sábado, 28 de abril de 2018

Mestre, preparada para a vida

Mestre é a porta de entrada para Veneza. É uma pequena 'cidade' (leia-se grande bairro) com um centro que foi todo reformado e reestruturado para dar prazer à vida de pedestres, pessoas com necessidades especiais, mães, crianças e também ciclistas que circulam por todas as partes pedalando com muito cuidado. Uma linha de bonde que cortava o centro de Mestri foi retirada para a criação de um largo espaço de convívio, uma praça com calçamento liso, mesa de bilhar, e sem o menor obstáculo para cadeirantes e idosos com muita difculdade de mobilidade. Todo espaço público no centro recebeu o mesmo tratamento. Na cidade e alhures mesas de cafés, bares e restaurantes na calçada, gente sentada vendo a banda passar. A população está envelhecendo e suas necessidades foram respeitadas. Talvez saia mais barato que tratamento e internamento em hospiais. 
O espírito não poderia deixar se ser mais italiano: todo mundo com calma, volta e meia um grupo se forma no meio da rua e desanda a conversar. A quantidade de idosos nas ruas e calçadões é impressionante para um brasileiro. É ao mesmo tempo divertido e maravilhoso ver a quantidade de ciclistas idosos, a maioria senhoras, pedalando bem vestidas, charmosas, algumas cheias de compras. Nem em cidades da Holanda elas tinham me chamado tanto a atenção. As crianças brincam soltas nas praças. E muitos com deficiência grave circulando 'livres' auxiliados por familiares ou especialistas, algo que rarissimamente se vê no Brasil. Finalmente cachorros, muitos, de todas raças e tamanhos, até dentro de supermercado. Vida livre para todos. Mestre merece tanto uma visita quanto Veneza.












 



 












terça-feira, 24 de abril de 2018

Como, Italia, um paraiso. E uma referência?

Como está cercada de montanhas e a beira do longo e estreito lago de Como. Fica ao norte da Itália, quase na fronteira com a Suíça. A cidade tem uma pequena área murada, medieval talvez, mas com poucos monumentos históricos. Ao longo do lago um passeio de pedestres e inúmeros atracadouros, alguns para barcos grandes, pequenos navios, uns com quase um século em funcionamento, os mais lindos, que partem para transportar turistas e moradores das pequenas vilas e encostas que estão a beira d'água. Um destes atracadouros serve para aviões anfíbios que partem fazendo uma barulheira um atrás do outro para voos panorâmicos. O lago é de uma beleza impressionante, não mais que a que temos em muitos pontos da costa brasileira, em particular a da Mata Atlântica. E esta comparação me deixou com uma profunda tristeza. Como nós, brasileiros, podemos ser tão esculhambados?
Á quantidade de motos em Como impressiona. A pequena cidade turística está muito próxima de Milano e de lá vem boa parte de motos grandes de todos tipos para encher de barulho avenidas e estradinhas que circundam o lago. O asfalto é um tapete, as vias estreitas e muito bem sinalizadas, a paisagem maravilhosa, o trânsito carregado, sempre um pouco mais rápido que o limite de velocidade permitido. Para os motociclistas o respeito é pela emoção e a regra é chamar a atenção. Aceleram forte e passam correndo por pedestres, ciclistas e carros, para logo a frente diminuir. Ainda se ouve o barulho alto e agudo de motos de dois tempos, que não são poucas e deixam o cheiro característico de óleo queimado no ar. Não sei como ainda são permitidas.
A poucos quilômetros está Cernobbio, um vilarejo que tem como centro uma maravilhosa praça com o atracadouro de barcos de transporte, alguns restaurantes simpáticos com mesas ao sol e dois hotéis de luxo, um deles com restaurante. A torre da igreja se vê logo a direita de um dos hotéis. No fundo de Cernobbio há um hotel de 5 estrelas impressionante, e ali começa a estreita estradinha que vai serpenteando o lago pela esquerda e passando por cima das muitas casas construídas na encosta. Favela de luxo. Remete ao Rio de Janeiro e a uma inversão de valores. De noite todas as luzes são iguais, estrelinhas encrustadas na encosta; de dia... Obviamente em Como não se ouvem tiros de fúsil. Lembrei imediatamente de Miguel, homem vivenciado, que diz que para resolver a questão das favelas é necessário dar o título de posse para todos. Se os favelados vissem o que acontece no Lago de Como se dariam conta da riqueza que tem. Provavelmente já o intuem, mas não conseguem dimensionar as possibilidades que tem.
Fiz um pequeno trecho da estreita estrada a noite e em carro, e no dia seguinte o repeti pedalando. Impossível não parar em todas vistas abertas e não ficar babando com a beleza. De carro se pode parar em uns poucos pontos, de bicicleta para-se onde quiser. Incontáveis são os ciclistas de estrada pedalando bicicletas caras. Fibra de carbono é mato. Eu aluguei uma híbrida feminina de 7 marchas que rodava bem e morri de inveja do pessoal pedalando bicicleta de estrada naquele asfalto liso e impecável. Não fui mais longe por que o canote de selim era muito curto. 
Acabei saindo da estrada e descendo para voltar pela rua que serve as casas e umas poucas vilas, discretos e ricos palacetes, que ficam na encosta abaixo da estrada. Uma destas vilas é de George Clooney, que a população local conta com orgulho que pode ser visto passeando em sua Harley Davidson. Pelo caminho alguns bares e restaurantes com vista para o lago, seus barcos e as casas na encosta verde da outra margem estavam. Praticamente não há diferença de preço entre restaurantes simples e sofisticados. Explorar turista é burrice. Em alguns pontos a rua é tão estreita que é necessário parar para que o carro que vem passe. A volta é rápida para os ciclistas, quase toda em descida. Pena, a vista passa rápida. 

