quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Ciclovia na Paulista? Sou contra!

Minha irritação com a ideia de se colocar uma ciclovia de canteiro central na av. Paulista foi tanto que não consegui escrever nada enquanto a notícia estava quente. Seria muitíssimo mais inteligente acalmar a av. Paulista, diminuindo mais ainda a velocidade máxima, corrigindo alguns tempos de semáforo, selecionando e treinando os motoristas de ônibus para o convívio com ciclistas, implementando forte fiscalização.
A av. Paulista, que é dita a avenida símbolo dos paulistanos, deveria também ser o símbolo do recolocar a maior cidade do país nos trilhos do bom futuro. Ciclovia em canteiro central, em especial ali, é olhar para trás, optar por uma solução pouco desafiadora, ultrapassada, medíocre.
Para quem não conhece, av. Paulista fica no topo do morro, é praticamente plana, uma reta, ligação direta entre bairros, sempre com movimento, até fora dos horários de pico, quando praticamente para. O trecho entre a Brigadeiro Luís Antônio e rua Augusta é o mais movimentado, tenso para pedalar. A velocidade máxima é 50 km/h, ainda alta para o número de pedestres circulando. Os atropelamentos diminuíram, mas não acabaram, mesmo com a diminuição de velocidade e com o reposicionamento das faixas de pedestres. Os tempos de travessia ainda são muito justos.
Pedalar no meio desta confusão é complicado por que a via é muito saturada, corre aos soluços, não sobra espaço entre faixas e veículos, a não ser na faixa exclusiva para ônibus quando estes param nos pontos ou semáforos. É mais fácil e seguro pedalar num sentido que noutro por causa do leve declive. Pedalar na calçada nem pensar por que está sempre cheia, mesmo assim tem ciclista que vai costurando e assustando os pedestres. As duas vias paralelas, rua São Carlos do Pinhal de um lado e al. Santos do outro, são um sobe e desce e normalmente têm menos espaço e trânsito até mais carregado que a própria Paulista. Ou seja, o caminho para o ciclista é mesmo pela av. Paulista, e passa muito ciclista por lá, bem mais que a princípio se possa imaginar.
Ciclovia de canteiro central é solução para quando não há alternativa, mas aqui no Brasil sempre parece o caminho natural. O mínimo que se tem que ter é espaço no canteiro central, o que na Paulista praticamente não há. Algum jornal ou revista mostrou que em certos pontos definitivamente não há espaço para uma ciclovia. É uma forçada de barra sem tamanho. Vão apertar mais ainda o espaço entre veículos e tornarão praticamente impossível a passagem de motos entre os carros e a entrega de pequenos volumes, que tem um valor agregado muito alto aqui em São Paulo. Sem motoboy a economia paulistana para, dizem e é a mais pura verdade.
O que se faz com a travessia de pedestres? Mesmo que tenham onde parar para esperar no meio da avenida para cruzar o segundo trecho de avenida os pedestres estarão muito expostos aos ciclistas, conflito certo e problema grave em todas as partes do mundo.
Para acertar a segurança dos ciclistas será necessário acertar os tempos de semáforos não só da Paulista, mas de uma vasta área no entorno, ou se vai para o caos completo no trânsito de toda região. Ou não se vai colocar semáforos específicos para ciclistas entrarem e saírem da ciclovia? E a caixa de retenção para quem quiser sair da ciclovia? Quem vem atrás para e espera, ou ultrapassa pela contramão? Imagine a confusão na saída para a rua Augusta...
Como em qualquer ciclovia de canteiro central o ciclista que não está de passagem, mas vai acessar um ponto qualquer da avenida, num meio de quarteirão, por exemplo, vai ter que cruzar do canteiro central para a calçada, espera-se que cruze a avenida em paralelo com os pedestres, o que nem sempre dá certo por diversas razões. Depois de cruzar ou irá circular pela avenida junto com carros e ônibus ou irá invadir a calçada dos pedestres para chegar onde quer ir. Detalhe: em qualquer lugar onde há ciclovia a tolerância de motoristas diminui muito com ciclista que está circulando fora da ciclovia.
Henrique Peñalosa, ex Prefeito de Bogotá, diz que é crucial que a ciclovia cruze o ponto mais simbólico da cidade para se transformar num marco. Mais ainda, tem a questão do marco político. Imagina só a av. Paulista pintada de vermelho, a cor oficial do PT. Isto não tem preço!

