segunda-feira, 21 de junho de 2021

Meio milhão! Só?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Meio de milhão de mortos pela pandemia. Marco deprimente. O Jornal Nacional deu um editorial falando sobre as milhões de famílias e amigos que também devem entrar nesta conta macabra, milhões que perderam seus entes queridos, suas referências ou seu sustento. Não vai parar por aí, nem que tudo dê certo, vacinação e tudo mais, porque um trem destes não para do dia para noite como esperam em delírio muitos brasileiros. Faz muito nos tornamos um país imediatista, perdemos a sabedoria de procurar ter previsibilidade na construção do futuro. É líquido e certo que centenas de milhares mais vão morrer em consequência direta e principalmente indireta dos absurdos erros e crimes cometidos no combate a esta pandemia, o pior deles, mais uma vez, o silêncio geral. Só agora, mais de um ano depois, parece que vamos começar a gritar "chega!". O artigo "A nova divisão econômica / Falta de vacina para países pobres alimenta temores de crescimento desigual e pânico nos mercados globais" do The Economist, publicado no caderno Economia do Estadão deveria ser leitura obrigatória para todos, principalmente negacionistas.  Um mais um são dois. Óbvio que a diferença de velocidade e amplitude de vacinação, e outros cuidados para conter o contágio da pandemia, tem uma relação direta com o retorno do crescimento econômico de países e sua futura estabilidade, números de todas as partes e a lógica provam isto. E olhando exemplos passados de todas as partes e momentos da história provam repetindo sempre o óbvio: ignorância, burrice e mediocridades ditas e praticadas por dementes autoritários causam graves problemas de longo prazo para qualquer país ou população. É o caminho certo da miséria. Meio milhão. Só? Mesmo muito tarde temos que reagir. 

receptação de bicicleta roubada

O Fantástico deu uma matéria sobre um garoto carioca que comprou numa bicicletaria uma bicicleta usada que era roubada e acabou se dando mal. Receptação de produto roubado. O fato é comum, muito mais comum que se possa imaginar e este caso só acabou repercutindo porque o garoto é de cor, o que levou toda história para o lado do racismo. 
A saber, o primeiro grande roubo de bicicletas top de linha para triathlon, Quintana Roo Kilo, aconteceu no Itaim Bibi, faz muito, e os assaltantes eram todos branquinhos, vestindo lindos ternos e carregaram toda a loja numa belíssima SUV, na época coisa de elite, mas elite mesmo. Mesmo numeradas, raras, de baixa fabricação, nunca mais foram encontradas. O que se supõe é que foram tiradas do Brasil. O que espantou na época foi o silêncio de toda comunidade. 
Tem muito branquela de bolso cheio que pedala com bicicleta roubada, uns até têm desconfiança..., outros não podem imaginar. Tem muita bicicletaria séria que já deve ter repassado bicicleta roubada. É muito difícil de controlar, principalmente num país onde o sistema de segurança público não tem um sistema de coordenação e inteligência único. Enquanto as polícias dos estados não pararem de brigar entre si, por vaidade ou outras questões, enquanto o Governo Federal não impor uma ordem para unificar, o que neste governo parece ser claro ser desinteressante, nem roubo de carro será controlado, quanto mais o de bicicleta.  
Roubo e receptação de bicicleta é problema seríssimo em todo mundo. Na Holanda é tão sério que virou programa de governo federal. Nas capitais e grandes cidades do mundo o problema é grave e ainda não se encontrou uma forma de combater. Pelo quanto a única forma que se tem de combate são as redes sociais, que por um lado podem ajudar e pelo outro ajudam os bandidos. Aí caímos no que já sabemos: sem boa informação, sem educação, sem civilidade, não se vai controlar os roubos e as vendas destes roubos. 

O mínimo que se tem que fazer é ter o número de série da bicicleta em um arquivo que se possa acessar facilmente. Fotografe e tire cópia com papel e lápis e guarde junto com a nota fiscal. Sem isto não se faz B.O.. Não fazer B.O. é uma sacanagem sem tamanho com todo mundo e os bandidos agradecem.

