Já não me lembrava mais de ter ficado tão feliz de
voltar para São Paulo como fiquei desta vez.
Consegui remarcar minha passagem de volta para São
Paulo. Havia tentado pelo site da TAM, mas deu problema. A responsável
pelo guichê da TAM no aeroporto de Fortaleza, Jerusa, acabou resolvendo meu
problema com um típico jeitinho brasileiro. Foi ali, na espera, que senti os
primeiros mosquitos, mas não acreditei. Pensei que eram pulgas. As empresas
aéreas brasileiras têm como norma, estupida a meu ver, cobrar uma fortuna para
antecipar passagens no aeroporto e 48 horas antes do embarque..., mesmo que o
avião esteja vazio... O que embarquei no jeitinho tinha 20 assentos livres e
mesmo assim teria que ter pago algo como R$ 750,00 para "remarcar".
Um turista estrangeiro passa por uma situação destas e nunca mais volta ao
Brasil – simples assim.
Estou voltando antes por que não aguentei ficar mais
um dia em Fortaleza. Trinta minutos depois de minha primeira saída à rua sentei
para um café na mesa ao lado de um europeu lá pelos 50 anos acompanhado por uma
prostituta adolescente. Começou mal, muito mal. Três outras
meninas esperavam na rua. Deprimente!
O pedaço de praia onde fiquei, na av. Beira Mar, não
tem vista para o mar. Está tomada por barzinhos, mesinhas, guarda-sóis,
vendedores ambulantes, hippies sentados no chão..., muita gente caminhando,
correndo, circulando, conversando, algumas bicicletas passando entre os
pedestres. Muita vida, gente alegre, buscando saúde e amizades, mas sem vista
para o mar.
Incrível, o trânsito, pelo menos aqui na Beira Mar,
para quando o pedestre está na faixa de pedestres. Não foi o que vi no trajeto
entre a rodoviária e o hotel. Em compensação não fui atropelado por um ciclista
na contramão por que alguém lá em cima não quis. Os policiais que estavam do
outro lado da rua e viram o meu ‘quase' e deram risada. Ai aprendi: ciclista
vem pela direita, esquerda, mão, contramão, cruzando em diagonal, enfim, a
escolha do freguês e para o terror dos desavisados. Os três ciclistas pingados que
vi no trajeto para o hotel circulavam na mão.
Aqui no aeroporto, enquanto escrevo estas linhas, continuo
sendo comido por mosquitos. Tenho pena dos europeus que estão sentados à minha
frente. Espero que não seja dengue. Agora sei que não é pulga, como pensei.
A água do mar é muito agradável, principalmente para
quem gosta de nadar. Deu para dar umas boas braçadas. A areia deveria ser mais
limpa. Uma equipe com rastelo faria uma grande diferença. Sai do mar e para
voltar para o hotel tive que cruzar pelas mesinhas no meio do forte cheiro de
camarão frito em gordura velha da cozinha.
Um pouco antes do hotel onde estou a av. Beira Mar
tem calçada muito estreita para tanta gente. A areia chega quase até o asfalto talvez
com 2 m de calçada, mas felizmente só com a bela vista da areia e mar livre. Dá
para alargar, mas vai mexer com alguns interesses, principalmente com carros circulando
e estacionados. O calçadão que se abre dali até o porto, onde está toda a
bagunça que falei, também deveria ser melhorado e muito, bastando mexer com mais
outros interesses particulares. É um jogo: perde agora e ganha muito mais
amanha, mas pelo que parece ninguém entende.
Não se pode negar que o beira mar é agradável,
mas confuso, desorganizado, sem padrão, mal ocupado e com jeito de sujo, o que
é tão ruim quanto estar sujo. Falta urbanismo, falta civilização, falta auto
respeito; pior falta inteligência e coragem para melhorar. Tratar turismo desta
forma é dar tiro no pé. Para mim chega, quero voltar para casa.
