controlar; até por que de repente consideram politicamente incorreto evitar esta distribuição de renda ciclística...

Obrigado a Polícia Rodoviária, PM e Polícia Florestal pela presença e ajuda. Em um outro texto comento melhor

Parabéns ao CicloBr pelo belíssimo trabalho de organização. Parabéns mesmo
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

falar, repetir, repetir... sem eco

Passei pelo menos uns 20 anos batendo de frente com todo mundo aqui no Brasil porque sai afirmando que ciclovia não trás segurança total para o ciclista. Repetindo sempre o mesmo discurso: simples, não existe ciclovia sem cruzamentos e a maioria dos acidentes ocorre justamente nos cruzamentos. Isolar completamente o ciclista do trânsito motorizado, o que é absolutamente impossível, não é recomendável porque faz o ciclista invisível para o trânsito motorizado. O questionamento sobre a segurança de pedalar em ciclovia não para por ai.

No fim de uma de minhas palestras veio um holandês elogiar minhas críticas e fazer uma correção: “Você esqueceu uma coisa”. E fez uma breve pausa. “Acontecem muito acidentes (colisões) entre ciclistas que circulam na ciclovia”. Alguns acidentes entre ciclistas são mais graves que colisão contra um automóvel que esteja na mesma velocidade de uma bicicleta. Carros tem a frente projetada para reduzir ferimentos em pedestres e ciclistas, enquanto uma bicicleta é pontiaguda, o que machuca muito no caso de colisão, principalmente frontal.
O que propunha na época era a construção de um sistema cicloviário completo, que incluísse toda e qualquer opção que pudesse realmente dar segurança e conforto para o ciclista. O centro da ideia era tirar os ciclistas das vias e cruzamentos mais perigosos e fazê-los descobrir o bairro, as alternativas, os caminhos não motorizados, o prazer de pedalar numa dinâmica de espaço e tempo completamente diferente da sociedade do automóvel. Difícil!

Provavelmente a forma de meu discurso também atrapalhou. “Quem não se comunica se trumbica” já dizia Chacrinha, um dos melhores apresentadores da história da TV brasileira. Passar o recado completo e inequívoco é comunicar-se. O resto é soltar o verbo. Ser direto, claro e sem rodeios. Infelizmente não é exatamente meu estilo. Mesmo assim... dava para entender.
Enfim, mais de 30 anos repetindo a mesma coisa praticamente sem qualquer eco. Nunca houve grande novidade em minhas palavras. Eram fáceis de comprovar. Eu simplesmente li textos e documentos internacionais, pensei um pouco e fiz algumas adaptações baseadas na cultura brasileira. Mesmo que minha comunicação tenha sido errada, o que espanta é falta de curiosidade em ir atrás de uma informação diferente da corrente. O pior foi e continua sendo a relação com a imprensa, que tem por princípio ético e moral a obrigação de investigar e não o faz, não cruza informação, não lê, não busca novas fontes, não é capaz de pensar horizontal.

Estou escrevendo estas linhas porque depois de mais 30 anos de interação com a imprensa pela primeira vez um jornalista, Carlos do Valle, do Jornal da Tarde, (O Estado de São Paulo, C8 | Cidades/Metropole | Domingo, 08 de Outubro de 2012 – O Estado de São Paulo Caio do Valle – JORNAL DA TARDE (link no final do texto)) agradeceu os comentários e críticas que fiz a sua matéria, mostrando interesse em pontos de vista novos. Senhores, mais de 30 anos para isto acontecer. Confesso que tive um dos maiores acessos de choro de minha vida, não sei bem se de alegria ou de depressão pela surdez geral brasileira. Definitivamente não sou dono da verdade, que o tempo faz camaleoa. Mas adoraria deixar de ouvir que somos o país do futuro – que nunca chega.

Pedalando na ciclovia Faria Lima me sinto feliz. Mudou tudo; a cidade, o número de pessoas nas ruas, a quantidade de carros e bicicletas circulando. As ciclovias de canteiro central, contra as quais lutei, hoje são uma boa opção, até mesmo por que praticamente não há outra. Só espero que os ciclistas se deem conta que para ter a ciclovia ali boa parte do verde da avenida desapareceu. Eu preferia o verde. Há outras alternativas. Espero também que não se caia na mesma barbárie da decadente sociedade do automóvel que para abrir novos caminhos passaram por cima da razão e bom senso. Bicicletas devem construir uma cidade nova, não seguir as trilhas dos pneus da devastação. Para que isto não aconteça é necessário ter a mente aberta. Nem burro gosta de tapa olho e cabresto.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Bang bang anuncia a festa

Bang bang! Nós estamos mortos.