domingo, 20 de junho de 2021

tática inadequada

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Jair Bolsonaro foi eleito com o voto de boa parte da população em protesto contra a roubalheira promovida por parte da esquerda, a mesma esquerda que foi eleita por três mandatos na esperança dos mesmos brasileiros que assim conseguiríamos resolver os graves problemas sociais que temos neste Brasil. Hoje urge frear esta pandemia que já matou meio milhão de cidadãos e é enfrentada de maneira irresponsável, até criminosa, por Bolsonaro e sua tropa de terraplanistas. Bater panelas, manifestar-se, sair às ruas sempre foi e continua sendo um forte e eficaz meio de pressão pacifico para mudanças. Preocupa e muito ver a tática errada das esquerdas em transformar estes necessários grandes protestos em um mar de bandeiras vermelhas, não pela boa intensão das esquerdas, mas pelo significado que ainda carrega do desastre do Governo Dilma e de um PT responsáveis diretos pela eleição de Bolsonaro. Não é hora de dividir, é hora de agregar. Precisamos de caminhar com equilíbrio, não de voltar um passo atrás. Precisamos de esquerda, centro e direita com inteligência, respeito e noção de limites. Faço votos que as manifestações deste domingo não tenham sido a primeira prestação paga pelas esquerdas para a reeleição de Bolsonaro.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

"Nós perseguimos alegremente nossas próprias maldições"

Filme já começado, numa troca de canal a procura de algo que não fosse o mesmo, pego um personagem que dispara "Nós perseguimos alegremente nossas próprias maldições". Nos olhamos com cara de espanto e voltamos ao personagem da fala, um imponente senhor vestido num manto preto, reto, como uma estátua póstuma sobre pedestal, tranquilamente parado frente ao rei dispara a frase e cala; olhar fixo, altivo, imóvel. Controle remoto ainda na mão, quente de tanto mudar de canal, cai no sofá. Não se sabe sequer que filme é, mas o cenário é uma beleza entre o art nouveau e o medieval, rico nos suaves detalhes, imponente, meio místico, meio religioso, denso. Que importa, penso eu, "nós de fato perseguimos alegremente nossas próprias maldições" falo baixinho.

"Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa" repetem em coro ecoando pela igreja quase cheia. O padre lá longe, pequeno frente ao altar, puxa novamente a ladainha "Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa" e todos a repetem mais uma vez. Breve silêncio em toda igreja, o padre volta a levantar a cabeça e solta "Cordeiro de Deus vós que tirais os pecados do mundo tende piedade de nós, Cordeiro de Deus vós que tirais os pecados do mundo tende piedade de nós. Cordeiro de Deus dai-nos a paz." e o povo repete, nesta e em toda santa missa, todo santo domingo ou qualquer outra celebração religiosa que se faça. Novamente silêncio compenetrado.
- Culpas são maldições? sai o sussurro.
- Pode ser, responde espantado com a pergunta o fiel ajoelhado ao lado. Curva a cabeça, mãos espalmadas e juntas à testa, olhos fechados, volta ao silêncio. Sem abrir os olhos estica e curva lentamente o pescoço para sussurrar ao ouvido do outro - A maldição são nossas culpas que nunca cessam; e volta a sua oração.
 
"Diga-se de passagem, toda organização social funciona em cima de limites estabelecidos, o que tem a ver com o sentimento de culpa. Neste sentido a religião teve um papel importantíssimo para a organização e desenvolvimento da sociedade. Não sei onde estaríamos sem o pecado". Olhos arregalados grita como se perguntasse para o entrevistado da televisão - E sem a religião?

O vasinho que se ganhava no parque de diversão ou é vendido no 1.99 é a cópia da cópia da cópia da cópia da cópia... de vasos que um dia fizeram parte da vida da realeza Francesa. Releitura perpétua do estilo Luís XV.

Uma longa fila se forma na porta de uma das marcas mais famosas marcas de bolsas na Galeries Lafayette de Paris. Chinesas, russas e árabes esperam pacientemente para pagar EU$ 4.200,00 pelo lançamento. 
No ponto de ônibus da periferia, 5:30 h da manhã, a funcionária espera que seu ônibus não chegue lotado, doce ilusão. Enfia a mão na bolsa semiaberta Louis Vuitton bem falsificada para olhar o celular. Fecha rápido porque vem uma moto com dois garotos. Eles passam sem olhar para o lado e o ponto cheio de trabalhadores pobres suspira em alívio. O assalto não foi desta vez. A partir de então ela mantém sua preciosa bolsa baixa, escondida atrás da bundona gorda que está a sua frente. Faz cara de coitada, da mais pobre, mas não consegue esconder seu medo de perder bolsa e celular.

