terça-feira, 31 de agosto de 2010

Jornal do Brasil - última edição

Hoje é a última edição do Jornal do Brasil que circulará em papel. É uma mui triste notícia. O JB tem uma história muito especial na vida deste país. Foi muitas vezes inovador, sempre consistente. Lá em casa éramos apaixonados pelo sua edição dominical com seus artigos de fundo e editoriais de rara inteligência. Resta daqui para frente a dição eletrônica - http://jbonline.terra.com.br/ - que espero dê certo e siga os passos tão bem dados do passado. De qualquer forma acabar a versão em papel é uma perda imensa para este país tão pobre em verdades e pensadores. Obrigado a todos que fizeram este maravilhoso jornal e boa sorte aos que o farão.

domingo, 29 de agosto de 2010

Bárbara Gancia e a liberdade de imprensa

Fica aqui a minha recomendação para que releiam as duas colunas de Bárbara Gancia, Cicloativíssima e A burca do talibiker, agora que a tormenta passou e está bem longe. Não acompanhei tudo o que saiu, mas quem o fez, e muitos o fizeram, conta sobre várias mensagens que vão além da discordância e partem a agressão; quase uma reação histérica coletiva, o que é realmente triste. Sei que há muita gente que acha que a solução de todos os problemas é ir para o próprio extremo. “Minha verdade é o que vale!”. Um julgamento bipolar, numa sociedade que está sendo encaminhada para o bipolar. Aos nossos e por nossa causa vale tudo. Já ouvi esta história antes. Toda humanidade ouviu-a antes várias vezes. E toda vez, sem exceção, que assim foi todos, sem exceção, se deram mal, os caga-regras, os amigos, os inimigos e supostos inimigos, e principalmente quem não tinha a ver. Bipolaridade é doença individual ou coletiva. Liberdade de expressão é santo remédio para estes casos.
No Brasil temos a história da “Escola Base”- http://www.igutenberg.org/biblio6.html - muito simbólica e esquecida. Não é caso isolado, muito pelo contrário. Brasileiro tem uma queda pelos linchamentos, como apontam várias pesquisas nacionais e internacionais. “Minha verdade é o que vale e dela não arredo pé!”. Há até tentativas recentes de criar várias mordaças, das quais discordo em grau, gênero e número. Não se pode falar mal, fazer piadas ou divulgar notícias sobre erros ou falcatruas de gente ligada a um determinado grupo político bem popular ou eles tem chiliques e tentam bloquear a verdade. Talvez tenham medo da verdade e seu conseqüente linchamento. Mas quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? E coloco desta forma efetivamente para provocar.
Eu fico com a plena e completa liberdade de expressão. Sou contra difamações ou mentiras, o que é tipificado pela lei. Gostaria demais que este país fosse discutido a sério, pontualmente, e com números, verdades, estatísticas, que apóiem princípios, filosofias, a própria verdade (novamente e sempre). Eu fico com o politicamente incorreto, o deboche, a sátira, o grotesco. Fico com os loucos, os que se fazem de, os que são incompreendidos e por isto ditos loucos. Repito, o texto de Bárbara é exagerado no geral, mas fora o que deve ser tipificado na lei por inverdade, é só uma forma de expressão, de liberdade, a qual ela tem pleno direito. E com o que nós deveríamos tirar bom proveito.
Outro dia saiu um artigo bem interessante sobre a relação de liberdade completa e a estabilidade social de um país; no caso a Dinamarca. Interessante, vale o mesmo para qualquer pais ou cidade do planeta onde a verdadeira e sábia liberdade impera. Todos têm em comum o limite estabelecido pela lei, que por sua vez é feita por quem vive e sabe das benesses da liberdade responsável, da importância da expressão individual na formação de uma coletividade sólida. Aliás, não há liberdade nem progresso perene de outra forma.
Passados pelo menos duas décadas de luta mais organizada pelo respeito ao ciclista creio que já passou da hora de aprender a ouvir vozes discordantes. É uma questão de maturidade. E destas, as piores que sejam, devemos aprender a tirar algo de bom para nosso lado. Chutando o pau da barraca é que não dá.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Bárbara Gancia e a falta de humanidade