Na padaria do supermercado é necessário pagar o pão num caixa instalado na própria padaria, que fica no meio de todas outras mercadorias, longe das portas e caixas. Tiveram que fazer assim por que há muita gente que come tudo entre a padaria e o caixa, joga o saco fora e não paga. Outro dia estava o gerente ali e começamos a conversar. “Porque não levam para a Delegacia os que não pagam? Quanto são? Uns 20%; 30% ?” Ele continuou arrumando a prateleira até tomar folego para a resposta. Levantou-se e disse com uma infeliz calma: “Esta padaria fazia R$ 20,00 reais por dia. Hoje, quando faz pouco, faz R$ 1.200,00”.

O “assalto” da moto na av. dos Bandeirantes dá bem o tom dos dias de hoje. O casal para no semáforo com sua supermoto zero; vem dois noutra moto, anuncia o assalto, o dono da supermoto tenta fugir, toma um primeiro tiro, bate num carro que está cruzando a avenida, cai no chão com a garupa, sua mulher. E aqui começa a verdade de nosso Brasil: os assaltantes aceleram, param ao lado dos dois caídos, executam os dois no chão e vão embora. Bang bang!

Que diferença faz numa cidade que tem uns 10 mortos por noite? (Mesmo com esta crise São Paulo continua sendo dos lugares mais seguros deste país). Que diferença faz no país do nunca antes houve violência igual? Que diferença faz comer dentro do supermercado e não pagar? Belo socialismo! Meus parabéns!

Façamos justiça: Brasil sempre foi um país violento. Não é de hoje, nem culpa exclusiva dos donos do nunca antes. O que faz diferença é que o “nunca antes” é pretensão grosseira, prepotência burra, mediocridade sem fim. É um exemplo altamente destrutivo. Quais são os números do militares mesmo? Quais são os números atuais? “Quem matou mais?”, usando a pergunta que a pseudo-esquerda tanto repete.  Deprimente!

“Ao socialismo se vai em bicicleta”. Gosto de repetir sempre por que é a pura verdade. A construção de uma nova sociedade, mais justa, menos violenta, se faz usando experiências que deram certo, como a da bicicleta. Só ela resolve tudo? Obviamente não, mas a bicicleta traz consigo uma “cultura de paz”, induz a maioria dos seus usuários para o bem. Assim como o caminhar, o conviver, o falar, o respeitar...., enfim: viver e deixar viver.

No próximo domingo vai acontecer a Rota Márcia Prado 2012 e uma multidão vai descer pedalando para Santos. Já deve ter algo próximo a 6 mil inscritos. Eu torço para que chegue aos 10 mil ou mais. Que seja o caos. Abriram a caixa de pandora, pois que aguentem com as consequências. Não acho responsável mudar da água poluída para a cachaça do dia para noite, por que a festa vai descambar para o pó, ou as pedras, a escolha. Mas se  caixa de pandora da liberdade está aberta, vamos nesta.

Felicidade coletiva é a melhor coisa do mundo, mesmo que se tenha que passar por cima de uma série de leis que vão contra. Das mais variadas, mas vide o Código de Trânsito Brasileiro, que lendo calmamente mostra seu lado “código de trânsito para fluidez de veículos em vias”. Ups! Esqueceram do resto: pedestres, ciclistas e deficientes? Não esqueceram, mas... , pegaria mal. Amassa capô. Que chato!

Que seja! O medo de muitos que vão participar da Rota Márcia Prado é a passagem pela estrada de manutenção, onde sempre há assaltantes. Sim, eles estão lá faz tempo e como ninguém faz absolutamente nada lá ficarão. Espero que ninguém tome tiros. Talvez algumas bicicletas sejam roubadas, mas faz parte. Sempre há o nunca antes. Parafraseando o Maluf, aquele que apoiou o Haddad lado a lado com o também honestíssimo Lula: “roubar pode, mas matar não”.

Bang bang!

Veja o Roda Viva com o Claudio Beato - Professor da UFMG. Coordenador do CRISP - Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública. Imperdível e de arrepiar:
http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/claudio-beato