segunda-feira, 25 de julho de 2016

Bicicleta - santo remédio

Muito se fala sobre os benefícios da bicicleta, mas para mim a bicicleta é um santo remédio. Sair de casa, perder-se pelas ruas da cidade, longe deste computador, do celular, das notícias... Sair sem destino certo, rodar e ou procurar, ou não, um lugar com vista bonita ou com uma mesinha na rua para ver o zoológico passar. "Bela gazela!"
É necessário tomar alguns cuidados. Depois que o saco cheio ficou para trás, o vento na cara e de braços abertos dar sensação de estar voando, a alma é lavada e a distração toma conta. Numa destas, numa tarde ensolarada de outono bem parecida com as tardes que estamos tendo agora, parei numa esquina ao lado da janela de um carro. Cruzou a rua uma linda menina (eu ainda era jovem então) e nós, motorista e eu, comentamos a beleza da paisagem. O sinal abriu, os dois, carro e eu, ciclista, nos movimentamos e tivemos a brilhante ideia de olhar uma última vez para a bela menina, e colidimos no meio do cruzamento. Estendido no asfalto não conseguia parar de rir com a idiotice. Motorista consternado desceu do carro, entrou no espírito da idiotice e os dois acabaram parando o trânsito às gargalhadas. A menina? Sei lá!
A Praça Por do Sol, com sua impar vista, evito um pouco porque a maconha é tanta que tenho medo de surtar de vez e ser retirado em camisa de força. Como minha loucura anda tanta, ou tantã, como queiram, não preciso destes e quaisquer outros artefatos. Interessante é que o zoológico é praticamente o mesmo dos meus tempos de juventude, não muda, e sinto-me um adolescente cheio de artrites no meio de um eternamente neo Woodstock fesandé. 
O meio da Ponte Bernardo Goldfarb para mim é mágico. Loucura por loucura, a do trabalho ou de estar parado lá com os ônibus raspando, praticamente depilando a bunda, não rouba o prazer da imperdível vista do rio Pinheiros com o Pico do Jaraguá lá no horizonte. Espero que nunca se transforme numa vista de matar de linda. Ainda sonho que se construa um Museu do Rio Pinheiros na ponte, com uma estrutura de metal ou alumínio, envidraçada e com um grande mirante. 
Há uma série de pontos na cidade, em qualquer cidade, que lavam a alma de qualquer mau humor ou raiva. Poderia enumerar vários norte, sul, leste, oeste, mas o melhor e descobri-los. A bicicleta vai muito além do transporte ou dos passeios em grupo.  Ela oferece paz e a mais pura liberdade. Permita que sua própria criança brinque livre e só.

terça-feira, 12 de julho de 2016

A história das ciclovias de São Paulo

Reginaldo Paiva me telefonou e pediu para tomarmos um café para conversar sobre como foi a história dos projetos cicloviários do Município de São Paulo. Quais foram os primeiros projetos cicloviários da cidade? Minha memória é péssima, mas creio que o primeiro projeto oficial foi a ciclovia que deveria ter ligado o Parque Ibirapuera à Cidade Universitária, feito lá pela metade dos anos 80. Não vou contar o Projeto de Viabilização para Bicicletas de 1982 com 255 km de sistema cicloviário completamente interligado por caminhos alternativos porque mesmo apresentado oficialmente para Covas, Getúlio Hanashiro e engenheiro Montans, não foi aceito como algo viável por este último, a palavra final do CET de então. Também não posso dizer que foram projetos internos dentro da própria CET, bem antes de 1980, porque nunca vi pessoalmente, mas confirmo ter ouvido várias vezes a existência destes projetos.
 Sábado a noite cai em mais uma discussão sobre a questão das bicicletas por aqui e a menina Taís, articulada, inteligente, caiu no discurso comum que tudo existe por causa de Haddad. Não adianta argumentar que Haddad tem o mérito de ter conseguido colocar a coisa na rua, mas que sem a trabalheira pró bicicleta que houve antes deles muito provavelmente Haddad teria conseguido muito pouco. A cidade é uma construção contínua. Para Nova Iorque chegar onde está teve Ed Koch, que pegou uma cidade literalmente desintegrada e colocou as bases Giuliani e Bloomberg
 É normal que qualquer ciclista menos experiente ou vivido no selim conduza a bicicleta com todos os vícios de um condutor de automóvel ou moto. Há vários problemas nesta confusão, o mais imediato, direto em relação à segurança no trânsito. Indireto é o fato que continuando a seguir pelos caminhos do carro ou moto o ciclista provavelmente não descobrirá a cidade que vive e a liberdade que a bicicleta oferece.

