segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Os 7X1 e a perda da metade dos leitores

Perdi praticamente metade dos meus leitores no dia seguinte que soltei o texto sobre a Copa do Mundo de Futebol e os 7X1. E nunca mais voltaram. Infelizmente não posso ficar desgostoso com aquele texto, muito pelo contrário, fico feliz.

O Maracanã vergonhosamente está fechado e sem previsão para abrir. Vários estádios da Copa enfrentam problemas praticamente insolúveis. Legado da Copa? Respondam vocês. Era claro que ia acabar assim e não podia ser diferente. Assim como era óbvio ululante que também o legado (legado?) das Olimpíadas iria se transformar, como se transformou, num elefante multicolorido sentado no nosso sofá de pernas abertas assistindo um futebolzinho, tomando wisky 12 anos e girando as pedrinhas de gelo depois de ter comido muito feijão branco com repolho, sob nossas custas é lógico.
Como bem disse um comentarista - de futebol é lógico - o Maracanã esculhambado e fechado é notícia em todo mundo porque Maracanã é uma das referências de Brasil. O estrago para nossa imagem resultante do Maracanã fechado extrapola muito o negócio "futebol". Você investiria num país dito do futebol onde a sociedade sequer respeita sua maior paixão?
O jogo só está ganho quando se cruza a linha de chegada ou o juiz apita o final do jogo.  A vida ensina que cegueira, burrice e soberba normalmente causam derrotas. Sinto pelos que são sérios e acreditaram em semideuses e outras bobagens. Sinto pelo país divido em dois, a única vitória que espero passageira daquele pessoal. 
Aquele foi o Brasil 1X7. Espero que tenhamos aprendido.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Garantia de obras públicas realizadas

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
26 de Janeiro de 2017

Passados menos de 5 anos da reforma do baixo Pinheiros realizada pela Operação Faria Lima \ Largo da Batata temos uma quantidade grande de defeitos nas calçadas novas: piso em pedra lascando, solto ou soltando, buracos, deformidades, tampas de cabeamento desalinhadas ou com acabamento quebrado, meio fio e calçada afundados, remendos mal realizados..., isto para não enumerar defeitos no leito carroçável ou postes que não foram retirados até hoje. Problemas inaceitáveis principalmente por se tratar de obra pública recém concluída. Ando esperneando pelo acionamento da garantia da obra, mas nunca obtive resposta. Ontem descobri que só duas Secretarias, a de Obras e outra qualquer, tem condição de acionar a garantia de uma obra. Estranho, mas talvez explique porque tem tanta obra nova por toda a cidade e de todos tamanhos que mal é concluída vira um tormento para os cidadãos em tão pouco tempo. Da forma como está não funciona, ninguém duvida disto. O correto deveria ser qualquer cidadão ter facilidade de acionar a garantia de uma obra, o que estimularia a cidadania, pressionaria para a execução de um bom serviço e com certeza facilitaria o trabalho dos funcionários responsáveis. Simples: você está feliz com nosso asfalto? (só para começar)

Cidade sem condição de gerenciar

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
26 de Janeiro de 2017


Abrindo o mapa oficial das ciclovias de São Paulo que está no site da CET dei mais uma vez com um mapa viário com pequenos erros. Pode parecer besteira, mas definitivamente não é. Por incrível que pareça, o Município de São Paulo até hoje não conta com mapas confiáveis. O mínimo que a cidade deveria ter é um mapeamento oficial e confiável do subsolo, solo e construções. Sequer temos mapa de solo, e ou viário, confiável e atualizado, o que dizer do resto. A consequência deste descaso é fácil de entender: um conserto de uma concessionária pode afetar o de outra e demora mais que o necessário, criando mais problemas para todo cidadão e aumentando muito o custo cidade. Qualquer cidade civilizada tem vários níveis de mapas quem permite controlar e organizar minimamente a gestão. É só o primeiro e importante passo para o bom senso. Doria fala em gestão, mas pouco poderá fazer sem ferramentas para gerir. Outro ponto crucial é a criação de um banco de projetos e outro banco para ações em andamento. Banco de projetos até para não ocorrer duplicidade de projetos em andamento, o que é bem mais comum que se possa imaginar. E banco de ações para saber quem está fazendo o que na cidade. Ou seja, ter uma administração que de fato administre a cidade, que é o sonho de Doria. Eu disse sonho. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Os ciclistas e a volta dos 90 km/h

