terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Rota Márcia Prado 2012 - outra história


 
Domingo fiz os 100 km de pedal da Rota Márcia Prado, a descida de São Paulo para Santos pela via Grajau, Bororé, estrada de manutenção da Imigrantes, Bairros Cota e Cubatão. Novamente adorei. Sai às 6:08 h da Ponte Cidade Universitária, praticamente uma hora antes da largada oficial, que aconteceu na entrada Vila Olímpia da Ciclovia Pinheiros, já havia uma massa de ciclistas circulando e pegando o trem da CPTM para Grajau, o segundo ponto de partida. A largada oficial foi dada às 7:00 h na patética entrada Vila Olímpia da Ciclovia Pinheiros, que virou um festivo caos.

Mais de 7.200 inscritos pela Internet, na CicloBr.org.br, já é uma quantidade de ciclistas notável; mas a divulgação boca a boca apontava para números que chegaram a assustar. Quantos iriam? 10.000? mais? Ninguém sabe ao certo quantos foram, mas mesmo com um tempo esquisito e chuvoso a conta fecha para lá dos 8.000.

Eu cruzei a primeira balsa, de Bororé, em uns 30 minutos, se tanto, mas teve gente que demorou 4 horas para cruzar. Quando cheguei na Imigrantes, lá pelas 11:00 h, conversei com os Policiais Rodoviários, que afirmaram que naquele momento já tinha passado muito mais gente que no ano passado. Vale a pena ver as fotos do Willian Cruz no Facebook, que fez o fechamento do passeio e comparar com as minhas, do início. Fácil entender o tamanho da brincadeira: exatamente às 19:30h, quando passamos a Serra do Mar de volta para São Paulo ainda tinha muita gente pedalando na estrada de manutenção. Simples.

Pessoalmente gostaria de ver o circo pegando fogo. Com a Ciclo Faixa de Domingo e outras iniciativas abriram a caixa de pandora da diversão e hoje tem muita gente que sabe que consegue pedalar com facilidade até grandes distâncias. Perderam o medo e descobriram que “fazer loucuras” não tem nada de loucura, de sair por ai de bicicleta, muito perlo contrário, é muito bom para a alma e não em preço. Se não acabou a mentira de que “bicicleta não existe” ou “é perigosa”, deu-se um salto imenso no sentido contrário.

Um passeio destes destrói paradigmas negativos sobre a bicicleta e cria demandas que deveriam ter sido resolvidas a muito pelo poder público, o que obviamente também não será atendido amanha nem depois de amanha. Sabe lá Deus quando a absurda lentidão da coisa pública conseguirá fazer sua parte e quais serão as consequências. Se com chuva juntou esta massa para a aventura e diminuiu sensivelmente o número de ciclistas na Ciclo Faixa de Domingo, imagine se tivesse feito tempo legal... Se o evento mais que dobrou do ano passado, o que acontecerá nos próximos anos? Pior, o pessoal que experimentou e gostou provavelmente não vai mais ficar sujeito à programação oficial dos fins de semana e, pior ainda, vai ‘incitar’ os novatos. Situação deliciosamente perigosa.  

Como já disse, quem organizou foi a CicloBr.org.br, que fez um ótimo trabalho, principalmente em se tratando de voluntariado. Que inveja eu tenho desta nova geração de ciclo-ativistas... Houveram pouquíssimos incidentes e acidentes, principalmente dadas as condições.

Prefeitura de São Paulo e Governo do Estado deveriam estar mais atentos e presentes. Não cabe mais não vi para não me responsabilizar. É lógico que Guarda Florestal, PM, Polícia Rodoviária estavam lá e fizeram um ótimo trabalho, mas a dimensão do que aconteceu, e todo mundo sabia que iria acontecer, demanda muito mais. Por exemplo: não dá mais para negar que os ciclistas descem o ano inteiro pela estrada de manutenção, portanto é ridículo não sinaliza-la oficialmente, principalmente no dia do evento. Enfim, a burrice está nos estertores finais da negação da existência da bicicleta e ciclistas, que existiam muito antes destes eventos e daqui para frente tende a existir muito mais. Ser burro é uma coisa; agora ser burro, estúpido, cego, surdo e  mudo é outra (sem ofensa aos burros, que são quadrupedes bem inteligentes).

