domingo, 27 de setembro de 2015

qualquer semelhança com fatos reais...

O Estado de São Paulo
Fórum do Leitor

Qualquer semelhança com fatos reais...

O morador de rua se instalou na porta de uma obra de construção de um edifício. A construção precisava terminar o trabalho de muro e calçada e foi conversar com o morador de rua que pediu R$ 5 mil para sair dali. Chamaram o Serviço Social, que foi até lá e depois de muita conversa não chegou a um acordo para mudar de lugar o morador de rua, mas levou os pertences para um depósito. Dois dias depois o engenheiro ficou até mais tarde na obra e quando estava saindo deu com o porteiro roubando os tubos de cobre e entregando para o morador de rua. O engenheiro chamou a segurança da construtora e o porteiro foi demitido. No dia seguinte à demissão do porteiro apareceu o sindicato e o sindicalista chefe, falando português quase incompreensível, disse que ou se resolvia a situação e ajeitava umas coisas no sindicato ou parava a obra.
Até que foi uma situação tranquila, já que tem obra grande onde engenheiros só conseguem trabalhar acompanhados por seguranças. 
Não posso dizer que nunca antes neste país de todos nós ouvi histórias como estas, mas posso afirmar que não me lembro de ter recebido uma herança tão maldita.



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Primeiras chuvas, primeiros problemas

São Paulo Reclama
O Estado de São Paulo
 
Primeiras chuvas, primeiros problemas
 
Hoje pela manha caiu meia dúzia de pingos e os semáforos da esquina da av. Faria Lima com rua dos Pinheiros pararam de funcionar. Pelo que me lembre a Prefeitura de Haddad disse que seriam reformados. Agora a noite tive que voltar pedalando para casa em etapas porque caiu uma chuva mais forte e ruas e avenidas viraram rios e depois de parada a chuva continuaram lagos, ambos intransponíveis em bicicleta. Não faz muito vi limpeza de bueiros, que pelo jeito não tem sido suficiente. Não se vê mais lixeiras espalhadas pelas ruas. A coleta de lixo e varrição visivelmente baixaram de qualidade e a cidade nunca esteve tão suja. Nesta situação limpar bueiros é enxugar gelo. Em suma, se chover fique em casa.
 
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Para quem não se lembra: entre os meus pedidos para os candidatos a Prefeitura de São Paulo estava a troca completa de todo sistema de semaforização da cidade. Entre gastar dinheiro indiscriminadamente em ciclovias e um sistema de semaforização novinho, de ponta, eu teria ficado e continuo ficando, sem a menor sombra de dúvida, com a troca do sistema de semaforização, pela simples razão que melhoraria muito a segurança de todos, principalmente pedestres e ciclistas. Mas acharam que eu estava louco. Sim, estava e continuo louco, mas garanto que quando chegarem as chuvas vocês vão ficar muito mais loucos que eu.
 
