sábado, 23 de abril de 2016

Lua cheia, liberdade e paz

Bruxas voavam nas luas cheias, pelo menos é o que dizem. Que inveja! Eu só posso sair por ai pedalando minha bicicleta e não preciso mais, mesmo querendo muito mais. Uma noite de lua cheia como esta, quente e de cidade esvaziada pelo feriado, deveria ter uma eternidade pelo menos momentânea; e tem quando estou passando suave e silenciosamente por ruas residenciais. Procuro ela entre postes de luz ou quando por uma bênção as lâmpadas dos postes estão queimadas. Lá sempre está ela. Não é possível fotografa-la e por mais que me esforce não posso descrever a carícia que ela me oferece para a alma, talvez porque quieta e brilhante, inalcançável sobre minha cabeça, sempre chamando meu singelo olhar.
Ontem não consegui ir para cama, mesmo muito cansado. O jardim de minha casa brilhava. Ela estava lá, límpida e brilhante, acompanhada por algumas raras estrelas que furam este céu tão iluminado de cidade grande, me convidando. "Sai, vem para rua, busca caminhos quietos onde meu silêncio redondo e iluminado possa falar". Peguei a bicicleta e fui. Primeira parada no meio da ponte sobre o rio Pinheiros. Olho o horizonte das luzes da cidade e avenidas com pouco movimento, como dificilmente se vê. Sigo em frente fugindo do movimento e buscando o rendilhado das copas das árvores que trocam mistérios com a luz da lua.
Tantas vezes voltei caminhando pela estrada de Cambuquira para o Marimbeiro no frio ardido do inverno e só com companhia dela. Chegava em casa e subia na laje, deitava ali congelado de corpo e aconchegado nas vistas, olhando emocionado ela e o céu salpicado de estrelas. De que música roubei esta expressão? Inezita Barroso? 
Fiz igualzinho em alto mar no convés do navio, ai com um contar de estrelas que minha visão (e imaginação) nem conseguiram sonhar onde ia terminar. No campo, ainda menino, descobri a beleza da noite. No meio do oceano senti a pequenez do nosso ser, pequenez perante o universo e perante a sua beleza. Como pulsa um céu puro, longe da interferência da luz boba da civilização. E a lua lá, não tão soberana, mas imperiosa.
Vivendo em Olinda nestas noites de luz cheia eu subia à Sé. As luzes de Recife e o mar a frente. Garganta esticada e a lua sobre nossas cabeças. A maioria nem se dava conta. Alguns, entre eles eu, recebiam nos olhos emocionados a bênção. 
De mês em mês lua cheia dura três noites. Assim me disse uma bruxa. 

Um comentário:

  1. A LUA é para todos. Mas, só os abençoados sabem realmente admirá-la. Sabem ver mais que a sua linda imagem, que inspira, traz nostalgia, encanto e magia.
    O silêncio da lua, não é tão silencioso, porque busca almas que possa entendê-lo. E aí sim ele fala. E fala muito , como falou para você. E continuará falando sempre para quem possa interpretar o seu significado.
    Bruxas voam nas luas cheias...

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