quarta-feira, 31 de julho de 2013

"Não sejam covardes, saiam às ruas" - Papa Francisco

Silvano é médico, vem de uma família calma, estável, educação tradicional, formal, bom dia, boa tarde, boa noite, como vai a família e estas simpatias ditas com real sinceridade e um sorriso natural no rosto. É alto, bonito, sempre propriamente bem vestido para o momento, mora num dos melhores pontos da cidade, é bem sucedido no trabalho. Tenha um futebol habilidoso, veloz e preciso. Entrava em campo como um lorde. Mas depois de uns 10 minutos de jogo passava a reclamar de tudo, ofender juiz e adversários. Mais uns cinco minutos e começava a ofender até os companheiros de seu próprio time. Como é muito grande e forte, fazia faltas duras, algumas desleais, num não posso perder nunca pesado. E assim sempre foi, mesmo com muitas reclamações contra ele, diretas e pelas costas. Mas a cada partida ele sempre era escalado, tanto por sua habilidade como por receio dos amigos e inimigos do que poderia acontecer se ele não entrasse em campo.

Um dia um jogador magro e relativamente fraco decidiu tomar as dores do jogador que Silvano tinha deixado estatelado no chão. “Chega! Chega! Chega! Acabou, não vai mais...”, gritou o magricelo parado, duro, com as mãos para trás, num sinal claro que não queria sair no tapa. Silvano veio para cima, peitou, o magricelo foi ao chão de costas, imediatamente se levantou, pôs se novamente parado, reto, duro e com as mãos para trás. Silvano deu mais um passo para frente, encostou no magricelo e olhando de cima para baixo com o rosto retorcido de raiva começou a urrar. Todos ao redor só olhavam assustados sem esboçar qualquer intervenção, mesmo os mais velhos e os que sempre colocavam panos quentes, apartando possíveis brigas. Ninguém fez absolutamente nada a não ser manter distância. Silvano seguiu ne sua fúria, agarrou a camiseta do magricelo e começou a torce-la, sem ter qualquer reação. Passou a desfazer a camiseta em tiras, sem obter qualquer reação. O magricelo ficou ali, duro, mãos tremulas para trás, apavorado por saber que não teria socorro dos amigos, mesmo assim não parou de gritar “chega! chega! chega!...” Quando só restava farrapos da camiseta Silvano deu-se conta de seu surto, empurrou para o lado o magricelo, deu um tapa no peito de quem estava mais próximo chamando-o de maricas e saiu do campo ofendendo todos. A partida terminou ali com todos saindo no mais absoluto silêncio. Silvano não voltou mais.

Seis meses mais tarde veio a notícia. Silvano havia tido o mesmo comportamento em um campo próximo dali. Um dia todos perderam a paciência e Silvano apanhou dos 21 jogadores que estavam dentro de campo, os do seu time e do adversário. Saiu de lá para uma UTI. Nunca mais se ouviu falar do Silvano jogador de futebol. Acabou!

“Sem violência, sem violência, sem violência...” Alguém realmente acredita que um grito coletivo vai fazer alguma diferença para os mascarados? Desequilibrado, desajustado e covarde sem freio ou limite não ouve este tipo de pedido. Como agir? Como parar os que arruínam a voz que clama um futuro melhor para o Brasil? Ou, em nome de discursos ideológicos não realistas, falidos e mentirosos é válido ou mesmo obrigatório aceitar meia dúzia destruindo tudo que está na frente. Não existe transição? Pelas mesmas razões é regra mandatória ir contra a ordem instituída e seus instrumentos. Muito parecido com a questão das drogas. Os usuários parecem preferir o prazer do vício a qualquer custo, inclusive no silêncio em relação à violência banhadas por montanhas de corpos ensanguentados. Vale para o currículo universitário do recreio da cerveja e pinga no bar da esquina. O social é tão ou mais importante que a formação cultural? Vale para os ciclistas imbecis que assustam, xingam e até derrubam os outros em nome de seu treinamento, que está sendo feito numa ciclovia de lazer ou num parque. Mas entre os iguais estes mesmos são ciclistas, o que já basta para lhes dar razão.

Este é Brasil que temos que derrubar.