Na década de 70, quando estavam começando os planos para a construção da BR 101 cortando os morros da mata Atlântica do litoral norte de São Paulo e sul do do Rio de Janeiro, houve um discreto movimento para frear a construção da estrada e evitar a devastação da beleza local. Do projeto original sobraram poucas coisas, como uma ponte no meio do nada nos fundos de Barra do Una. 
A ideia era ter uma estrada turística, estreita, sinuosa e inserida num projeto de crescimento ordenado da região, um dos locais mais lindos do Brasil, algo muito parecido com o que se tem em praticamente toda Europa. A estradinha  virou um avenidão, uma baderna nos fins de semana prolongados e uma boa definição de caos no ano novo quando Caraguatatuba, cidade de 70.000 habitantes, recebe o fluxo de 1 milhão de carros. Pelo litoral norte se construiu desordenadamente, sem um mínimo de bom senso, deu-se aval para todo tipo de diversão, alguns de qualidade para lá de duvidosa, sem qualquer regra ou contrapartida. Muitas das baladas, algumas 24 horas, têm sonorização tão alta que não dá para dormir a quilômetros de distância, como acontece em Maresias, por exemplo. Nenhuma praia tem tratamento de esgoto, e na alta temporada falta água, é difícil conseguir comida, entrar no supermercado, padaria, além dos assaltos que correm solto. O valor agregado deste turismo se há é muito baixo, um empobrecimento que não interessa a ninguém, muito menos aos pobres. Não se aprendeu absolutamente nada com o processo de degradação brutal sofrido pelo Guarujá, que um dia foi chamada de "Pérola do Atlântico". 

Uns franceses perguntaram quanto o Brasil tira com o turismo. Não sei se tive vergonha ou raiva de responder.