"Nós perseguimos alegremente nossas próprias maldições"

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Meleca abençoada: 7 dias em casa

Preciso parar, preciso parar, preciso parar! O pensamento não me sai da cabeça faz dias, meses. 
Tomo café da manhã no meio de um monte de coisas largadas sobre a mesa, algumas estão abandonadas faz tanto tempo que não sei mais o que são, sobre o que tratam, para que serve, nem quando quem as abandonou ali, no caso e sem dúvida eu próprio. Toda manha tenho que as empurrar para preparar as bandejas, prato, talheres, manteiga, geleia, mel. Forninho aquecendo até tostar o pão, café no fogo. Todo dia igual. Terminado o café da manhã, lavados pratos e talheres, seco a pia, passo pela mesa e olho a bagunça e sigo em frente, banheiro, quarto, cama arrumada, subo a escada, computador, trabalho, desço a escada passa pela sala que perdi o controle, sinto a mesma angústia, levanto a cabeça e sigo em frente. Preciso parar, preciso pôr ordem nesta baderna.
Dia seguinte.
Procuro focar meu olhar no pão, manteiga, geleia e mel para evitar o sufoco de minha falta de iniciativa para colocar ordem em minha própria vida. Como habitual termino o café da manhã, lavo os pratos, enxugo as mãos e inicio imediatamente meu trabalho no computador, longe daquela mesa, daquela sala. Bem mais tarde me dou conta que sequer escovei os dentes ou fiz a barba. Preciso parar! Indo para o banheiro passo pela desorganizadíssima sala e me sinto mal. Terminada a barba, seco o rosto, viro o corpo e novamente olho a bagunça da sala. Ai! Pequeno corte no queixo não para de sangrar. Espero parar de sangrar na frente do espelho impaciente. Preciso parar! Parou; tenho um momento de reflexão, olho no olho. "Está louco? Onde vai chegar com isto?" No quarto, fora vários livros no chão e o pó que nunca é vencido, a situação está sob controle, em ordem. Estico lençol, cobertores, travesseiros, tudo em ordem para outra noite agitada. Deito um segundo para alongar. Respiro, fecho os olhos, acalmo. Um mosquito passa zunindo, abro os olhos, sento na cama, olho em volta e penso no que tenho que fazer. Tudo me passa pela cabeça, menos colocar a sala em ordem. Me levanto num tranco, passo rápido e sem olhar pela sala, subo as escadas e volto ao computador. Tenho que trabalhar. 

Minha prima está com Alzheimer e precisa de ajuda. Ajudo. Meu amigo precisa de uma ajuda. Ajudo. filhos e netos precisam de ajuda. Ajudo. Ajudar me faz bem, mas sito que este meu lado bonzinho em parte encobre o fato que quem precisa de ajuda sou eu próprio. Será que ajudo para fugir de minha própria bagunça? Possível. Provável, bem provável. 

Segunda-feira: amanheço um lixo. Tomo café da manha sem muita vontade. Sinto gosto e cheiros, mas o nariz não para de escorrer. Termino, café da manha, barba, escovar dentes, e fica claro que tenho que ficar em casa, que vou forçosamente ficar parado. Não vou conseguir sair daqui com este nariz que não para de escorrer. Pesado, lento, penso; tudo pode esperar. 
     
"Vai até a farmácia e faz um exame rápido"
"Tem certeza que não está com Covid? Tá sentindo cheiro, gosto? Tá com febre?"
Não quero mais atender o telefone nem o celular.

A rádio solta uma entrevista sobre a umidade do ar e a poluição típica de desta época do ano e suas consequências. Me incluí nos casos de renite, sinusite, e nariz escorrendo que estão estourando pela cidade. Nariz escorrendo sem parar, o resto acho que não tenho. A meleca gelatinosa derrete meu sentimento de culpa por não estar cumprindo meus deveres - com os outros. Uma lata de lixo cheia de papel molhado, exatos três rolos de papel higiênico em dois dias, e a pele do nariz que pedia a Deus para parar esta corredeira. Mesmo assim não consegui parar quieto. "A obrigação primeiro" foi sábio ensinamento que se transformou em neurose. A meleca me curará? 
A corredeira parou e então entrou uma garganta irritada e leve tosse. Choveu muito, meus barris de captação de água de chuva amanheceram com uma água escura e muita fuligem assentada no fundo. A entrevistada estava certa; o ar está bem ruim, justifica minha reação nasal. Tem muita gente indo para hospital pensando que foi infectado. Nem imaginei que pudesse ser Covid, mas gripe. Nem uma coisa, nem outra. Já tenho a primeira dose e a de gripe. O que quer que seja, mesmo com nariz escorrendo, tossindo, me sentindo pesado, nesta semana que forçadamente fiquei tipo acamado aproveitei e coloquei em ordem a mesa, a sala e minha oficina. Ficar parado não consigo.
Ainda fico cansado no final da tarde, mas não sei se é gripe ou consciência que não posso voltar a loucura. Psicossomático, bato aposta nele.

