quarta-feira, 27 de abril de 2016

Ruas e estradas no início do século XX

Este filme mostra como eram ruas e estradas nos Estados Unidos (e resto do planeta) no início do século XX quando surgem os primeiros automóveis de grande produção, mais acessíveis à população. Mostra também o porque do consequente enorme sucesso do automóvel. Eram máquinas simples, com um projeto adequado para a condição de uso da época e sobretudo funcionais. Numa época de vida dura, bruta, sem frescuras, eram veículos que simplesmente transportavam, não importando as condições do terreno. 
Vendo o filme é possível entender porque a bicicleta teve sucesso principalmente em grandes cidades, onde as vias tinham uma boa condição de rodagem, pelo menos para a época. Vale lembrar que mesmo nas cidades grandes havia um sério problema de lama, barro e bosta de cavalo por todas as partes. Aliás, na maioria das cidades havia muito esgoto a céu aberto. Pedalar era quase uma merda só - no que diz respeito aos respingos e aos sapatos. 
Vamos ao maravilhoso filme. Boa lama e boa diversão

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Ciclovia Tim Maia e os desastres em obras no Brasil

O que nos mata é o corporativismo. Muito pior que corrupção. Quanto teremos gasto de verbas públicas em projetos de baixa qualidade? E quantos destes projetos foram executados com a conivência de funcionários, inclusive técnicos e órgãos reguladores, que preferiram não fazer marola, marola esta que poderia bater no próprio nariz?
Num sistema corrompido pelo silêncio fica muito difícil saber como fazer a coisa certa. Sei porque já passei por situações que até hoje não consigo avaliar se agi corretamente ou não. Nada de suborno, de dinheiro, mas tudo a ver com competência, inteligência, conhecimento, aliás conhecimento para valer. Num sistema viciado, corporativo, se você chutar o pau da barraca você está fora, acabou. A funcionária inteligente, esforçada, que sabe o caminho das pedras e resolve pelo bem e para valer, fica cercada por uma cambada de puxa sacos, interesseiros, sacanas, retardados, todos concursados, que não podem ser demitidos. O que importa, o dinheiro público ou o salário no bolso? Hoje, com todas estas denúncias, começamos entender que o buraco é muito mais fundo do que imaginamos e, como diz a Eliane Cantanhêde, no fundo ainda tem um alçapão. A chave do alçapão costuma passar de mão em mão entre os funcionários para que não haja traição, para que o corporativismo não se desmonte. Triste, muito triste, mas triste mesmo, porque por onde passei convivi com muita gente da melhor qualidade emaranhada entre interesses pouco cidadãos e leis de boa intenção que lotam o inferno. Resultado? A socialização da miséria para todos, sem exceção.
Tem nossa imprensa, dos proprietários aos jornalistas, muitos sectários e por isto pouco investigativos, que por vários interesses e não rara mediocridade se cala ou, pior, nem chega perto. Jornalismo de qualidade? Sim, temos, mas chega ao grande público.
E finalmente temos nós. Olhe-se no espelho! Não preciso dizer mais nada.

Exagerado? É mesmo?

Somos todos humanos. Acontece em todas as partes do mundo. Questão de forma e escala. A civilização foi se acertando no meio desta baderna. Os que conseguiram riqueza, justiça social e progresso tiveram consciência de limites a serem respeitados, e quanto mais respeitados mais civilidade, equidade e progresso obtiveram.  
Nós, brasileiros, estamos brincando com a palavra democracia. Democracia aqui, democracia acolá, como tico-tico no fubá. Viva Carmen Miranda! Viva a Banania!

Quem acompanhou as notícias sobre a queda da ciclovia Tim Maia ouviu provas de nossa insanidade: não foi levado em consideração as ressacas e as piores costumam acontecer no fim do outono e no inverno; as vigas não estavam travadas; uso de elemento vazado teria diluído a força de impacto da onda; não havia sinalização sobre ressaca; órgãos reguladores fecharam os olhos; naquele ponto a viga tinha um único apoio central, o que dá menos estabilidade do que os apoios duplos usados nas vigas vizinhas; o Prefeito disse que o TCE (se não me engano) reclamou que estavam usando muitos pinos para travar as vigas; as ondas batendo nos arcos do castelinho tem um perfil diferente e todo mundo sabe que ali elas sobem mais; não passou pedalando por ali nenhum engenheiro com um mínimo de conhecimento e bom senso; onde está o CREA?; onde estavam os outros órgãos representativos de classe?; ... E não param as declarações que apontam uma infinidade de disparates.
Silêncio!