sábado, 21 de abril de 2018

Londres e os ciclistas

Onde tive um jantar com uma família de londrinos  e é lógico que entraram no assunto bicicletas e afins em Londres. Eles tem um nível social e cultural alto, uma capacidade de análise bastante neutra, são bem informados, e falaram sobre ciclistas e ciclovias, referindo-se ao sistema cicloviário londrino, e acabaram num discurso muito parecido ao que se tem sobre o que aconteceu e está acontecendo em São Paulo. "Cresceu muito o número de ciclistas; há um problema com o comportamento dos ciclistas, alguns cospem, outros chutam os carros; outro dia morreu uma mãe com um bebe atropelada por um ciclista, colocaram mais ciclovias que o necessário, não pensaram nos outros (motoristas, pedestres...); não foi bem projetado, entendemos que as ciclovias são importantes..." Incrível como o discurso é uniformizado em todas as partes do mundo; e isto é ruim, bem ruim.
Vê-se ciclistas por todas as partes de Londres, bem mais que em São Paulo. As ruas são lisas como um carpete, uma delícia para pedalar. Praticamente inexiste a possibilidade de se encontrar um buraco ou qualquer outro obstáculo, o que instiga a uma pedalagem mais forte. As bicicletas em geral são de ótima qualidade, novas e bem cuidadas, muitas delas de estrada.  
O trânsito londrino é infernal e vem piorando. O desenho urbano é todo torto, caótico, nada apropriado para a carga de trânsito dos dias de hoje. Na maioria das ruas não há espaço para mais nada, nem para as magrelas bicicletas. Mesmo as vias principais são estreitas. É muito comum que um carro tenha que parar para o outro poder passar. Definitivamente a cidade inglesa não é uma cidade com perfil próprio para automóveis, mesmo assim os ingleses amam o automóvel. Nos bairros mais ricos é incrível a quantidade de carros caros e sofisticados. Mais que incrível, é assustador. Em Kensington e redondezas o número de Rolls Royce, Bentley, e outros carros de extremo luxo circulando beira o absurdo. É muito mais que um sinal de riqueza desmesurada, do fim de uma era, da perda de noção de limite, é uma situação que se deve pensar muito a sério. Tem por trás muito mais que um abismo social. Como pode? Paul, com quem eu conversava no jantar, entrou no assunto Brexit e fez uma análise inteligente sobre a provável perda de riqueza do Reino Unido, O esvaziamento de Londres, a possível melhora no trânsito, e o futuro da bicicleta neste novo contexto, sem deixar de lado as críticas sobre o que foi feito até aqui. Sua mulher falou sobre a dificuldade que os ingleses tem em planejar e simplesmente descartou o uso de soluções urbanas em Londres como estão sendo usadas com sucesso na Holanda, em NY e em outras cidades do mundo.
Foram 3 dias de sol e calor numa Londres saindo de um inverno intenso, e a cidade estava em festa nas ruas. Ruas, praças, parques, ou qualquer lugar onde se pudesse pegar um pouco se sol lotados. Gente correndo a pé preparando-se para a maratona de Londres, uma quantidade sensível de ciclistas pedalando por lazer ou esporte por toda parte. O centro financeiro de Londres tem uma vida particular e fica vazio até a hora do almoço, quando todos descem para as ruas a vida explode por duas horas, depois volta a desaparecer e as ruas ficarem praticamente vazias, uma situação estranha. Hora da volta para casa, nova explosão de vida, esta apressada, sem olhar para os lados. 
Para completar a Londres ensolarada e excepcionalmente quente, cheia de vida, a reunião do Commonwealth, 53 países da comunidade britânica, fechou ao trânsito todo entorno do Palácio de Buckingham, afetando até a imensa e maravilhosa roda gigante do outro lado do rio Tâmisa, fechada por razões de segurança até o termino do encontro. O povo que3 encheu os gramados dos parques próximos ao encontro tiveram mais paz. Árvores despertando do longo e gelado inverno, muitas inteiras floridas, canteiros.
Infelizmente Londres está suja, coisa que nunca foi. Saindo um pouco do centro e bairros mais ricos a sujeira fica feia, bem feia. Longe da riqueza e dos turistas tem muita loja fechada. No centrão a quantidade de turistas, zoológico completo, incomoda. Sempre se vê ciclistas circulando onde não poderiam estar, em algumas situações perigosas, no meio dos pedestres, muitas vezes de maneira pouco civilizada. E no fim dos três dias, fora do horário de escola, sempre apareceram grupos de adolescentes barbarizando. E exatamente como em São Paulo muitos faróis absurdos deixando outros ciclistas, pedestres e motoristas completamente cegos.
Ao lado do Big Ben congestionamento de ciclistas esperando educadamente o semáforo abrir. Londres tem seus problemas, mas a maioria dos ciclistas respeita os semáforos e a sinalização. Param educada e ordenadamente na linha de retenção e só seguem em frente com sinal verde, mesmo em locais ou momentos de pouco ou nenhum trânsito. Aí disparam.
Para terminar, aumentou muito o número de bicicletas compartilhadas, as que usam estação e as que podem ser deixadas em qualquer parte. Uma destas são de um desenho bem moderno, interessante.


