terça-feira, 28 de novembro de 2017

Riqueza, paz e pedalar

Sábado passado foi o encontro com meus colegas de escola, os de primário e ginásio. Fomos convidados por um deles para um almoço com prato principal leitão ao rolete. Confesso que quando estava entrando na fazenda onde aconteceu o encontro olhei em volta e pensei "Ué? não entendi que seria num hotel de luxo", tal a grandeza e beleza do lugar. E não era. A recepção que nos foi oferecida é difícil de descrever de tão tão. 
O encontro anual com os velhos ex colegas de escola fica cada vez mais agradável, não só porque os dois últimos tiveram recepções maravilhosamente indescritíveis, mas porque todos nós estamos deixando para trás nossas besteiras para dar lugar ao aproveitar os amigos que ali estão próximos, no pouco tempo que temos todos juntos, tirando amigavelmente uns dos outros preciosas sabedorias de vida. O agradecimento feito pela dona da casa na hora da foto coletiva foi o mais acertado possível: todos ali são abençoados. E somos, como somos.
A beira da piscina de horizonte perdido, quando uma das bordas faz a linha do horizonte, e olhando o entorno do casarão construído no topo de morro, começamos, eu e mais uns quatro, comentar sobre a beleza e a riqueza do lugar. Havia nas palavras maturidade, zero inveja, só muito desfrute. A sala onde estavam os aperitivos e o bar tem metragem seguramente maior que de toda minha casa, com seus aconchegantes 45 metros quadrados de telhado. Quando voltei para casa, abri a porta, liguei a luz repetiu-se a mesma deliciosa sensação de estar aconchegado e bem comigo mesmo. Por questão de trabalho necessitaria mais espaço, mas o que tenho é uma benção sem tamanho. Não tenho a mais remota dúvida que sou disparado o mais pobre de todos aqueles com quem partilhei aquela tarde maravilhosa, mesmo assim nem um pingo de insegurança. Entre eles tem de tudo, de funcionário público, assalariado, autônomo, pequeno empresário e uns ricos, poucos para valer que são iguais a nós mortais.
Uma vez por semana almoço com Tobias, um amigo que fez escolhas de vida inusuais para esta sociedade que vivemos, boa parte delas corretíssimas perante a situação social e ambiental que o planeta se encontra. Com a mão na água tíbia da piscina e olhando o pôr do sol por trás das montanhas lá longe fiquei lembrando das longas conversas que eu Tobias sempre temos. Demorou, mas passeio por mundos ditos opostos com facilidade, sei que somos todos humanos, nada mais, nada menos, simplesmente. Me sinto leve e feliz por ter conseguido chegar onde cheguei. Paz, segurança, insegurança, incertezas, paz.
Restam dores, ressentimentos? Ainda restam. O mais difícil de lidar vem de um erro de avaliação feito no passado sobre onde a bicicleta nos levaria. Esqueci de colocar na equação que somos brasileiros e que a bicicleta se transformaria no reflexo do que somos, brasileiros. Cada um vê o reflexo como quer ou consegue, mas um reflexo é literalmente o reflexo da realidade como realmente é, e eu não gosto do que vejo por aí. 
Humor sempre foi o caminho. "Ou você ri da vida, ou a vida ri de você" repetia minha mãe. Comecei a limpar esta sensação pesada quando ouvi de ex ciclistas profissionais que eles têm medo de pedalar nas ciclovias e preferem estar no meio dos carros. Ouvir isto deles foi um alívio; não sou o único. Creio que já escrevi isto, mas fazer o que? Velho fica repetindo seus resmungos. 