É inacreditável que não se faça os ciclistas circularem na faixa de ônibus, como acontece em Paris, Londres e em outras capitais do mundo. Basta treinar os motoristas, o que já se fez aqui em São Paulo com sucesso. Dizer, como dizem, que todo paulistano é mal educado e desrespeitoso é negar a história deste povo que fez desta cidade a mais rica e bem sucedida do país. Sucesso só acontece com gente boa.

sábado, 22 de novembro de 2014

Fortaleza e o turismo Brasil

Já não me lembrava mais de ter ficado tão feliz de voltar para São Paulo como fiquei desta vez. 
 
Consegui remarcar minha passagem de volta para São Paulo. Havia tentado pelo site da TAM, mas deu problema. A responsável pelo guichê da TAM no aeroporto de Fortaleza, Jerusa, acabou resolvendo meu problema com um típico jeitinho brasileiro. Foi ali, na espera, que senti os primeiros mosquitos, mas não acreditei. Pensei que eram pulgas. As empresas aéreas brasileiras têm como norma, estupida a meu ver, cobrar uma fortuna para antecipar passagens no aeroporto e 48 horas antes do embarque..., mesmo que o avião esteja vazio... O que embarquei no jeitinho tinha 20 assentos livres e mesmo assim teria que ter pago algo como R$ 750,00 para "remarcar". Um turista estrangeiro passa por uma situação destas e nunca mais volta ao Brasil – simples assim.
Estou voltando antes por que não aguentei ficar mais um dia em Fortaleza. Trinta minutos depois de minha primeira saída à rua sentei para um café na mesa ao lado de um europeu lá pelos 50 anos acompanhado por uma prostituta adolescente. Começou mal, muito mal. Três outras meninas esperavam na rua. Deprimente!
O pedaço de praia onde fiquei, na av. Beira Mar, não tem vista para o mar. Está tomada por barzinhos, mesinhas, guarda-sóis, vendedores ambulantes, hippies sentados no chão..., muita gente caminhando, correndo, circulando, conversando, algumas bicicletas passando entre os pedestres. Muita vida, gente alegre, buscando saúde e amizades, mas sem vista para o mar.
Incrível, o trânsito, pelo menos aqui na Beira Mar, para quando o pedestre está na faixa de pedestres. Não foi o que vi no trajeto entre a rodoviária e o hotel. Em compensação não fui atropelado por um ciclista na contramão por que alguém lá em cima não quis. Os policiais que estavam do outro lado da rua e viram o meu ‘quase' e deram risada. Ai aprendi: ciclista vem pela direita, esquerda, mão, contramão, cruzando em diagonal, enfim, a escolha do freguês e para o terror dos desavisados. Os três ciclistas pingados que vi no trajeto para o hotel circulavam na mão.
Aqui no aeroporto, enquanto escrevo estas linhas, continuo sendo comido por mosquitos. Tenho pena dos europeus que estão sentados à minha frente. Espero que não seja dengue. Agora sei que não é pulga, como pensei.
A água do mar é muito agradável, principalmente para quem gosta de nadar. Deu para dar umas boas braçadas. A areia deveria ser mais limpa. Uma equipe com rastelo faria uma grande diferença. Sai do mar e para voltar para o hotel tive que cruzar pelas mesinhas no meio do forte cheiro de camarão frito em gordura velha da cozinha.
Um pouco antes do hotel onde estou a av. Beira Mar tem calçada muito estreita para tanta gente. A areia chega quase até o asfalto talvez com 2 m de calçada, mas felizmente só com a bela vista da areia e mar livre. Dá para alargar, mas vai mexer com alguns interesses, principalmente com carros circulando e estacionados. O calçadão que se abre dali até o porto, onde está toda a bagunça que falei, também deveria ser melhorado e muito, bastando mexer com mais outros interesses particulares. É um jogo: perde agora e ganha muito mais amanha, mas pelo que parece ninguém entende.