quinta-feira, 19 de abril de 2018

Ansiedade, o assustador e o perigo real

Ansiedade. Por onde começar? 
Ciclista de ponta, assim como qualquer atleta vencedor, é treinado para controlar, melhor, contornar a ansiedade. Poucos controlam a ansiedade, mesmo os muito treinados. Uma matéria em revista especializada, não me lembro qual, dava que os melhores escaladores, os especialistas em montanhas são os que conseguem controlar a ansiedade no final da subida. É aquela coisa, a gente olha a subida e de cara acha que vai ser duro. Duro mesmo é quando se tem consciência que está acabando, aí a ansiedade cai de pau, sofrimento em estado bruto. "Será que aguento?"
Ironia do destino, acabo de encontrar o Celso Anderson, ciclista de ponta e comentarista do Giro d'Itala e Tour de France para a TV. Falei sobre ansiedade, ele disse que "sim, (os profissionais) são treinados, mas um captam a mensagem, outros não". Somos todos humanos! Yes! Somos.
Entre os mortais então...
No começo do mountain bike aqui em São Paulo, 1989, numa largada feminina, um amigo veio a mim e contou desanimado que sua namorada era muito forte, pedalava muito, mas que ficava tão ansiosa na largada que prejudicava toda a prova. Ele era treinador dos bons e já tinha tentado de tudo, sem resultados. Perguntei se eu podia tentar uma coisa estranha, ele concordou, e antes de ir até ela falei para ele não ficar bravo comigo. "Qualquer coisa se ela chegar bem". Foi o primeiro pódio de uma longa carreira vitoriosa. Quando ela subiu no pódio meu amigo (sem nomes) rindo me pegou pelo braço e perguntou o que eu tinha feito. "Desviei a atenção dela. O resto você não precisa saber, nem queira".
Ansiedade mata! (sem matar).
Começa na ansiedade, sobe um mal estar, assusta e se não controlar pode virar perigo real. Desvio de pensamento, força de vontade e saber que ansiedade é acionada por causas internas e externas. Como assim? Somos treinados para a normalidade, não para a anormalidade. Em outras palavras: neste mundo o nosso mundinho idealizado tudo tem que correr com perfeição e nos trilhos. Aconteceu algum problema, descarrilhou, ficamos com cara de muchocho, não sabemos o que fazer, lá vem ansiedade. Não somos programados para o diferente, o estranho. Óbvio que quando a gente chega em casa desesperado para ir ao banheiro a chave não abre a porta.
É batata! tem um buraco no meio do caminho, encanou nele, pode ficar tranquilo que vai cair no buraco. Todo mundo sabe disto. O segredo para não cair nesta é ir brincando com as pequenas ansiedades. Pegue qualquer trivialidade que te deixe ansioso e treine-se para contorna-la. Pedale a subida sem olhar para frente. Olhou a subida ela cresce. No trânsito nunca fixar o olho num único ponto. Enfim, use seu olhar para a solução, não para a dificuldade ou o problema.  Está compŕovado que quanto mais relaxado - que é completamente diferente de desligado - mais seguro é.Há uma grande diferença entre assustador e perigoso. Qualquer situação assustadora dificilmente se transformará em perigo real caso você controle a ansiedade e mantenha alguma racionalidade, Quem só pensa em perigo jamais será seguro. 

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Reflexo da cultura

Cheguei mais cedo do que deveria. Imaginei que sendo Banco do Brasil e estando na esquina da rua Augusta com av. Paulista, um dos pontos mais movimentados do país, a agencia fosse estar aberta a partir das 9:00 h da manhã, como acontece em agencias de grande movimento de outros bancos. Não; horário padrão, 10:00 h. Cruzei a rua, entrei no adorável Conjunto Nacional e fui tomar um café na Livraria Cultura. Sentei e comecei a ler o livro que havia levado para encarar a espera normal do banco. Sentada na mesa ao lado uma menina digitava seu computador com uma velocidade que me corroeu de inveja. Atrás dela vi a revistaria ao fundo e imediatamente fiquei saudoso. Lembrei de Paris, suas livrarias e a impressionante quantidade de publicações especiais com temas os mais diversos e uma riqueza de inteligência difícil de se ver por aqui. Não temos tempo para isto - pensar; temos que sobreviver no dia a dia e rezar por termos terminado o dia vivos.