 
 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Um delicioso exemplo

A vida tem algumas magias descobertas ainda na infância que seguem mágicas por toda a vida. Como é bom o cheiro do estourar pipocas, ouvir o sino do picolé de frutas no meio da praia, um chocolate quente debaixo da coberta em noite fria, assaltar brigadeiro antes de apagar as velas... São verdadeiros ritos de passagem, como andar de bicicleta, daqueles que a gente jamais esquece. Um pouco mais tarde descobrimos a gastronomia, petiscos, pratos ou mesmo refeições completas que nos trazem um sorriso ao vê-las, tê-las na boca, saborear com calma, guardar o gosto na boca. Memória gustativa.
Uma das mais marcantes magias de minha vida foi o convite de Fernando e Laurita Frugoni para pegar o carro, cruzar todo Parque Palermo, rodar mais um tanto até chegar em San Isidro, Buenos Aires, para tomar um sorvete na La Flamínia, uma especial heladeria (sorveteria) familiar. Super Dulce de Leche com cobertura de chocolate continua sendo inesquecível mesmo passados uns 45 anos. Foi quando entendi o que pode ser um sorvete de massa.
São Paulo sempre foi uma cidade complicada para sorvetes. Tivemos alguns bons, mas boa parte deles não se manteve no mercado. Um dia nos contaram que iria abrir uma sorveteria nova perto de casa. Só entramos lá uma semana depois de inaugurada. Decoração sóbria, discreta, sorvetes de ótima aparência num balcão envidraçado. Fomos atendidos e servidos com rara delicadeza. Quando nos entregaram o sorvete ouvimos “Bom gelato”. “Bom gelato?” Depois da primeira lambida entendemos. Bom gelato! Nossa! Bom gelato!”. Me levou à mesma magia que a muito não sentia.
O primeiro mês foi uma loucura, com gelato todos dias, de todos sabores. Acabei conhecendo os proprietários, um deles foi quem havia me servido na primeira vez. Falante, sempre faço fui dando palpites, sugestões e críticas. Fui ouvido; sei porque eles vinham conversar. Eles e Bacio di Latte cresceram muito, atrás do trabalho deles veio a concorrência, muita concorrência, algumas desapareceram, e eles continuaram crescendo, rápido. Com um detalhe: nunca fizeram comunicação ou propaganda, foi no boca a boca. Pena é víamos cada vez menos os proprietários, mas a comunicação continuou igual com os funcionários, ótimos, muitos saídos do zero. A formação que a Bacio di Latte dá para os funcionários é exemplar. O atendimento não mudou em nada, continua de uma delicadeza, uma qualidade rara de encontrar no Brasil, muito rara.
Um dia entregaram um pacote com uma caixa em couro só com um discreto Bacio di Latte estampado na tampa. Dentro um cartão de prata com Bacio di Latte e meu nome em baixo relevo, junto de uma delicada carta de agradecimento pela ajuda que havíamos dado, eu e Tereza. E que aquele cartão me dava o direito a três meses de consumo em qualquer das casas da Bacio di Latte. "Como assim?" Passei a carta para Tereza que leu e repetiu o que eu tinha lido: o cartão é um agradecimento e estão dando três meses de consumo grátis para você e todos seus convidados em qualquer loja. Verdade? Muito mais que o presente em quantos gelatos, cafés, tortas e outros mais eu quiser, o que me sensibilizou foi o reconhecimento da tentativa de ajudar, para mim uma homenagem que espero merecida. Como cidadão brasileiro gostaria que exemplos como este fossem regra. Ajudar quem quer que seja a construir bons resultados é cidadania. Essencial.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Quem são os ciclistas de São Paulo?


Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Quem e quantos são os ciclistas de São Paulo