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Rota Márcia Prado 2012

Eu sai da Ponte Cidade Universitária às 6h08m para evitar o tumulto que vei atrás, dai aparente pequeno de ciclistas na Rota Márcia Prado. Mesmo assim, quando cheguei na Rodovia dos Imigrantes os policiais rodoviários já diziam que tinha muito mais ciclista que no ano passado.
É um passeio maravilhoso, obrigatório, um espécie de rito de passagem para quem pedala.


Primeira balsa: eu ainda passei rápido. Quem chegou depois enfrentou uma espera cada vez maior, que acabou chegando a 4 horas.


Primeira balsa


Da primeira balsa, deixando São Paulo para trás


Estrada de Bororé: entre balsas

Saída da segunda balsa

Rodovia congestionada para os carros e com um policiamento amigável para as bicicletas...

apesar dos absurdos cometidos por vários ciclistas que vieram pedalando pela rodovia

Alça de ligação Imigrantes - Anchieta

passando por baixo da Imigrantes, com névoa e piso bem escorregadio

Chegada no posto de fiscalização antes de iniciar a descida da estrada de manutenção.

Lá em baixo é possível ver a fila para conferir a inscrição e checar a bicicleta, tudo feito com calma, ordem e muita educação do pessoal da CicloBr. As notas erradas foram tocadas por uns raros ciclistas que se sentem melhores que os outros. Pobres infelizes...

Nunca mostro minha cara, mas vale como exemplo que como estava o espírito geral do povo

Vistas maravilhosas é o que não falta. Isto ajuda a segurar o pessoal e fazê-los descer mais devagar. O piso estava realmente muito escorregadio, até dentro da "faixa de segurança", o meio da estradinha

O barato é sentir que você está completamente livre e se divertindo uma barbaridade e lá em cima o trânsito está quase parado, cheio de mal humorados...

Uma das cachoeiras e ponto de culto de umbanda, infelizmente muito descuidado.



Já em Cubatão, pedalando no pé da serra. Este é o canal que traz as águas da Usina Henry Borden, que fica no topo da serra, na Represa Billings

Petrobras, que de automóvel se vê ao pé da Serra do Mar, entre a Anchieta e a Estrada Velha

o mesmo da anterior, mas voltado para a Anchieta.
E a partir daqui a máquina não aguentou a chuva e parou de funcionar...

Sai exatamente às 6h08m e cheguei em Santos às 14h00m, como já disse, com um poucos (?) ciclistas descendo (só alguns milhares). No dia anterior tive medo de não conseguir terminar ou chegar moído. Muitíssimo pelo contrário. O entusiasmo leva a gente para frente. Hoje continuo ótimo, no alto de meus 57. Se o veínho foi...

Infelizmente soube, a confirmar, do tombo de meu amigo Ton (a esqueda da foto "Da primeira balsa, deixando São Paulo para trás" com capacete azul, no fundo da balsa) que 'parece' acabou quebrando as mãos. Melhoras, meu caro. Houveram muitos outros tombos, normais numa situação daquelas. Foi avisado pela organização antes e na hora do controle. Há alguma sinalização e nos pontos críticos estava alguém da organização sinalizando. Tem que ser complementada e oficializada. Não dá mais para negar os ciclistas que passam por ali o ano todo.
Infelizmente houveram bicicletas roubadas, umas poucas, apesar dos PMs circulando por lá. Infelizmente, neste Brasil do nunca antes, é uma situação que é dificílima de controlar; até por que de repente consideram politicamente incorreto evitar esta distribuição de renda ciclística...

Obrigado a Polícia Rodoviária, PM e Polícia Florestal pela presença e ajuda. Em um outro texto comento melhor

Parabéns ao CicloBr pelo belíssimo trabalho de organização. Parabéns mesmo
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

falar, repetir, repetir... sem eco

Passei pelo menos uns 20 anos batendo de frente com todo mundo aqui no Brasil porque sai afirmando que ciclovia não trás segurança total para o ciclista. Repetindo sempre o mesmo discurso: simples, não existe ciclovia sem cruzamentos e a maioria dos acidentes ocorre justamente nos cruzamentos. Isolar completamente o ciclista do trânsito motorizado, o que é absolutamente impossível, não é recomendável porque faz o ciclista invisível para o trânsito motorizado. O questionamento sobre a segurança de pedalar em ciclovia não para por ai.