No fim do mesmo dia parei num sinal ao lado de uma menina com uma belíssima bicicleta feminina azul clara novinha em folha, importada, mas sem nenhum refletor. Pouco antes eu tinha sido ultrapassado por uma mulher negra, vestida com roupas pretas, pedalando na calçada da av. Rebouças, sem qualquer refletor, absolutamente invisível, mesmo no meio de tantos faróis acesos. Tive vontade de ir atrás e orientar, mas como seria recebido?
O que atrasa o Brasil é não reconhecer o óbvio. Uma questão de cultura.

Cultura substantivo feminino
1.     1.
agr ação, processo ou efeito de cultivar a terra; lavra, cultivo.
2.     2.
bio cultivo de célula ou tecido vivos em uma solução contendo nutrientes adequados e em condições propícias à sobrevivência.
Mais, é ciência. 
Ciência substantivo feminino
1.     1.
conhecimento atento e aprofundado de algo.
2.     2.
corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, e formulados metódica e racionalmente.
"homem de c."

Como chegamos a este grau de desinformação geral? Falta de cultura, falta de educação, falta de vontade. Segurança a sério não é esta nossa brincadeira de achismos e interesses particulares, é matéria multidisciplinar. Cultura
No começo da obrigatoriedade do cinto de segurança colou uma besteira sem tamanho: "E se eu cair num lago? Morro por que vou estar preso no cinto", afirmação imbecil, típica de incultos. Não ter refletores na bicicleta colou. Aposto que esta quase ojeriza a ter refletores na bicicleta vem da completa irresponsabilidade dos fabricantes nacionais de terem vendido bicicletas com refletores frágeis, mal projetados, que desalinhavam e caiam com facilidade, não serviam para nada. Dava raiva. A maioria das fatalidades acontece a noite por pura invisibilidade do ciclista. "E se o carro estiver com os faróis apagados?" No que respondo: “E se a bateria da luzinha acabar e você não perceber, como fica sem refletor?” Não entro numa discussão mais profunda sobre a luta para que todos tenham consciência de acender os faróis por que é perda de tempo; mas este é o ponto.

Em Amsterdam as bicicletas circulam do jeito que estão. Muitas não tem luzinhas ou perderam seus refletores, por que  foram entortados nos estacionamentos, caíram ou estão velhos e sujos, o mais comum dos problemas. Porque não fazer um paralelo com a nossa situação e aliviar nossos erros? Simples: a cultura de vida deles (e de qualquer país minimamente civilizado) levou a transformação das cidades, a bicicleta foi um dos meios empregados para se chegar ao fim, uma cidade mais segura, hoje o trânsito é bem seguro, não perfeito ainda, mas tranquilo, e por cultura todos cuidam de todos. Não tem esta coisa de usar a cultura como elemento de poder típico de república de bananas.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