Estou vendo o Bom Dia Brasil. Eles acabam de dar uma matéria sobre o perfil dos ciclistas em São Paulo e falaram o óbvio: a maioria dos ciclistas que circulam pela cidade é trabalhador de bairros periféricos e não contam com sistema cicloviário (que só é implantado onde, onde mesmo; para quem?)... Não, verdade? Que coisa! Era um fato desconhecido? NÃO, DEFINITIVAMENTE NÃO! Não sabia quem não queria ou não tinha interesse.
Há duas questões ai. Primeira: um jornalismo que não investiga, de péssima qualidade, que não faz ideia do que é trânsito e segurança do trânsito, muito menos pedestres e ciclistas. Fazer matérias em cima do CTB, de técnicos da panelinha, ou de ativistas trapalhões, é desvincular-se completamente da realidade. Que jornalista fala sobre a questão técnica, engenharia de vias e aplicação de sinalização? O jornalismo não questiona, simplesmente acredita, aceita e divulga. Não é um problema exclusivo da Globo, mas de toda imprensa. Os números sobre ciclistas paulistanos sempre existiram, mesmo que com algum erro, e sempre apontaram quantos e onde circulavam: trabalhadores, madrugadores (portanto invisíveis para a classe média que acorda mais tarde) e periféricos. Fiz parte do Projeto GEF / Banco Mundial / SVMA PMSP em 2005 onde tive oportunidade de ver com os próprios olhos estes ciclistas circulando, e é uma massa inacreditável. Vai de 4:00 h às 6:00 h até a ponte que liga a av. Dr. Assis Ribeiro, São Paulo, com a av. Santos Dumont em Guarulhos e descubra a verdade sentado. Procura a matéria do Canuto entrevistando o Sérgio Luís Bianco na Ponte do Socorro... Vai atrás, tem ‘n’ exemplos.
Segundo ponto; a posição dos ciclo ativistas, a maioria com verborreia de esquerda, o que quer que seja isto. Boa parte deles sabia bem qual é a verdade dos ciclistas paulistanos e quem precisava de verdade melhorias de segurança cicloviária, mas em interesse próprio calaram e, remediados de classe média, meteram fogo no circo para ganhar ciclovia onde lhe fosse útil, é claro. Ganharam. Seria um processo natural não fosse o discurso agressivo, de uma falta de civilidade sem tamanho, a beira do nojento.
A matéria do Bom Dia Brasil é boa e vale a pena ser vista. Vou procurar o link. Triste é que tive muitas conversas com vários dos jornalistas grandões da Globo (e de outras emissoras e jornais) sobre o que estavam divulgando. Trânsito é um fator humano, muito além de um CTB que está rapidamente ficando desatualizado e perigoso.
O fato é que brasileiro gosta e quer mentira, de preferência as que o indivíduo acha que pode tirar proveito próprio. 
Matéria do Bom Dia Brasil

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

banda de músicos surdos

Uma banda de músicos surdos? Quando a Márcia me convidou para ver uma apresentação deles no PUC eu fui por pura curiosidade. Quando tocaram a primeira música eu quase cai da cadeira. São muito melhores que muitas bandas que já ouvi. Não coloquei nenhum vídeo deles tocando porque as gravações que encontrei no YouTube não mostram a real qualidade do trabalho deles.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Ciclovia em favela é azul...

Discussão ridícula. Foi o mesmo auê com a ciclovia do Ibirapuera que também tem trechos em azul. Que diferença faz? Se for bem projetada e implantada nenhuma, zero!
A obrigatoriedade da cor vermelha para ciclovias estabelecida no CTB, Código de Trânsito Brasileiro, é uma destas besteiras tipicamente brasileiras que não tem tamanho. Por isto somos o que somos. Em praticamente todos os países, estados e cidades civilizadas deste planeta as marcações que definem uma ciclovia são feitas das mais diversas maneiras, normalmente discretas, algumas através com cores, mas nenhuma delas obrigando o uso contínuo de tinta vermelha. Tinta de asfalto custa muito caro e país rico não costuma jogar dinheiro fora. Já país de pobre e ignorante, que acha que é rico, a ciclovia tem que ser completamente pintada para ser vista até da Lua para chamar atenção. Sem dizer o que uma ciclovia pintada em vermelho agride a paisagem urbana. Mais, o ciclista brasileiro, o paulistano em particular, que se diz ambientalmente correto, acha normal e até recomendável a ciclovia passar sobre o jardim do canteiro central. Vai-se o verde em nome da segurança exclusiva para o ciclista.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

O ataque ao Sistema S de serviço social

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Mais um atentado contra a qualidade brasileira