No fim de uma de minhas palestras veio um holandês elogiar minhas críticas e fazer uma correção: “Você esqueceu uma coisa”. E fez uma breve pausa. “Acontecem muito acidentes (colisões) entre ciclistas que circulam na ciclovia”. Alguns acidentes entre ciclistas são mais graves que colisão contra um automóvel que esteja na mesma velocidade de uma bicicleta. Carros tem a frente projetada para reduzir ferimentos em pedestres e ciclistas, enquanto uma bicicleta é pontiaguda, o que machuca muito no caso de colisão, principalmente frontal.
O que propunha na época era a construção de um sistema cicloviário completo, que incluísse toda e qualquer opção que pudesse realmente dar segurança e conforto para o ciclista. O centro da ideia era tirar os ciclistas das vias e cruzamentos mais perigosos e fazê-los descobrir o bairro, as alternativas, os caminhos não motorizados, o prazer de pedalar numa dinâmica de espaço e tempo completamente diferente da sociedade do automóvel. Difícil!

Provavelmente a forma de meu discurso também atrapalhou. “Quem não se comunica se trumbica” já dizia Chacrinha, um dos melhores apresentadores da história da TV brasileira. Passar o recado completo e inequívoco é comunicar-se. O resto é soltar o verbo. Ser direto, claro e sem rodeios. Infelizmente não é exatamente meu estilo. Mesmo assim... dava para entender.
Enfim, mais de 30 anos repetindo a mesma coisa praticamente sem qualquer eco. Nunca houve grande novidade em minhas palavras. Eram fáceis de comprovar. Eu simplesmente li textos e documentos internacionais, pensei um pouco e fiz algumas adaptações baseadas na cultura brasileira. Mesmo que minha comunicação tenha sido errada, o que espanta é falta de curiosidade em ir atrás de uma informação diferente da corrente. O pior foi e continua sendo a relação com a imprensa, que tem por princípio ético e moral a obrigação de investigar e não o faz, não cruza informação, não lê, não busca novas fontes, não é capaz de pensar horizontal.

Estou escrevendo estas linhas porque depois de mais 30 anos de interação com a imprensa pela primeira vez um jornalista, Carlos do Valle, do Jornal da Tarde, (O Estado de São Paulo, C8 | Cidades/Metropole | Domingo, 08 de Outubro de 2012 – O Estado de São Paulo Caio do Valle – JORNAL DA TARDE (link no final do texto)) agradeceu os comentários e críticas que fiz a sua matéria, mostrando interesse em pontos de vista novos. Senhores, mais de 30 anos para isto acontecer. Confesso que tive um dos maiores acessos de choro de minha vida, não sei bem se de alegria ou de depressão pela surdez geral brasileira. Definitivamente não sou dono da verdade, que o tempo faz camaleoa. Mas adoraria deixar de ouvir que somos o país do futuro – que nunca chega.

Pedalando na ciclovia Faria Lima me sinto feliz. Mudou tudo; a cidade, o número de pessoas nas ruas, a quantidade de carros e bicicletas circulando. As ciclovias de canteiro central, contra as quais lutei, hoje são uma boa opção, até mesmo por que praticamente não há outra. Só espero que os ciclistas se deem conta que para ter a ciclovia ali boa parte do verde da avenida desapareceu. Eu preferia o verde. Há outras alternativas. Espero também que não se caia na mesma barbárie da decadente sociedade do automóvel que para abrir novos caminhos passaram por cima da razão e bom senso. Bicicletas devem construir uma cidade nova, não seguir as trilhas dos pneus da devastação. Para que isto não aconteça é necessário ter a mente aberta. Nem burro gosta de tapa olho e cabresto.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Bang bang anuncia a festa

Bang bang! Nós estamos mortos.

Na padaria do supermercado é necessário pagar o pão num caixa instalado na própria padaria, que fica no meio de todas outras mercadorias, longe das portas e caixas. Tiveram que fazer assim por que há muita gente que come tudo entre a padaria e o caixa, joga o saco fora e não paga. Outro dia estava o gerente ali e começamos a conversar. “Porque não levam para a Delegacia os que não pagam? Quanto são? Uns 20%; 30% ?” Ele continuou arrumando a prateleira até tomar folego para a resposta. Levantou-se e disse com uma infeliz calma: “Esta padaria fazia R$ 20,00 reais por dia. Hoje, quando faz pouco, faz R$ 1.200,00”.