Bicicleta é de uma riqueza sem tamanho, hoje ninguém duvida. Mesmo que tivesse dinheiro aquele maravilhoso casarão não seria minha opção, meus sonhos são outros. Mas é do dono e ficamos felizes. Pedalar traz paz. Todos têm suas riquezas e nós, amadurecidos, as compartilhamos sem provocações ou hostilidades. Passou o tempo onde parecia fazer sentido colocar um sol pisca-pisca ofuscante no olho do outro para ser notado ou sentir-se falsamente seguro. Bobagens sem nexo. A vida ensina. 

domingo, 19 de novembro de 2017

Ser negro no Brasil e as distorções históricas


A revista Veja desta semana traz um especial sobre Negros no Brasil que deve ser leitura obrigatória para todos. Tem gente que de cara vai torcer o nariz por ser Veja, uma besteira, grande perda de ótima matéria. O conteúdo traz informações e pontos de vista que não me lembro terem sido publicados na grande imprensa. Dão uma visão clara, trágica, vergonhosa, do que é ser negro no Brasil, a reboque do que somos todos nós, brasileiros.

Eu me lembro bem quando tinha lá pelos 5 anos de idade e fui pela primeira vez ao Centro de São Paulo com minha mãe e Conceição. Fizeram tantas recomendações que muitos anos mais tarde, já próximo dos meus 18 anos, eu ainda chamava "aquilo" de "circo de horrores". As recomendações eram para nunca largar da mão de uma das duas, contaram histórias assustadores sobre criancinhas desaparecidas e maltratadas que nunca mais voltavam para casa... No Centro entrei num mundo de ruas lotadas de gente estranha à minha realidade, vestimentas, etnias e cores diferentes, falas estranhas, e para piorar o conto de terror sentamos no ônibus de frente para um senhor que literalmente não tinha nariz e as pontas dos dedos, provavelmente em consequência de lepra, ainda comum na época. "Não toque em nada!" 
Até meus 11 anos vivi numa casa na rua Sofia 20, Jardim Europa, um universo social rico, de ruas vazias, quase nenhuma criança e asséptico. Passavam poucos e variados carros, uma ou duas motos, e uma bicicleta a motor barulhenta que era meu sonho. Aquilo era era minha normalidade. Brincava só, desacompanhado, tendo contato só com meus primos nos fins de semana, isto quando os via. Meus irmãos eram mais velhos, pacientes, mas estavam noutra realidade. Na mudança para um apartamento fui levado para Buenos Aires, cidade rica, limpa, organizada, com forte influência europeia, de gente como os meus, carros de todos tipos, conforto e ótima comida. Caminhávamos muito, usávamos metro e micro (ônibus pequeno), meu avô me apresentava aos amigos com muito orgulho. Esta viagem só veio a reforçar naquela criança a ideia que o Centro de São Paulo era mesmo um circo de horrores. As imagens que tinha de lá não estavam dentro de minhas referências. 

E a mudança desta visão começou quando passei a olhar com calma a cidade, fui expulso de um colégio de elite, cai num colégio de expulsos (como?), praticamente parei de ver meus primos, e principalmente convivi com os meninos do edifício onde fui morar, todos judeus de famílias leves, carinhosas, centradas, de classe média, com outros valores práticos, onde o valor maior era a simplesmente a vida. Não tenho como agradece-los pelo que aprendi. O circo de horrores ficou para trás, se transformou em vida, nada mais que vida. Os meus preconceitos foram caindo um a um e seguem caindo. Alguns deles hoje entendo que não foram preconceitos, mas completa desinformação e desconhecimento, mediocridade digo sem medo.

Não existe história neutra, é sempre a versão de alguém ou de um grupo. De tanto ouvir contos distorcidos acabamos submergindo e vivendo neles. Todos nós somos frutos de distorções. O grau de distorção varia em relação ao ambiente onde se vive. Pavlov demonstrou cientificamente os efeitos dos condicionamentos na psicologia do comportamento. Aquilo que de tanto bater fica encrustado na cabeça, por exemplo.