Folha de São Paulo

Suzana Singer - ombusdman
24 de Agosto de 2010

Bárbara Gancia e a falta de humanidade

Menina, que coisa estes artigos da Bárbara Gancia! Eu não me meti porque o que me afetou pesado foi a forma como ela se referiu aos companheiros de Renata, que a meu ver foi o único ponto que caberia resposta e uma provável ação na justiça. Se Renata não o fez, pelo menos não que eu saiba, não sei mais o que se pode publicar na imprensa. Seria um comentário pesadíssimo feito pessoalmente e, a meu ver, impensável de se publicar num dos mais importantes jornais do país, mesmo que de fato fossem repugnantes. Depõe contra o jornal, contra o próprio redator, que sai desta como pessoa menor. Conheço a quem Bárbara se refere e o comentário é de uma baixeza sem tamanho. Não falo sobre injustiça porque creio que é praticamente inexistente no Brasil, injustiça moral e legal. Um dos citados inclusive é ou foi fotografo da própria Folha, pai da Tati, filha de Renata; aliás amado pai, querida presença para todos. Os outros são pessoas de boa conversa, inteligentes, divertidos, educados, expoentes dentro de seus meios. Sente um pouco com o balonista (meu caro, desculpe, como sempre não me lembro de nomes), gente finíssima, exemplar, querido por todos. Sobre o que Bárbara escreve? Beleza? Desculpe, mas não dá para ir por ai, não mesmo! Não dá para publicar uma coisa destas. Deprimente, realmente deprimente, deprimente geral. É um dos maiores absurdos a coisa ficar por isto mesmo. Não sei como correu ai por dentro da Folha, mas Bárbara deveria minimamente uma retratação pública, que parece que não o fez e não é mais hora. O fato mostra muito do que nos transformamos como povo. Estamos há muito na época do "Foda-se o respeito pelo outro, eu quero o meu". Deprimente. Tomaram as dores da bicicleta, da Renata e de outros fatos ligados a vida individual dos que protestaram, urraram, xingaram, mas e o respeito humano, como fica? O texto todo “Cicloativíssima” é um pouco “over”, mas é compreensível e até bom depois de uma segunda lida com mais calma. Agora, chamar alguém de repugnante num jornal como a Folha extrapola muito, principalmente levando em conta que tudo leva a crer que Bárbara conhece os implicados. Lembra o apedrejamento da iraniana. Aliás, lembra muito. De parte da autora e de parte do silêncio de todos leitores.

Sobre o Pacaembu:
Sou usuário do Pacaembú desde 1973 e um dos mais velhos usuários da piscina hoje em dia. Vi aquele importante conjunto esportivo cair aos pedaços "literalmente" e durante décadas pouco se fez para reverter a situação. A administração de Mauro, que foi colocado lá por Walter Feldman, colocou as coisas em ordem, na piscina e no resto. Outros nomes deveriam ser citados, mas, me perdoem, não me lembro agora. Hoje o Pacaembu é um senhor velhinho, bem cuidado, funcionando, limpo, organizado, civilizado. Walter está absolutamente correto quando diz que não fez nada para aparecer, mas dou meu depoimento que fez o necessário e mais um pouco para aquilo voltar a funcionar; o que agora acontece. Perguntem aos que freqüentam lá há anos e vejam o que dizem. Pacaembu tem lá seus problemas, mas insignificantes se comparados ao que estava antes. Repito, hoje funciona, é bom, prazeroso. A melhor prova é a quantidade de usuários hoje comparada com uns anos passados. A administração foi o que se espera de qualquer uma: correta, eficiente, funcional, discreta, atenciosa. Para terminar: este meu comentário não inclui o que foi realizado na frente do Pacaembu, o Museu do Futebol, o que infelizmente e vergonhosamente ainda não conheço, e a organização do restaurante que dá para a praça. Falo do conjunto poli-esportivo que fica nos fundos e que poucos sabiam da existência. O tempo em que um pequeno grupo de usuários fazia manutenção e a limpeza dos banheiros pessoalmente para poder usar a piscina passou, e eu agradeço.