Qualidade é o que faz a diferença para o bem ou para o mal. O Brasil que não deu certo é o Brasil despreocupado com qualidade: no uso de dinheiro público, na saúde, segurança pública, transportes, educação, serviços sociais, programas sociais... Pelo outro lado, tudo que deu certo neste mesmo Brasil e nos enriqueceu está construído sobre bases sólidas da qualidade: Embrapa, agronegócio, Embraer, o que um dia foi a Petrobrás...
É inquestionável a importância do Sistema S - SESC, SESI, SENAI, SENAC, SENAR, IEL, SEST, SENAT, SESCOOP – como referência de qualidade para os brasileiros; da formação de ótimos profissionais ao lazer e cultura. É entrar em qualquer uma de suas unidades para imediatamente voltar a acreditar no sonho de um Brasil grande e socialmente justo.
Dilma acaba de anunciar dentro do pacote de ajuste fiscal um grande corte de verbas para o Sistema S, um completo absurdo. Por que? Dilma e o PT estarão se vingando por não ter conseguido colocar sua mão pesada sobre o Sistema S? O PT está dinamitando o Sistema S para frear a carreira política Paulo Skaf, o populista presidente da FIESP, que vergonhosamente tem usado o Sistema S em suas propagandas? Ou simplesmente o PT segue no seu caminho de socializar a pobreza e a miséria e por isto enforca um vasto serviço social de qualidade invejável comprovada que só socializa riqueza?
Se a sociedade brasileira se calar o Brasil realmente acabou.

Fotos da maravilhosa exposição "Loucos por Bicicleta" (MUBI) no SESC Santos. Padrão SESC, padrão Sistema S. Qualidade!
https://escoladebicicletafotos.blogspot.com/b/post-preview?token=3kDU3k8BAAA.DDlHHohkq0VKYNE130J3X4GZZsqFDDQvbF_LECoS_Eq4_Qje2IsSWH5UtVLAnlN0uJUSoLu8qVKT3ITQ20sK4A.n6hslXVHlsEh78fyiIUkmg&postId=8448884025408978509&type=POST

Haddad e os carros elétricos e híbridos


Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

Haddad anunciou que carros elétricos e híbridos estarão livres do rodízio veicular. Parece lógico. Só que, segundo reportagem da Rádio Estadão, o Município de São Paulo conta com menos de 400 destes veículos. Incluído táxis, que obviamente são isentos de rodízio? Que diferença faz 400 veículos não poluentes (?) numa frota de milhões rodando sem inspeção veicular? Estímulo para o futuro? Quando? E até lá?
Mais uma vez Haddad aparece com uma conveniente novidade logo depois que a anterior começou a desaparecer do noticiário ou apresentar algum problema. Terá este anúncio alguma relação com a recém morte da ciclista Mariana?
Há uma grande possibilidade das boas notícias de Haddad seguirem o mesmo caminho das falácias nunca antes neste país. São Paulo precisa de “n” mudanças. Precisa de um sistema de transporte de massa eficiente, confiável e confortável, de um sistema cicloviário seguro e amigável, diminuir a poluição emitida por veículos, de um macro plano de mobilidade não excludente e sobre tudo inteligente. Corredores de ônibus, ciclovias, ampliação de calçadas, veículos elétricos ou híbridos, e outras medidas importantes para a cidade, são medidas pontuais, simplistas e simplórias, que tem exatamente o mesmo carácter dos programas sociais do Brasil do nunca antes do PT do qual Haddad fez e continua fazendo parte.
Autolib - Paris: política pública de verdade

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Hipster

Hipster, é isto? Us muderrnu tupiniquim também é hipster? Uau! descobri. Pedalam as fixa ou ficha, com "x" ou sê H? 
Falando sério; para quem está estudando francês e tem interesse numa comparação das culturas francesa e alemã vale a pena ver os filmes do Karambolage. Duro é perceber que nós, brasileiros, simplesmente não temos este tipo de documentário que apresenta e discute de forma leve e divertida elementos essenciais de nossa cultura. A verdade é que tirando a programação da TV Cultura, que infelizmente vai cada dia pior das pernas, resta muito pouco. 
Divirtam-se com os hipsters.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

