terça-feira, 16 de outubro de 2012

Brasil Cycle Fair 2012 e a nova preocupação do setor

Hoje é o último dia da Brasil Cycle Fair que acontece no Centro de Exposições Imigrantes. É também o único dia aberto ao público, só a partir de 18 horas. A feira é voltada para o próprio setor, distribuidores e lojistas, principalmente no que se refere ao topo de linha. No material distribuído pela assessoria de imprensa da feira está que “o objetivo (é) de reunir o mercado brasileiro de bicicletas e torna-lo único”. São “400 marcas expostas..., importadores, fabricantes, indústrias e distribuidores”. É, sem dúvida, uma feira significativa, a melhor que presenciei. Mas falta ao setor dar um passo além e ter as duas feiras, esta e a que ocorreu no Center Norte, juntas. Vai ser complicado para boa parte dos fabricantes nacionais porque há um abismo de qualidade entre as nacionais e importadas.
Na feira ouvi de várias pessoas uma conversa assustadora para a bicicleta no Brasil. Está em andamento a criação de uma obrigatoriedade de certificação de toda e qualquer peça, componente e bicicletas, incluindo acessórios, pelo padrão IMETRO, o que pode complicar mais ainda todo o setor, em especial a vida dos importadores. A questão é a forma como querem fazer esta certificação, num processo nada prático e caro, bem brasileiro. Como praticamente não há como fazer testes e certificar aqui no Brasil, o processo terá que ser realizado no país de origem, nas fábricas. Todas as fontes falaram a mesma língua e a preocupação com o futuro é muito grande. A intenção inicial da certificação teria sido frear produtos de procedência para lá de duvidosa e de baixíssima qualidade, o que procede. Tudo indica que a boa intenção está prestes a virar um monstro em nome da proteção da indústria nacional. Conhecendo bem a história recente do aumento do imposto sobre as importadas para 35%, dá para imaginar um interessado em especial numa certificação bem burocrática, demorada, e principalmente cara. Ou é coisa do país de nunca mais. Ou os dois juntos. Vai saber. O fato é que mesmo com o aumento do custo final das importadas as vendas continuaram a crescer, o que aponta a desconfiança dos consumidores com o produto nacional, procedente aliás. O triste é que os nacionais não se dão conta que tem que melhorar a qualidade geral ou não haverá o que vá parar o crescimento das importadas. E mais triste ainda é a falta de interesse do Governo Federal em fazer um plano de reestruturação do setor da bicicleta no Brasil. Morre muita gente por falta de qualidade das bicicletas básicas vendidas no mercado, o que responde por 95% do mercado (se não for mais).
Um dos expositores disse que a saída é fazer como se faz com motos: produtos de qualidade comprovada no mercado internacional não precisariam passar pela besteirada. Do contrário um pneu, por exemplo, dos que são usados no Tour de France, Giro d’Italia, Vuelta de España, e outras, vai ter que vir com um selo do IMETRO, ou não entra no Brasil, o que só pode ser piada. Faz lembrar que na época dos militares alguém inventou que bicicletas de competição (na época só existiam as de estrada) eram feitas de um aço especial (cromo-molibdênio) que se derretido poderia se transformar em armas para terroristas. Risível. Uma bicicleta de ponta custava mais que um carregamento de armas. Só algumas pessoas conseguiam entrar com as bicicletas, normalmente amigos do então oligopólio. Felizmente depois de certo tempo a Polícia Federal passou a ter bom senso e a história da bicicleta no Brasil deu um imenso salto adiante. Infelizmente ainda tem gente que pensa como então.
Felizmente a questão da qualidade virou realidade. O melhor exemplo é trabalho fantástico de treinamento de mecânicos que está sendo realizado pelo Shimano, que tem reflexos imediatos nos procedimentos das bicicletarias que fizeram o curso. Eu, pessoalmente, fico muito feliz porque gritei quanto pude pela qualidade. Lembro o começo da Specialized aqui no Brasil onde o cuidado com todos detalhes era orientação da matriz e norma dos irmãos Dranger, então responsáveis pela marca. Na época assustava. Sim, boa qualidade já assustou muita gente.
Na feira eu só olhei as bicicletas de transporte, que aos poucos ganham um espaço cada dia mais significativo. Ótimo para as cidades. 


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