O “assalto” da moto na av. dos Bandeirantes dá bem o tom dos dias de hoje. O casal para no semáforo com sua supermoto zero; vem dois noutra moto, anuncia o assalto, o dono da supermoto tenta fugir, toma um primeiro tiro, bate num carro que está cruzando a avenida, cai no chão com a garupa, sua mulher. E aqui começa a verdade de nosso Brasil: os assaltantes aceleram, param ao lado dos dois caídos, executam os dois no chão e vão embora. Bang bang!

Que diferença faz numa cidade que tem uns 10 mortos por noite? (Mesmo com esta crise São Paulo continua sendo dos lugares mais seguros deste país). Que diferença faz no país do nunca antes houve violência igual? Que diferença faz comer dentro do supermercado e não pagar? Belo socialismo! Meus parabéns!

Façamos justiça: Brasil sempre foi um país violento. Não é de hoje, nem culpa exclusiva dos donos do nunca antes. O que faz diferença é que o “nunca antes” é pretensão grosseira, prepotência burra, mediocridade sem fim. É um exemplo altamente destrutivo. Quais são os números do militares mesmo? Quais são os números atuais? “Quem matou mais?”, usando a pergunta que a pseudo-esquerda tanto repete.  Deprimente!

“Ao socialismo se vai em bicicleta”. Gosto de repetir sempre por que é a pura verdade. A construção de uma nova sociedade, mais justa, menos violenta, se faz usando experiências que deram certo, como a da bicicleta. Só ela resolve tudo? Obviamente não, mas a bicicleta traz consigo uma “cultura de paz”, induz a maioria dos seus usuários para o bem. Assim como o caminhar, o conviver, o falar, o respeitar...., enfim: viver e deixar viver.

No próximo domingo vai acontecer a Rota Márcia Prado 2012 e uma multidão vai descer pedalando para Santos. Já deve ter algo próximo a 6 mil inscritos. Eu torço para que chegue aos 10 mil ou mais. Que seja o caos. Abriram a caixa de pandora, pois que aguentem com as consequências. Não acho responsável mudar da água poluída para a cachaça do dia para noite, por que a festa vai descambar para o pó, ou as pedras, a escolha. Mas se  caixa de pandora da liberdade está aberta, vamos nesta.

Felicidade coletiva é a melhor coisa do mundo, mesmo que se tenha que passar por cima de uma série de leis que vão contra. Das mais variadas, mas vide o Código de Trânsito Brasileiro, que lendo calmamente mostra seu lado “código de trânsito para fluidez de veículos em vias”. Ups! Esqueceram do resto: pedestres, ciclistas e deficientes? Não esqueceram, mas... , pegaria mal. Amassa capô. Que chato!

Que seja! O medo de muitos que vão participar da Rota Márcia Prado é a passagem pela estrada de manutenção, onde sempre há assaltantes. Sim, eles estão lá faz tempo e como ninguém faz absolutamente nada lá ficarão. Espero que ninguém tome tiros. Talvez algumas bicicletas sejam roubadas, mas faz parte. Sempre há o nunca antes. Parafraseando o Maluf, aquele que apoiou o Haddad lado a lado com o também honestíssimo Lula: “roubar pode, mas matar não”.

Bang bang!

Veja o Roda Viva com o Claudio Beato - Professor da UFMG. Coordenador do CRISP - Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública. Imperdível e de arrepiar:
http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/claudio-beato

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Rota Marcia Prado 2012

Mesmo estando meio fora de combate devo participar da Rota Márcia Prado 2012. Tomem como um rito de iniciação - ao prazer de pedalar grandes e lindas distâncias. Vale cada metro. Paticipem.
Mais informações e inscrição em: http://www.ciclobr.org.br/noticias/4o-passeio-cicloturistico-rota-marcia-prado.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Políticas públicas para além de um mandato