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

 Os ciclistas tão preocupados com os 90 km/h na marginal expressa deveriam também fazer alguma ação para educar, dar alguma civilidade, à maioria dos ciclistas que circulam vias de São Paulo, em particular nas ciclovias. Confesso que, como ciclista experiente me sinto profundamente incomodado com a forma como boa parte dos ciclistas pedala e se comporta particularmente em algumas ciclovias, como a da Faria Lima. Interessante ver que os ciclistas repetem exatamente o comportamento que afirmavam ter os motoristas em relação a eles, ciclistas; os pedestres que o digam. Sempre que possível prefiro pedalar junto aos motoristas que em regra sempre foram bem mais cordiais. Basta sinalizar, respeitar e agradecer.  
Não há dúvida que a diminuição da velocidade na cidade reduz danos e mortes, mas esta ação encoberta inúmeros erros técnicos de sinalização horizontal e vertical, alguns escandalosos, tão comuns e espalhados por todas partes que continuarão causando mortes estúpidas. Faixas de pedestres fora do trajeto do pedestre, falta de tempo da luz verde para cruzar a rua, luz verde que nunca vem, placas confusas, falta de sinalização, excesso de sinalização, geometria da via imprópria, projetos obsoletos, etc. Não é difícil que a morte de Mariana, a modelo, no cruzamento da ciclovia Faria Lima com a rua Chopin Tavares de Lima tenha sido causada pela confusão de leitura que os dois semáforos colocados juntos, para ônibus e para ciclistas. Sobre isto não ouvi uma palavra dos ciclistas.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O que são as ciclovias Paulistanas?


Agora entendei o que aconteceu. Já haviam me explicado algumas vezes, mas mesmo sendo brasileiro e paulistano não caia a ficha. “Isto aqui é uma fábrica de loucos”; “O Brasil não precisa de surrealismo”; “É samba do crioulo doido”... usem a definição que quiserem porque não vai fugir da verdade. E, finalmente, entendi, ou pelo menos creio que tenha entendido aceitando o dito antes que eu fique mais louco que já sou.

Haddad deixou 494 km e duzentos metros de vias com tratamento cicloviário no Município de São Paulo. Nestes estão contados o que havia sido implantado em administrações anteriores e também o que foi implantado pelo Estado e SABESP.

Do que é responsabilidade da Administração Haddad tudo foi feito sem projeto? Não, mas boa parte foi e dentro da lei. A sutileza é que boa parte foi implantada como mudança de sinalização viária. São aquelas que da noite para o dia apareciam pintadas e taxadas nas ruas. Não se pode chamar o ex Secretário de Transporte e Presidente da CET Tatto de bobo. A CET tem pleno poder de mudar a sinalização viária. A questão é quais foram os critérios adotados para esta mudança.

Uma parte bem menor dos 400 km foi implantada com projeto e, que pelo que entendi, saíram da Secretaria de Obras do Município. A parte final foi obra das Subprefeituras de então. Diz a fofoca que quando os projetos ficavam prontos daí é que eram apresentados para CET sinalizar. E diz a lenda que ninguém se conversa direito. Se não é real não sei, mas que eu acredito eu acredito.

“O que o Haddad deixou foi a discussão sobre o uso do espaço viário”, disse Reginaldo, e ele está absolutamente correto. O inferno está cheio de boas intensões. Mais uma vez faltou inteligência e sobrou soberba.



São Paulo hoje conta com um minhocário cicloviário. Não resta mais dúvida que não foi feito um planejamento integrado nem sequer para a questão da bicicleta, o que dizer para a mobilidade e transportes. O mapa das vias com tratamento cicloviário que está no site da CET SP (http://cetsp.com.br/consultas/bicicleta/mapa-de-infraestrutura-cicloviaria.aspx)  até enche os olhos, mas amplie e olhe com cuidado e verá que a realidade é outra. Será que os ciclistas vão por ali? Quase caia da cadeira toda vez que ouvi de alguns cicloativistas, até mesmo os mais ligados às esquerdas (?) que apoiaram Haddad e suas “ciclovias”, que boa parte dos 400 km implantados nestes últimos anos, provavelmente mais de 100 km, não servem para nada. Pior, parece que não há dinheiro para manutenção, o que não duvido.

Quantos ciclistas estão circulando em São Paulo? Esta é uma boa pergunta. Parece que ninguém sabe ao certo. A pergunta ou um número ficaria mais interessante se o número de ciclistas for dividido pelos km de vias com tratamento cicloviário na Administração Haddad. Mas este é o cálculo correto, ou o único cálculo a ser feito para saber onde estamos?

A pergunta que todos, sem exceção, fazem é: E agora, o que se faz com isto?



Talvez uma das soluções para esta e outras confusões é obrigar as áreas de governo Municipal e Estadual a conversarem entre si. O mínimo que deveríamos ter é um banco de projetos de todas Secretarias e Órgãos; e prestadores de serviços. É o mínimo do mínimo.

O tamanho da bagunça? Lá por 2005 fazendo uma vistoria técnica para o projeto cicloviário no entorno de Grajaú e Interlagos dei da cara com a ponte próxima a barragem da Represa de Billings que liga Jurubatuba a Interlagos em estágio bem adiantado de construção. Na reunião seguinte do Projeto GEF – Banco Mundial falei sobre a ponte e o pessoal quase caiu da cadeira, incluindo CET e Obras. “Que ponte?” perguntou um pasmado e completou bravo “Não tem ponte nenhuma lá”. Mostrei as fotos e mesmo assim fizeram questão de ir ver pessoalmente.  

