terça-feira, 22 de agosto de 2017

Valor do dinheiro público

O Estado de São Paulo
Fórum do Leitor

O art. 618 do Código Civil diz que "Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo", o que inclui obras públicas. Um pouco depois dos cincos anos da entrega da grande obra da Operação Faria Lima / Pinheiros, que se estende do Largo da Batata até o Terminal Pinheiros, tudo está degradando num ritmo assustador. Primeiro foram as calçadas que se despedaçaram rapidamente, agora é o concreto das ruas que está se partindo. Não é exemplo único ou isolado de gestão duvidosa, para dizer o mínimo, de dinheiro público. Para as empresas de engenharia é um ótimo negócio, já que de curtos espaços de tempos tem que refazer tudo – com nosso pobre dinheirinho, dinheiro público. O erro começa na Lei Federal 8.666 que regula licitações e que prevê como princípio básico, relevante, o menor preço, não qualidade e durabilidade, pontos básicos de bom uso de qualquer centavo. É lógico que as leis dão espaço para reclamar defeitos e exigir reparação dos problemas, mas vai lá tentar para ver qual é a realidade. A real realidade está em todas as partes: baixíssima qualidade, um eterno consertar, remendar e reconstruir, verbas públicas insuficientes, pelo menos para a população, nunca para as empreiteiras ou prestadoras de serviço. Não resta dúvida que os maiores responsáveis somos nós, brasileiros civis: sempre aceitamos qualquer porcaria e nunca reclamamos.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

O imediatismo milagroso brasileiro

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
09 de Fevereiro de 2017

O imediato e milagroso brasileiro


É impressionante como mesmo brasileiros bem formados e bons profissionais tem dificuldade de olhar as situações mais próximas como um todo e não como um fato isolado. Pode-se dizer que é tipicamente brasileiro pensar e agir dentro da esperança de um imediatismo milagroso. E quanto mais o país, os Estados, as cidades, os bairros, as comunidades afundam numa cascata de erros, problemas, displicências, mais este delírio parece aprofundar se em nosso espírito. Não fomos educados para pensar. O Brasil é hoje uma colcha de retalhos maltrapilha e curta, que na hora do aperto cada um puxa para seu lado e descobre o outro. Parece estar fora de cogitação tecer em conjunto algo novo que aconchegue a todos ou pelo menos a maioria. Comparado com países até mais pobres fica claro que somos um país que a 40 anos caminha erraticamente e aprofunda suas crises. Deprimente.

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Estou envolvido em um novo projeto, que não tem nada a ver com bicicletas. Como sempre o primeiro passo foi colocar no papel um break down da situação, ou seja, um mapa de tudo que é diretamente ou indiretamente relacionado com o tema. Algo parecido com que tem no site do Escola de Bicicleta - http://escoladebicicleta.com/livro.html - ou seja, um olhar horizontal sobre o que se está tratando. Como o assunto é novo para mim coloquei os pontos que meu breve conhecimento da causa considera mais importantes, nada especial ou aprofundado. E fui buscar ajuda de especialistas da área de quem esperava uma revisão em meu trabalho inicial e orientação para futuros passos. E estou chocado com o resultado: ninguém entendeu o que estava lá. Erro meu? Não. Mais uma vez, das inúmeras experiências que tive na vida, percebo que as pessoas, principalmente brasileiros, são educados e treinados para o imediato, para que está grudado na sola do sapato, se tanto. 
Já escrevi e apaguei deste texto um monte de exemplos. O que adianta dá-los?