"O Brasil é assim mesmo". O meu não quero que seja.

domingo, 24 de abril de 2016

Todos somos culpados pela queda da Ciclovia Tim Maia

A ressaca derrubou a Ciclovia Tim Maia, disto ninguém tem dúvida. Erro de projeto? Tudo indica que sim, houve um pequeno erro de projeto. Esqueceram do detalhe das ressacas... Mas tem mais coisas ai que nós, brasileiros, nos recusamos ver e discutir e que vem causando vários desastres não só no Rio de Janeiro, mas em todo Brasil. É nossa ressaca diária que parece não ter fim.
No caderno Metrópole, do O Estado de São Paulo de 23 de Abril, está a Análise Obras no Rio não são planejadas para a população de Orlando Alves dos Santos Júnior, Doutor em Planejamento Regional pela UFRJ e integrante do Observatório das Metrópoles. O título já diz quase tudo. O texto completo vale a leitura.
Repetindo para ser chato, que é o que me resta: A questão é que brasileiro nunca teve ou perdeu a noção do que é uma cidade, qual sua função, para que e para quem ela deve servir, e de que forma deve ser transformada. O Economista e Filosofo Eduardo Janete da Fonseca em entrevista falou que seu próximo livro levanta ideias sobre qual futuro queremos para o Brasil, sobre qual é o nosso projeto, o que segundo ele não temos. "Sempre olhamos para o passado" disse. No caso das cidades quando muito copiamos e copiamos mal. Vide o caso de Curitiba que teve um projeto... lá pelos anos 70. Por exemplo, seu sistema de transporte teve que servir de referência para o Transmilenio de Bogotá, Colombia, para despertar interesse por aqui. Creio que estamos em 2016, e creio que as coisas mudaram um pouco... Fizeram uma coisa - Transmilenio - parecida no Rio como obra da Olimpíada e parece que recém inaugurada já apresenta uns probleminhas. 
Meu irmão, Murillo Marx, Livre Docente em História do Urbanismo, USP, um dia me contou que perdeu a cabeça numa aula e começou a gritar "Sonhem, sonhem, sonhem..." Perdemos a capacidade de sonhar. Somos medíocres, e bota medíocre nisto. A maioria de nossas cidades são pobres, deprimentes. Um cantinho simpático aqui, outro ali, no geral um asco. O brasileiro não acredita na qualidade salvadora. Talvez nem entenda quando se fala em qualidade.  Vide a Lei de Licitação 8.666 que tem como prioridade o menor preço, não a durabilidade, a qualidade, o perene. Alguém fala alguma coisa sobre a 8.666?
Cidades civilizadas tem um espírito inquieto, transitório, mas forjadas em um caráter perene, que é sua história. O Brasil do nunca antes nos faz confundir inquietude e transitório com libertinagem, com vale tudo depois corrige. 
Pedalei várias vezes pela av. Niemeyer quando ainda sequer a palavra bicicleta estava em pauta. O lugar é um sonho, mas muito apertado. A construção de um espaço para ciclistas - e pedestres - muito mais que um sonho era uma necessidade. Só a possibilidade de realização de um sonho basta para ofuscar nosso já pouco bom senso tupiniquim. Estou cansado de ouvir "(o resto) que se dane, se der problema a gente corrige depois". E assim a sociedade se cala. Depois fica difícil acusar os responsáveis da obra de má fé. Quem cala consente. 

