A vida tem algumas magias descobertas ainda na infância que seguem mágicas por toda a vida. Como é bom o cheiro do estourar pipocas, ouvir o sino do picolé de frutas no meio da praia, um chocolate quente debaixo da coberta em noite fria, assaltar brigadeiro antes de apagar as velas... São verdadeiros ritos de passagem, como andar de bicicleta, daqueles que a gente jamais esquece. Um pouco mais tarde descobrimos a gastronomia, petiscos, pratos ou mesmo refeições completas que nos trazem um sorriso ao vê-las, tê-las na boca, saborear com calma, guardar o gosto na boca. Memória gustativa.
Uma das mais marcantes magias de minha vida foi o convite de Fernando e Laurita Frugoni para pegar o carro, cruzar todo Parque Palermo, rodar mais um tanto até chegar em San Isidro, Buenos Aires, para tomar um sorvete na La Flamínia, uma especial heladeria (sorveteria) familiar. Super Dulce de Leche com cobertura de chocolate continua sendo inesquecível mesmo passados uns 45 anos. Foi quando entendi o que pode ser um sorvete de massa.
São Paulo sempre foi uma cidade complicada para sorvetes. Tivemos alguns bons, mas boa parte deles não se manteve no mercado. Um dia nos contaram que iria abrir uma sorveteria nova perto de casa. Só entramos lá uma semana depois de inaugurada. Decoração sóbria, discreta, sorvetes de ótima aparência num balcão envidraçado. Fomos atendidos e servidos com rara delicadeza. Quando nos entregaram o sorvete ouvimos “Bom gelato”. “Bom gelato?” Depois da primeira lambida entendemos. Bom gelato! Nossa! Bom gelato!”. Me levou à mesma magia que a muito não sentia.
O primeiro mês foi uma loucura, com gelato todos dias, de todos sabores. Acabei conhecendo os proprietários, um deles foi quem havia me servido na primeira vez. Falante, sempre faço fui dando palpites, sugestões e críticas. Fui ouvido; sei porque eles vinham conversar. Eles e Bacio di Latte cresceram muito, atrás do trabalho deles veio a concorrência, muita concorrência, algumas desapareceram, e eles continuaram crescendo, rápido. Com um detalhe: nunca fizeram comunicação ou propaganda, foi no boca a boca. Pena é víamos cada vez menos os proprietários, mas a comunicação continuou igual com os funcionários, ótimos, muitos saídos do zero. A formação que a Bacio di Latte dá para os funcionários é exemplar. O atendimento não mudou em nada, continua de uma delicadeza, uma qualidade rara de encontrar no Brasil, muito rara.
Um dia entregaram um pacote com uma caixa em couro só com um discreto Bacio di Latte estampado na tampa. Dentro um cartão de prata com Bacio di Latte e meu nome em baixo relevo, junto de uma delicada carta de agradecimento pela ajuda que havíamos dado, eu e Tereza. E que aquele cartão me dava o direito a três meses de consumo em qualquer das casas da Bacio di Latte. "Como assim?" Passei a carta para Tereza que leu e repetiu o que eu tinha lido: o cartão é um agradecimento e estão dando três meses de consumo grátis para você e todos seus convidados em qualquer loja. Verdade? Muito mais que o presente em quantos gelatos, cafés, tortas e outros mais eu quiser, o que me sensibilizou foi o reconhecimento da tentativa de ajudar, para mim uma homenagem que espero merecida. Como cidadão brasileiro gostaria que exemplos como este fossem regra. Ajudar quem quer que seja a construir bons resultados é cidadania. Essencial.
Uma das mais marcantes magias de minha vida foi o convite de Fernando e Laurita Frugoni para pegar o carro, cruzar todo Parque Palermo, rodar mais um tanto até chegar em San Isidro, Buenos Aires, para tomar um sorvete na La Flamínia, uma especial heladeria (sorveteria) familiar. Super Dulce de Leche com cobertura de chocolate continua sendo inesquecível mesmo passados uns 45 anos. Foi quando entendi o que pode ser um sorvete de massa.
São Paulo sempre foi uma cidade complicada para sorvetes. Tivemos alguns bons, mas boa parte deles não se manteve no mercado. Um dia nos contaram que iria abrir uma sorveteria nova perto de casa. Só entramos lá uma semana depois de inaugurada. Decoração sóbria, discreta, sorvetes de ótima aparência num balcão envidraçado. Fomos atendidos e servidos com rara delicadeza. Quando nos entregaram o sorvete ouvimos “Bom gelato”. “Bom gelato?” Depois da primeira lambida entendemos. Bom gelato! Nossa! Bom gelato!”. Me levou à mesma magia que a muito não sentia.
O primeiro mês foi uma loucura, com gelato todos dias, de todos sabores. Acabei conhecendo os proprietários, um deles foi quem havia me servido na primeira vez. Falante, sempre faço fui dando palpites, sugestões e críticas. Fui ouvido; sei porque eles vinham conversar. Eles e Bacio di Latte cresceram muito, atrás do trabalho deles veio a concorrência, muita concorrência, algumas desapareceram, e eles continuaram crescendo, rápido. Com um detalhe: nunca fizeram comunicação ou propaganda, foi no boca a boca. Pena é víamos cada vez menos os proprietários, mas a comunicação continuou igual com os funcionários, ótimos, muitos saídos do zero. A formação que a Bacio di Latte dá para os funcionários é exemplar. O atendimento não mudou em nada, continua de uma delicadeza, uma qualidade rara de encontrar no Brasil, muito rara.
Um dia entregaram um pacote com uma caixa em couro só com um discreto Bacio di Latte estampado na tampa. Dentro um cartão de prata com Bacio di Latte e meu nome em baixo relevo, junto de uma delicada carta de agradecimento pela ajuda que havíamos dado, eu e Tereza. E que aquele cartão me dava o direito a três meses de consumo em qualquer das casas da Bacio di Latte. "Como assim?" Passei a carta para Tereza que leu e repetiu o que eu tinha lido: o cartão é um agradecimento e estão dando três meses de consumo grátis para você e todos seus convidados em qualquer loja. Verdade? Muito mais que o presente em quantos gelatos, cafés, tortas e outros mais eu quiser, o que me sensibilizou foi o reconhecimento da tentativa de ajudar, para mim uma homenagem que espero merecida. Como cidadão brasileiro gostaria que exemplos como este fossem regra. Ajudar quem quer que seja a construir bons resultados é cidadania. Essencial.
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