(Proíbe tudo? Vamos para o outro extremo? Taliban? Por favor... inteligência!)

Sem violência! Concordo! Sem violência! Fascinante a revolução de Gandhi, não foi? Para isto é necessário princípios. Que princípios temos no Brasil? Que valores? O discurso que está no ar? Será completamente verdade ou mais uma série de frases ditas por trás das mascaras? Eu prefiro conversar face a face, sem mascaras. E você?

Como pode um punhado de baderneiros, vândalos, talvez ou provavelmente paus mandados, muito bem mandados, covardes, pode destruir manifestações justas e autênticas de milhões? A quem interessa? Como pode não cair a ficha do Brasil que manifesta por um futuro que este Brasil que queremos superar é justamente acabar com o Brasil dos mascarados.

Não sejamos covardes, saiamos às ruas. Não sejamos covardes, mandemos todos mascarados em cana. Não sejamos covardes, sejamos inteligentes, resgatemos o Brasil que realmente dá certo. Ele existe. Fomos nós, todos nós, que de face aberta o construímos.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Quanto vale a vida no Brasil?

No domingo passado fez dois anos da morte de Vitor Gurman num hospital, cinco dias depois de ter sido atropelado por uma SUV descontrolada, em alta velocidade. Uma passeata com poucos participantes saiu da estação Metro Vila Madalena e percorreu as ruas do bairro até a rua Natingui, onde ocorreu o acidente. “Não foi acidente”, diz a palavra de ordem dos manifestantes. A lógica dos fatos é bastante clara, mas a realização da justiça não.
Faz umas duas semanas jantei com Myrian Araujo, mãe de Leonardo Araújo dos Anjos, 19 anos, calouro da FEA USP, morto num atropelamento sem nenhuma lógica. Tudo indica que Leonardo estava acompanhado por dois ou três estudantes da USP que simplesmente desapareceram. Sem estas testemunhas o caso não terá explicação. O que foi até aqui esclarecido não faz sentido. Myrian, como centenas de milhares de familiares, parentes e amigos, nunca saberá quais foram as causas que levaram ao acidente e a morte de seu filho.
Quando fui avisar minha mãe que minha irmã, Dinorah, havia morrido, minha mãe fez um longo e estático silêncio, quebrado por doloridíssimo “Não é da ordem natural da vida que uma filha vá embora antes da sua mãe”.
Fez parte de meu trabalho acompanhar e tentar entender as causas dos acidentes. Sem a verdade dos fatos que resultaram no acidente não há como prevenir novos mortes, acidentes e até mesmo incidentes. Apesar de muito agitado, com situações brutas sempre fui isento, calmo, racional. Como já contei mais de uma vez usei meus braços para confortar a chegada da morte, o que é, acima de tudo, uma sensação estranhíssima. Me acostumei com a morte, que passou a ser um fato natural, difícil, mas natural. Mas não a morte destes dois meninos, Leonardo e Vitor. Foi a gota d’água. Esta definitivamente não é a ordem natural da vida. Sai do eixo da racionalidade para sentir na pele a barbárie indescritível deste Brasil.
Chego à conclusão que a banalidade da morte violenta faz parte do caráter do Brasil. Como diz Alexandre Garcia “violência não é normal em nenhuma parte do mundo, como se costuma afirmar”. Aqui é. Nem em uma guerra é aceitável o que acontece todo dia aqui no Brasil. Aqui é. Mesmo uma guerra tem limites estabelecidos pelo Convenção  de Genebra. Aqui? O que é mesmo Genebra? Remédio?
Quando morei em Olinda, em 1986, fui naturalmente apresentado a um senhor baixinho, formal, tranquilo, bem educado, fala mansa, que ficava sentado num tamborete numa das entradas da cidade histórica. “Este aqui o seu João (não me lembro o nome real). Se um dia você precisar resolver um assunto grave, uma desavença, desfeita, chama seu João que ele resolve, até mata se for o caso”. Eu cai na gargalhada pensando que era mais uma piada de meu amigo Zé Carlos. Não era. Aprendi ali que a vida no Brasil vale menos que um peido.
Não me impressiona que uma manifestação contra o mais grave problema deste país tenha tão poucos participantes.
Afinal, por que mesmo as pessoas vão para as manifestações?