sempre a mesma coisa

Outro dia estive num evento. Fui todo feliz imaginando que lá conseguiria boa informação, atualização, detalhes técnicos, e fechando o dia uma boa discussão sobre os caminhos a seguir e, desejável, mas nem sempre possível, alguma decisão, posição do grupo. Praticamente nada, de novo ao vazio. Prefiro não citar o evento porque não faz diferença, são todos muito parecidos, um encontro de amigos, cordialidades entre nada amigos, um ou outro contato novo, apagam-se as luzes e começa o show, uma mesmice com poucos toques de novidade, muitos egos, mediocridade e burrice sempre presentes, tudo recheado de vazios, de nada. A mesma mesmice aqui ou lá fora. O Velo City de Nantes terminou com sorrisos e cometários em boca pequena sobre o show de egos. Lá fora ainda rola alguma coisa; aqui... tantos problemas a resolver, tanto a trabalhar, tanto a acertar; quanto desperdício!
Ontem recebi pelo Whatsapp uma mensagem que diz "No meio de toda esta bagunça não podemos voltar à tomada de dois pinos?". Não sei quem mandou, mas me deixou furioso. Quando começaram a falar sobre a mudança nas tomadas o Brasil se calou, simplesmente se calou. Eu fiquei ensandecido e meus próximos pediram para que eu me acalmar. Não consigo. Esperniei e continuo esperniando, e não pretendo parar. Passados sei lá quantos anos todos continuam a reclamar da palhaçada, melhor, imbecilidade. Quem permitiu a palhaçada, os espertos ou o silêncio? Vou mais longe: esta mudança de padrão das tomadas foi um teste de mercado para ver qual seria a reação da população. Não houve reação, caminho aberto para o Brasil que temos hoje. Parabéns a todos! Agora não reclama; engole! É fato consumado, infelizmente. Mas lembre-se sempre das tomadas e não fique quieto no que ainda tem que ser decidido.
O que vai acontecer com o Brasil? Vai depender da qualidade dos debates que teremos daqui até a eleição. Se for no mesmo baixíssimo nível que foram os últimos debates presidenciais preparem-se para ter cada dia com menos qualidade de vida, preparem-se para um aumento da pobreza cultural, intelectual e econômica, preparem-se para maiores sofrimentos. Quando não se procura melhorar o fundo do poço fica cada dia mais fundo e sombrio.O que vai acontecer depende de nós. Peço um mínimo de interesse e bom senso

Neta feliz

Faz uns dias tive a benção de ver minha neta, Maria Clara, rindo, feliz, brincando, atormentando o irmão Guilherme. Normalmente está com cara fechada, enclausurada no celular como a maioria dos de sua idade adolescente. Seu rosto descontraído, dentes expostos, fala divertida, gestos soltos e inconsequentes, me fez dormir feito um anjo. Está viva! Há vida na frente daquela telinha do celular.
Ela não faz nada além de refletir a sociedade que está em volta. Outro dia sua mãe teve a ousadia de checar as mensagens dentro do cinema. Estou furioso até agora. A primeira vez que vi acontecer uma situação destas metade da plateia se levantou e quase arrancou a tapas do cinema o idiota e seu celular. Hoje a falta de respeito é generalizada e é raro alguém reclamar.
Não é só uma questão de respeito, mas de saúde mental. A cada dia saem mais estudos científicos provando que a era digital, em especial o celular, é uma droga viciante tão perigosa quanto bebida ou crack. Mesmo que não fosse, está sendo um exagero e isto é perigoso.
A era digital explodiu o tempo, fragmentou tudo em nano pedacinhos. Biologicamente somos exatamente os mesmos de sempre. Esta brutal mudança está pondo a prova nossa incrível, praticamente ilimitada, capacidade de adaptação. Será que vai dar certo? Todos estes progressos são tão maravilhosos como parecem? Se todo progresso é assim maravilhoso, porque o automóvel está sendo tão contestado? É simplesmente uma questão de equilíbrio. Nos recusamos a aprender com o passado, com os fatos incontestáveis.

Aos 17 anos vi um amigo, completamente chapado, perder a noção de que lado do espelho estava. Não sabe até hoje. Surtou e nunca mais voltou.
Surtamos. Alguém tem dúvida disto?



segunda-feira, 2 de abril de 2018

60 mil assassinatos e Marielle Franco

Que diferença faz no meio deste genocíodio generalizado que vivemos uma a mais? 
Não consegui nem quis escrever um texto sobre a morte de Marielle Franco porque preferi pagar para ver no que dava toda a história. Até agora não deu em nada, se é que vai dar. O assassinato de Marielle Franco está caindo no esquecimento, exatamente como caem praticamente todas as mortes violentas deste país. Tudo como o esperado. E olha que por trás da memória dela há um conjunto de grupos sociais muito articulados, dos mais ativos deste momento histórico do Brasil. Mesmo assim o tempo está passando, passando, passando... Espero que não vá dar em nada, pelo menos desta vez espero que se descubra o que realmente aconteceu, digo: o que realmente aconteceu, não história para boi dormir. Quem ou o que realmente está por trás de mais esta execução?
O que mais me choca nesta história macabra é que só soube da existência de Marielle depois de mais esta barbárie. A bem da verdade não faço ideia de quantos e quem são os nomes que estão fazendo diferença real para a construção de um Brasil de verdade. Boa parte dos cariocas sabiam quem era ela, mas no resto do país quem mais? Triste, muito triste. Ou você está no meio de uma rede social ou dificilmente vai saber o que "rola por aí".
Quantas peças sociais realmente importantes foram assassinadas? Quanto perdemos de valor agregado valioso, gente que surge uma em cada milhão, um em milhões? Quanto perdemos em inteligência, em emprendedorismo, quanto perdemos de futuro?
Que diferença faz uma a mais ou uma a menos no país do nunca antes? Nenhuma, zero, nada, nicas... Se estou errado que se pare com este nosso genocidio. Duvido que alguém se interesse. Vamos continuar igual. 