Qualidade! Este deveria ser a meta de toda e qualquer política pública porque não há outra forma. Qualidade estabelece a perenidade. Como imaginar que se vai conseguir qualidade quando ainda é necessário um carimbo para validar um documento? Como se pode acreditar em seriedade quando a placa lapidar: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar – Lei Estadual nº 9502/97” nos é esfregada na cara? Ironia do destino a lei de Licitação tem por número 8.666; ou seja infinito (8) apocalipse (666). A piada fica mais sem graça quando se observa os resultados desta lei que em teoria é bem intencionada.
O povo brasileiro sabe o que quer; é muito mais esperto e inteligente do que nós todos, ‘zelites’ de todas classes sociais pensantes e econômicas, acreditamos que seja. A prova está nos resultados desta eleição, que prova que o povo sabe bem distinguir falácia de realidade, esmola de futuro, e outras mais.  
Projeto político não é política pública. Muito menos vontade pessoal. Quem se outorga o direito de ser o dono da política pública precisa de um psiquiatra para cuidar do ego e também do alter-ego. Ou precisa de uns anos de cadeia. Provavelmente a última.
Infelizmente passamos mais esta campanha sem uma discussão minimamente séria sobre propostas e projetos. As pinceladas de bravata dadas por todos partidos são publicidade enganosa, que tem que ser feita ou não se recebe voto. Quem é o verdadeiro culpado? Quem engana ou quem sabe que é enganado e gosta? Eu responsabilizo quem elege.
Thiago Benicchio respondeu a uma pergunta minha dizendo que a nova geração vive de mudanças contínuas e cada vez mais rápidas. Digite duas palavras e coloque uma foto e você faz parte do agito. Como construir políticas públicas num terreno de inconstâncias tão rápidas e fugazes?
Políticas públicas de verdade, eficazes, perenes, deve ser calçadas em bases mais sólidas possível. Como construir uma política pública para um setor tão primário, precário, imaturo, onde o elemento básico, essencial, a bicicleta, quebra, arrebenta, machuca e mata com frequência por simples falta de qualidade? Qual é o ponto de partida então?
O complica o futuro da economia do Brasil é que o setor da indústria automobilista já apresenta sinais de saturação, ou até mais que isto, e o da construção civil vai entrar num processo de desaceleração irreversível. São boas notícias, pelo menos para o futuro da bicicleta. Para o resto quem viver verá. A questão agora é os interessados na bicicleta aprender a comer pelas bordas – com inteligência. E isto se dá quando há qualidade na mastigação, degustação, digestão e defecação. Hoje a papinha nos é jogada na cara. Nos lambuzamos e emporcalhados aceitamos felizes. Triste
Vale a leitura deste trabalho sobre Políticas Públicas:  http://www.fit.br/home/link/texto/politicas_publicas.pdf

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Opção pela dignidade

O Estado de São Paulo
Fórum do Leitor:


Entra no supermercado um homem jovem, vestido com roupas simples e bem postas, vem até o caixa onde estou e diz para a caixa: “Quero pegar um brinquedo para uma criança e não posso pagar”. A caixa olha para ele e explica com calma e delicadeza que “Isto é um supermercado, não uma entidade social, e para o senhor levar terá que pagar”. E a resposta do homem vem direta e sem contornos: “Sou pobre, favelado e tenho direito (de pegar e não pagar)”. A caixa, agora com espanto, educadamente repete o que já havia dito, e o homem dá a volta e se vai. Se sucedem com uma triste frequência histórias reais de estudantes e trabalhadores não comprometidos, irresponsáveis, arrogantes. O Brasil é a cada dia mais violento, brutal, socialmente desajustado. Este é o Brasil do nunca antes de Lula, da construção de um populismo vulgar e barato que se utiliza da fraqueza sem escrúpulos.

 O discurso do “sou pobre e tenho direito” é a desconstrução desrespeitosa da história de cada um de nós e deste país. Partir do zero e se fazer é lugar comum à história desta brava gente brasileira. O que guiou a todos estes foi dignidade, responsabilidade, retidão, tentar fazer o melhor de si, construir um futuro melhor. Ou seja: uma forte determinação. “Sou pobre e tenho direito” pode parecer lógico e justo para os ingênuos, mas é corrosivo, devastador para a construção de qualquer espírito vencedor. O Brasil que vem desconstruindo a pobreza antecede décadas a Lula e sua pseudo esquerda inconsequente e oportunista. É desonesto negar a história.