Eu fui uma criança agitada que vivia aprontando. O que minha mãe e Conceição queriam mesmo era que eu não aprontasse. A intenção foi correta, a forma de me controlar típica para época, o que hoje em dia é tido como um absurdo. Perdi o contato com Conceição, mas minha mãe foi uma mulher sábia, inteligente, divertida, sem preconceitos, a não ser contra a mediocridade, o mal feito.

A leitura deste especial de Veja, Negros no Brasil, revê a nossa história. É interessante colocar a leitura no contexto íntimo de nossas próprias individualidades. 
Hoje a tarde vi mais dois programas Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil no History Channel. Imperdível! Desta vez foi sobre A coluna Prestes, Lampião, o cangaceiro, e a Guerra do Paraguai, lógico com versões distantes das oficiais contadas até hoje. Gostaria de rever o Revisitando a Segunda Guerra Mundial e tudo mais que me possa fazer reavaliar meu passado. Não culpo ninguém, somos todos humanos, os dias eram assim, mas para ter um futuro melhor precisamos evoluir, ter contato com o que mais se aproxima da verdade.


O Brasil segue sendo uma imensa farsa mesquinha. Todos nós aceitamos isto que está aí. Nos falta leitura, educação, capacidade de conversa e discussão séria e honesta. Nos falta vergonha e respeito às nossas próprias vidas.  





Saia na Noite 25 anos


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Ciclovias no entorno da Estação Terminal Pinheiros? Como fazer barato?

Antes, minhas sugestões para o entorno da Estação Terminal Pinheiros:
Na rua Costa Carvalho colocar as vagas de estacionamentos a 45º alternando o lado da rua o que obrigaria os carros diminuir de velocidade porque a rua não seria mais uma reta, mas um zig-zag. Facilitar a criação de vagas vivas para os inúmeros restaurantes, cafés e outros existentes ali. O mesmo pode ser feito imediatamente na Eugênio de Medeiros. Testa a mudança aí e depois estende para o resto do bairro. Sinalização estabelecendo velocidade baixa, 30 ou 40 km/h, mais sinalização reforçando a prioridade legal para as mobilidades humanas: pedestres, pessoas com necessidades especiais e ciclistas. Segregação do ciclista? Não se quer uma cidade para todos?
O acesso à Estação Pinheiros para o Largo de Pinheiros: transformar a sequência de ruas Conselheiro Pereira Pinto, Atuau e Guaicuí em ruas preferencialmente para pedestres, o que já acontece, é fato consumado. Ciclistas já conhecem o caminho. As correções no entorno do Largo de Pinheiros são relativamente fáceis.

Como são estas ruas hoje?
O trânsito na rua Costa Carvalho é pouco talvez por isto é fácil ver motoristas andando mais rápido que o bom senso manda. A calma rua tem alguns restaurantes, um bom número de pedestres, alguns ciclistas. É uma das rotas para a Estação Terminal Pinheiros, onde há um bicicletário que sempre está ocioso, ao contrário do sempre lotado bicicletário da Estação Faria Lima Linha Amarela 4, uns 600 metros adiante. 
A rua Eugênio de Medeiros, paralela entre as ruas Costa Carvalho e Gilberto Sabino, rua da Estação Terminal Pinheiros, é muito calma, poucos carros, uns poucos ciclistas, só na hora do almoço é que há movimentação grande de pedestres a caminho de um dos 15 restaurantes nos dois quarteirões e duzentos metros entre as ruas Paes Leme e Sumidouro. Muitos escritórios no entorno. Fora do almoço fica às moscas. E às quintas-feiras tem a tradicional feira. Vida de interior. Do outro lado da Paes Leme a Eugênio de Medeiros vai dar na ponte Bernard Goldfarb e dali para o Butantã ou Cidade Universitária e movimento mesmo só na hora de pico. Conheço bem a vida do pedaço porque moro aí desde 1987. 
Qual o problema?
A cidade não está contando os centavos? Será que não tem outras prioridades? O dinheiro destinado às mobilidades não pode ir para outros fins, diz a lei. Não adianta, a coisa pública tem regras que só o diabo entende, se é que entende. Prioridade? O que é isto? Eu tocaria cada centavo de qualquer intervenção para ciclistas no ajuste de alguns problemas existentes no que já está feito para pedestres, pessoas com necessidades especiais e se sobrasse algo... Ou...
Será que dá para melhorar a situação do ciclista com menos gastos? Será que precisa pintar tudo de vermelho, que pelo divulgaram custa uma boa nota? Não daria só para pintar os cruzamentos de vermelho com já fazem outras cidades? Será que precisa colocar tachões em todo trajeto? As bicicletas pintadas no asfalto da rua Groenlândia não deram um resultado surpreendente? Por que não aplicar técnicas simples e baratas de acalmamento de trânsito já consagradas em vários países? Afinal de contas, a maioria dos ciclistas não pedala no meio da rua e seu trânsito até chegar nas ciclovias? Porque não acalmar todo o bairro e assim ajudar três mobilidades numa tacada só, pedestres, pessoas com deficiência de mobilidade e ciclistas (e skatistas, patinadores....)? Mais, porque não melhorar a vida dos restaurantes, bares, doceiras, padarias e outros geradores de empregos que estão em todos cantos do bairro.