Não se pode negar que o beira mar é agradável, mas confuso, desorganizado, sem padrão, mal ocupado e com jeito de sujo, o que é tão ruim quanto estar sujo. Falta urbanismo, falta civilização, falta auto respeito; pior falta inteligência e coragem para melhorar. Tratar turismo desta forma é dar tiro no pé. Para mim chega, quero voltar para casa.
Volto para o hotel para fazer a mala e num dos canais de TV uma jovem mulher, lá pelos 25 anos, estava sendo entrevistada e descarregava exatamente o mesmo discurso sobre a questão da bicicleta que já estamos cansados de ouvir: sem a bicicleta Fortaleza não será uma cidade moderna nem combaterá o malvado carro... blablabla blá blá blabla... Por favor, olhe mais a frente e muda o disco.
Aqui na sala de embarque do aeroporto fiquei conversando com uma funcionária do Sarah Kubistchek de Brasília, hospital referência na recuperação de acidentados, e ela falou com muita tristeza sobre a quantidade absurda de motociclistas hospitalizados em Fortaleza. Bicicletas e ciclovias para a classe média é a ordem do dia e é preciso repetir o discurso a exaustão. Leitos cheios de motociclistas ou pedestres estão fora da pauta. Em Mossoró chegou a 78% dos leitos ocupados por motociclistas; quantos serão aqui em Fortaleza? Toca ciclovia que os problemas da cidade vão acabar!
Um casal de suíços esperando para embarcar disse sem meias palavras que não acredita no futuro do Brasil. Vieram para cá fazer kite surf e ficaram chocados com a sujeira, a poluição, e principalmente a preguiça do povo. O atendimento que tiveram nos hotéis das praias nordestinas foi sofrível. Não voltam mais, mesmo rasgando elogios à nossa natureza. Obviamente também não irão recomendar. Quatro franceses tiveram que pagar por um excesso de 5 kg, algo que me cheirou aquela história tipicamente brasileira de tirar vantagem, uma casquinha sem dor, dos ricos e trouxas europeus. Estes também mostraram um “certo” descontentamento com a estranha cobrança e com outras particularidades de nosso povo. “Tem outros países com belas praias”, disseram delicadamente.
Turismo se faz, ou melhor, se ganha em detalhes. Eu próprio não tenho mais nenhuma vontade de viajar no Brasil.  Para terminar... acho um absurdo ter que pagar o preço de uma passagem nova para remarcar a minha já paga, principalmente quando o avião irá decolar cheio de poltronas vazias. Já me aconteceu antes. A passagem dentro do Brasil é cara, aeroportos e rodoviárias são precários, banheiros são sujos, comida é cara e não raro ruim, a troca de gate é frequente e nem sempre bem avisada, os hotéis são caros, tive que lavar a janela do banheiro de meu quarto no hotel, a granola estava mofada... A estrada entre Mossoró e Fortaleza é mal sinalizada a noite, muito suja, cheia de jegues abandonados, soltos e atropelados, e muita gente sentada coçando o saco... Mossoró deve ter 70 mortes violentas/100 mil habitantes, quando a ONU considera até 9/100 mil aceitável... João Pessoa tinha a alguns anos 134/100 mil, sendo que 174/100 mil eram jovens negros... E ai vai... Não quero ver guerra civil. Não quero fazer turismo no Brasil.
A questão é simples: Brasil recebe um pouco mais que 6 milhões de turistas estrangeiros / ano. Só a ilha de Manhattan recebe 14 milhões. Tire sua conclusão