2CV - Citroen

Citroen 2CV é uma das mais geniais criações da nossa civilização. Junta em um único veículo minimalismo, simplicidade espartana e funcionalidade sensata. Poucos são os automóveis que ofereceram tanta capacidade de transporte com tão pouco material empregado. Tudo nele é muito fácil de usar. 
Eu ainda sonho que um dia os automóveis voltem ao minimalismo dos 2CV e que a preocupação doentia com segurança dê lugar a sensatez ambiental. Vai acontecer, tem que acontecer ou não vamos sobreviver. O planeta não aguenta o desvario destes automóveis modernos. E os sucessores 2CV, Renault 4, Mini original da British Motor Corporation e Fiat Panda irão voltar a rodar nas ruas. Serão simplérrimos, muitíssimo mais leves e menos poluidores, ambientalmente corretos. 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

As pessoas estão mais felizes



Depois de termos cruzado pedalando a av. Paulista no domingo à tarde Vera comentou “as pessoas estão mais felizes”. Interessante o comentário dela até porque ela e Teresa uns minutos antes e na mesma Paulista tinham sido literalmente empurradas para o lado, sem aviso ou qualquer palavra de cordialidade cidadã, por um ciclista jovem que queria continuar pedalando rápido. Mais um pouco a frente presenciamos uma pesada discussão entre dois ciclistas porque o ciclista velhinho, um tanto domingueiro, não conseguia pedalar em linha reta e não saia do meio da ciclo faixa de domingo. Como contraponto duas mães conduziam preocupadas suas quatro patinhas, lindas meninas de uns 8 ou 10 anos, se tanto, pedalando suas bicicletinhas cor de rosa. A confusão é geral, o zoológico o mais variado possível, e o clima domingueiro na cidade parece ser realmente mais feliz. E como era no passado?
Lá por volta de 2005 os órgãos oficiais de técnicos da Prefeitura rezavam pela cartinha da O.D. Metro SP que apontava o Município de São Paulo com 135 mil viagens origem-destino / dia em bicicleta com fator 2.1 de viagem por bicicleta. Em outras palavras, algo em torno de 65 mil e uns quebrados de ciclistas / dia de trabalho circulando pelo Município. A sutileza é que fazia silêncio que a O.D. Metro tinha dois filtros: só contavam os deslocamentos para trabalho e modo principal. Portanto a O.D. Metro estava contando só ciclistas que circulavam durante a semana. É logico que São Paulo tinha mais ciclistas que o número oficial apontava. Como a bicicleta era então um incômodo, quanto menor o número de ciclistas muito melhor para quem não gostava de bicicletas e ciclistas. Foi então que Luiz Dranger quis ter uma ideia mais clara da situação, fez cálculos e concluiu que São Paulo tinha no mínimo 150 mil ciclistas / dia. Zé Assumpção fez a desconstrução do número para checar se estava certo e confirmou o cálculo de Luiz: mínimo 150 mil ciclistas / dia. Ou seja, mais que o dobro do número oficial. Quando disparei os 150 mil ciclistas / dia numa reunião mesmo os que rezavam pela O.D. não pareceram assustados. Uns dois anos depois, a ABRACICLO divulgou uma pesquisa que apontava 1 milhão de ciclistas nas ruas em final de semana ensolarado. A partir dai os que rezavam pela O.D. passaram a aceitar em reuniões fechadas que provavelmente São Paulo contava então com 250 mil ciclistas / dia, fora o estouro da boiada de fim de semana. E veio a Ciclo Faixa de Domingo e a coisa explodiu de vez e está ai para quem quiser ver. A bem da verdade, concentrou e está ai. Os ciclistas que estavam espalhados por todas as partes da cidade se concentraram em determinadas vias. Bingo!
Hoje é muito, mas muito interessante mesmo mostrar que está todo mundo feliz, principalmente pedalando. Ora, quem diria? E como se faz isto? Técnica básica de fotografia, filmagem e comunicação: junta todo mundo para sair bem na foto. Sem dúvida, dependendo de onde e como se olhe a cidade está mais feliz. Conforme o contexto como aquilo deu nisto é só um detalhe. Eu acho que eu cruzei com o Niccoló di Bernardi dei Machiavelli pedalando por ai. Eu devia ter apresentado a Vera. Ele iria gostar.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Quantos erros se pode aceitar?