Acordo, espreguiço, levanto, abro a porta do quarto, olho a mesa organizada e limpa. Paro, e sei que tenho na cara sonolenta um leve e profundo sorriso de felicidade. Meleca abençoada! Parei. Esta semana vai ser minha! Mereço.

sábado, 5 de junho de 2021

Dia Mundial do Meio Ambiente

Hoje, 05 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente declarado pela ONU. Aqui no Brasil não se tem o que comemorar, muitíssimo pelo contrário. Neste exato momento da história somos considerados párias mundiais em vários sentidos, no ambiental nem dizer.

Estou escrevendo enquanto o Jornal da Cultura deste sábado solta uma matéria sobre a questão do lixo no Brasil, o que também estamos na idade da pedra. Nossa evolução foi de deixar de jogar o pinico pela janela; e para quem nunca viu e não sabe o que é um pinico traduzo: pinico é um recipiente, uma panela com alça que servia para sentar em cima e fazer suas necessidades ou escarrar e, sim, era comum jogar o seu conteúdo pela janela sem se importar com quem passasse pela rua. Não resta dúvida que atualmente varemos nosso lixo e nossa merda para debaixo do tapete, e isto não vê quem não quer.

A mesma TV Cultura exibiu antes do Jornal da Cultura o documentário "O resgate do Mar Sem Fim" sobre a história da retirada do barco de João Lara Mesquita que naufragou na Antártica durante uma tempestade. Mar é também meio ambiente. Olhamos muito para a Amazônia, mas não nos interessamos pela questão ambiental dos mares. Aviso aos navegantes: nosso problema começa, mas não se resume na falta de esgoto, no completo descontrole em relação ao descarte de lixo, em especial de plásticos, aos mega desastres de Mariana e Brumadinho que de uma forma ou outra contaminam o mar. A sujeira é bem maior. Em águas profundas e dentro do território marítimo brasileiro temos pesca ilegal em escala industrial praticamente sem controle. A retirada do Mar Sem Fim da Antártica mais que cumprir um tratado internacional de zero lixo deveria ser referência de como se deve tratar todos ecossistemas das águas. E vou lembrando de outras questões. Escoamento de produção agrícola pelo ria Amazonas... Mangues... Garimpo ilegal... aliás, para onde está indo o ouro retirado?
Você sabia que cientistas encontraram micro partículas de plástico na musculatura de peixes que são consumidos por nós, humanos?

Florestas. Cerado. Pantanal. Fogo, fogo
Tempestades. Reservatórios quase secos.
'Quão mais baixa a escolaridade, pior são os índices ambientais'.
'Por corte no orçamento IBGE não fará o Censo Demográfico este ano'.

O jornal O Estado de São Paulo neste dia Mundial do Meio Ambiente soltou página dupla com três textos originais do inglês The Economist, traduzidos, sobre a situação atual do Brasil: O capitão e seu país; É hora de ir embora; e Brasília tem políticos novos e ideias velhas, sobre o que somos, ou o que estamos. Mais que preciso, deprimente. Tem sido muito grande o número de publicações internacionais de grande tradição e influência expondo o completo absurdo que vive o Brasil.

Neste Dia Mundial do Meio Ambiente pelo menos envergonhe-se por um minuto. A responsabilidade do que vem acontecendo é nossa, de cada um de nós, todos nós. 
Chega!

473.000 mortes por Covid19

Fiz a besteira de escrever e soltar este texto antes de dormir. Passei a noite tendo pesadelos ambientais. Qualquer pessoa com um mínimo de consciência sabe que a humanidade é o câncer ambiental. E nós brasileiros somos a metástase mais agressiva deste câncer. 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Minhocão e sonho com o High Line? Cidade cloroquina?