A discussão sobre a questão da bicicleta se faz em bases medíocres, não importa de que lado da questão se esteja. O problema começa e termina pelo fato que há lados, os a favor e os contra. O que está correto e o que foi feito errado são simplesmente pontos de apoio para armar ataques de um lado para o outro. É fato que não se discute a cidade, a vida de todos, o que fazer e como realizar de maneira realista. Colocar a pergunta "que cidade você quer?" é inútil porque o discurso geral não é coletivo, mas individual e seletivo.
Infelizmente Haddad só ajuda esta dualidade porque tem um discurso pobre, pouco inteligente. Numa entrevista para a Rádio Estadão, já faz uns dias, repetiu duas vezes a mesmíssima resposta sobre redução de velocidade, demonstrando mais uma vez sua incapacidade de fugir do discurso pronto, da propaganda pura decorada. O que o pessoal não se pergunta sobre estas falas corretas é "e ai, o que mais?", qual é o outro lado da moeda?
De minha parte tenho a dizer que o que realmente importa é cidade, os cidadãos, todos, não grupelhos, mesmo que estes tenham um potencial positivo imenso, como é o caso dos usuários da bicicleta. 
Enfiar o bem goela abaixo dos outros é contraproducente, até porque o bem de uns pode não ser o bem de outros.



http://www.estadao.com.br/ Ciclistas e sem terra 
entrevista de Haddad a Rádio Estadão
http://radio.estadao.com.br/audios/detalhe/radio-estadao,fernando-haddad-viu-erro-em-acao-que-resultou-na-morte-de-crianca-em-perseguicao-na-cidade-tiradentes,599485 

2005 - Projeto para bicicletas em São Paulo

Fiquei e continuo muito mordido com o pessoal que diz que antes deles não havia nada pró bicicleta. E tem muita gente neste barco. Para quem não aprendeu na escola, naquela do "be a bá", ou em casa aviso: nada se cria, tudo se transforma; ou melhor dizendo a frase de Lavoisier "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Ou seja, quem ainda crê no Brasil do nunca antes, seus ideólogos e marketeiros, a bicicleta e tudo o que está acontecendo não caiu do céu num cometa milagroso.  Como vivi o que o aconteceu antes sei do que falo. A vida é um passar de bastão.
Estou organizando minha estante e dei de cara com o documento "Leis para regulamentação e fomento do uso ordenado de Bicicletas no Município de São Paulo", um conjunto de 23 propostas de leis enviadas para a Câmera dos Vereadores em 2005 buscando dar suporte legal deste o uso do espaço público até a questão da educação dos ciclistas (através do que hoje são os Bike Anjos), passando pela criação de parques lineares. Este documento faz parte de uma política completa e integrada criada em 2005, na verdade em 2003 para o São Paulo 450 anos, por uma equipe multidisciplinar e não só de ciclistas. Sensivelmente diferente do que acontece hoje. Um pouquinho mais completo, só um pouquinho.
Publico este documento em homenagem a todos que vieram antes e que trabalharam muito para que a bicicleta se tornasse realidade, e em particular a meu grande amigo, já falecido, Sérgio Luís Bianco. Aliás, os esquecidos do passado sonhavam bem mais alto.

São Paulo dá Pedal



Política Abrangente de Viabilização do Uso de Bicicletas para todo Município de São Paulo


Há quatro projetos em estudo ou andamento na Prefeitura:
1.     Projeto Banco Mundial: introdução de melhorias para ciclistas em área de população carente específica, fazendo interligação com modais de transporte de massa. Em adiantado andamento. Verba: Banco Mundial.
2.     projeto Agita Sampa para bicicletas: programa de estímulo para exercitar a população pedalando. Secretaria Especial de Participação e Parcerias; Secretário Gilberto Natalini. Em estudo. Sem verba destinada.