Pergunto: você continuaria com um funcionário, ou um gerente, em cujo setor tivesse acontecido mais de 700 falhas por ano? E se o setor tivesse mais de 700 acidentes graves por ano? E se este mesmo setor fosse direta, indiretamente, ou não conseguisse controlar mais de 700 mortes por ano? Você faria o que? 
  1. reformularia o setor mantendo os mesmos funcionários
  2. demitiria todo o setor
  3. demitiria o gerente do setor
  4. tornaria o gerente responsável por um novo setor que nasce problemático
  5. os problemas do setor não fazem diferença nos bons resultados da empresa
E como funcionário deste setor:
  1. você pediria demissão por se sentir mal e não concordar
  2. iria buscar informações para tentar resolver a situação
  3. continuaria trabalhando quieto porque tem família para sustentar
  4. aceitaria assumir a responsabilidade de um setor que você declara ter medo
  5. "o responsável pelo acidente é quem não sabe usar nosso produto"

Errar todo mundo erra. Eu teria errado também. Tenho todos defeitos do mundo, mas não tenho estomago para deixar passar meus erros. Não consigo dormir a noite quando faço besteira. Provavelmente teriam acontecido acidentes e até mortes com os projetos nos quais estive envolvido, o que infelizmente é natural do processo. Acontece em todo mundo. A questão é que deve haver limite para esculhambo. Infelizmente parece que nós não temos qualquer limite de aceitação da baixa qualidade. 

Parabéns, vocês conseguiram!

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo
03 de Setembro de 2015

Parabéns, vocês conseguiram

Antes de mais nada, meus sentimentos aos familiares e amigos de Mariana.
Acabei de receber a notícia sobre o falecimento de Mariana Livinalli Rodrigues, a modelo de 25 anos vítima de uma colisão com um ônibus na esquina da av. Faria Lima com rua Chopin Tavares de Lima. Atropelamento é para pedestre. Bicicleta é veículo, segundo o CTB, portanto colisão.
Logo em seguida vi uma entrevista de Getúlio Hanashiro na Rede TV News falando sobre a questão da segurança das ciclovias e o acidente. No meio da notícia se falou que Mariana pode ter seguido em frente, mesmo com o semáforo para ciclistas vermelho, porque o semáforo com a flecha em luz verde para os ônibus dobrarem a esquerda a confundiu. Como eu já fiz a mesma confusão creio que é uma hipótese a ser levantada. 
Que seja, Mariana se foi. Triste. É a terceira vítima em um único mês de erros grosseiros que se vê aos montes nestas ciclovias. Os responsáveis por tudo isto tem muita sorte. Se estão acontecendo acidentes ninguém sabe, ninguém viu, não interessa saber. Tudo pela causa. 
E não posso deixar de parabenizar os que pensam que "Faz, se for o caso depois conserta". Digam isto à família do menino de 9 anos, a do senhor e de Mariana. 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Descubra São Paulo