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Mossoró


Mossoró é uma cidade de quase 300 mil habitantes. Tem dinheiro, é fácil perceber. Fica mais ou menos entre Natal e Fortaleza, umas 4 horas sul ou norte por estradas boas, vários trechos recém duplicados. Cheguei com a cidade dormindo e o que chamou a atenção foi o grande número de edifícios novos, modernos e altos espalhados aleatoriamente no meio de construções muito simples. 
Na manha seguinte saímos, eu e Eric, para as avenidas e ruas de trânsito muito desordenado. Não ensinaram a este pessoal o que é uma linha reta. As conversões na avenida são realizadas à esquerda em aberturas oficiais no canteiro central, mas que como projeto viário é uma piada. O número de infrações que se vê é maluco, de todo tipo, da falta de capacete na moto à qualquer outra falta de bom senso. “Perdoai os Senhor, por que eles não fazem a mais remota ideia do que estão fazendo”.
A cidade, uma das poucas que tem dinheiro próprio no nordeste, poderia ser muito agradável, mas está muito curvada a vontade particular de cada um. As calçadas... se é que se pode chamar aquilo de calçada... é dos piores exemplos que vi: desniveladas entre si e em relação ao pavimento da via, algumas quase com um abismo para o asfalto. Sinalização de solo, faixa branca, amarela..., bom, existe, mas não me lembro de ter visto. Tachas, tachinhas e tachões isto tem. Carros, motos, ciclistas, os pouquíssimos ônibus (uma frota de 19 para toda cidade) de transporte coletivo, alguns caminhões, carroças e montarias circulam por todos lados e em toda e qualquer direção, algumas tantas vezes na contramão. Mesmo assim achei mais fácil pedalar em Mossoró do que em Curitiba, onde o trânsito é mais agressivo.  
(Estou escrevendo esta no aeroporto de Fortaleza e os mosquitos me devorando. Que merda! A menina do guichê está torrando os malditos com uma raquete elétrica e espalhando cheiro de sangue queimado no ar).

Voltando a Mossoró, morre muita gente no trânsito, os hospitais já chegaram a ter mais de 75% dos leitos ocupados por motociclistas arrebentados. Mesmo assim creio que é relativamente fácil melhorar esta situação num curto espaço de tempo e de quebra ter uma cidade chique, já que o traçado urbano está dividido em dois por um grande parque, uma reserva. Querendo dá para fazer.
Saímos num sábado à noite e fiquei impressionado com a tranquilidade e boa educação do povo nos bares e espaços públicos da avenida central. Conversam em voz baixa e sujam menos o espaço público que nós paulistanos. A pracinha próxima de onde fiquei fica lotada todo final de dia e é limpa.
Saí para pedalar pouco, só nos horários de menos calor. O racha coco do meio dia e começo de tarde é bem complicado. Todos me falaram barbaridades sobre os perigos de pedalar no meio daquela loucura, mas mesmo em horário de pico da tarde não tive mais problemas que em outras cidades, talvez por que eu seja previsível, sinalize e principalmente por que agradeço, sou cordial. Só tive um incidente com um carro virando à direita, mas se tem que dar desconto ao velhinho que estava dirigindo e que ainda pensa que está montado num jegue. Esqueceu de fazer o jegue zurrar e não deu seta com a orelhona do bichinho.
O número de ciclistas circulando é grande, de toda idade, principalmente mais velhos. Há bicicletarias sofisticadas e a moda já está na veia do pessoal mais abastado, que às terças e quintas-feiras acordam de madrugada para ir para estrada. Um deles que me disse que “se precisa fazer alguma coisa para parar as loucuras dos ciclistas pobres...” No dia a dia ciclista gente fina não é visto pedalando.
Fui convidado a dar uma palestra na Universidade Federal, outra na Secretaria de Mobilidade e um breve treinamento para alguns poucos ciclistas. Sai com uma boa impressão tanto dos alunos quanto dos funcionários da Secretaria. Bom sinal, tem gente querendo melhorar a vida da cidade.

Num final de tarde fomos, eu, Eric e Maria, filha de Eric, até o que seria uma praia paradisíaca. No domingo fomos a outra. A estrada duplicada e com ótimo asfalto é praticamente vazia. Passa um gato pingado muito de vez em quando. Não entendi para que tanta estrada, ou entendi, vai lá saber. Infelizmente passamos por muitos jegues atropelados e mais ainda soltos perambulando, prontos para morrer. A quantidade de lixo na beira das estradas é deprimente. Lembrei imediatamente das estradas que peguei na Turquia, impecáveis, limpíssimas, perfeitamente sinalizadas. A estrada para Fortaleza então... é deprimente, um lixão linear a céu aberto. E muita gente sentada a sombra. Triste!