sábado, 23 de abril de 2016

Lua cheia, liberdade e paz

Bruxas voavam nas luas cheias, pelo menos é o que dizem. Que inveja! Eu só posso sair por ai pedalando minha bicicleta e não preciso mais, mesmo querendo muito mais. Uma noite de lua cheia como esta, quente e de cidade esvaziada pelo feriado, deveria ter uma eternidade pelo menos momentânea; e tem quando estou passando suave e silenciosamente por ruas residenciais. Procuro ela entre postes de luz ou quando por uma bênção as lâmpadas dos postes estão queimadas. Lá sempre está ela. Não é possível fotografa-la e por mais que me esforce não posso descrever a carícia que ela me oferece para a alma, talvez porque quieta e brilhante, inalcançável sobre minha cabeça, sempre chamando meu singelo olhar.
Ontem não consegui ir para cama, mesmo muito cansado. O jardim de minha casa brilhava. Ela estava lá, límpida e brilhante, acompanhada por algumas raras estrelas que furam este céu tão iluminado de cidade grande, me convidando. "Sai, vem para rua, busca caminhos quietos onde meu silêncio redondo e iluminado possa falar". Peguei a bicicleta e fui. Primeira parada no meio da ponte sobre o rio Pinheiros. Olho o horizonte das luzes da cidade e avenidas com pouco movimento, como dificilmente se vê. Sigo em frente fugindo do movimento e buscando o rendilhado das copas das árvores que trocam mistérios com a luz da lua.
Tantas vezes voltei caminhando pela estrada de Cambuquira para o Marimbeiro no frio ardido do inverno e só com companhia dela. Chegava em casa e subia na laje, deitava ali congelado de corpo e aconchegado nas vistas, olhando emocionado ela e o céu salpicado de estrelas. De que música roubei esta expressão? Inezita Barroso? 
Fiz igualzinho em alto mar no convés do navio, ai com um contar de estrelas que minha visão (e imaginação) nem conseguiram sonhar onde ia terminar. No campo, ainda menino, descobri a beleza da noite. No meio do oceano senti a pequenez do nosso ser, pequenez perante o universo e perante a sua beleza. Como pulsa um céu puro, longe da interferência da luz boba da civilização. E a lua lá, não tão soberana, mas imperiosa.
Vivendo em Olinda nestas noites de luz cheia eu subia à Sé. As luzes de Recife e o mar a frente. Garganta esticada e a lua sobre nossas cabeças. A maioria nem se dava conta. Alguns, entre eles eu, recebiam nos olhos emocionados a bênção. 
De mês em mês lua cheia dura três noites. Assim me disse uma bruxa. 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Derrubando conceitos sobre bicicletas básicas


Faz muito tempo, mas muito tempo mesmo, a bicicleta que se pedalava e indicava para amigos carregava uma boa dose de fidelidade à marca. Quando começaram a chegar as primeiras e muitas marcas importadas ao Brasil a fidelidade ficou um pouco mais flexível. Não demorou muito tínhamos sabe-se lá quantas marcas novas, nacionais e importadas, mais um montão de marcas de bicicletas montadas pelas bicicletarias. A última vez que perguntei ao Osmar da Cyclo Magazine ele contou que juntando tudo havia bem mais de 150 marcas sendo vendidas no mercado brasileiro. Bom, numa situação destas a fidelidade meio que caiu de moda o que é bom. Mesmo assim algumas marcas continuam sendo referências, como Specialized, Trek, Cannondale, Caloi, Bianchi..., ou seja, principalmente as marcas mais famosas no mercado americano e europeu.

Tenho cá minhas preferências e torço o nariz para algumas marcas. Minhas prediletas do passado hoje não são mais minhas paixões. Os tempos são outros, o mercado também. Minha grande paixão, americana, mudou muito sua política, continua com bicicletas topo de linha maravilhosas, mas nas mais simples faz umas coisas estranhas que vão contra princípios tão claros e sensatos que a marca teve no passado. Outra marca que sempre usei, brasileira, tem cometido mais erros grosseiros, inaceitáveis. 

Sou um apaixonado por bicicletas básicas, as que o povão usa, as que viabilizam a massificação da bicicleta como modo de transporte e sua consequente transformação social. Estas que normalmente só são vendidas em grandes magazines mundo afora. Lá fora as bicicletinhas mais simples funcionam e mui raramente quebram. Aqui, no Brasil, é o contrário; as baratinhas, as básicas, costumam apresentar rapidamente um monte de problemas, isto quando não são entregues ao comprador com o garfo virado para trás (triste e comum verdade!).