Estou triste faz tempo, muito triste a muito tempo, mais ainda com a perda desta peça chave para a construção de um Brasil mais justo, melhor.

E...
do outro lado da represa, uns 2 km distante, vinha em volume altíssimo saindo do porta malas aberto de uma perua, o carro: 

Cocô, cocô, cocô, cocô, cocô, cocô, cocô teimoso
Cocô, cocô, cocô, cocô, cocô, cocô, cocô teimoso
Cocô, cocô, cocô, cocô, cocô, cocô, cocô teimoso

Cocô teimoso, cocô teimoso
Eu caguei ele no vaso
Dei descarga ele voltou de novo, caralho

Cocô teimoso, cocô teimoso
Eu caguei ele no vaso
Dei descarga ele voltou de novo, caralho

https://www.letras.mus.br/os-avassaladores/coco-teimoso/

Expressão popular? Novo hino nacional? Aquilo deu nisso? Desculpem, mas onde estamos? 

20 mil bicicletas comunitárias amarelas em São Paulo.


Batendo o olho na foto da bicicleta posso fazer alguns comentários.
Primeiro, o movimento central é tipo sueco, que no Brasil costuma dar muito problema. Não é o central sueco que dá problema, mas o lixo que é produzido no Brasil. As Huffy, Murray, Ross e outras marcas de bicicletas de supermercado americano usam este tipo de movimento central e duram décadas. Caso a qualidade das bacias, cones e rolamentos for ruim a corrente vai começar a cair com pouco uso da bicicleta, como é comum em bicicletas muito baratas que são vendidas por ai.
Os aros são de folha simples, como dizem por ai, que eu prefiro porque a roda fica mais leve. A questão é montar e centrar estes aros com qualidade e precisão para que tenham resistência a desalinhamentos, ou vai dar muita dor de cabeça. A bem da verdade não confio na qualidade de manutenção em geral. As bicicletas da Sertel eram boas, mas a manutenção....
A bicicleta é em aço, o que demanda que o tubo de selim seja num aço de melhor qualidade, trefilado e retificado pós soldas, ou subir e descer o celim vai ser um baile. Quem tem ou já usou bicicleta barata brasileira sabe disto. Dá para ver pela foto que o tubo de selim tem uma forma especial para que o selim esteja sempre na posição correta, apontando para frente, o que é muito bom.
A maioria dos acidentes (colisões) com ciclistas acontece ao amanhecer ou entardecer, por isto os refletores são importantíssimos para a segurança do ciclista. Ciclista tem que ser visível para os motoristas. Bons refletores fazem bem este trabalho. Na bicicleta da foto começamos mal: o reletor dianteiro está atrás da cestinha. E pelo visto é um destes refletores brasileiros que são mal projetados e muito frágeis, e tornam-se inúteis rapidamente.
A gancheira do garfo parece dizer que o garfo não é uma destas porcarias desalinhadas que alguns fabricantes nacionais soltam as toneladas no mercado brasileiro. Espero que a bicicleta ande em linha reta.
Cubos são de aço, simples. Nada contra se tiverem qualidade.
Espero, do fundo do coração, que a bicicleta seja boa. Queimar um projeto destes por falta de qualidade será um crime.
Munique tem bicicletas comunitárias que podem ser largadas em qualquer lugar. Funciona. Funcionará aqui se os usuários forem civilizados e façam bom uso.
Finalizando: Rezo que para estejam certos e que as bicicletas não sejam roubadas as pencas.