terça-feira, 30 de abril de 2013

Palo em la rueda

"La Presidenta (da Argentina, Cristina Kirchner) reclamo que no le pongan palos en lá roda", numa expressão típica do ciclismo. "Colocar um pau na roda (dianteira da bicicleta)" para fazer o ciclista capotar referia-se ela. É interessante ver uma autoridade de um pais onde a bicicleta praticamente nao existia para toda sociedade até bem pouco tempo sair com um ditado tão peculiar. Impressiona mais quando penso que a quatro anos, que foi a ultima vez que estive aqui, era muito difícil encontrar ciclistas circulando pelas ruas portenhas. A mudança de dois anos para cá, segundo os próprios portenhos, foi grande, não só por conta da introdução do inicio de um sistema cicloviario e algumas bicicletas publicas, mas principalmente por que uma parte significativa da população aderiu sem problemas ao uso da bicicleta como modo de transporte. Para quem não sabe, o automóvel é parte importantíssima da cultura argentina, traço cultural muito mais enraizado que no Brasil.
Cristina Kirchner, uma populista da pior espécie, usa todos os recursos possíveis de comunicação, como é típico aos da mesma laia.
Neste exato momento estou sentado em uma da poucas áreas de Buenos Aires que faz jus a esta riquíssima cidade. O resto esta se desfazendo, literalmente. Para entender o tamanho do estrago que o kirchenerismo fez e segue fazendo na Argentina procurem, se encontrar, e leiam o editorial do Lá Nacion deste ultimo domingo, 28 de abril de 2013. Poucas vezes em minha vida li algo tão assustador. Argentina já acabou. Não é força de expressão. Hace mucho que le meteron un palo em la rueda del futuro desta gente. 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Etiqueta social sem tempo

Encontrei um livro velho que foi de uma tia, Ligia Marx, e que passou para as mãos de minha mãe. O livro de Etiqueta, de Amy Vanderbilt, 1962, que folheei rapidamente e acabei lendo a introdução escrita pela própria Amy, me surpreendeu pela atualidade e bom senso. Na penúltima página, que está abaixo, uma leitura obrigatória para todos nós da sociedade do automóvel, ciclistas ou não. Etiqueta, ou seja, civilidade, é a saída mais fácil desta insanidade que vivemos hoje.





segunda-feira, 22 de abril de 2013

Quando morrerei?

1989: atrasado para o trabalho, fiz a curva muito rápido e toquei o pedal no chão, o que me fez capotar de frente. Fiquei estendido no asfalto, na porta de uma loja, e nenhum dos que estavam lá olhando para mim saíram para me socorrer.

1992: passou por mim um caminhão de cerveja enquanto estava parado para abastecer num posto de Queluz, Rio de Janeiro. Sai em seguida e uns quilômetros depois a estrada parou por que o caminhão de cerveja havia tombado na pista. A horda começou a correr para o caminhão, não para socorrer o caminhoneiro, mas para saquear as cervejas.
1996: inexperiente com bicicletas de estrada, terminando uma curva tracionei forte no asfalto sujo de arreia e a bicicleta saiu de baixo imediatamente, num tombo duro, seco, muito dolorido. Fiquei estendido no meio da curva, numa esquina de avenida, na frente de um posto de gasolina. Todos ficaram olhando. Ninguém se mexeu.
Hoje, uma da manha: um bêbado ou alguém usando celular simplesmente entrou na traseira de meu carro estacionado, que foi arrastado e arrebentou o carro da frente, de um amigo. P.T.. Apesar do forte estrondo que a batida provavelmente causou, e do carro que bateu ter seguramente ficado muito deformado, portanto com dificuldades de mover-se e fugir, nenhum dos seguranças, parados 24 horas no edifício do outro lado da rua, viram absolutamente nada...
Agora: o garoto empurrando um carrinho de mão com caixas pesadas cruza a rua que no instante não tinha carros. A roda do carrinho de mão trava num buraco exatamente no meio da rua e o menino não consegue tirá-lo de lá. O semáforo  abre e os carros vem na direção do menino assustado. Ninguém para. Uma menina passa por ele olhando o celular e sem as duas mãos no volante. Provavelmente sequer percebeu o garoto desesperado.
A família do jovem de 19 anos Vitor Hugo Deppman repetiu o mesmíssimo discurso de outras famílias vítimas de barbáries semelhantes: a morte do filho não será em vão...
Um garoto de 15 anos aparece morto nos trilhos. Não há testemunhas. No meio da empurra-empurra do embarque ele pode ter caído nos trilhos. Não há mais respeito pelos outros e vale a lei do mais forte ou esperto para fazer a viagem sentado, não importa o que tenha ficado para trás.
Renan Calheiros, Presidente do Senado Federal do Brasil... Paulo Maluf...
Silêncio

