sábado, 22 de novembro de 2014

Fortaleza e o turismo Brasil

Já não me lembrava mais de ter ficado tão feliz de voltar para São Paulo como fiquei desta vez. 
 
Consegui remarcar minha passagem de volta para São Paulo. Havia tentado pelo site da TAM, mas deu problema. A responsável pelo guichê da TAM no aeroporto de Fortaleza, Jerusa, acabou resolvendo meu problema com um típico jeitinho brasileiro. Foi ali, na espera, que senti os primeiros mosquitos, mas não acreditei. Pensei que eram pulgas. As empresas aéreas brasileiras têm como norma, estupida a meu ver, cobrar uma fortuna para antecipar passagens no aeroporto e 48 horas antes do embarque..., mesmo que o avião esteja vazio... O que embarquei no jeitinho tinha 20 assentos livres e mesmo assim teria que ter pago algo como R$ 750,00 para "remarcar". Um turista estrangeiro passa por uma situação destas e nunca mais volta ao Brasil – simples assim.
Estou voltando antes por que não aguentei ficar mais um dia em Fortaleza. Trinta minutos depois de minha primeira saída à rua sentei para um café na mesa ao lado de um europeu lá pelos 50 anos acompanhado por uma prostituta adolescente. Começou mal, muito mal. Três outras meninas esperavam na rua. Deprimente!
O pedaço de praia onde fiquei, na av. Beira Mar, não tem vista para o mar. Está tomada por barzinhos, mesinhas, guarda-sóis, vendedores ambulantes, hippies sentados no chão..., muita gente caminhando, correndo, circulando, conversando, algumas bicicletas passando entre os pedestres. Muita vida, gente alegre, buscando saúde e amizades, mas sem vista para o mar.
Incrível, o trânsito, pelo menos aqui na Beira Mar, para quando o pedestre está na faixa de pedestres. Não foi o que vi no trajeto entre a rodoviária e o hotel. Em compensação não fui atropelado por um ciclista na contramão por que alguém lá em cima não quis. Os policiais que estavam do outro lado da rua e viram o meu ‘quase' e deram risada. Ai aprendi: ciclista vem pela direita, esquerda, mão, contramão, cruzando em diagonal, enfim, a escolha do freguês e para o terror dos desavisados. Os três ciclistas pingados que vi no trajeto para o hotel circulavam na mão.
Aqui no aeroporto, enquanto escrevo estas linhas, continuo sendo comido por mosquitos. Tenho pena dos europeus que estão sentados à minha frente. Espero que não seja dengue. Agora sei que não é pulga, como pensei.
A água do mar é muito agradável, principalmente para quem gosta de nadar. Deu para dar umas boas braçadas. A areia deveria ser mais limpa. Uma equipe com rastelo faria uma grande diferença. Sai do mar e para voltar para o hotel tive que cruzar pelas mesinhas no meio do forte cheiro de camarão frito em gordura velha da cozinha.
Um pouco antes do hotel onde estou a av. Beira Mar tem calçada muito estreita para tanta gente. A areia chega quase até o asfalto talvez com 2 m de calçada, mas felizmente só com a bela vista da areia e mar livre. Dá para alargar, mas vai mexer com alguns interesses, principalmente com carros circulando e estacionados. O calçadão que se abre dali até o porto, onde está toda a bagunça que falei, também deveria ser melhorado e muito, bastando mexer com mais outros interesses particulares. É um jogo: perde agora e ganha muito mais amanha, mas pelo que parece ninguém entende.
Não se pode negar que o beira mar é agradável, mas confuso, desorganizado, sem padrão, mal ocupado e com jeito de sujo, o que é tão ruim quanto estar sujo. Falta urbanismo, falta civilização, falta auto respeito; pior falta inteligência e coragem para melhorar. Tratar turismo desta forma é dar tiro no pé. Para mim chega, quero voltar para casa.