Os textos de Bárbara, bons no geral, algumas vezes passam a sensação de porre ou ressaca, ainda não consegui definir direito. São uma boa referência de como calibrar um tiro, mas valido para os sóbrios e sensatos.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Guarapiranga escondida e uma ciclovia

Silvia e Lili falam sobre um sonho, talvez um pouco mais próximo da realidade que vocês possam imaginar. E eu faço uma abertura mal ajeitada de minhas perguntas. (Desculpe Sílvia)

domingo, 15 de agosto de 2010

andropausa

Fica aqui meu pedido de desculpas para o João, Fábio e principalmente para a Shimano Brasil, mas estou mal disposto e decidi ficar na cama. Hoje e amanha realizam um grande evento em Santana do Parnaíba, a uns 30 km de São Paulo, e eu deveria estar lá, mas não tenho condição. Já há algum tempo venho notando algumas diferenças no meu condicionamento e resistência física e creio que a resposta tenha sido dada numa piada feita por Teresa: “menopausa”. Ainda não fiz exames, que é a única forma de descobrir o que realmente acontece, mas há sim a possibilidade de aos 55 anos meus índices de hormônios terem baixado. Já falei com o Bettarello, meu médico, e ele disse que também precisa ser medida a glicêmia (sou diabético). Menopausa para as mulheres, andropausa para homens, o rito físico de passagem para velhice, situação normal, coisa da vida. Não estou triste, muito pelo contrário. Nunca tive um momento tão bom na vida. Faço as coisas com menos ímpeto, com mais sabedoria, no geral obtenho melhores resultados. É a vida e ponto. Este é o barato da maturidade, falar “é a vida e ponto” sentindo que é a vida e ponto e nada mais, que as coisas são assim, que esta é a normalidade, sem brigas, sem drama, sem ressentimentos, com tranqüilidade. Cara, é muito bom. Ter tranqüilidade, mesmo depois de velho, é muito bom. Ô dificuldade que eu tive para controlar o trem. Quem me conhece há tempo sabe bem sobre o que falo. É lógico tudo tem seus dois lados e gostaria de sair e correr a pé diariamente 10 km, minha grande paixão, o que ainda vou voltar a conseguir, mas agora os 3 km têm um sabor incrível. A cabeça é outra e aceita a realidade, o que é imutável ou tem seu curso natural, o que torna as coisas mais simples. O futuro não terminou, mas mudou. Os objetivos mudaram. E mesmo ter que ficar em casa, cuidando da saúde, passa a fazer parte. No passado teria ficado muito desgostoso de não conseguir cumprir um trabalho. Não deu para ir, não é o que pretendia, mas é o que é. Sempre soube que a diabete iria cobrar um envelhecimento precoce, o que faz parte do meu jogo de vida. Definitivamente não estou doente, simplesmente estou mais velho. Fico aqui quieto, lendo e escrevendo. Amanha ou depois de amanha volto a luta.
Faço um paralelo. Este texto está sendo digitado num labtop que deve ser de 2000, um IBM ThinkPad com “Me”, com uma tela que tem 25 cm de largura e 20 de altura, bem pequena. O velhinho é uma delícia de teclar, mas é muito limitado se comparado ao que tenho hoje. A comparação é alguma coisa como se eu tivesse sentado ao lado do Leandro Valverde numa reunião, que participa, digita o celular e ainda trabalha no computador, tudo ao mesmo tempo e sem se perder. Ou com a Renata, vovozinha para lá de enxuta e ligada, que não fica atrás com aquela coisa que outrora foi chamado de telefone e hoje faz de tudo um pouco, inclusive deixar alucinado o dono.
Mudou muito, demais. Está melhor em alguns aspectos e pior noutros. Quando bem pequeno, antes de uns 6 anos, vi ligação telefônica sendo feita em um aparelho de baquelite preto que ficava preso na parede que para falar era necessário girar uma alavanca lateral e chamar a telefonista. Você pedia a ligação, colocava o fone no gancho, ia fazer sua vida e só depois as duas campainhas metálicas, altas e estridentes, tocavam avisando que a telefonista iria completar a ligação. Meu pai conta que você pedia para a telefonista ligar para fulano de tal e ela normalmente sabia o número de todos na cidade (leia-se São Paulo para o caso). Usava-se o telefone só em casos especiais. Ainda quando criança, portanto lá por 1961 ou 2, o número de telefone de minha casa era 2999, o que depois de uma grande crise, quando havia uma grande demora infernal para conseguir linha, passou para 8.2999. A crise deve ter sido causada pela nova geração de usuários que descobriu que dava para fofocar pelo telefone e as conversas eram intermináveis. Minha irmã e suas amigas tomaram muita bronca. Passaram mais uns anos e adicionaram mais um número, e outro e mais outro até chegar a estes 8 números que temos hoje. Provavelmente as fofocas ficaram mas sofisticadas. Demorou muito para desaparecer a figura da telefonista, que continuavam entrando em ação para chamadas interurbanas e internacionais, que, aliás, eram raríssimas por serem dificílimas e caríssimas. Em Lima, Peru, 1975, tive que ir até um rádio amador para tentar me comunicar com São Paulo, o que de outra forma era impossível. Mais ou menos parecido como este computador aqui que não tem modem interno e mais ou menos como me sinto em relação a algumas coisas da vida.