Voltando a meus sonhos:
Pensando mais longe, se faz urgente a mudança da geometria viária do acesso da Marginal Pinheiros para a av. Antônio Batuira, aquela que vai direto até a Praça Panamericana. Como está hoje é um absurdo. É preciso forçar os carros diminuírem a velocidade antes de sair da marginal, o que se faz deixando a curva mais fechada. Fazendo isto se aumenta a segurança dos pedestres que vem pela calçada da marginal. Ainda na av. Antônio Batuira é necessário repetir no cruzamento da rua Guerra Junqueiro o acalmamento de trânsito simples e eficiente existente faz muito no cruzamento com a av. Semaneiros.
Na av. Prof. Manuel José Chaves, que liga a Praça Panamericana à Ponte Cidade Universitária instalar um segundo semáforo para pedestres e ciclistas no cruzamento da rua Banibas o que criaria um caminho alternativo, linha reta, mais curto entre o Parque Villa Lobos e quase a Estação Pinheiros, além de dar acesso a ciclovia de canteiro central. Passou do tempo de estimular ciclistas a usar caminhos alternativos, por dentro de bairros calmos, tanto para mante-los distante de avenidas como para cortar custos da implantação do sistema cicloviário, isto para dizer o mínimo. 
E mais longe ainda seria possível trazer os cilistas que cruzam a av. Diógenes Ribeiro de Lima para o interno de bairro, em especial na rua Alberto Farias. É muito mais calmo e agradável, além de ser plano.

Não falo aqui sobre o cruzamento do rio Pinheiros que também é comentado com um alargamento da calçada da Ponte Euzébio Matoso. Se querem mexer aí os questionamentos a serem levados em consideração são uns tantos muitos mais. 

Eu tenho um sonho: construir uma estrutura leve e independente sob a ponte Bernard Goldfarb para pedestres e ciclistas, com um mirante sobre o centro da ponte. É a vista mais linda que se pode ter do rio Pinheiros. 




quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A percepção da sinalização como causa dos acidentes