3.     projeto São Paulo dá Pedal - Parque Ibirapuera e Centro: introdução de melhorias para ciclistas atendendo dois dos principais problemas de demanda existentes. Responsável: Escola de Bicicleta. Forte interesse da iniciativa privada.
4.     projeto Ciclo Rede: mapeamento de caminhos alternativos às avenidas e vias perigosas para ciclistas no Centro Expandido, mais até a Penha e até Santo Amaro. Propõe rotas, vias e cruzamentos seguros, sinalização, bicicletários, pontos de interesse e educação. Responsável: Escola de Bicicleta. Forte interesse da iniciativa privada.


Fatos:
·       Hoje os projetos para melhoria de segurança de ciclistas são desenvolvidos por especialistas em trânsito que não são ciclistas no dia a dia. Todos os procedimentos são tecnicamente corretos, mas ninguém que tenha experiência do uso de bicicleta pedala no local. O resultado final acaba sendo reflexo de manuais e não raro não alcança os resultados esperados.

·       O Município de São Paulo não conta hoje com experiência no tratar a bicicleta e o ciclista. E os projetos já realizados não condizem com a realidade.

Proposta Escola de Bicicleta - São Paulo dá Pedal:



  • Apresentar um conjunto de ações simultâneas que alcance o maior número de ciclistas paulistanos possível, independente do uso que façam da bicicleta. Olhar e respeitar, na medida do possível, os desejos destes.

  • Perenizar num curto prazo o uso da bicicleta como modo de transporte na maior área possível do Município através de ações inteligentes, de baixo custo e fáceis de implantar.

  • Respeitar, sempre que possível, o pré-existente, evitando conflitos ou gastos desnecessários. Saber encaixar a bicicleta no sistema de trânsito.

  • Criar uma rede cicloviária baseada em todas alternativas técnicas possíveis.  Esta pode ou não necessitar de ciclovia; conceito que, da forma como é entendido hoje, está sendo colocado em dúvida até na Europa.

  • Dar formação e instrumentos para que o corpo técnico de trânsito e demais áreas envolvidas sinta segurança no tratar a bicicleta e o ciclista.

Como?
1.     Ensinar a mexer com gato antes de enfrentar leão. Concentrar as primeiras ações em áreas de mais fácil controle. Evitar que o CET fique exposto.
2.     Emprestar conhecimento da Escola de Bicicleta para ajudar no sucesso do Projeto Banco Mundial. Aproveitar o que oferecem os projetos “São Paulo dá Pedal e Ciclo Rede” como referência técnica e para fortalecimento de comunicação do projeto Banco Mundial e sua importância estratégica (periferia) para a cidade.
3.     Treinar o corpo técnico do CET através do projeto São Paulo dá Pedal. As suas soluções de implantação oferecem uma cesta de técnicas de trânsito específicas para ciclistas, checadas por ciclistas dos mais diversos níveis. Incluem algumas inovações, todas são baseadas na Lei e experimentadas em outros países, mas que não foram ainda tentadas aqui. São Paulo dá Pedal oferece opção que diminui muito os custos e complicações de implantação de qualquer projeto cicloviário. As duas áreas escolhidas, Parque Ibirapuera e Centro, são estratégicas em vários sentidos e fornecem um potencial de comunicação único. Quem paga é iniciativa privada.
4.     Sem um mapeamento direcionado não há projeto, qualquer que seja. O projeto Ciclo Rede oferece o mapeamento básico de caminhos alternativos para ciclistas do Centro Expandido, mais a baixada dos rios Tiete, Pinheiros e Tamanduateí. Inicia o trabalho onde o controle do trânsito já é mais apurado. É estabelecido por ciclistas experientes. Quem paga é iniciativa privada.
5.     Projeto Agita Sampa para bicicletas busca induzir o cidadão ao uso da bicicleta para fins de exercício e conseqüente melhora de saúde. Mas o programa necessita de uma base educacional e mapeamento local onde o ciclista pedalará ou ele estará exposto a riscos desnecessários. Ou seja, Agita Sampa para bicicletas necessita de um Ciclo Rede e de intervenções locais que são oferecidas pelo conceito do São Paulo dá Pedal.

·       É necessário aprovar uma série de Leis na Câmara Municipal, algumas já em ponto de votação, outras novas entregues em mãos do Vereador Ricardo Montoro. Versam desde a regulamentação de do estacionamento de bicicletas até o controle de bicicletas cargueiras, dentre outros temas.