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Intermodal bicicleta - aéreo GRU

Amanha tenho que ir ao Centro de Guarulhos para depois, à noite, embarcar para Fortaleza e dali para Mossoró, onde vou trabalhar. Minha ideia seria ir pedalando, fazer o que tem que ser feito em Guarulhos e no fim da tarde ir para o aeroporto. Lá colocar a bicicleta num guarda volumes e voar. Volto dentro de 11 dias, quando pegaria a bicicleta e voltaria pedalando para São Paulo. Não dá para fazer. Porque?
Meu primeiro receio é deixar a bicicleta estaciona no Centro de Guarulhos, o que é um temor em qualquer cidade do mundo. Infelizmente faz parte do jogo. Infelizmente minhas bicicletas são simples, mas bem cuidadas, ou seja, atrativas para ladrões. Não tenho uma tranqueira que ninguém queira. Falha minha? Não! Não consigo achar uma tranqueira tamanho 21 para comprar. 
Ok, dai vem o aeroporto, que até tem um paraciclo relativamente decente, mas aberto. Não é um bicicletário, com ficha de entrada e controle. Ok, coloca no guarda-volumes. Vamos lá... abre o site oficial do GRU (aeroporto) - http://www.gru.com.br/pt-br - ... e... nada. Guarda-volumes; guarda-malas; maleiro... Nada! O site é pesado, trabalha lentamente, chato, parece que não vai responder, ruim para nós brasileiros que estamos acostumados com uma internet ruim, péssimo para estrangeiros que clicam e abre. 
Vamos para o telefone. Site do GRU, contatos, 2445-2945. Sou atendido com rapidez e educadamente (Sheila), que me dá o telefone do guarda-volume, 2445-2501. Atende um rapaz grunhindo algo, creio que "maleiro", digo "boa tarde" e pergunto se podem ficar com uma bicicleta por 12 dias e quanto sai. A voz do rapaz fica mais esperta e atenciosa. Podem ficar com a bicicleta e sai R$ 60,00 por dia. Ou seja, o estacionamento da bicicleta sairia (por que obviamente não farei) R$ 720,00 pelos 12 dias. Pergunto ao rapaz se o aeroporto tem bicicletário, e explico o que é, e ele responde que só o estacionamento (paraciclo) aberto para funcionários. 
Fim. Não posso ir para o aeroporto pedalando. Não é um problema exclusivo do GRU, mas da maioria dos aeroportos do mundo. Estamos muito longe do intermodal bicicleta - transporte aéreo.

sábado, 8 de novembro de 2014

Automóvel: as diferenças entre JK e Lula

Aproveito trechos de uma mensagem de Roberto Aranha de Oliveira Arruda conclamando a todos para lutarem por mudanças urgentes para fazer alguns comentários sobre detalhes da mesma mensagem:

Escreve Roberto Arruda:
Para nossa infelicidade, a desastrosa opção de JUSCELINO KUBITSCHEK pelo AUTOMÓVEL, prosseguiu e continua no atual GOVERNO FEDERAL, grande estimulador do TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO.

A opção de JUSCELINO KUBITSCHEK pelo AUTOMÓVEL em meados da década de 50 deve ser vista como sensata e natural dentro do contexto da época. Brasil, então um país atrasadíssimo e muito pobre, começava a industrializar-se, e JK faz com que este processo se acelere, o que se provou medida acertada. JK segue um projeto de desenvolvimento testado e aprovado no pós Segunda Guerra Mundial, no qual a indústria automobilística tem importância fundamental na reconstrução, equilíbrio macro econômico e até mesmo a estabilização social em países devastados pela guerra, principalmente na Europa. A soberania do automóvel só passa a ser questionada de maneira mais profunda com a crise do petróleo de 1973, mesmo assim por questões energéticas e não de mobilidade. Já havia alguns movimentos para preservação da vida e patrimônio das cidades, o que na Holanda abre caminho para a retomada da bicicleta.

É inegável que a opção de Juscelino Kubitschek pela indústria do automóvel mudou a história do Brasil possibilitando a consolidação territorial e cultural, sem falar na industrial e urbana, fazendo o país dar um salto para a modernidade. Foram cometidos enganos, algumas burrices, como em todas as partes. Era impossível para JK, seu governo ou qualquer ser humano, prever onde chegaríamos hoje. O automóvel e seu setor não podem ser responsabilizados por todos males. Repito: é necessário contextualizar o momento histórico olhando com neutralidade para todos os fatores.