A Decathlon sempre teve bicicletas interessantes com a própria assinatura. Comprei uma Elop 5 feminina projetada especialmente para transporte, com um alforje que se encaixa no guidão, cinco marchas, aro 26 e pneus 1,5 de alta pressão, bolsinha guarda trecos e para-lamas, fabricada em Portugal, excelente, e passei a olhar com mais atenção o que eles oferecem. Um dia testei uma Decathlon MTB mais sofisticada e fiquei muito bem impressionado com a resposta da menina, que mesmo sendo uma bicicleta de “magazine” não deve nada a qualquer concorrente de marca famosa. 

Tive que comprar duas bicicletas básicas MTB de 21 marchas e depois de certa pesquisa dei com a Decathlon MTB 200 por um preço quase imbatível, R$ 669,00 preço normal e, melhor, R$ 629,00 preço de oferta. Levei para casa, como faço com todas que compro, e montei como se deve, ou seja, revisão completa, trabalho de mais de 3 horas para cada bicicleta. Entreguei para a Eco Bike só uma. A outra eu roubei, vai ficar comigo até eu cansar (ou até tomar uma bronca). A bicicletinha é uma delícia. A relação custo benefício é surpreendente, simplesmente honesta, coisa bem rara aqui neste país, principalmente no mercado de bicicletas.

Espero que com a MTB 200 a Decathlon esteja encaminhando o mercado brasileiro de bicicletas básicas para o padrão internacional de qualidade. A diferença dela para a concorrência em alguns casos não tem sequer comparação. Trocando os frágeis pedais*, comuns em bicicletas básicas no Brasil, a MTB 200 pode ser distribuída no mercado Europeu. Para uma bicicleta vendida no Brasil é um salto de qualidade mais que elogiável. 

No http://escoladebicicletacorreio.blogspot.com.br/ está toda a revisão feita.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Celular no trânsito



Estado de São Paulo
Fórum do Leitor:

Já vi e vivi de tudo, mas nada comparado a perigosa insanidade que se tornou o uso de celular. Pedalei vários quarteirões da rua Paes Leme e av. Faria Lima ao lado da janela de um imenso ônibus bipartido vendo o motorista digitar, sem levantar os olhos para a rua. Motorista de ônibus, caminhão, vãs, taxis no celular é trivial. Onde está SPTrans? Motoristas digitando celular e movimentando o carro no meio dos pedestres e, pior, crianças, como vi ontem. Pessoas que só param de olhar a telinha quando batem no outro e mesmo assim não pedem desculpas. Pedestres simplesmente cruzam ruas e avenidas sem se dar conta do que fizeram. Não aguento mais ouvir histórias de ciclistas que se arrebentaram por estar falando no celular. Nada justifica o uso indiscriminado e doentio do celular. Já que a Prefeitura gosta de multar por que não agir numa situação desta? Simples, não é medida popular, melhor, populista. Deixar como está é um absurdo descaso com a saúde física e mental pública, individual e coletiva.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Sinalização precária e multas

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Tomei uma multa, correta pela lei, na conversão à esquerda da av. Angélica para a rua Cel. José Eusébio que dá acesso a rua Mato Grosso. A sinalização de solo é plenamente visível para quem vem subindo a av. Angélica, mas, dependendo do trânsito, pode não ser visível para quem vem da rua Goiás, que foi o meu caso. Vindo pela rua Goiás, que é uma subida, entra-se na av. Angélica com vários carros se acomodando, o que tira a atenção da sinalização de solo que indica a conversão para a rua Cel. José Eusébio só permitida para ônibus.
Tadeu Leite, Diretor de Planejamento da CET SP, acaba de dar uma entrevista na TV dizendo que as multas são justas porque toda a sinalização atende ao que está estabelecido pelo Código de Trânsito Brasileiro, e ai é que está boa parte do problema. A aplicação rígida das normas estabelecidas pelo CTB para instalação de sinalização horizontal e vertical cria situações que a população chama, com todo direito, de pegadinhas, que a cada dia são mais frequentes. Infelizmente recorrer é completa perda de tempo, o que é muito triste porque é em cima de reclamações que deveriam ser feitas correções pertinentes para um trânsito mais seguro. Ouvindo se evita que a população afirme, com toda razão, que é uma indústria de multas.