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A técnica da mediodridade

Meu Santo Deus que puta mediocridade! Como você manda o Papa Francisco para esta baderna? Que puta trabalheira para tirar ele vivo daqui. Meu Deus, e o Brasil ainda acha que vai fazer uma Copa? Mas que Copa? Já sei, já sei: nós merecemos! E uma Olimpíada? Deus, se nós merecemos, pelo menos tenha piedade dos coitados dos atletas! Eles não merecem.

“Viva o (ciclista) pé de chinelo!”. É o que nos resta dizer nestes tempos franciscanos. Se houver Copa do Mundo quem quiser chegar terá que ir pedalando, de preferência numa bicicleta bem fuleira, vestido mequetrefe, e rezar muito para no meio do caminho não tomar um tiro de AK sei lá o que. Vá com bons sapatos, sandálias ou tênis, por que a possibilidade da bicicleta estar amarrada no poste depois do jogo é remota. Meu Deus, eu continuo rezando para que caia a ficha dos chefões do Comitê Olímpico que este país do nunca antes nem Alice no País das Maravilhas consegue realizar um evento. A Rainha Vermelha do conto original, ou do filme, à escolha, é menos que a nossa. Muito menos!

Como tudo que o Sapo Barbado prometeu, melhoras aqui, ali, benesses para todos, sistemas modernos de mobilidade... nem sequer puft! Mobilidade? O metro do Rio deu duas panes, falta de energia, justamente nos dias dos eventos da JMJ, Jornada Mundial da Juventude. Pessoas caminhando pelos trilhos... Faltou condução, busanga, para chegar e para voltar para casa. Teve gente que só voltou para casa por que PMs decidiram eles próprios ajudar... Organizadíssimo! Exemplar! O evento de sábado foi transferido do terrenão batido que virou um lamaçal para a praia, 50 km de lá, e o prefeito já disse que não haverá operação especial de transporte para o público... Nem banheiros.... Piada, só pode ser piada, se não fosse a mais pura verdade. Deus sabe disto. E Deus tem infinita piedade para não mandar a puta que os pariu o governo que disse que os erros foram culpa do Vaticano.
Quer show de mediocridade, de inoperância. Inépcia total! Em tudo.

Pequena diferença:
Faz alguns anos ouvi uma notícia sobre um dos países nórdicos, Suécia creio, que estaria reeducando toda população para melhorar a técnica de condução dos automóveis e assim economizar até 25% em combustível, o que na minha ignorância achei alto para os padrões deles. Eco Drive. Há vários links e documentos que explicam o assunto. Apontam para algo como 10% de economia de combustível, o que já é uma barbaridade. Fora diminuição de poluição, mortes, reflexos em todas áreas sociais... Aprimorar a técnica, ir mais longe com a qualidade, em cada um, em todos, em tudo...

E nós, brasileiros, onde estamos? “Cuida-te que cuidar-te-ei”. “Deus está conosco até o pescoço” (Elis Regina).

Pobre, rico. Mediocridade

Minha mãe, Lollia, repetia alguns dogmas. “Não adianta mudar de casa (ou de trabalho) que não vão mudar seus problemas. Se quiser mudar de verdade tem que mudar a cabeça, a forma de pensar, não importa onde você esteja”. “Pobreza não é de dinheiro; é de inteligência, de vontade. É só ver uma escola de samba (do Rio de Janeiro, da época em que o carnaval era feito pelas comunidades) para ter uma demonstração que pobreza não tem nada a ver com coisa mal feita, feia, medíocre”, dizia ela. A ordem do dia lá em casa, todo dia e toda hora, era ordem, capricho, bom gosto, prazer, inteligência. Lollia tinha horror da mediocridade.

O “Eu odeio pobre”, do personagem Justo Veríssimo de Chico Anysio, e o “Isto é coisa de pobre” que minha mãe usava para repreender-nos em casa, muito antes do Chico Anysio, hoje, no país do nunca mais, seriam absolutamente inaceitáveis. Politicamente incorretas – que pobreza! KKKKKKKK....