Seguindo no texto:
Para nossa infelicidade, a desastrosa opção de JUSCELINO KUBITSCHEK pelo AUTOMÓVEL, prosseguiu e continua no atual GOVERNO FEDERAL,...
Mesmo antes da posse de Lula já estava fartamente divulgada, para quem quisesse ler, a crise da indústria automobilística, a incerteza de seu rumo e futuro, e até mesmo de sua continuação. E o cenário é cada dia mais complicado.
A política sócio econômica fortemente centrada em poucos setores, principalmente no setor automobilístico, realizada pelos governos Lula e Dilma, é completamente irresponsável, para dizer o mínimo. É muito possível que esta política venha ser o marco do início da desintegração do setor industrial brasileiro como um todo, portanto de nosso futuro. Nossa indústria brasileira de automóveis já é marginal dentro do setor automobilístico internacional, o que por si só é uma tragédia. E a China ainda não entrou na brincadeira. Esta insanidade de Lula e Dilma arrastou toda nossa indústria, todo nosso parque produtivo, de todos setores, para o buraco. Mas o pior legado do IPI Zero é a desestruturação de todas as cidades brasileiras, o colapso das mobilidades, o aumento absurdo da violência, o caos no sistema de saúde, no meio ambiente... Enfim, a estupidez do IPI Zero foi, é e continuará sendo devastadora.
O PT de Lula não pode dizer que não sabia.

Para entender o que está acontecendo com a indústria automobilística recomendo a leitura de:
Ai você vai ficar realmente preocupado com a situação do Brasil.

Ainda do Roberto Arruda: Em razão do exposto, penso que é chegada a hora de uma AMPLA MOBILIZAÇÃO da SOCIEDADE (sobretudo da JUVENTUDE),...
...ampla mobilização da sociedade (sobretudo da juventude)? Como assim? A saber, dentro de uns poucos anos haverá mais idosos que jovens neste país. Já fui jovem e sei que neste momento da vida nos sentimos meio super homens, mas não é bem assim.
De qualquer forma o Roberto Arruda está absolutamente certo numa coisa: ou colocamos o país em ordem ou acabou, game over!

Brasil: uma comparação em números
http://veja.abril.com.br/multimidia/infograficos/economia-brasileira

Mensagem completa do Roberto Arruda:
Para nossa infelicidade, a desastrosa opção de JUSCELINO KUBITSCHEK pelo AUTOMÓVEL, prosseguiu e continua no atual GOVERNO FEDERAL, grande estimulador do TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO. Em decorrência disto,numa sequência histórica e RADIANTES DE ALEGRIA, as MONTADORAS MULTINACIONAIS vão se instalando no "PARAÍSO BRASILEIRO". Aqui, por conta de uma intensa, permanente e fantasiosa PUBLICIDADE, a PRODUÇÃO dos CARROS tem como resposta um ENCANTADO E DESMEDIDO CONSUMISMO. E num TREMENDO ATRASO, continuamos a viver na CULTURA DO AUTOMÓVEL. A fútil exaltação do CARRO como símbolo de "STATUS" comprova esta realidade. Conseguintemente, a imensidão do irracional MONOTRANSPORTE pelos AUTOMÓVEIS, penaliza o transporte coletivo e produz os MONSTRUOSOS CONGESTIONAMENTOS. Os EFEITOS DELETÉRIOS da enorme POLUÍÇÃO que também produz, estão encurtando nossas VIDAS. Eis o quadro de CONDENAÇÃO de todas as GRANDES CIDADES brasileiras. SÃO PAULO, particularmente, em consequência da ESTUPIDEZ sempre crescente de seu TRÂNSITO, é uma cidade que se aproxima a passos largos de uma CATASTRÓFICA IMOBILIDADE. Afinal, até quando vamos insistir nesse MODELO SUÍCIDA?

Em razão do exposto, penso que é chegada a hora de uma AMPLA MOBILIZAÇÃO da SOCIEDADE (sobretudo da JUVENTUDE), a fim de que sejam construídas NUMEROSAS e EXTENSAS CICLOVIAS no País. Com este intuito e utilizando os meios eletrônicos de comunicação, parece-me possível organizar e realizar --- de forma séria e disciplinada --- a colocação de 100.000 BICICLETAS na AVENIDA PAULISTA. A concretização deste ato, sería um grande PASSO INICIAL, visando a uma EFETIVA MUDANÇA da situação CAÓTICA atual para uma CULTURA de MOBILIDADE HUMANA. Em legítima defesa, em prol de uma VIDA mais FELIZ.