Tudo foi mudando, principalmente a forma de pensar, de sentir, de viver o tempo que passa sempre igual nos ponteiros do relógio. Criar um texto em máquina de escrever era um processo completamente diferente do que temos hoje. Era tão chato fazer correções que nos obrigava a pensar com calma o texto antes de digitar. Corrigir o grosso do texto significava trocar o papel da máquina por uma folha nova e começar tudo do zero. Mesmo aqui, neste laptop obsoleto estou escrevendo solto e só depois é que vou ordenar os pensamentos, copiando e colando os parágrafos, modificando erros e fechando o sentido completo do texto numa última leitura. O que pode atrapalhar é a carência de tempo, imposta pela vida, para completar o processo. Na época da máquina mecânica eu teria alinhavado o texto completo na cabeça e escrito com muito cuidado parágrafo por parágrafo para não cometer erros. É um processo diferente: criar, escrever, ler, pensar, revisar, voltar a escrever, entregar. Com as máquinas de escrever elétricas começou a era da correção automática, ou pelo menos mais simples. No caso do erro de uma letra bastava acionar o corretor e ao mesmo tempo teclar a letra errada e a máquina apagava. Tinha uma barulheira bem chata porque a máquina acionava uma fita corretora, depois andava sozinha para trás dois espaços e automaticamente batia novamente a letra errada sobre fita corretora branca. Quando a máquina não tinha corretor passava-se branquinho, uma santa ajuda feita de uma tinta branca opaca que vinha numa espécie de vidro de esmalte de unha de mulher. Nossa! como ficou mais fácil!
E nesta brincadeira de lembrar meus tempos de colunista e redator e folhas batidas numa Hamington portátil (o labtop da época) lembrei-me do começo de tudo. Um dos atos de passagem que tive foi quando ganhei de meu pai uma caneta tinteiro Scheiffer para ir à escola. Recebi-a com grandes honras. Mal sabia o coitado que o filho não seria exatamente um aluno brilhante e nem exatamente um santinho. Como sempre fui um pouco estabanado logo em seguida ganhei um tinteiro que capotava e não deixava cair tinta. Para que? Era comum ter que recarregar a caneta no meio da aula. Você apertava a borrachinha ou puxava o embolo e enchia a caneta de tinta azul. Limpava o excesso na pena, e escrevia de preferência sem errar. Ah! E nos meus primeiros anos de escola usávamos mata-borrão para sugar o excesso de tinta que ia para o papel. Quando surgiram as primeiras esferográficas foi um sucesso. Com elas o esmero no fazer cada letra, obrigatório para não causar borrões, tinha virado coisa do passado. A letra começou a correr rápida e o pensamento teve que aumentar sua velocidade. E aqui vale aquela máxima da história: os americanos gastaram milhões para criar uma caneta que escrevesse no espaço, e os russos continuaram a usar lápis. Uma não descarta a outra, esta é a verdade.
Preciso de silencio, de ficar quieto no meu canto. As pessoas mais próximas sabem bem disto. Não consigo acompanhar a velocidade dos dias de hoje. Passei toda minha vida acreditando em construção de sabedoria, da maturidade, da mistura do conhecimento empírico com a ciência. O tempo desta construção é muito diferente do frenesi de nossa época. Avançamos muito, mas a um custo de perdas valiosas. O encanto do futuro nos engana diariamente. Ficou para trás minha Atibaia da infância, da pimenta comarí colhida no mato, da casinha simples, do gramofone tocando Édith Piaf chiada, a maravilhosa galinha caipira feita em fogão a lenha, o aquecimento de água feito por serpentina de cobre que passava pelo fogão a lenha e que obrigava a banhos rápidos, da trem a vapor que apitava, do ter tempo. Do ter tempo. Tempo.
Imagino quanto tenha custado este IBM hoje obsoleto. Coloca verdinhas ai. Também é fácil imaginar a cara de espanto dos que o viram funcionando em sua época áurea. Foi o fino da tecnologia, o sonho de todos apaixonados por computadores. Eram poucos, raros, cobiçados. Como tudo, teve seu tempo, ficou obsoleto, mas não a história inerente. Esta teria que estar viva, agora mais que nunca. Caminhamos a passos, um após o outro, e o processo continua seguindo em frente através da “história”, querendo ou não. Não se pode negar o valor de cada passo, certo, aparentemente inócuo ou errado. É medíocre e perigoso deixar de aprender com a distância que o tempo dá aos fatos. O ideal seria que fossemos educados para a neutralidade da leitura dos fatos, para tirar proveito da história. Infelizmente isto não acontece. Somos bipolares, ainda pensamos muito como na Santa Inquisição. E ai vem a dualidade do que a tecnologia nos traz. A grande vantagem é justamente esta rapidez absurda de comunicação que traz muita informação. Ao mesmo tempo esta gigantesca quantidade de informação disponível é uma grande desvantagem histórica porque o problema está em conseguir fazer uma boa análise e não gerar mais distorções. As distorções do passado se davam pelo excesso de tempo, que gerava uma verdade imaginária, que por sua vez era usada justamente por falta de referências precisas. As de hoje ocorrem porque não nos damos tempo para viver e pensar, para amadurecer e frutificar.
A revolução dos bichos” do George Orwell, que acabei de ler, fala sobre a questão da perda da memória, sobre a distorção da história, de coisas que provavelmente levaram este texto para onde está indo. Leitura rápida e imperdível. Leiam antes desta eleição para presidente que pode ajudar o Brasil.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Massa, Rubinho, regras e contratos

