sexta-feira, 27 de maio de 2011

O sinal amarelo e a segurança social

O Estado de São Paulo
São Paulo Reclama

Pedalo há mais de 30 anos pela cidade de São Paulo e até hoje havia sofrido 2 colisões com carros (este é o termo legal correto), as duas patéticas. Hoje a tarde aconteceu minha terceira experiência. Felizmente os danos foram de pequena monta, tanto na bicicleta quanto em meu corpo. O motorista que vinha atrás, provavelmente distraído, tentou cruzar o sinal amarelo (que na realidade estava a muito vermelho) e acabou colidindo por trás de minha bicicleta, me jogando no chão. O cidadão que estava dirigindo parou, tentou se explicar, ofereceu ajuda, prometeu conserto de minha roda torta. Um marronzinho da CET apareceu e prestou corretamente seus serviços. Agradeci, fiquei com o cartão, dei um jeito na roda e voltei meio capenga para casa. Pelo cartão acabei descobrindo que fui “atropelado” (como dizem os leigos) por uma destas pessoas que são realmente do bem e que lutam para fazer deste Brasil um lugar mais humano.

O que aconteceu ali, tão comum a toda nossa cidade, é que os responsáveis pelo trânsito fazem uso do “amarelo” para ganhar segundos e assim melhorar a média geral de velocidade do trânsito. É resultado de uma velha política de transporte voltada quase que exclusivamente à fluidez do trânsito motorizado, mesmo que esta passe por cima da própria lei que criou a CET. Artigo 3º - A Companhia de Engenharia de Tráfego tem por objetivo: planejar e implantar, nas vias e logradouros do Município, a operação do sistema viários, com o fim de assegurar maior segurança e fluidez do trânsito e trafego. Fluidez sim. Segurança? Os tenebrosos números divulgados pela própria CET dizem a verdade irrefutável. Fomentar a fluidez a qualquer custo tem seu preço. O uso do amarelo é um detalhe técnico, uma sutileza perigosa. Os pedestres que o digam. Mas, como declara a própria CET: a responsabilidade é do pedestre. Será isto segurança?

Segurança se faz com verdades. Como muito poucos sabem o que é de fato segurança fica muito fácil ficar bem na fita com ações ou campanhas pontuais. A questão dos motociclistas que o diga. O trânsito de São Paulo, que tem um dos melhores corpos técnicos do mundo, vai continuar violento porque não há interesse do governo e nem da população para que seja diferente. Descobrir que reduzir velocidade em avenidas acidenta e mata menos é de uma obviedade patética. Vide “física” (ciência). Segurança é feita detalhes que se encaixam numa lógica universal. Não é simplesmente verde, amarelo, vermelho. Vai muito além. Há um mar de implicações, principalmente sociais. Quem se interessa? A discussão hoje é tão rasa que só da para perguntar: quando o amarelo irá voltar a ser um importante elemento de segurança? Ou: quando vai parar a guerra?

Segurança no trânsito é para todos, não pode ter dono, não pode ser um direito encastelado, como é hoje. A responsabilidade direta pelo acidente desta tarde foi, pela lei, do homem de bem; mas esta verdade é, em termos de segurança, tão pobre quando mentirosa.

domingo, 22 de maio de 2011

Broadway Av. - NY

Uma pedalada na Broadway, do Central Park até a Union Square. Há 10 anos esta foi uma das avenidas com maior trânsito de veículos motorizados de NY. Ela cruza Manhattan de norte a sul em diagonal. Simplesmente mudaram o uso do espaço urbano e a vida continua - mais humana e melhor.
Se quiserem fazer uma comparação entre no Google Earth, no street view do Times Square e no cruzamento da 5th Av com Broadway. As imagens são datadas de 01 de Outubro de 2006, portanto tem 5 anos. Desculpem senhores e senhoras, mas São Paulo é uma vergonha. O que estão fazendo agora aqui é um tremendo engana bobo. Ou "Me engana que eu gosto". Como queira.
 
