Volto para o hotel para fazer a mala e num dos
canais de TV uma jovem mulher, lá pelos 25 anos, estava sendo entrevistada e
descarregava exatamente o mesmo discurso sobre a questão da bicicleta que já
estamos cansados de ouvir: sem a bicicleta Fortaleza não será uma cidade
moderna nem combaterá o malvado carro... blablabla blá blá blabla... Por favor,
olhe mais a frente e muda o disco.
Aqui na sala de embarque do aeroporto fiquei
conversando com uma funcionária do Sarah Kubistchek de Brasília, hospital
referência na recuperação de acidentados, e ela falou com muita tristeza sobre
a quantidade absurda de motociclistas hospitalizados em Fortaleza. Bicicletas
e ciclovias para a classe média é a ordem do dia e é preciso repetir o discurso
a exaustão. Leitos cheios de motociclistas ou pedestres estão fora da pauta. Em
Mossoró chegou a 78% dos leitos ocupados por motociclistas; quantos serão aqui
em Fortaleza? Toca ciclovia que os problemas da cidade vão acabar!
Um casal de suíços esperando para embarcar disse sem
meias palavras que não acredita no futuro do Brasil. Vieram para cá fazer kite
surf e ficaram chocados com a sujeira, a poluição, e principalmente a preguiça
do povo. O atendimento que tiveram nos hotéis das praias nordestinas foi
sofrível. Não voltam mais, mesmo rasgando elogios à nossa natureza. Obviamente
também não irão recomendar. Quatro franceses tiveram que pagar por um excesso
de 5 kg, algo que me cheirou aquela história tipicamente brasileira de tirar
vantagem, uma casquinha sem dor, dos ricos e trouxas europeus. Estes também
mostraram um “certo” descontentamento com a estranha cobrança e com outras
particularidades de nosso povo. “Tem outros países com belas praias”, disseram
delicadamente.
Turismo se faz, ou melhor, se ganha em detalhes. Eu
próprio não tenho mais nenhuma vontade de viajar no Brasil. Para terminar... acho um absurdo ter que pagar
o preço de uma passagem nova para remarcar a minha já paga, principalmente quando
o avião irá decolar cheio de poltronas vazias. Já me aconteceu antes. A
passagem dentro do Brasil é cara, aeroportos e rodoviárias são precários, banheiros
são sujos, comida é cara e não raro ruim, a troca de gate é frequente e nem
sempre bem avisada, os hotéis são caros, tive que lavar a janela do banheiro de
meu quarto no hotel, a granola estava mofada... A estrada entre Mossoró e
Fortaleza é mal sinalizada a noite, muito suja, cheia de jegues abandonados,
soltos e atropelados, e muita gente sentada coçando o saco... Mossoró deve ter
70 mortes violentas/100 mil habitantes, quando a ONU considera até 9/100 mil
aceitável... João Pessoa tinha a alguns anos 134/100 mil, sendo que 174/100 mil
eram jovens negros... E ai vai... Não quero ver guerra civil. Não quero fazer
turismo no Brasil.
A questão é simples: Brasil recebe um pouco mais que
6 milhões de turistas estrangeiros / ano. Só a ilha de Manhattan recebe 14
milhões. Tire sua conclusão
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ResponderExcluirO que mais me amedronta nesta mudança que o país está sofrendo é a falta de civilidade, educação e respeito ao próximo, que, infelizmente, irá se converter em algo bem pior para nós, "elite-branca-culta-educada".
Aqui no Guará, cidade satélite de Brasília, ultimamente se vê lixo jogado em qualquer local que tenha grama: os novos moradores (novos-classe-média?) não colocam seu lixo em frente em suas casas, preferindo deixá-los em qualquer área pública... uma tristeza.
Cesar, bom dia. Compartilhe.
ResponderExcluirO ponto é que todas estas ditas melhorias no país não tem sustentabilidade. Continuamos sendo o país que investe de maneira errada, ou melhor, torra dinheiro para ter resultados proporcionalmente muito pequenos.