Depois de
termos cruzado pedalando a av. Paulista no domingo à tarde Vera comentou “as
pessoas estão mais felizes”. Interessante o comentário dela até porque ela e
Teresa uns minutos antes e na mesma Paulista tinham sido literalmente empurradas
para o lado, sem aviso ou qualquer palavra de cordialidade cidadã, por um
ciclista jovem que queria continuar pedalando rápido. Mais um pouco a frente
presenciamos uma pesada discussão entre dois ciclistas porque o ciclista
velhinho, um tanto domingueiro, não conseguia pedalar em linha reta e não saia
do meio da ciclo faixa de domingo. Como contraponto duas mães conduziam preocupadas
suas quatro patinhas, lindas meninas de uns 8 ou 10 anos, se tanto, pedalando
suas bicicletinhas cor de rosa. A confusão é geral, o zoológico o mais variado
possível, e o clima domingueiro na cidade parece ser realmente mais feliz. E
como era no passado?
Lá por volta
de 2005 os órgãos oficiais de técnicos da Prefeitura rezavam pela cartinha da O.D.
Metro SP que apontava o Município de São Paulo com 135 mil viagens
origem-destino / dia em bicicleta com fator 2.1 de viagem por bicicleta. Em
outras palavras, algo em torno de 65 mil e uns quebrados de ciclistas / dia de
trabalho circulando pelo Município. A sutileza é que fazia silêncio que a O.D.
Metro tinha dois filtros: só contavam os deslocamentos para trabalho e modo
principal. Portanto a O.D. Metro estava contando só ciclistas que circulavam
durante a semana. É logico que São Paulo tinha mais ciclistas que o número
oficial apontava. Como a bicicleta era então um incômodo, quanto menor o número
de ciclistas muito melhor para quem não gostava de bicicletas e ciclistas. Foi
então que Luiz Dranger quis ter uma ideia mais clara da situação, fez cálculos
e concluiu que São Paulo tinha no mínimo 150 mil ciclistas / dia. Zé Assumpção fez
a desconstrução do número para checar se estava certo e confirmou o cálculo de
Luiz: mínimo 150 mil ciclistas / dia. Ou seja, mais que o dobro do número
oficial. Quando disparei os 150 mil ciclistas / dia numa reunião mesmo os que
rezavam pela O.D. não pareceram assustados. Uns dois anos depois, a ABRACICLO
divulgou uma pesquisa que apontava 1 milhão de ciclistas nas ruas em final de
semana ensolarado. A partir dai os que rezavam pela O.D. passaram a aceitar em
reuniões fechadas que provavelmente São Paulo contava então com 250 mil
ciclistas / dia, fora o estouro da boiada de fim de semana. E veio a Ciclo
Faixa de Domingo e a coisa explodiu de vez e está ai para quem quiser ver. A
bem da verdade, concentrou e está ai. Os ciclistas que estavam espalhados por
todas as partes da cidade se concentraram em determinadas vias. Bingo!
Hoje é muito,
mas muito interessante mesmo mostrar que está todo mundo feliz, principalmente
pedalando. Ora, quem diria? E como se faz isto? Técnica básica de fotografia, filmagem
e comunicação: junta todo mundo para sair bem na foto. Sem dúvida, dependendo de
onde e como se olhe a cidade está mais feliz. Conforme o contexto como aquilo
deu nisto é só um detalhe. Eu acho que eu cruzei com o Niccoló di Bernardi dei Machiavelli
pedalando por ai. Eu devia ter apresentado a Vera. Ele iria gostar.
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