Ordem e Progresso. Leia-se “direitos, deveres e responsabilidade para Ordem; e seriedade e qualidade de trabalho para Progresso”. Sem isto não existe equilíbrio social. Aliás, sem isto não sobrevive um país.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Brasil Cycle Fair 2012 e a nova preocupação do setor

Hoje é o último dia da Brasil Cycle Fair que acontece no Centro de Exposições Imigrantes. É também o único dia aberto ao público, só a partir de 18 horas. A feira é voltada para o próprio setor, distribuidores e lojistas, principalmente no que se refere ao topo de linha. No material distribuído pela assessoria de imprensa da feira está que “o objetivo (é) de reunir o mercado brasileiro de bicicletas e torna-lo único”. São “400 marcas expostas..., importadores, fabricantes, indústrias e distribuidores”. É, sem dúvida, uma feira significativa, a melhor que presenciei. Mas falta ao setor dar um passo além e ter as duas feiras, esta e a que ocorreu no Center Norte, juntas. Vai ser complicado para boa parte dos fabricantes nacionais porque há um abismo de qualidade entre as nacionais e importadas.
Na feira ouvi de várias pessoas uma conversa assustadora para a bicicleta no Brasil. Está em andamento a criação de uma obrigatoriedade de certificação de toda e qualquer peça, componente e bicicletas, incluindo acessórios, pelo padrão IMETRO, o que pode complicar mais ainda todo o setor, em especial a vida dos importadores. A questão é a forma como querem fazer esta certificação, num processo nada prático e caro, bem brasileiro. Como praticamente não há como fazer testes e certificar aqui no Brasil, o processo terá que ser realizado no país de origem, nas fábricas. Todas as fontes falaram a mesma língua e a preocupação com o futuro é muito grande. A intenção inicial da certificação teria sido frear produtos de procedência para lá de duvidosa e de baixíssima qualidade, o que procede. Tudo indica que a boa intenção está prestes a virar um monstro em nome da proteção da indústria nacional. Conhecendo bem a história recente do aumento do imposto sobre as importadas para 35%, dá para imaginar um interessado em especial numa certificação bem burocrática, demorada, e principalmente cara. Ou é coisa do país de nunca mais. Ou os dois juntos. Vai saber. O fato é que mesmo com o aumento do custo final das importadas as vendas continuaram a crescer, o que aponta a desconfiança dos consumidores com o produto nacional, procedente aliás. O triste é que os nacionais não se dão conta que tem que melhorar a qualidade geral ou não haverá o que vá parar o crescimento das importadas. E mais triste ainda é a falta de interesse do Governo Federal em fazer um plano de reestruturação do setor da bicicleta no Brasil. Morre muita gente por falta de qualidade das bicicletas básicas vendidas no mercado, o que responde por 95% do mercado (se não for mais).
Um dos expositores disse que a saída é fazer como se faz com motos: produtos de qualidade comprovada no mercado internacional não precisariam passar pela besteirada. Do contrário um pneu, por exemplo, dos que são usados no Tour de France, Giro d’Italia, Vuelta de España, e outras, vai ter que vir com um selo do IMETRO, ou não entra no Brasil, o que só pode ser piada. Faz lembrar que na época dos militares alguém inventou que bicicletas de competição (na época só existiam as de estrada) eram feitas de um aço especial (cromo-molibdênio) que se derretido poderia se transformar em armas para terroristas. Risível. Uma bicicleta de ponta custava mais que um carregamento de armas. Só algumas pessoas conseguiam entrar com as bicicletas, normalmente amigos do então oligopólio. Felizmente depois de certo tempo a Polícia Federal passou a ter bom senso e a história da bicicleta no Brasil deu um imenso salto adiante. Infelizmente ainda tem gente que pensa como então.
Felizmente a questão da qualidade virou realidade. O melhor exemplo é trabalho fantástico de treinamento de mecânicos que está sendo realizado pelo Shimano, que tem reflexos imediatos nos procedimentos das bicicletarias que fizeram o curso. Eu, pessoalmente, fico muito feliz porque gritei quanto pude pela qualidade. Lembro o começo da Specialized aqui no Brasil onde o cuidado com todos detalhes era orientação da matriz e norma dos irmãos Dranger, então responsáveis pela marca. Na época assustava. Sim, boa qualidade já assustou muita gente.
Na feira eu só olhei as bicicletas de transporte, que aos poucos ganham um espaço cada dia mais significativo. Ótimo para as cidades. 