                                                              São Paulo, 16 de setembro de 2014
                                                              Roberto Aranha de Oliveira Arruda

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Qualidade: a saída para nosso impasse

Qualidade é objetiva ou subjetiva? Segundo todas as definições é subjetiva por que está relacionado com fatores de percepção, necessidades e resultados.
A meu ver qualidade é objetiva por que não importa o fim, com qualidade o resultado é será sempre o melhor possível. Vai de encontro se encaixando perfeitamente com todos nossos sonhos e utopias humanísticas e ambientais. O interessante é que quanto mais qualidade se tem mais socialmente convergentes são os resultados, independentes da percepção, necessidade e resultado desejado.
O caminho para a qualidade é recheado de conhecimento acumulado, sabedorias, bom senso e neutralidade. Por mais que se queira criar variações sobre o tema, qualidade se faz na base do um mais um faz dois, nem mais nem menos.
Trânsito e transporte também não tem meio termo, ou tem ou não tem qualidade. Como diz Nassim Nicholas Talleb no seu ótimo livro ‘A lógica do Cisne Negro’: Não existe meio morto; assim como não existe meio acidentado. Não se pode mais buscar escusas ou desculpas num mundo onde cada dia mais localidades buscam o Zero acidentes fatais e mesmo o zero acidentes, este meta muito mais difícil de alcançar. Qualidade, simples!
Para mim fica cada dia mais claro que só a qualidade nos fará acabar com esta baboseira ideológica burra, quando não canalha. É incrível que a sociedade ainda caminhe no sentido das religiões e ideologias, e que, em nome de pobrezas, como a busca do auto-herói-individualista-salvador. Uma coisa é ter fé, outra é curvar-se a uma religião. Uma coisa é acreditar em princípios, outra é ficar sego por ideologias. Uma coisa é comunicar-se, outra é atolar-se em redes sociais e afins.
O Brasil tem perdido qualidade de uma forma assustadora. Estamos indo para um caminho que é muito mais que preocupante. Deprimente.
Meu sonho era fazer da bicicleta um salto de qualidade... Era. Perdi, mas sigo na luta.

A história começa...
Será que é só uma ferramenta administrativa ou produtiva?
  • Pesquisa de mercado
  • Concepção do produto
  • Especificações do projeto
Qualidade de conformidade:
Serviço de campo:
  • Pontualidade
  • Competência
  • Integridade
A essência do JMS para o gerenciamento da qualidade é denominada Trilogia de Juran e é constituída dos seguintes conceitos:

Planejamento da qualidade[editar | editar código-fonte]

Processo de preparação para encontrar as metas de qualidade. Para isso, faz-se necessário:
  • Identificar quem são os consumidores
  • Identificar as necessidades destes consumidores
  • Traduzir essas necessidades para o próprio idioma
  • Desenvolver um produto que atenda às necessidades dos consumidores
  • Otimizar o produto para que ele atenda tanto às nossas necessidades como às necessidades dos consumidores
  • O cuidado em identificar pontos críticos no aumento do diálogo entre os diferentes setores produtivos talvez venha a ressaltar a relatividade dos paradigmas corporativos.

Controle da qualidade[editar | editar código-fonte]

Processo de encontro das metas de qualidade estabelecidas durante as operações. É usado para evitar ou corrigir eventos indesejáveis ou inesperados. Confere estabilidade e consistência.
  • Provar que o processo pode fabricar um produto sob condições de operação com o mínimo de inspeção.

Melhoria da qualidade[editar | editar código-fonte]

Processo de melhoria contínua da qualidade por meio de mudanças planejadas, previstas e controladas.
  • Desenvolver um processo que seja capaz de produzir o produto certo
  • Otimizar este processo
O conceito de breakthrough definido por Juran estabelece que melhorias alcançadas devem ser incorporadas como novos padrões para que não haja perdas nos níveis de qualidade. As metodologias acima são essenciais para qualquer organização, segundo Juran.
O JMS também tem como objetivo mudar a cultura das empresas. Juran acreditava que o fator humano era essencial para o gerenciamento da qualidade e que a resistência a mudanças era a fonte dos problemas de qualidade. Incentivando a educação e o treinamento dos gestores, o consultor propunha os seguintes comportamentos:
  • Estar disposto a entender as necessidades dos clientes e a satisfazê-los
  • Proporcionar alta qualidade de produtos e serviços e, ao mesmo tempo, reduzir custos
  • Estar envolvido para identificar as necessidades dos clientes
  • Treinar todos os níveis hierárquicos nos processos de gerenciamento para a qualidade
  • Agregar metas de qualidade ao planejamento de negócios
  • Fornecer participações à força de trabalho
  • Altos gerentes devem ter a iniciativa de realizar a gestão de qualidade
Gostaria de enfatizar que o julgamento imparcial das eventualidades promove a alavancagem das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições.


