O cartaz manda um recado
correto: Descubra São Paulo. Poucos
paulistanos conhecem sua própria cidade. E em baixo vem o subtítulo: sou
um dos 40% que adoram esta cidade. Só isto? Uau! A moral da cidade nunca
esteve tão baixa. Mesmo assim eu recomendo que você saia e conheça sua cidade; ainda
é uma das mais diversificadas e interessantes cidades do mundo.
Já conheci praticamente todo
Município, só falta Iguatemi, Itaim Paulista e um pedaço de Campo Limpo. O
resto já rodei, em carro e bicicleta. Não dá para dizer que conheço São Paulo
por que a cidade muda muito rapidamente. Não vou conseguir encontrar a igreja
do Jardim Nova Penha onde se casaram Mariazinha e João, isto lá por volta de
1980. Era o fim do mundo. Do topo do morro onde ficava a igreja dava para ver
as últimas casinhas espalhadas no que restava do verde lá do fundão da Zona
Leste. Uns anos depois aquilo tudo tinha se transformado num mar cinza ligado a
Suzano e Mogi Mirim. Provavelmente não vou encontrar mais a estradinha de
terra muito estreita que saia de Barragem e chegava até o ponto mais alto da Serra
do Mar de onde se via Praia Grande. Não cheguei até esta vista porque começou a
anoitecer e estava com Tina. A estradinha era tão estreita que tive que rodar
uns 4 km de ré até encontrar um lugar que
desse espaço para girar o pequeno Fiat 147.
Passei para a bicicleta, com
aventuras mais curtas e tão ou mais divertidas que as com o automóvel. Não demorou
muito e já tinha pedalado todo Centro Expandido, Zona Sul até Socorro, Zona
Leste até a Penha, quase toda Zona Norte. A Zona Oeste, onde moro, foi completa.
Solitário ou acompanhado, sempre passeios divinos. Cada bairro tinha sua
própria peculiaridade, particularidade, personalidade, e é lógico, prazeres. Na
época, faz uns 20 anos, boa parte era um mundo desconhecido pelo próprio
paulistano, que pouco saia de sua própria região. Parece que continua assim.
Muito daquela bela riqueza singela foi ao chão para a construção de uma São
Paulo mais uniforme, empobrecida na sua arquitetura e paisagem, mas ainda interessante.
Infelizmente não dá para
conhecer todo Município de São Paulo, que inclui reservas florestais. Município
é toda a área e cidade é o pedaço urbanizado. Sou um felizardo por que estava
no grupo que recebeu autorização especial para conhecer um pedacinho de
Capivari-Monos. Lá quase fui atropelado por uma anta (animal) que cruzou a
trilha tão rápido que sequer consegui ver o que me deu o susto. O guia que
estava conosco mostrou as pegadas e disse que era uma anta. Eu sequer teria
visto as pegadas.
Outro dia tive que ir numa
festa de aniversário na rua da Mooca. Passei pelo Centro da cidade a noite,
fora do horário de trabalho. Confesso que não me senti cômodo. A insegurança está
no ar, mesmo São Paulo sendo a capital mais segura do país (dados Governo
Federal). Entre o Viaduto do Chá e a Sé pedalei junto com um ciclista que
também ia rápido e olhando para os lados, claramente preocupado. É muita gente
chapada jogada no chão ou perambulando sem destino. Dá saudades das velhas
épocas. Quando puxei o primeiro Night Biker num passeio noturno para o Centro
de São Paulo, em 1988, todos voltaram encantados e o Centro virou point. Era
seguro, tranquilo, limpo, bonito, agradável, rico e variado. Pedalávamos por
quase todas as ruas sem sermos importunados. Num destes passeios na Praça da Sé
Luiz foi desviar de um cego e caiu em cima de uma barraquinha de um deficiente.
Já se via aqui e ali moradores de rua, um aqui, outro ali, mas nada na escala
que se tem hoje. Bêbados sempre existiram, alguns inconvenientes, mas chapados e
zumbis com reações imprevisíveis ou muito agressivas não. A loucura era
localizada, previsível, e os loucos tinham noção de limite. Infelizmente o
Centro da cidade está sujo e cheio de pichação.
São Paulo continua sendo uma
das viagens urbanas mais interessantes. Há muito para conhecer. Vale a pena. Para quem é
ciclista recomendo que vá descobrir o interior dos bairros, o que acontece fora
de avenidas, ciclovias e ciclofaixas. Domingo pedalei com o passeio do Saia na
Noite, que foi dos Jardins até o Parque Severo Gomes, na Chácara Santo Antônio,
por ruas de bairros. As meninas e nós dois, eu e Celso, adoramos; aliás, como
sempre.
Recomendo a leitura do ótimo
texto Primavera paulistana, de Laura Sobral . Descobrir sua
cidade é a única saída para reverter estes tempos horrorosos que estamos
passando e retomar nossa liberdade, nossa dignidade. Vai para rua, vai descobrir, vai curtir,
você não vai se arrepender.
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