Continuará assim.
Amo a vida. Mas, me pergunto toda vez que chego à porta de minha casa: quando serei executado por um merdinha de um assaltante qualquer?

Boa vida..., morte desnecessária


A lua no horizonte parece uma banana da terra de tão grande e amarelada. Está baixa, próximo a linha dos telhados e árvores. Linda. O céu está limpo pelo vento e é possível ver as estrelas mais brilhantes. Não consigo mais me lembrar como era este mesmo céu na minha infância, mas lembro claramente quando foi instalado um farol para minha pequena bicicleta. Levava uma pilha imensa, praticamente não iluminava nada, mas tinha uma buzina acionada por um botão vermelho que ficava ao alcance do dedão. A temperatura da noite era parecida com a desta noite. Devia haver um céu maravilhoso, mas certamente não olhei. Fico feliz por estar pedalando numa noite de temperatura amena de mais um outono. Fico feliz por ter límpido na memória aquela minha fuga para experimentar o farol com buzina de lata em forma de foguete. Poderia ter tomado um tombo enquanto pedalava porque não parava de olhar para o presente luminoso e barulhento.

A bicicleta estava parada do lado de fora da garagem. Surpresa, das bem boas, de pai, que instalou e foi para dentro ler e não me avisou de nada. Peguei a bicicleta, acendi o farol, dei uma volta no cimentado e antes de começar a segunda volta vi o pesado portão de madeira aberto. Em silêncio fugi. Dobrei a direita, passei pela frente de casa sem ser visto; cheguei ao vizinho e a partir de lá me senti livre, tão livre quanto me sinto olhando para a banana da terra pendurada no céu de hoje. Dobrei a esquina buzinando, desci pedalando forte pela calçada irregular só olhando o farol. Um pouco a frente a calçada ficava escura por causa da grande árvore que cobria a luz do poste e deformava o piso com suas raizes. Meu farol funcionava, provavelmente iluminando muito pouco, mas aos olhos dos meus sonhos de criança... Cheguei quieto e feliz. Fui dormir como se não me lembrasse de antes ter entrado tão leve numa cama. Estou voltando para casa e talvez pelo friozinho as ruas estejam vazias e quietas, como era comum em minha infância. A lua banana da terra aparece inteira nas esquinas e entrecortada pelas copas das árvores no meio dos quarteirões que se seguem. O jantar com meu pai foi ótimo, como normalmente o é, mas sempre comemos muito. Depois de aposentado o velho decidiu fazer cozinha gourmet e a faz para valer. Salada fresca e crocante, maravilhoso risoto ao funghi com osso buco, compotas de peras, café e limoncello geladérrimo de saída. Chic! Voltar de bicicleta debaixo da lua. Banho quente, leitar e pegar um livro. Talvez um chá quente antes de apagar as luzes. Feliz. Boa vida...
Pela manha foram divulgadas as imagens de Victor Hugo Deppman sendo assassinado na porta de casa. Param um segundo antes de sua cabeça ser atingida. O assassino completou 18 anos três dias mais tarde. Entregou-se a Polícia consciente que era “de menor” e logo saiu pela porta da frente. É a lei. A família de Victor, em entrevistas, diz que a morte do filho não pode ser em vão. Não se faz apostas sobre tais barbáries, mas certamente não mudará nada. Nem no próximo. Nem no próximo. Nem no próximo. Nem no próximo. Nem no próximo.... Nem no próximo