Volto para o hotel para fazer a mala e num dos canais de TV uma jovem mulher, lá pelos 25 anos, estava sendo entrevistada e descarregava exatamente o mesmo discurso sobre a questão da bicicleta que já estamos cansados de ouvir: sem a bicicleta Fortaleza não será uma cidade moderna nem combaterá o malvado carro... blablabla blá blá blabla... Por favor, olhe mais a frente e muda o disco.
Aqui na sala de embarque do aeroporto fiquei conversando com uma funcionária do Sarah Kubistchek de Brasília, hospital referência na recuperação de acidentados, e ela falou com muita tristeza sobre a quantidade absurda de motociclistas hospitalizados em Fortaleza. Bicicletas e ciclovias para a classe média é a ordem do dia e é preciso repetir o discurso a exaustão. Leitos cheios de motociclistas ou pedestres estão fora da pauta. Em Mossoró chegou a 78% dos leitos ocupados por motociclistas; quantos serão aqui em Fortaleza? Toca ciclovia que os problemas da cidade vão acabar!
Um casal de suíços esperando para embarcar disse sem meias palavras que não acredita no futuro do Brasil. Vieram para cá fazer kite surf e ficaram chocados com a sujeira, a poluição, e principalmente a preguiça do povo. O atendimento que tiveram nos hotéis das praias nordestinas foi sofrível. Não voltam mais, mesmo rasgando elogios à nossa natureza. Obviamente também não irão recomendar. Quatro franceses tiveram que pagar por um excesso de 5 kg, algo que me cheirou aquela história tipicamente brasileira de tirar vantagem, uma casquinha sem dor, dos ricos e trouxas europeus. Estes também mostraram um “certo” descontentamento com a estranha cobrança e com outras particularidades de nosso povo. “Tem outros países com belas praias”, disseram delicadamente.
Turismo se faz, ou melhor, se ganha em detalhes. Eu próprio não tenho mais nenhuma vontade de viajar no Brasil.  Para terminar... acho um absurdo ter que pagar o preço de uma passagem nova para remarcar a minha já paga, principalmente quando o avião irá decolar cheio de poltronas vazias. Já me aconteceu antes. A passagem dentro do Brasil é cara, aeroportos e rodoviárias são precários, banheiros são sujos, comida é cara e não raro ruim, a troca de gate é frequente e nem sempre bem avisada, os hotéis são caros, tive que lavar a janela do banheiro de meu quarto no hotel, a granola estava mofada... A estrada entre Mossoró e Fortaleza é mal sinalizada a noite, muito suja, cheia de jegues abandonados, soltos e atropelados, e muita gente sentada coçando o saco... Mossoró deve ter 70 mortes violentas/100 mil habitantes, quando a ONU considera até 9/100 mil aceitável... João Pessoa tinha a alguns anos 134/100 mil, sendo que 174/100 mil eram jovens negros... E ai vai... Não quero ver guerra civil. Não quero fazer turismo no Brasil.
A questão é simples: Brasil recebe um pouco mais que 6 milhões de turistas estrangeiros / ano. Só a ilha de Manhattan recebe 14 milhões. Tire sua conclusão

2 comentários:

  1. Permiti-me compartilhar esse texto em meu perfil do Facebook.

    O que mais me amedronta nesta mudança que o país está sofrendo é a falta de civilidade, educação e respeito ao próximo, que, infelizmente, irá se converter em algo bem pior para nós, "elite-branca-culta-educada".

    Aqui no Guará, cidade satélite de Brasília, ultimamente se vê lixo jogado em qualquer local que tenha grama: os novos moradores (novos-classe-média?) não colocam seu lixo em frente em suas casas, preferindo deixá-los em qualquer área pública... uma tristeza.

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  2. Cesar, bom dia. Compartilhe.
    O ponto é que todas estas ditas melhorias no país não tem sustentabilidade. Continuamos sendo o país que investe de maneira errada, ou melhor, torra dinheiro para ter resultados proporcionalmente muito pequenos.

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