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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Palocci e a ponta do iceberg

O Estado de São Paulo
Fórum do Leitor

Palocci não é o primeiro, não é o único e com certeza não será o último a tirar grandes vantagens de estar trabalhando no serviço público. A questão vai além do que jornais e seus jornalistas e comentaristas estão levantando e expondo. Estar perto ou dentro da coisa pública por si só traz um conhecimento sobre como de fato funciona este país que é mais que precioso, é fundamental para conseguir qualquer resultado, pessoal ou para o bem do país. O que faltou a todos que estão cobrindo mais este caso é lembrar o serviço público brasileiro está inserido na nossa “suposta” democracia. Democracia “se baseia na idéia da soberania popular e na distribuição equilibrada do poder” (iDicionário Aulete), portanto deveria passar pela facilidade de qualquer cidadão comum em compreender e conseguir usar a coisa pública. Ter contato com a coisa pública de fato, além do balcão de atendimento, é para poucos. A máquina pública, através e ao gosto de seus indivíduos servidores, se dá ao direito de abrir ou não as portas às informações corretas. Maquiavelismo puro. Quem tem habilidade ou força consegue ter acesso, geralmente paulatino e dosado, ao Brasil de verdade. O resto preenche formulários. Não é muito democrático e nem sempre de moral honesta. Os Paloccis da vida são só a ponta do iceberg.

Ps.: Todos que estão envolvidos na transformação de nossas cidades para uma vida mais saudável deveriam ser educados e treinados para lidar corretamente com a coisa pública. É muito fácil e comum virar inocente útil.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

ferias

Como fazer um clique para desligar das bicicletas? Infelizmente nao da fazer. Meu calcanhar de aquiles doi muito de tanto andar. Adoro andar. Provavelmente por causa da diabete minhas dores sao cada dia mais recorrentes. Um dos caminhos e voltar aos pedais. Outro seria correr a pe, mas tenho um pouco de medo de piorar a situacao. Em casa eu tentaria correr, o que algumas vezes funciona, nao sei bem a razao, mas imagino qual seja. O fato e que a diabete esta comecando a cobrar seu preco. Dor eu sinto praticamente direto desde que tenho uns 20 anos de idade.

Recomendo um desenho animado de TV chamado "Family Guy", coisa ja antiga e felizmente politicamente incorreto. De preferencia o original, em ingles.

Infelizmente tive um pesadelo sobre problemas de trabalho. E hoje dormi pela segunda noite muito mal.
Sempre sonhei com o que vou fazer quando tirar uma bolada grande, uns 50 milhoes. Demorei para descobrir o sentido da vida milionaria. Agora nao tenho mais qualquer duvida: quero ter dinheiro suficiente para trabalhar em paz. Amo o que faco, mas da forma como faco e exaustivo. Escola de Bicicleta vai cada dia melhor, mas a quantidade de trabalho comecou a se transformar em um problema, talvez pela diabete.
Conversei com algumas pessoas sobre ter dinheiro para trabalhar em paz e todos acharam a ideia legal. Infelizmente trabalhar em transformacao humana nao e rentavel, muitas vezes sequer compreendido. No passado cheguei a ser ofendido por estar envolvido com a questao da bicicleta. Nao fui o unico. Ainda hoje ha muita incompreensao; resultado da falta de discussao seria sobre as coisas. E um problema de nossa epoca, principalmente do Brasil.
Mais uns dias e as ferias acabam. Confesso que ainda preciso de algum tipo de retiro. Preciso descansar. Como desligar de nossas loucuras, de nossos vicios sociais, humanos?


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Somos todos iguais - ai ou aqui no Canada