Pois bem, digo de boca cheia: Eu odeio pobreza! E não entender isto é coisa de pobre. “Quem gosta de pobreza é intelectual”, como dizia o genial Joãozinho Trinta.

Minha opção política acabou sendo pela bicicleta. “Bicicleta é coisa de pobre”, vociferava à exaustão num passado não muito distante o brasileiro (geral e genérico) com condição de ter um carro, aliás o mesmo que hoje sai pedalando por ai. Minha forma de buscar o caminho do meio e ficar longe da mediocridade foi a Escola de Bicicleta. Minha felicidade depois de mais de 30 anos de trabalho é ver que cada dia mais cidadãos ciclistas entendem a força transformadora do pedalar, principalmente como modo de transporte. Bicicleta é coisa de pobre - rico. Depende da capacidade de cada um do uso dos verbetes.

Divirtam-se com Justo Veríssimo - http://www.youtube.com/watch?v=TsaU-Zo9u6E

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Minimalismo e o custo de uma vida



Fiat Panda
O Palio que perdi foi do meu irmão. Era absolutamente espartano, desprovido que qualquer coisa desnecessária. Murillo pensava no carro como função, transportar daqui para lá e voltar, ponto! Cada vez que tinha que trocar de carro era uma tourada, As brigas com os vendedores das concessionárias eram homéricas. “Quero o carro sem nenhum acessório, se puder até sem calotas!” Os vendedores o consideravam um louco, o que depois simplesmente fazia toda a história da compra mais divertida para ele e os convivas; gargalhável nos longos jantares e almoços regados a gin tonic, vinho, acompanhados da melhor comida que o dinheiro pudesse comprar.

Forma e função. Purismo. Bauhaus. Viver. E o charme de passear por uma inteligência rara. Compreende quem pode. Fiat 500, Citroën 2CV, Iseta, Mini Moris, Kombi... Compreende quem pode. Ser ou ter? Qual é o preço da vida? “Pague!”

Qual é o preço da vida? Pensando como ciclista:

Como ficaria uma Iseta com motorização e câmbio de uma moto moderna? Resolvido seu maior problema. (A motorização original era a mesma de uma Lambreta 175 de dois tempos.) E como ficaria com uma carroceria monocoque e uso inteligente de plástico? Mais redimencionamento de suspenção e freios. Aplicação de tecnologia atual para o projeto original. Provavelmente teríamos um automóvel perfeito para uso urbano, mas com certeza não seria aprovada no crash test. A questão é o crash test, os padrões atuais. Qual o custo ambiental deles? Qual é o preço da vida – das outras e das nossas?

O Uno, um dos mais inteligentes projetos da história, não passa no crash test. Deforma a célula de sobrevivência... Sobre vivência.... De quem? Em que condições? A qual preço?

Quem se move com as próprias forças - pedestres, ciclistas, patinadores, skatistas, cadeirantes, aves, quadrupedes, insetos, peixes, lesmas..., quer manter-se vivo no meio desta loucura motorizada. Entre os humanos conscientes, quem gosta da vida (no sentido mais amplo) está lutando pela diminuição da velocidade do trânsito. Velocidade mata! Assim como irracionalidade do uso indiscriminado de material acaba matando aos poucos, lentamente, sem que se perceba.

Não sei com quantas peças é fabricado um carro atualmente, mas tenho quase certeza que é um número muito maior que num destes projetos de carros populares do pós Segunda Guerra Mundial, quando tudo era escasso.

E as modernas bicicletas? Opção de mercado? Ganho de qualidade? Para quem? Compreende quem pode.

Forma e função. Purismo. Bauhaus. Ser ou ter. Compreende quem pode. Inteligência; isto é que é difícil. O resto? Hidroforme?

 

domingo, 14 de julho de 2013

Onde estão os carros inteligentes?