O cartaz manda um recado correto: Descubra São Paulo. Poucos paulistanos conhecem sua própria cidade. E em baixo vem o subtítulo: sou um dos 40% que adoram esta cidade. Só isto? Uau! A moral da cidade nunca esteve tão baixa. Mesmo assim eu recomendo que você saia e conheça sua cidade; ainda é uma das mais diversificadas e interessantes cidades do mundo.
Já conheci praticamente todo Município, só falta Iguatemi, Itaim Paulista e um pedaço de Campo Limpo. O resto já rodei, em carro e bicicleta. Não dá para dizer que conheço São Paulo por que a cidade muda muito rapidamente. Não vou conseguir encontrar a igreja do Jardim Nova Penha onde se casaram Mariazinha e João, isto lá por volta de 1980. Era o fim do mundo. Do topo do morro onde ficava a igreja dava para ver as últimas casinhas espalhadas no que restava do verde lá do fundão da Zona Leste. Uns anos depois aquilo tudo tinha se transformado num mar cinza ligado a Suzano e Mogi Mirim. Provavelmente não vou encontrar mais a estradinha de terra muito estreita que saia de Barragem e chegava até o ponto mais alto da Serra do Mar de onde se via Praia Grande. Não cheguei até esta vista porque começou a anoitecer e estava com Tina. A estradinha era tão estreita que tive que rodar uns 4 km de ré até encontrar um lugar          que desse espaço para girar o pequeno Fiat 147.
Passei para a bicicleta, com aventuras mais curtas e tão ou mais divertidas que as com o automóvel. Não demorou muito e já tinha pedalado todo Centro Expandido, Zona Sul até Socorro, Zona Leste até a Penha, quase toda Zona Norte. A Zona Oeste, onde moro, foi completa. Solitário ou acompanhado, sempre passeios divinos. Cada bairro tinha sua própria peculiaridade, particularidade, personalidade, e é lógico, prazeres. Na época, faz uns 20 anos, boa parte era um mundo desconhecido pelo próprio paulistano, que pouco saia de sua própria região. Parece que continua assim. Muito daquela bela riqueza singela foi ao chão para a construção de uma São Paulo mais uniforme, empobrecida na sua arquitetura e paisagem, mas ainda interessante.
Infelizmente não dá para conhecer todo Município de São Paulo, que inclui reservas florestais. Município é toda a área e cidade é o pedaço urbanizado. Sou um felizardo por que estava no grupo que recebeu autorização especial para conhecer um pedacinho de Capivari-Monos. Lá quase fui atropelado por uma anta (animal) que cruzou a trilha tão rápido que sequer consegui ver o que me deu o susto. O guia que estava conosco mostrou as pegadas e disse que era uma anta. Eu sequer teria visto as pegadas.
Outro dia tive que ir numa festa de aniversário na rua da Mooca. Passei pelo Centro da cidade a noite, fora do horário de trabalho. Confesso que não me senti cômodo. A insegurança está no ar, mesmo São Paulo sendo a capital mais segura do país (dados Governo Federal). Entre o Viaduto do Chá e a Sé pedalei junto com um ciclista que também ia rápido e olhando para os lados, claramente preocupado. É muita gente chapada jogada no chão ou perambulando sem destino. Dá saudades das velhas épocas. Quando puxei o primeiro Night Biker num passeio noturno para o Centro de São Paulo, em 1988, todos voltaram encantados e o Centro virou point. Era seguro, tranquilo, limpo, bonito, agradável, rico e variado. Pedalávamos por quase todas as ruas sem sermos importunados. Num destes passeios na Praça da Sé Luiz foi desviar de um cego e caiu em cima de uma barraquinha de um deficiente. Já se via aqui e ali moradores de rua, um aqui, outro ali, mas nada na escala que se tem hoje. Bêbados sempre existiram, alguns inconvenientes, mas chapados e zumbis com reações imprevisíveis ou muito agressivas não. A loucura era localizada, previsível, e os loucos tinham noção de limite. Infelizmente o Centro da cidade está sujo e cheio de pichação.
São Paulo continua sendo uma das viagens urbanas mais interessantes. Há muito para conhecer. Vale a pena. Para quem é ciclista recomendo que vá descobrir o interior dos bairros, o que acontece fora de avenidas, ciclovias e ciclofaixas. Domingo pedalei com o passeio do Saia na Noite, que foi dos Jardins até o Parque Severo Gomes, na Chácara Santo Antônio, por ruas de bairros. As meninas e nós dois, eu e Celso, adoramos; aliás, como sempre.  
Recomendo a leitura do ótimo texto Primavera paulistana, de Laura Sobral . Descobrir sua cidade é a única saída para reverter estes tempos horrorosos que estamos passando e retomar nossa liberdade, nossa dignidade. Vai para rua, vai descobrir, vai curtir, você não vai se arrepender.