Peguei o primeiro fim de semana de sol depois do que os canadenses dizem ter sido um inverno muito duro. Pelo frio que fez no meu primeiro dia aqui posso bem imaginar o que tenha sido. Montreal é muito calma. Movimento mesmo so mesmo no centro e em hora de trabalho e comercio aberto. Boa parte da vida acontece nos internos, pequenos shoppings que ficam embaixo ou entre edificios. Fora dali até nossas cidades mais calmas parecem ter mais vida.
A quantidade de bicicletas por todas as partes de cidade é muito grande, principalmente pressas a postes, parquimetros, grades e outros. O numero de ciclistas circulando também é grande, bem mais visivel que em Sao Paulo, por exemplo. Ha muito ciclista usando fixa, que é tao moda aqui como ai. Muitas hibridas, uma boa quantidade delas ainda modelos classicos, construidas em tubos de aço de pequeno diametro e chiquérrimas. As femininas com paralamas em especial. Tem ciclista para todos os gostos, exatamente como pelas nossas paragens. É coisa de nos americanos. Na Europa o que se ve é ciclista com roupa de trabalho; muito raramente um ou outro com roupa de franga (roupa de ciclista, como chamamos em Sao Paulo).
Sabado a tarde a cidade ficou cheia de vida nas ruas, mas foi no domingo que a festa foi para valer. Ha uma quantidade grande de ciclovias e ciclofaixas implantadas pela cidade. Montreal é de fato uma cidade amiga da bicicleta e o pessoal para valer usa o que ela oferece. Nao tem aquela coisa de ter hora para abrir e fechar como nas nossas ciclofaixas ou ruas fechadas. Esta implantado e pronto. Ha que se reconhecer que as ruas e avenidas sao muito mais largas, o traçado urbano é quadriculado, e ha espaço para implantaçao de melhorias para os ciclistas, o que é fato raro nas cidades brasileiras.
As rotas que passam vao ao centro sao sempre muito usadas. Mas neste domingo ensolarado, depois de longo inverno, o pessoal mostrava na cara o prazer de sair para pedalar por toda a cidade. ( http://www.voyagezfute.ca/velo.asp?lng=1 ). E que prazer! Nao que seja tudo perfeito. Os problemas sao praticamente os mesmos aqui e ai. Chega nas esquinas o pessoal daqui no geral para o ciclista passar, mas por um milagre nao vi um ciclista ser pego por tras por um carro virando a direita. E outro ciclista que teve que freiar brusco para nao entrar no meio da porta do carro que cortou a frente. Ha semaforo para ciclistas e e pedestres em praticamente todas as esquinas, o que faz uma grande diferença, mas é logico que ha os ciclistas que furam. No andar da ciclovia tem pai e mae com criança pequena quase sendo atropelados por pseudo-ciclistas com suas possantes bicicletas road que acham que aquele espaço é para treinar. Enfim, é muito parecido com que vivemos por ai.
Bacana mesmo foi ter pedalado no circuito Gilles-velleneuve, onde acontecem as corridas de Formula 1. Sao duas ilhas, a do circuito e uma que fica paralela. Infelizmente praticamente tudo ali so começa a funcionar em Junho. Na primeira ilha ha um belo parque aquatico, um restaurante e a maravilhosa Biosfera - http://www.ec.gc.ca/biosphere/ . Criada para a Expo Mundial de 1967 é hoje o simples, divertido, e atrativo Museu do Meio Ambiente, este sim aberto a visitaçao. Na segunda ilha, a do circuito, estava acontecendo uma corrida de bicicletas estrada para deficientes. Para se ter ideia, um deles, que fez a ultima volta junto com o pelotao de ponta, nao tem uma perna e o braço do lado oposto. Queria eu ter o sprint dele. Correu junto duplas em tandem. E o bacana é que o circuito nao foi fechado para os outros ciclistas, das crianças aos que queriam treinar. Para nao atrapalhar a prova, so foi necessario respeitar a passagem orientada em duas barreiras. Me chamou atençao que o circuito é muito mais estreito e tem um asfalto muito menos abrasivo que Interlagos. Pedalar no Gilles é uma delicia.
Todas as pontes tem espaço especial para ciclistas e pedestres. Todo sistema cicloviario esta interligado. A nao ser por uma outra obra temporaria, o ciclista tem fuidez. Os mapas de todo o sistema cicloviario pode ser encontrado em qualquer da muitas bicicletarias. A maioria delas tem bicicletas para alugar, mountain, hibridas e até mesmo road bikes. Ha ainda as "Bixi", http://www.bixi.com/ , o sistema de bicicletas comunitarias recem implantado. Nao que tudo seja uma maravilha. Por incrivel que possa parecer o asfalto das ruas esta numa condiçao ruim, com muitos buracos. As ciclovias tambem nao estao todas bem conservadas. Circular no meio dos carros é facil porque ha educaçao e principalmente respeito a lei. Nao so isto. O transito no geral é muito mais organizado, muito menos intenso, o que faz tudo menos tenso. Resultado de uma cidade mais calma. Cidade mais calma, sociedade mais calma, pedalar mais calmo.
O que impressiona é a qualidade do ar. Aqui, assim como na Europa, mesmo no meio do transito pesado voce consegue respirar sem problema. No fim do dia a gola da camisa esta limpa e a roupa nao fede. Muito diferente de Sao Paulo, Municipio, que ja tem um sistema de controle de qualidade das emissoes. Quando comparado com o ar de outras cidades é um choque. É simplesmente inacreditavel que nos aceitemos o ar que respiramos. Nojento!