sábado, 1 de novembro de 2014

bicicleta e as águas: Programa Córrego Limpo e outros



Um dos projetos mais importantes do Brasil é o Programa Córrego Limpo da SABESP  em parceria com o Município de São Paulo. Iniciado em 2006, a ideia inicial era recuperar as águas e meio ambiente de 40 córregos, mas o impacto foi tão positivo que logo puxaram o objetivo para 100 córregos, onde está ou deverá ser realizada a eliminação do despejo de esgoto, limpeza de contaminações no córrego e monitoramento da qualidade das águas, recuperação ambiental com reurbanização. Quando li sobre o programa pela primeira vez vi uma grande oportunidade de casamento com a questão da bicicleta por que é exatamente nas várzeas que estão os caminhos mais planos. Mais ainda, abria-se ai a possibilidade de se implantar parques lineares para pedestres, mães, crianças, idosos, pessoas com deficiência e ciclistas. Numa cidade com tão baixo índice de área verde e parques ter novos parques lineares é “a” boa revolução.
Conheço alguns córregos que já foram recuperados e a cada córrego limpo novo fico mais apaixonado ainda pela ideia. Lembro de ter pedalado nos córregos da Coruja, em Pinheiros; São José e mais três na Represa de Guarapiranga; no Tiquatira e Ponte Rasa, na Zona Leste; e mais uns dois ou três na Zona Norte, todos incluídos no programa. No Ponte Rasa, que desagua no Tiquatira, estava com Gesner Oliveira, então presidente da SABESP, e um bom punhado de funcionários da mesma SABESP. Ver águas transparentes (“ainda falta trabalho”, apontou Gesner) foi uma daquelas boas emoções difíceis de esquecer. A verdade é que a emoção em ver os córregos recuperados foi ntensa, principalmente os que receberam tratamento urbanístico por parte da Prefeitura, que infelizmente não são todos.
Quando ainda estava trabalhando com a questão da bicicleta, indo a muitas reuniões, inclusive umas poucas dentro da SABESP, passei a tentar vender a ideia do casamento córrego – bicicleta, infelizmente com menos resultados que esperava, principalmente entre os ciclistas.
Hoje no almoço com uma amiga que deu uma força nesta história conversamos sobre a seca de São Paulo e mais uma vez me questionei se não poderia ter feito mais para vender a ideia ou mesmo para torna-la real. Na época estive envolvido em algumas propostas e mesmo projetos funcionais de sistemas cicloviários que beneficiariam 7 córregos no Butantã (ITDP), 5 no entorno da Guarapiranga (com Eric Ferreira), mais 4 em Guarulhos (STT GRU); todos os de Caraguatatuba (sozinho); e sei lá quantos mais, caso inclua o velho Projeto de Viabilização de Bicicletas. Quando os ciclistas foram convidados para uma reunião sobre a implantação de ciclovias nas Marginais Tiete e Pinheiros, que seriam contrapartida da perda de área verde para criação de novas pistas nas mesmas marginais, disse que só concordaria caso o Governo do Estado de São Paulo assinasse um termo com cronograma de devolução das margens dos rios por faixas de rolamento, pelo menos a primeira em menos de 10 anos. Quase apanhei.

...a vida continua... Descobri que uma comunidade próxima da balsa de Bororé, Zona Sul de São Paulo, na represa de Billings, que num passado apoiou, ou pelo menos fez vista grossa, às invasões das margens de um córrego, hoje estão quase em pé de guerra com os mesmos invasores para ter seu parque linear limpo, organizado, e próprio para toda população.
Ps.: as fotos são bem antigas, 2008 e antes