-52% atropelamentos; -20% colisão lateral; -37% colisão traseira; -67% colisão frontal; -80% capotamento; -50% outros; -55% total. Esta é a redução dos acidentes na rodovia Régis Bittencourt, antes conhecida como "Rodovia da Morte". Ok, este texto é praticamente um ctrl C - ctrl V de um encarte publicado no O Estado de São Paulo dia 11 de Setembro de 2017 sobre o 4º Fórum de Segurança da Arteris, concessionária que cuida da Régis Bittencourt desde 2008, mas tem umas linhas que são bem interessantes. E seguindo o informe leia-se:
Um  estudo realizado com a USP, por exemplo, usou simulador para reproduzir uma parte crítica da rodovia e verificar a percepção do motorista em relação a diferentes sinalizações. "Mudamos a distância e a posição das placas, aumentamos e diminuímos seu tamanho, trocamos as cores e verificamos qual combinação resultava na reação mais rápida", descreve Angelo Lodi, diretor operacional corporativo da Arteris. "Implantamos a nova proposta de sinalização a partir desses resultados e tivemos declínio de acidentes. Agora estamos repetindo o estudo em mais pontos críticos". Ou seja, individualizaram os problemas e usaram a inteligência para encontrar soluções também individualizadas. Passaram a pensar na realidade e atuaram um pouco fora da regra (leia-se o uso burro e literal do CTB) para que efetivamente dessem resultados. 

"Precisamos pensar na segurança do ciclista". Como? Segundo quem falou a frase aplicando literalmente o CTB. Enquanto se pensar segurança no trânsito sob este ponto de vista continuaremos tendo o banho de sangue que temos aqui neste Brasil. O CTB é a lei, a regra, mas o próprio código dá chance para variações, inteligências, o que por diversas razões não é entendido e usado.

Pouco ou nada adianta colocar uma placa "PARE" direcionada para ciclistas numa ciclovia com tamanho, formato e altura estabelecidas pelo CTB, tida como própria para quem conduz veículo motorizado, como acontece em algumas das ciclovias paulistanas, em particular na av. Faria Lima. O ciclista passa batido e não vê; não vê porque não vê mesmo, não por má fé. Pior, em algumas destas situações o posicionamento da sinalização está em posição duvidosa: para quem será direcionada? 
Não adianta querer delirar com o CTB que reza que a bicicleta é um veículo e que seu condutor tem respeitar as leis. Primeiro, leis feitas por quem?; depois para quem? Alguma ordem, leis, tem que ter, é óbvio, mas que atenham-se a realidade, não ao delírio de um punhado de espertos, entenda-se ai o que quer que quiser da palavra espertos. 
A esta altura do banho de trânsito que corre pelo Brasil deveria ser obrigatório que os responsáveis pela segurança no trânsito fossem obrigados a ter formação prática em todas as modalidades de transporte, nas mais diversas situações de trânsito, centro, periferia, vias expressas... O que não se pode mais é aceitar que alguém com formação só em leitura, por mais leitura que tenha, dite o que é real ou não, o que é seguro ou não. É absolutamente inaceitável que alguém que simplesmente tenha medo de pedalar em situações reais, comuns aos usuários do dia a dia, dê consultoria técnica ou trabalhe em projetos de engenharia de trânsito. É lógico que dá merda, a prova irrefutável está ai em números apavorantes. 
A brincadeira - e só pode ser tomada como brincadeira - de multar pedestres e ciclistas a partir do ano que vem veio do DENTRAN é mais uma prova deste país da fantasia que eles vivem. Quem quer que tenha tido esta brilhante ideia, das multas, com certeza nunca caminhou numa estrada conurbada, tentou cruzar o rio Pinheiros da favela do Real Parque para Moema. Será que o pedestre infringe a lei porque é burro ou porque a próxima faixa de pedestre está a 500 metros, o caminho mais lógico e curto está ali na frente? Este pessoal nunca viu o que há de mais moderno e eficiente para sinalização voltada para ciclistas provavelmente porque não aceita que a leitura que o ciclista faz do trânsito é muito diferente da de um condutor de veículo motorizado. 
A bem da verdade tenho certeza que o olhar destes senhores é viciado, o que é absolutamente normal, humano, acontece com todos nós. O óbvio é um polvo grudado no nariz que somos incapazes de enxergar. A diferença é que não ver a realidade diária do povo custa vidas. E como custa! Os números trágicos não mentem.