sábado, 13 de outubro de 2012

A circulação de pedestres em obras (Operação Urbana Faria Lima)

O Estado de São Paulo
São Paulo Reclama:


Moro no meio das obras da Operação Urbana Faria Lima, em Pinheiros. Chama a atenção o descuido geral com os pedestres. É grande a área onde se está aterrando fios e cabos, reconstruindo o sistema de águas pluviais e trocando todo pavimento, o que será ótimo para o bairro. Isto fez com que os caminhos da massa que ali circula fossem alterados, o que é natural numa obra deste porte. Mas isto não justifica alguns descuidos, até desrespeitosos, com quem por ali passa. Não acredito que exista acompanhamento de um especialista em circulação de pedestres que conheça o andamento das obras e com isto vá facilitando a circulação geral. Cuidados pouco onerosos com pequenos detalhes, começando pela limpeza, fariam grande diferença. Pedestres que passam pela obra e não podem ser obrigados a ficar sujos como um operário.

É necessário que a cidade de São Paulo tenha lei ou código (e consequente fiscalização) que obrigue a manutenção da qualidade de circulação de todos, em qualquer situação. Pouco cuidado com o pedestre e principalmente com pessoas com deficiência de mobilidade não é exclusividade de obras. Muito pelo contrário.

Infelizmente não se compreendeu ainda (o óbvio) que pedestres buscam sempre um caminho natural, normalmente o mais curto, e que lutar contra este instinto é tarefa difícil e, dependendo da situação, até mesmo impossível. Se não houver sensibilidade e inteligência no conduzir a massa é praticamente certo que algo irá acabar estragado, o que frequentemente acontece.

Também é triste ver a falta de esmero nos trabalhos, seja por conhecimento tosco do que está sendo executado ou por puro desdém ao bem comum.
 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Braz Leme e o burro com a cenoura


Não sei se já terminaram ou não, mas a mais nova ciclovia da cidade, a Braz Leme, é bem divertida. Teoricamente é uma ciclovia para todo uso e não somente para lazer, mas de qualquer forma é bem divertida. Quem tem o prazer de pedalar com técnica vai ter ali a possibilidade de se exercitar entre árvores, quase um verdadeiro single track de mountain bike. E, tal qual, se tiver o azar de pegar um ciclista lento ou uma criança à frente não vai poder ultrapassar por que é exatamente como no meio de uma picada de mata; muito estreito. Pode ser também um ótimo treino de pelotão, ou de paciência, como queira. Mesmo nos trechos em linha reta a ciclovia é bem estreita, um pouco mais larga que o guidão. Talvez seja igual a tantas outras, mas é ‘pertada’.
Para quem trabalha com projeto cicloviário a diversão vai mais longe, na direção do “rir para não chorar”. Que maldita mania temos de aceitar receber da Prefeitura inacabadas! É profundamente triste ver que todos nós, brasileiros deste país do nunca antes, perdemos a noção de qualidade e responsabilidade civil. Será possível que o que está lá é considerado obra entregue? Falta guia rebaixada; sinalização horizontal e vertical, principalmente nos cruzamentos com pedestres; falta plantar gramado num barranco que foi cortado (muito importante); orientação para quem entra e saí da ciclovia... Será que o projeto e sua execução teve participação de alguém que pedala? Duvido.
O que é muito bacana é que, para ser implantada, a ciclovia Braz Leme teve que roubar um pedaço da faixa esquerda de rolamento da av. Braz Leme, exatamente numa curva de alta velocidade e onde há uma série de guias rebaixadas para grandes negócios. Ótima novidade para a cidade. Vale comemorar a coragem? Espero que sim. Bom, enfim, o que é considerado técnica de mudança de geometria de via trivial até em Marte aqui, no “precisamos ver a segurança do ciclista (e pedestre)”, não é tão fácil de ser aceito . “Nossa realidade é outra” (sic). Sim, sim, de fato...; principalmente no que diz respeito a preservar o próprio emprego.
Infelizmente o que ainda temos é um minhocário e não um sistema cicloviário, sensato e integrado. Cada melhoria é bem vinda, de preferência bem feita. Como vivo repetindo: a situação atual não é responsabilidade só da Prefeitura, que é um prestador de serviços para a população. Quando só um grupelho reivindica ou reclama é porque a maioria está satisfeita.