O que falta?
Estes 4 projetos dão ao Município de São Paulo a possibilidade do paulistano ter, pela primeira vez na sua história, uma política abrangente para incentivo do uso seguro e confortável da bicicleta. É uma situação muito diferente da apresentação de um ou alguns projetos isolados.
Apresenta resposta sensata, de baixo custo e de resultados de curto prazo para os 350.000 ciclistas/dia útil, os 750.000 ciclistas de fim de semana, e a demanda reprimida para parte dos proprietários das mais de 4 milhões de bicicletas paradas em garagens (fonte ABRACICLO).

Há grande interesse de patrocinadores nos projetos São Paulo dá Pedal e Ciclo Rede. Sem aval definitivo e por escrito da Municipalidade para estes projetos não é possível seguir nas negociações com patrocinadores.

Dizem que é impossível usar a bicicleta em São Paulo, o que a cada dia novos ciclistas provam o contrário. 

A Escola de Bicicleta está disponível para qualquer explicação ou demonstração do que consistem os projetos. Ao nosso ver, a melhor forma de apresentar o que propomos é ir, pedalando de preferência, a qualquer local e fazer uma apresentação “in loco”.


Arturo Alcorta
Escola de Bicicleta
         
 

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Semáforos paulistanos - sempre quebrados

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Ontem mais uma vez haviam semáforos apagados, desta vez na av. Brasil com ruas Atlântica e Gabriel Monteiro da Silva. Anteontem foram os do entorno do Largo da Batata. Os semáforos de São Paulo quebram, embandeiram, enlouquecem com uma frequência absurda. Quando Fernando Haddad entrou estava em andamento estudos para a troca de todo sistema semafórico da cidade, o que custa caro, mas que vale cada centavo. A opção foi fazer uma gambiarra geral para tentar dar jeito num sistema que é metade americano, metade inglês e metade italiano (sim, três metades), o que positivamente está provado ser um erro grotesco, para dizer o mínimo. A questão tem que ser colocada em pauta desde já para que os futuros candidatos à Prefeitura apresentem propostas realistas ou São Paulo vai parar – literalmente. E que se opte por um sistema semafórico que seja capaz de gerenciar todas mobilidades - pedestres, ciclistas, ônibus, carros e motos, sazonalidades, horários de pico, eventos... - e não só o fluxo de motorizados, como temos hoje. Tem que trocar tudo, semáforos, cabos de transmissão, câmeras, computadores, monitores de salas de comando, sistema de comunicação...

Na eleição passada tentei convencer os cicloativistas que mandassem a carta compromisso com a inclusão do pedido de troca do sistema semafórico, mas cai no vazio. Hoje vários ciclistas estão percebendo que mudar a cidade só para ciclistas não leva ao paraíso. Só se tem a mobilidade e paz no trânsito desejada quando o sistema zela por todos.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Brasil nunca antes tão violento

Está acontecendo uma febre de roubos de bicicletas e assaltos a ciclistas, muitos deles violentos. Ontem me telefonou meu advogado perguntando o que fazer para não ser assaltado nos seus passeios de fim de semana. E ontem também assaltaram um conhecido, Tuca, do Pedal da Vila Madalena. Foi parado na rua Madalena, Vila Madelena, por dois assaltantes num Jeep Renegade que além de levar a bicicleta, uma Trek Xcalibur 8 / 29 verde limão, ameaçaram atirar e bateram nele.
A resposta para Dr. Lívio, meu advogado, é pedalar longe de onde tem muito ciclista circulando. A cidade de São Paulo é muito mais tranquila fora da boiada das ciclovias, ciclofaixas e afins. Como dizia um amigo investigador, já falecido, "ladrão vai onde a mercadoria é fácil de encontrar e pegar". Ou se foi (provavelmente) pau mandando, como no caso do Tuca que voltava para casa depois de ter levado o passeio noturno do Pedal da Vila. Encomenda? Ou os assaltantes já conheciam o Pedal da Vila? Se foi oportunismo foi puro golpe de sorte dos ladrões e infelicidade do Tuca. Encomenda, pau mandado, pago aposta ai
 Assim como pago aposta que o roubo de duas bicicletas num edifício de escritório na av. Cidade Jardim também foi encomenda. Ora ironias! O segurança que fica ao lado das bicicletas vai ao banheiro e neste exato momento um casal de adolescentes aparentando "riquinhos de colégio" chegam, vão direto às duas bicicletas, uma elétrica e a outra uma dirt jump Lapierre Rapt 1.2 de primeira linha, cortam os cadeados (tipo barbante) e saem tranquilos. Bernardo ficou sem a dirt, que havia comprado de Kdera, que havia comprado de Caio Salerno, portanto uma bicicleta única. 
Em todas as partes do mundo, das cidades mais ricas às cidades mais pobres, o aumento do uso da bicicleta vem normalmente seguido do aumento de roubo, normalmente de oportunidade. Basta lembrar que NY obrigou os fabricantes a mudar o conceito de tranca de bicicleta. A diferença, maluca, que temos é assalto a mão armada e uma violência desmedida por parte dos bandidos.
Mas não se preocupem, tem coisa bem pior, como os assaltos a companhias de transporte de valores. Ontem mesmo assaltaram uma em Ribeirão Preto com direito a mais de 1 hora de tiroteio pesado, mais de 600 cápsulas deflagradas, a maioria de armas de uso militar.

