quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Feliz fogos de artifício. Feliz 2017

As notícias de quem passou o Ano Novo fora de São Paulo foram as mesmas de sempre: trânsito para descer infernal, carros lotados, alguns explodindo a alegria do funk, pagode ou sertanejo universitário a milhão anunciando as prestações do carro atrasadas, muito mais trânsito na chegada, vidros abertos, travesseiro e cabeça meio para fora, e chegam todos um pouco cansados, mas felizes. Não tem onde estacionar, flanelinhas, praias lotadas. Opa! uma novidade: aluguel de caixa de som para as famílias curtirem seu som predileto debaixo do guarda-sol e infernizar a vida de todos os mais próximos e também os distantes. Que festa! Criança perdida aos berros, gordos e gordas aos milhões, corda dental, muita bebida, risadas, gargalhadas e falas enroladas. "Não tem banheiro". "Faz aonde?". Vocês já nadaram em banheira de bebe? Sabem o que é um submarino? Não? Não sabem o que estão perdendo!
Só de madrugada para conseguir entrar no supermercado ou padaria, ou fica sem água e comida. Não dá tempo para trocar o óleo da fritura dos petiscos do bar da esquina. "Olha a água, olha a água". "Quanto é?" "Cinco". "Cinco? Assalto!" "Vai querer ou não?" "OK, mas... ei... ei... a tampa está solta..." E o vendedor nem olha para trás "olha a água, olha a água..." O vizinho de guarda-sol discretamente vomita na areia. Outra vizinha grita para o filho "não pisa no croquete!"
Tem fila para tudo. Tem todo tipo de interação social. No verão passado foram os assaltos. Bastava ficar meia hora na janela do prédio olhando para os transeuntes felizes da calçada que acontecia algum assalto ou roubo. Este verão a coisa melhorou, tem polícia, mas vez em quando uma mulher soca o maridão braços dados com uma puta (ex amiga). Sai a caixa de som a milhão e entra os berros da megera. O filho senta no meio fio e só olha, meio com cara de choro, meio no despertar de "não quero casar". Para o público é diversão certa, só falta gritarem "porrada, porrada, porrada!" A bem da verdade uns jovens trôpegos encharcados de cerveja balbuciam algo ininteligível às gargalhadas e quase caem no asfalto. Chega a polícia, com dificuldade pára a mulher transtornada que pega pela mão o filho e vai embora saudando a ex sogra. O policial faz algum comentário, talvez um pito, talvez uma tirada de sarro, e manda que o maridão vá na direção oposta. Ofendido e machucado sai caminhando pela multidão como se nada houvesse acontecido. Ouve-se um grito "corno!". Mal sabe o que fala. La opera é finita! Não resta mais nada a fazer que lamber o sorvete que derrete e arrastar a criança que deixa cair sua bola de sorvete na roupa e no chão. 

E São Paulo ficou vazia. Dava para deitar no meio do asfalto da avenida. Foi por anos meu rito de passagem de Ano Novo cumprido religiosamente todo dia 01 de Janeiro pela manha cedo. Que delícia! Acordar, pegar a bicicleta, sair para caminhar ou correr a pé e não ver alma viva. Eta cidade boa, eta cidade linda, eta cidade agradável! Não tem nada aberto, sequer um supermercado, não os próximos de casa, se procurar acha, mas quem se importa. Vivi boa parte de minha vida com tudo fechado nos fins de semana e a vida era boa, pacata, com direito a momentos de paz. Paris é assim, chega domingo até as moscas são proibidas de trabalhar, tudo fechado, por que não aqui pelo menos um dia por ano?
O bom de quem fica na cidade grande nestes poucos dias das festas ou férias é que até os assaltantes saem da cidade. Até em Amsterdam é assim. Lá não tem assalto, mas ladrão. Chega o verão todos ladrões se vão para as praias da Espanha e França, pois ninguém é de ferro. Mas ai chegam os turistas. Sai uma praga entra outra; é a vida.
Voltar para casa pedalando depois do brinde de Feliz Ano Novo é divino. Inseguro? Que nada, até os bebados estão no litoral. E com o silêncio você ouve os carros vindo a uns três quarteirões.
Antes da virada deste fatídico ano comi bastante feijão branco com couve-flor. Nem gastei com fogos de artifício. Foi justo: 2016 foi uma merda e dizem que se repete em 2017. Faço votos que melhore e vai melhorar! Já me sinto melhor, mais aliviado. Por isto comemorei 2017 com peidos. 
Feliz 2017 a todos. Beijos e abraços

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