O Estado de São Paulo
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C8 | Cidades/Metropole | Domingo, 08 de Outubro de 2012 – O Estado de São PauloCaio do Valle – JORNAL DA TARDE
(link no final do texto)
Os acidentes envolvendo ciclistas em São Paulo fogem a lógica aparente dos números revelados mundo afora. Algumas razões são claras, outras estão longe de ser e mais longe ainda de interessar. Ter um alto índice de acidentes em vias tranquilas, no interno de bairro, longe de vias de trânsito pesado e rápido, pode indicar razões outras que a simples colisão entre ciclistas e automóveis ou motos. Para quem conhece bem a questão da bicicleta no Brasil é fácil de imaginar.
Infelizmente não há no Brasil um perito técnico especializado em acidentes envolvendo bicicletas, assim como não há legista especializado em ciclistas. Este seria o estágio zero para ter acesso a realidade, mas tudo indica que não temos sequer uma estrutura adequada para fazer perícia de qualidade em acidentes com veículos motorizados. Perícia é pesquisa, e pesquisa infelizmente não é o forte do Brasil porque custa e é invisível. É comum que a cena do crime ou acidente não seja preservada... Acidentes ocorrem por uma série de fatores diretos e indiretos. Os diretos costumam ser óbvios. Os indiretos, felizmente para alguns, ainda passam batidos.
Crê quem quer que placa de trânsito 30km/h faz uma rua calma. A placa está lá, é oficial; se houver acidente a responsabilidade não é mais da autoridade de trânsito. O mesmo se não houver placa alguma, porque está no CTB. Acalma-se ruas ou bairros pela mudança de geometria de suas esquinas e cruzamentos, o que até pouco tempo foi considerada medida duvidosa e temerária, apesar da eficiência comprovada em todas as partes do mundo e pela ciência física pura. Terá a fluidez alguma influência nesta visão peculiar? Com o traçado urbano da periferia não será interessante não retardar o trânsito de passagem? Como a autoridade da fiscalização do trânsito está dividida entre a CET e a Polícia Militar, fica difícil controlar qualquer situação anormal. Quem manda naquela situação?
Não se fala em declividade, sinalização inapropriada ou que induz a erros, interferências visuais, uso de celular, fones de ouvido... A foto de Nilton Fukuda (AE) publicada na matéria mostra uma topografia bem acidentada e buracos. A maioria das bicicletas básicas vendidas no Brasil tem uma qualidade geral muito precária, principalmente no que diz respeito aos freios, aros e pneus. Nunca se fala sobre falta de freio, baixa qualidade da bicicleta, imenso mercado informal de bicicletas montadas zero km...
Mas o texto cita “o perigo aumenta depois do anoitecer (Prof. Celso Franco Peixoto, FEI)”, mas não cita que bicicletas de produção nacional vêm ou sem refletores (obrigatórios pelo CTB) ou com refletores de péssima qualidade que logo estarão perdidos ou caídos no asfalto; e por isto mesmo não são instalados nas bicicletarias.
O problema da bicicleta no trânsito, e dos consequentes acidentes, é consequência de uma série de detalhes, cujo pior é a ignorância sobre o que realmente está acontecendo. Minimizar as razões para quatro ou cinco causas é extremamente interessante para manter o status quo (e alguns empregos).
Integra da matéria do Estadão.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,14-dos-ciclistas-morre-em-vias-calmas-,941481,0.htm
E um agradecimento especial ao Caio do Valle, responsável pela matéria, que se torna o primeiro jornalista (em mais de 30 anos de ativismo) a responder um texto meu sobre bicicletas e ciclistas, mostrando compreensão e interesse por meus pontos de vista.
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