sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O que são as ciclovias Paulistanas?


Agora entendei o que aconteceu. Já haviam me explicado algumas vezes, mas mesmo sendo brasileiro e paulistano não caia a ficha. “Isto aqui é uma fábrica de loucos”; “O Brasil não precisa de surrealismo”; “É samba do crioulo doido”... usem a definição que quiserem porque não vai fugir da verdade. E, finalmente, entendi, ou pelo menos creio que tenha entendido aceitando o dito antes que eu fique mais louco que já sou.

Haddad deixou 494 km e duzentos metros de vias com tratamento cicloviário no Município de São Paulo. Nestes estão contados o que havia sido implantado em administrações anteriores e também o que foi implantado pelo Estado e SABESP.

Do que é responsabilidade da Administração Haddad tudo foi feito sem projeto? Não, mas boa parte foi e dentro da lei. A sutileza é que boa parte foi implantada como mudança de sinalização viária. São aquelas que da noite para o dia apareciam pintadas e taxadas nas ruas. Não se pode chamar o ex Secretário de Transporte e Presidente da CET Tatto de bobo. A CET tem pleno poder de mudar a sinalização viária. A questão é quais foram os critérios adotados para esta mudança.

Uma parte bem menor dos 400 km foi implantada com projeto e, que pelo que entendi, saíram da Secretaria de Obras do Município. A parte final foi obra das Subprefeituras de então. Diz a fofoca que quando os projetos ficavam prontos daí é que eram apresentados para CET sinalizar. E diz a lenda que ninguém se conversa direito. Se não é real não sei, mas que eu acredito eu acredito.

“O que o Haddad deixou foi a discussão sobre o uso do espaço viário”, disse Reginaldo, e ele está absolutamente correto. O inferno está cheio de boas intensões. Mais uma vez faltou inteligência e sobrou soberba.



São Paulo hoje conta com um minhocário cicloviário. Não resta mais dúvida que não foi feito um planejamento integrado nem sequer para a questão da bicicleta, o que dizer para a mobilidade e transportes. O mapa das vias com tratamento cicloviário que está no site da CET SP (http://cetsp.com.br/consultas/bicicleta/mapa-de-infraestrutura-cicloviaria.aspx)  até enche os olhos, mas amplie e olhe com cuidado e verá que a realidade é outra. Será que os ciclistas vão por ali? Quase caia da cadeira toda vez que ouvi de alguns cicloativistas, até mesmo os mais ligados às esquerdas (?) que apoiaram Haddad e suas “ciclovias”, que boa parte dos 400 km implantados nestes últimos anos, provavelmente mais de 100 km, não servem para nada. Pior, parece que não há dinheiro para manutenção, o que não duvido.

Quantos ciclistas estão circulando em São Paulo? Esta é uma boa pergunta. Parece que ninguém sabe ao certo. A pergunta ou um número ficaria mais interessante se o número de ciclistas for dividido pelos km de vias com tratamento cicloviário na Administração Haddad. Mas este é o cálculo correto, ou o único cálculo a ser feito para saber onde estamos?

A pergunta que todos, sem exceção, fazem é: E agora, o que se faz com isto?



Talvez uma das soluções para esta e outras confusões é obrigar as áreas de governo Municipal e Estadual a conversarem entre si. O mínimo que deveríamos ter é um banco de projetos de todas Secretarias e Órgãos; e prestadores de serviços. É o mínimo do mínimo.

O tamanho da bagunça? Lá por 2005 fazendo uma vistoria técnica para o projeto cicloviário no entorno de Grajaú e Interlagos dei da cara com a ponte próxima a barragem da Represa de Billings que liga Jurubatuba a Interlagos em estágio bem adiantado de construção. Na reunião seguinte do Projeto GEF – Banco Mundial falei sobre a ponte e o pessoal quase caiu da cadeira, incluindo CET e Obras. “Que ponte?” perguntou um pasmado e completou bravo “Não tem ponte nenhuma lá”. Mostrei as fotos e mesmo assim fizeram questão de ir ver pessoalmente.  

Opa, lembrei de mais um exemplo de nossa brilhante organização: a ciclovia da av. Robert Kennedy, também em Interlagos, teve três projetos simultâneos, sim, 3, um, dois três. Fez, desfez, faz de novo.... afinal, é dinheiro público. Não foi, não deve ter sido e mui provavelmente não será o único caso.

2 comentários:

  1. Arturo,resgato uma opinião do Milton Santos quando afirma que nunca tivemos planos urbanísticos, porque nunca consideramos o território das cidades, nos restando o que ele chamou de "estética urbana". Por isso esses vários exemplos de pontes que ninguém sabe porque foram feitas - a de Jurubatuba, que V. citou e - muito mais emblemática - aquele viaduto na entrada de Santos, durante anos e anos sem as estruturas de acesso, chamado "carinhosamente" de "elefante branco". No caso das ciclovias, lembro a da Juscelino, inaugurada sem foguetórios e, anos depois, destruída sem lagrimas. Todos os cicloativistas reclamam por um Plano Cicloviário. No entanto, a experiencia da Baixada Santista com seu Plano e seus espetaculosos resultados (a ligação Santos/São Vicente, a balsa do Guaruja) continuam sem muita repercussão, apesar de bem sucedido.

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  2. Arturo,resgato uma opinião do Milton Santos quando afirma que nunca tivemos planos urbanísticos, porque nunca consideramos o território das cidades, nos restando o que ele chamou de "estética urbana". Por isso esses vários exemplos de pontes que ninguém sabe porque foram feitas - a de Jurubatuba, que V. citou e - muito mais emblemática - aquele viaduto na entrada de Santos, durante anos e anos sem as estruturas de acesso, chamado "carinhosamente" de "elefante branco". No caso das ciclovias, lembro a da Juscelino, inaugurada sem foguetórios e, anos depois, destruída sem lagrimas. Todos os cicloativistas reclamam por um Plano Cicloviário. No entanto, a experiencia da Baixada Santista com seu Plano e seus espetaculosos resultados (a ligação Santos/São Vicente, a balsa do Guaruja) continuam sem muita repercussão, apesar de bem sucedido.

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