High Line de NY deve ter nascido muito antes de receber os primeiros passos de cidadãos extasiados com a ideia genial; provavelmente germinou quando conseguiram equalizar as inúmeras distorções do funcionamento da cidade. Não sei em que estágio de ideia ou projeto o High Line estava quando colocaram em funcionamento as “ruas sustentáveis de NY” na Broadway (2007), praticamente fechando o trânsito de automóveis para dar espaço a pedestres, ciclistas e voyeurs pacificamente sentados em 20 quarteirões até então congestionados. Também não sei a cronologia do projeto desta nova Broadway, mas bato aposta que não teriam ariscado tanto se antes não tivessem dado um jeito na baderna generalizada da Times Square e redondezas varrendo as contravenções e contraventores, extinguindo a bandidagem geral, batedores de carteiras, assaltantes, traficantes, prostitutas, revitalizando teatros e cinemas que a muito viviam de pornografia e outras questões mais que afastam o grande público.

O sucesso costuma estar na qualidade dos detalhes, não no grande feito. Tolerância Zero de NY cuidou dos mínimos detalhes.

Aqui em São Paulo todos se perguntam sobre o destino da obra mais simbólica de Maluf: a Via Elevada Presidente Costa e Silva, o vulgo "Minhocão". Não resta dúvida que o Minhocão é o principal responsável pela profunda degradação não só das áreas em seu entorno como também do Centro de São Paulo. Mesmo a alegação que deu fluidez ao trânsito fazendo uma ligação rápida e necessária entre as zonas leste e oeste não se justifica em vista dos altíssimos custos gerados pelos inúmeros e graves efeitos colaterais.
Num ato de inteligência sem tamanho a esquerda renomeou esta obra tão polêmica e criticada para “Via Elevada Presidente João Goulart”, mas o minhocão continua.
Por tudo que li, por conhecer e gostar do High Line de NY, por ver que o viaduto de velhos trilhos desativados resultou num passeio agradabilíssimo entre e por dentro de edifícios, com vistas para o rio Hudson, espreguiçadeiras, bancos, cadeiras, floreiras, arbustos, seu entorno reurbanizado, e olhando para o que temos aqui em São Paulo no Minhocão, acredito que o melhor, mais sensato e barato será desmontar o Minhocão, e reaproveitar suas vigas em outro lugar, o que já foi proposto, com dados e números apresentados. Mas o povo não quer; quer ter seu sampa's high line, mais uma vez quer copiar o que está lá fora sem saber exatamente sobre o que se trata.

Fazer do Minhocão um parque suspenso parece bacana, mas é brincar com a falta de inteligência da população, pão e circo, e não falo do povão, mas dos instruídos, dos que conhecem, que tem leitura, viajados. Vai continuar dando sombra onde não deve, diminuindo a circulação de de ar, quebrando a visualização da avenida São João e Amaral Gurgel, o que é mais grave que possa parecer, abrigando um estacionamento (na curva) que poderia ser um parque... Vai rolar uma dinheirama na reforma, instalação de mobiliário. Vai custar mais caro que o desmonte, mais caro ainda para o poder público se pensar que as vigas podem ser reutilizadas em outro local. E aí entra a manutenção, opa! a manutenção de tudo, oba! Aos que apoiam o parque suspenso peço que lembrem dos mui frequentes problemas que historicamente temos com a manutenção de coisas públicas. Vou mais longe sobre manutenção: isto se for realizada. Quem vai controlar para não rolar um PF mágico? O dinheiro da obra é numa tacada, o da manutenção é permanente. Você prefere bolada ou pingado?
Pergunta final:
Quanto tempo duraram os equipamentos novos que foram colocados com a reforma da praça perto de sua casa? Deterioram, desapareceram ou foram roubados?
O sucesso de um empreendimento está nos detalhes. Relembro mais uma vez que Janette Sadik-Khan fez umas 2.000 reuniões oficiais, muitas delas no meio da rua, para ajustar os detalhes para implantação do sistema cicloviário de NY. Provavelmente fizeram um monte de reuniões com os afetados pela transformação da Broadway. E o mesmo com o High Line. Mais, com certeza eles têm o custo e os resultados sociais e financeiros no papel; curto, médio e longo prazo. Detalhes.

Cópia é a mesma coisa que o original? Pode ser. Pode até ser melhor que a original, basta usar a inteligência e fazer as mudanças necessárias.
São Paulo vai novamente virar NY como quis a geração cidade do automóvel ou desta vez vira Amsterdam com quer a geração ciclo ativista? Resposta no próximo capítulo de Plano Diretor da Cidade... Pelo quanto o que temos é que a especulação imobiliária segue cada dia mais alta alcançando os céus e a propaganda diz que como mobilidade ativa está na moda o caminhar e o pedalar tudo salvará. Será?