Opa, lembrei de mais um exemplo de nossa brilhante organização: a ciclovia da av. Robert Kennedy, também em Interlagos, teve três projetos simultâneos, sim, 3, um, dois três. Fez, desfez, faz de novo.... afinal, é dinheiro público. Não foi, não deve ter sido e mui provavelmente não será o único caso.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A bicicleta em Sorocaba

Sorocaba é tida como uma das referências cicloviárias do Brasil. Em pouquíssimo tempo o então Prefeito Vitor Lippi (2005 - 2013) implantou um extenso sistema cicloviário (mais de 120 km) principalmente nas principais rotas e avenidas de Sorocaba. Na época foi sucesso absoluto de aplausos por parte dos ciclistas, e pelo que sei ainda é. 
Estive em Sorocaba e sai para pedalar numa noite de sexta-feira e numa manha de domingo. Meu ponto de saída e chegada foi o Ibis Raposo Tavares, sul da cidade. Experiência interessante.
Sexta-feira fui até a Padaria Real que fica em frente a Prefeitura, 11 km de distância, praticamente todo trajeto feito em ciclovias, boa parte pela ciclovia que margeia o rio Sorocaba, uma das mais simpáticas do Brasil. Quisera todos rios e córregos do país fossem obrigados a ter uma ciclovia margeando. Voltando da Real fiz um caminho diferente, teoricamente mais curto, um bom trecho sem ciclovias e boa parte pedalando em avenidas. Os carros respeitam, as avenidas são largas, mas cheias de curvas e com trânsito rápido. A topografia da cidade é bem acidentada, sobe, desce, cheio de curvas. Em alguns trechos o diferencial de velocidade entre carros e bicicleta é grande e noutros a visibilidade do ciclista baixa, duas situações se não de perigo, pelo menos de tensão. Nas avenidas de Sorocaba até ciclista experiente se sente peixe fora d'água. A situação dos pedestres também não é nada legal.
No domingo ensolarado fiz questão de ver quantos ciclistas estariam pedalando na ciclovia do rio Sorocaba e para minha surpresa o número era baixo, mesmo levando em consideração que foi o último fim de semana de férias. 
Aproveitei para dar uma olhada em alguns outros trechos de ciclovia. A quantidade de ciclovias implantadas em locais muito ingrimes é impressionante. Algumas delas poderiam fazer parte do circuito de down hill ou de subida de montanha. Será que não há outra alternativa, não haverá alguma rua que leve ao mesmo lugar com uma subida menos íngreme? Quantos ciclistas conseguem pedalar naqueles trechos? Quantos foram os acidentes com ciclistas despencando as ladeiras? Colocar um "pare" pintado nas esquinas, aliás "pare" só para os ciclistas, funciona? E os pedestres, onde ficam nesta história? Não tenho dados, números, só lanço as perguntas. Aposto que o projeto cicloviário foi feito por técnicos que não pedalavam e que desenharam as ciclovias pelos caminhos mais curtos num mapa sem topografia. 
Paredes ou suportes verticais são os melhores locais para colocar propaganda. As ciclovias que foram implantadas em locais muito íngremes podem ser vistas a grande distância. Do restaurante da Real é possível ver a ciclovia no canteiro central da avenida. Você tem duas pistas largas de asfalto, o verde do canteiro central com suas árvores, e no meio disto tudo o vermelhão chamativo e inconfundível da ciclovia. Para mim é clara a razão da preferência nacional dos prefeitos e autoridades em implantar ciclovias em vias de grande movimento ou em locais de grande visibilidade. Se não fosse obrigatório gastar toneladas de dinheiro público em tinta vermelha provavelmente o sistema cicloviário... bom, primeiro demoraria mais para ser implantado, e talvez, digo "talvez", fosse implantado onde fizesse mais sentido para o próprio ciclista e o bem da cidade. É possível que haja alternativas para o ciclista circular por com menos trânsito, portanto menos barulho e poluição, e com uma topografia mais amigável. Levar o ciclista pelos mesmos caminhos do automóvel é reforçar a cidade do automóvel. 
Lippi deu o pulo do gato no momento que implantou o sistema cicloviário de Sorocaba. Fez o que fez porque não havia experiência, não havia interesse em discutir a cidade, os ciclistas gritavam (como continuam gritando) ciclovia, ciclovia, ciclovia! Pensamento um pouco limitado, mas fazer o que, somos brasileiros e assim tratamos nossas cidades e nossas vidas.


No papel qualquer plano cicloviário fica lindo. Quando se coloca no mínimo a topografia, para não dizer outros pequenos "detalhes", a coisa muda de figura. http://www.mobilize.org.br - Mapa do Plano Cicloviario de Sorocaba - SP

PS,: passar por Sorocaba sem ter ido a esta Padaria Real em frente a Prefeitura é não passar por Sorocaba. Já conhecia o panetone, um dos melhores que já comi. Experimentei pizza, no restaurante do segundo andar, excelente. E almocei no buffet de saladas que tem uma mesa central memorável. O buffet por quilo não é barato, mas vale cada centavo.