Messerschmitt (dois lugares em tandem), Vespa e Iseta


Se eu pudesse teria uma Romiseta, o projeto de carro urbano mais genial que conheci. Meu pai ficou com uma por um tempo, isto lá por 1960. Cirinho, meu primo, comprou uma em 1973 e foi uma festa. Lutamos para fazê-la funcionar, mas o máximo que conseguimos foi rodar uns 1000 metros antes de ela empacar. Se o projeto era e segue sendo genial, a motorização original era uma merda, principalmente as com motor de Lambreta. Com um motor e câmbio moderno ela funcionaria incrivelmente bem. Não faz muito tempo vi uma descendo a av. Sumaré no meio dos carros e fiquei impressionado como é pequena, ou melhor, como é mínima se comparada aos carros atuais. O maior problema hoje é que uma Romiseta é menos visível que um ciclista. Do ciclista se vê pelo menos a cabeça. A Romiseta desaparece atrás de um Uno ou até mesmo de um micro carro. Mas é genial, italiana e genial, simplesmente genial! Como gostaria de ter uma - remotorizada.

Meu sonho aos 18 anos era ter um Citroën 2CV. Se a Romiseta é para dois passageiros e ponto, o 2CV foi projetado para quatro campesinos vestidos com seus chapéus, suas malas, e para passar em qualquer terreno sem quebrar os ovos transportados. O projeto é minimalista; o necessário. O modelo original tinha um motor de 2 cavalos vapor (dai o nome), o suficiente para fazer mover sua carroceria muito leve, de construção e manutenção extremamente simples, praticamente toda aparafusada, teto de lona removível, bancos de praia (literalmente), pneus de grande diâmetro e finos, suspensão alta, ‘fofa’, hiper confortável, praticamente impossível de capotar, muito econômico... Coisa de gênio francês.
Mini em corte exposto em Museu de Londres

O mesmo primo Ciro acabou se desfazendo da Romiseta e comprando um Mini Moris, o original, o projeto que mudou completamente o conceito “carro”. É antes do Mini e depois do Mini, simples assim. O percentual de espaço do carro para os passageiros é altíssimo, coisa de 80% ou mais. Foi o primeiro carro com motor e câmbio transversal e tração dianteira. Sua suspensão, mínima e independente nas quatro, foi e continua sendo uma revolução. Mas só é possível se dar conta da real qualidade do projeto quando se usa o Mini Moris. Mágica inglesa! Ou dado o que se vê por fora e o que se sente dentro melhor seria “bruxaria inglesa!”

Se pudesse teria estes três, mais uma Kombi das originais, conhecidas como para-brisa quebrado. Absolutamente genial, mas impossível de ter no Brasil por causa de roubo e assalto.

Sendo realista (se pudesse) gostaria de substituir meu Palio perdido por um carro inteligente: Dobló, Kango ou Berlingo. Carro tem que ser prático, inteligente, espaçoso, que possibilite ver a paisagem. Tive e voltaria a ter um Uno, que é genial, mas é um pouco pequeno para carregar bicicletas; e também roubam muito.

Os novos projetos de carros não me agradam, nem mesmo a nova versão do Dobló que está sendo produzido na Europa, e que atende a padrões mais altos de segurança. Muita lata, muita masturbação estilística, muita dita eficiência, pouco humano.

A sociedade do medo perdeu muito da capacidade de pensar. Risco é um dos melhores fatores de construção da cultura que vai formar a inteligência. A indústria tem respondido aos temores da sociedade com carros cada dia maiores, mais enlatados, com menor área envidraçada, mais parecidos com tanques do que ferramentas de transporte. A alegação de diminuir os custos pós acidente é sensata e válida, mas a formula para chegar aos resultados poderia ser outra. Me pergunto como fica o cruzamento da curva de diminuição de custo de pós acidente de um carro moderno com o custo descarte/reciclagem deste mesmo? Diminuir a velocidade e responsabilizar com mão pesada os responsáveis pelos acidentes não daria espaço para diminuir impactos ambientais de matéria prima, custos de produção e descarte? Acredito que a sociedade ainda vá pedir carros minimalistas, com sumo necessário do utilitário. O transporte motorizado ficaria mais inteligente e a sociedade menos burra.

 

Fiquei sem carro

Na quinta-feira passada entreguei meu carrinho. Não tive alternativa depois de sofrer um PT (perda total) numa colisão traseira quando o Paliozinho estava estacionado. Os três garotos que estavam na Land Rover, depois da batida, olharam pela janela e viram claramente o tamanho do estrago, aceleraram e seguiram em frente. Típico de brasileiro. Infelizmente a única câmara que poderia ter registrado as placas estava momentaneamente quebrada. O prejuízo total caiu no meu bolso.