Felipe Massa e Rubinho Barrichello são dois profissionais de ponta que sabem muito bem o que são regras e contratos a serem respeitados e cumpridos. É difícil aceitar que o melhor não receba o merecido, que os acontecimentos não tenham desfecho que parece natural, mas a vida normalmente não é uma terra de fantasias onde todos vivem felizes para sempre. Todo mundo sabe disto, ou pelo menos deveria saber. Ficar chateado ou até desgostoso vendo o ídolo deixar o companheiro de equipe passar para a vitória é uma reação normal, mas dependendo do tamanho da reação deve ser tomada no mínimo como falta de maturidade. Gostaria muito de saber o que mais dói nestes dois excelentes profissionais, se é a dureza do cumprimento do dever ou ser execrado pela torcida de seu país. Rubinho foi e continua sendo motivo de chacota aqui no Brasil e Felipe Massa provavelmente vai passar pelo mesmo escárnio. A diferença dos dois para os que lhes fazem chacotas é que ambos trabalham para o que há de melhor em matéria de organização, tecnologia e resultados, e são profundamente respeitados fora do Brasil; e os furibundos daqui vivem em cidades mal organizadas, sujas, violentas, alem de ter um presidente que diz em tom de piada que se for necessário para o Brasil ser campeão em nossa provavelmente malfadada Copa pára o jogo no meio, ou seja, rouba para vencer. Bem poucos aqui reclamaram da falta de bom senso de nosso representante máximo, o que é uma pena ou péssimo sinal da situação das coisas.
Rubinho neste fim de semana, depois de ter sido deslealmente emparedado por Schumaker, campeão um tanto kid vigarista, que acabou ficando para trás, respondeu que preferia ensinar seus filhos a chegar em segundo do que agir com mau caráter. A meu ver ele está certo. Chico Buarque descreve bem o que nós, brasileiros, somos em sua “Geni e o zepelim”. Pelo menos é como estamos nos comportando. Minha preocupação é o tamanho do estrago que a aceitação geral da venda da falta de caráter vinda de cima nos trará no futuro. Se ainda queremos construir um país descente, este que vai para frente na ordem e progresso é bom demonstrar um mínimo de bom senso, respeito e apoio pelos que têm como norte respeitar regras e cumprir contratos. Como minha mãe sempre disse: “O tempo diz tudo a todos”.