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Qualidade e conhecimento

Comentário publicado em http://escoladebicicletacorreio.blogspot.com.br/ sobre o texto ‘bicicletaria recusa o serviço’:

Carlos S. Akamatsu - 9 de abril de 2013 09:15
Caveat Emptor ! Alcorta !
Interessante este assunto. Veja a diferença entre o conhecimento entre o Mr. T e o Mr. Bike Repairman.
Como muitos gostam de uma pechincha, e, na hora da compra só pensam em economia ... Dá para fazer paralelos com a vida política ... em várias obras, como as ciclovias ... barata sai ... caro obviamente, mas o custo não é monetário é o tempo perdido, retrabalho. Que é uma das preocupações de sistemas de qualidade.
Ha, acabamos de novo naquele artigo não "Pelo menos fez algo" ...
O que leva ao problema de educação ...
Bem temos profissionais da área de qualidade ... que aplica nas empresas mas não na vida pública. Aí está uma das omissões e falta de participação de pessoas na vida pública.




Carlos

Vou mais longe. Infelizmente o brasileiro está fazendo mais uma vez a opção pela comodidade, o que se contrapõe à qualidade. Não é só na vida pública, mas em todos setores. A desintegração da indústria nacional, de praticamente todos setores, da economia nacional, de nosso futuro, se deve não só a uma questão de preço, ou de custo, nem só de educação. Há uma questão de carácter nesta opção pela comodidade, pela leniência. Há uma questão de inteligência, de vontade, que infelizmente não tem a ver com educação. Educação é simplesmente básica e primordial, concordo com você e todos, mas por si só não basta.

Conto uma historinha, real, de dentro de umas das grandes fábricas de bicicletas do passado recente brasileiro:
Havia um senhor, que se já não estava aposentado deveria se aposentar bem em breve. Ele havia passado a vida dentro da fábrica, no meio das estamparias, tornos, fresas, soldas... Amava aquilo. Era sua vida, sua alma. Conversamos rapidamente no meio do barulho ensurdecedor do chão de fábrica. O velho baixinho, em seu macacão azul sujo de um cinza graxa típico, voz meio rouca de tanto gritar para ser ouvido, apontou a grande falha da marca de bicicletas para a qual trabalhava:

- Eu já falei lá em cima (na Diretoria) que eles tem que corrigir a diferença de cimentação entre o cone e a bacia (dos rolamentos). Se o cone está menos cimentado (que a bacia) ele desgasta muito rápido e ai o pessoal (compradores da marca) reclamam, falam mal, e com razão. Esta é a diferença (para a outra marca, a competição). No resto somos melhores.

O resumo da ópera é que esta sempre foi de fato a razão da preferência pela outra marca, o que acabou causando a quebra comercial da fabrica. Anos depois, num encontro informal, um dos donos confessou que faltou a eles “ouvir”...

O velhinho é símbolo de uma época de vontade, de sonho de construir. É um dos heróis que fizeram este nosso país; heróis mesmo!

Estes heróis viraram trouxas, o trabalho tornou-se obrigação, a cerveja o símbolo da festa constante e obrigatória.... “Inteligência e esforço para que?”

Hoje o sonho é viver, seja lá o que isto signifique. A maioria não consegue sequer usar a inteligência para pensar que viver com plena qualidade é infinitamente melhor que viver. Viver qualquer um, até qualquer imbecil, vive. Pensar é outra história...

Vejo com profunda preocupação a destruição de valores que vem sendo levada a cabo no Brasil, principalmente causada por um populismo aparentemente barato, mas perigosíssimo.

Riqueza só se constrói com inteligência e esforço, geralmente muito esforço.
(Parafraseando Margareth Thatcher: Populismo só dura até acabar o dinheiro dos outros. (e ai não há mais retorno, digo eu))

Comprar qualquer coisa, aceitar qualquer coisa, antes de um tiro no próprio pé é um ato de uma burrice que não tem tamanho. E aqui entra, de novo, o ótimo comentário do Carlos.
Moto perpétuo.