Não encontramos um funileiro que quisesse fazer o serviço. Roberto, meu mecânico, que tentou ajudar, disse que “O pessoal só quer fazer trabalhinho rápido e fácil. Coisa mais complicada e demorada não fazem”. Roberto chegou a encontrar um Palio com PT dianteiro, mas não quem quisesse fazer a troca da traseira. Deu raiva por que sei fazer o serviço, que é chato, trabalhoso, mas sem grandes segredos. A sensação que se tem é que prestadores de serviço estão cada dia menos preparados, sérios, e mais no sentido da esperteza. O exemplo desta Brasília de nunca antes está sendo seguido, disto não tenho dúvida: boa conversa furada, muita enganação, pouco resultado.

Acabou-se uma era. Usava muito pouco o carrinho, mas em algumas situações ele era e segue sendo extremamente necessário. Não sei se vou ter outro carro, o que gostaria, mas o custo é praticamente proibitivo. Gostaria de ter uma Dobló, um Berlingo ou Kangoo, que tem janelas grandes e espaço interno apropriado para transportar bicicletas. Um amigo tem uma caminhonete Corsa jogada na garagem, mas Sílvia, que trabalha com seguros, diz que este tipo de carro é muito visado pelos ladrões. Talvez uma moto, mas o número de roubos e assaltos é muito grande. Que país ridículo o nosso onde não podemos ser nem ter o que gostaríamos ou queremos. Nem bicicleta boa. Em todo mundo rouba-se bicicleta estacionada; mas só aqui no Brasil o ladrão encosta o cano na cabeça ou atira antes para sair pedalando tranquilamente com sua bicicleta. Segurança zero.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Pesadelos


Não tenho conseguido dormir direito.  Tenho tido seguidos pesadelos. Num deles minha casa novamente foi invadida, furtada, e depredada como se os invasores tivessem com raiva, muita raiva de tudo. Passei olhando os estragos sem entender para que tanto e fui fazer pipi. Quando sai do banheiro dei de cara com os bandidos, dois homens e uma mulher bonita. A partir dai começaram a barbarizar comigo em rodízio, cada um a seu estilo, ajustando meu desespero e sofrimento ao estilo doentio de cada um deles. Ontem o pesadelo se fez quando tomei o golpe da troca do cartão num local de onde não conseguia sair. Todos meus pesadelos, dos que se segue dormindo aos que se acorda aos pulos com coração disparado, não passam de histórias cotidianas deste Brasil. Nos é normal que dentistas sejam queimados vivos ou uma criança no colo da mãe seja executada com um tiro na cabeça por que está assustada e chorando. Nos é normal a pior das barbáries.

Meus pesadelos ficaram comuns com estes protestos de rua. Acho fantástico o que está acontecendo, mas assustador. Neste momento não são os meninos incitados ou pagos para fazer baderna que me assustam, mas a grande massa jogando-se numa direção completamente desconhecida. A do Brasil melhor? Ótimo, concordo, mas como construir este Brasil melhor?
Ordem e Progresso.

Ordem: por favor, procure o que significa a palavra ordem em um dicionário bom. Vai ser divertido. No Dicionário iAulete há 25 significados, dos quais 14 dizem respeito aos pedidos das ruas. É ler cada um dos significados e ter muito o que refletir sobre o que está acontecendo.
Progresso: no mesmo Aulete são 7 significados para progresso, mas que são vazão a várias vertentes de pensamentos, ou políticas, como queira. Eu fico com o simples com “evolução”.

Do meu ponto de vista parar a violência é o ponto de partida para um futuro. Ou se para a violência brutal, completamente fora de controle, ou tudo o que se está sonhando nas ruas não vai levar a nada. Ou, pior, vai levar a um golpe de estado, que é o que parece que estão tentando. Plebiscito? Só pode ser mais um ato de violência.
A pergunta que se deve fazer é a quem interessa esta violência endêmica. Umas 300 mortes violentas/dia/Brasil. Morte não tem futuro.

O que o povo que foi para as ruas não se deu conta é que o Brasil vive uma guerra civil que precisa ser parada imediatamente. Apavorante!