É relativamente fácil responsabilizar o Brasil do nunca antes por esta barbárie que estamos vivendo. "Precisamos conversar com o Estado Islâmico" - Dilma Roussef... Por outro lado recomendo que os coxinhas de todas as tendências políticas, incluindo a esquerda caviar radical e libelus da vida, que não comprem piratas ou produtos sem comprovação de origem, mesmo que seja por razões ideológicas ou revolucionárias. Ajudaria muito a diminuir esta insanidade. 
E fica a dica para a leitura deste link: http://escoladebicicleta.com.br/estacionamento.html

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Fazer com qualidade ambiental

Por conta de danos causados pela construção do edifício que fica nos fundos de minha casa tive que fazer reparos nela. Minha preocupação foi gerar o menor impacto ambiental possível, o que pelas circunstâncias traduzi como o menor número de caçambas de entulho possível. Das previstas 4 caçambas para toda obra consegui reduzir para 1 e meia. Boa parte desta redução se deu porque decidi correr o risco de reformar o telhado sem trocar todas telhas, como me foi recomendado. Funcionaria - se muito bem feito. O trabalho foi porco e na primeira chuva forte a casa virou um chuveiro. 
A troca de todo o telhado se tornou inevitável, o que foi feito. Confesso que fiquei deprimido com a troca. Com meu sonho ambiental gastei dinheiro, tempo, paciência e ilusão. Dói mais uma vez a perda do sonho, da ilusão de fazer correto, de tentar ser ambientalmente honesto. Fica mais uma vez a certeza sobre quão crucial é a qualidade.
Já foi dito e repetido que é muito difícil conseguirmos qualidade ambiental sem educação ou pelo menos treinamento. Reformar o telhado dependia de colocar no nível, alinhar, assentar e encaixar corretamente uma telha na outra. Não conseguiram, ou não quiseram, sei lá.
Educação e treinamento não bastam. Tem que ter seriedade, vontade de fazer o correto, de ver o trabalho perfeitamente realizado. 
Eu confiei nos pedreiros porque o trabalho que tinham feito até então foi bom, correto. Foi conversado sobre os cuidados que deveriam ser tomados para que o telhado ficasse bom. Não consegui acompanhar o trabalho do telhado porque fazia um calor estúpido e tenho pressão baixa. Velhinho caindo de telhado costuma não dar certo. Quando consegui subir lá fiquei horrorizado com a porcaria que vi. 

Nesta troca de telhados ainda tentei evitar que as telhas antigas virassem entulho. É socialmente desonesto não conseguir que uns 50 m² de telha francesa não chegue a quem necessita. Fernando, da F2 Telhados que está instalando o telhado novo, entendeu minha preocupação e procurou entidades, como a Casa André Luiz, que normalmente recebem telhas usadas, mas todas responderam que não tem mais espaço para telhas. Fernando ainda procurou uma empresa que recebe as telhas, tritura elas e faz com elas uma espécie de pedrisco para jardins, mas a resposta foi que o mercado está completamente parado. Com profunda tristeza vi todo telhado se transformar em entulho numa caçamba. 

É inevitável fazer uma comparação entre o que aconteceu com meu telhado e o que provavelmente vai acontecer com boa parte do cicloviário de São Paulo.