segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

passeio para Santos na Rota Márcia Prado

Por diversas razões não fiz o basicão do pedal de minha geração: não pedalei a Rio - Santos, não desci para Santos, não fui para Aparecida, e outras pedaladas bem básicas. Das que ainda tenho vontade provavelmente a descida para Santos é a campeã dos desejos. Pelo menos era.
Quando anunciaram a descida para Santos na rota Márcia Prado eu sabia que era “a” oportunidade. E a ansiedade acelera a imaginação. Fiquei sonhando com um grupo grande de ciclistas saindo lá do Terminal Grajaú, cruzando ruas como povo a olhar, pegando as duas balsas de Bororé, outro local onde sempre quis pedalar, entrando na Imigrantes próximo da ponte da Represa Billings, sendo acompanhado pela Polícia Rodoviária, invadindo a estrada de serviço, e já na Baixada entrando na Anchieta para terminar em Santos. Haja gerúndio! Fosse isto teria sido uma maravilha. Teria..., mas foi incrivelmente melhor.

Desde já agradeço ao bom amigo Marcelo Mig que me lembrou da oportunidade. Provavelmente esta cabeça despirocada teria esquecido, passado batido e eu teria mais uma vez perdido uma oportunidade. Ou mais que isto, um momento histórico absolutamente inesquecível, maravilhoso para quem luta a tanto pela bicicleta e os ciclistas. A minha cabeça é muito mal resolvida para certas coisas, principalmente as de lazer, que só neste exato momento em que digito este texto me caiu a fixa do que significava o lembrete “Santos” apitado e marcado em meu celular; o qual abri, li, reli, olhei, olhei, pensei, pensei e não consegui fazer a mínima idéia sobre o que se tratava, mesmo tendo aparecido no dia anterior ao passeio. Este é o Arturo! Fico bravo comigo mesmo, agradeço aos amigos que lembram e peço desculpas aos que falto.

Embarquei lá pelas 6h30m aqui na CPTM Pinheiros. Pensei que ia dar chateação, mas, pelo contrário, os funcionários da linha foram atenciosos e não criaram o menor problema com a bicicleta. Atenciosos sempre são, mas cumprem ordens e normalmente freiam as bicicletas em dias que não seja domingo. Fui encaminhado para a última porta do último vagão e lá já havia 3 ciclistas encostados no fundo. O dia lá fora estava lindo, auspicioso. Comecei a ver que a coisa iria ser um pouco maior do que minha ansiosa imaginação antevia. Algumas estações à frente entraram mais 4 e vimos vários esperando amigos. Quando desembarcamos no Terminal Grajaú tudo estava corretamente indicado por funcionários e folhas A4 impressas com imagem de Márcia pedalando de braços abertos e uma flecha. Dali até Santos foi assim. Ótimo trabalho da organização.

Boney e mais um pessoal estava na rua distribuindo folhetos com recomendações, respondendo perguntas, dando explicações, e foi só ai que fiquei sabendo que cada um saía como quisesse, em grupo ou sozinho, no horário que bem entendesse. Juntei-me a alguns amigos, Amauri e Daniel, mais um grupo que partia naquele momento e lá fomos nós, alternando companhias, todos em bom espírito e felizes, primeiro pelo cinza e feio bairro periférico de São Paulo até cruzar a primeira balsa e chegar em Bororé, onde começou a verdadeira diversão. Entre a segunda balsa e a Imigrantes pedalamos em estradinha de terra com barro fino. Coitada da bicicleta. Conheço há tempo o local, que felizmente mudou pouco e ainda está em tempo de ser tombado e transformado em estrada turística.

Ainda pedalando na terra, depois de cruzar por um micro-ônibus atolado numa subida, quase na altura de passar por baixo da Imigrantes dobramos a direita e um pouco mais a frente chegamos à bendita “escadinha” que ouvi falarem no caminho. Ela sobe até o acostamento da Imigrantes, um pouco depois do McDonalds e uns 1.000 metros antes da Interligação. Havia comentários sobre a polícia estar parando o pessoal na estrada, mas não vi nada disto. Talvez o que tenha acontecido é que teve gente que não seguiu ou não acreditou na sinalização de papel A4 e cruzou a alça de acesso para a Interligação. Dali para frente, no caminho dos carros e por dentro dos túneis a Polícia Rodoviária não permite mesmo e com toda razão. Mas há muito vi, com inveja, um pelotão de ciclistas de estrada a mil no penúltimo túnel.

Quem seguiu a sinalização entrou no Parque Estadual da Serra do Mar pela Interligação sem problema. Mais a frente, dentro da estradinha de serviço, teve que parar, preencher e assinar um termo de responsabilidade. Entregue o documento, fomos separados em grupos de 10 ciclistas, que só seguiam depois de ouvir recomendações. Um pouco a frente Pasqualini fazia o pessoal parar novamente e reforçava as recomendações.

Infelizmente sempre tem babaca para criar problema. É humano, acontece em todo o planeta, mas num país onde a lei serve de piada, o legal é ser esperto, malandro se dá bem e é aplaudido; estes babacas se acham reis e de certa forma são mesmo. Pasqualini reforçou a questão da responsabilidade, a finalidade do passeio, a importância de ninguém cair ou se machucar. Infelizmente quase foi momentaneamente desrespeitado com uma fuga. Felizmente o carinha teve um ato de lucidez e reclamando voltou e ouviu até o fim - reclamando. Infelizmente, de novo, e sem se preocupar com atos impensados, um pouco à frente tinha uns queimando um. Desculpem todos os que se acham só no seu próprio direto, mas dá um tempo, se manca, não fode. Tem local e tempo para tudo. Numa situação destas é crucial ser exemplar. Se aqueles que não acreditam em ciclistas e num movimento de boa fé como este pega uma besteira destas faze um maremoto e a brincadeira de muita gente mela total. Ter “si mancol” sempre foi um santo remédio para abrir portas e não sacanear os do bem. Tem hora e local para tudo.

A estrada de serviço da Imigrantes é íngreme, em alguns pontos, principalmente onde o piso é de concreto, escorregadia por causa da pedra e do limo, tem subidas pedaláveis e é viável para um cicloturismo controlado com guia. Tem mais aderência do que eu imaginei tendo como base o que pessoal sempre me contou. Onde há limo é realmente complicado, mas nada tão perigoso como me disseram. Fica a impressão que a maioria não faz idéia do que é conduzir uma bicicleta no escorregadio. Felizmente no dia só vi e fiquei sabendo sobre tombinhos bestas.

Se eu fosse o responsável pelo parque e a estrada eu não abriria indiscriminadamente para ciclistas porque babacas, malucos, decolados vão criar problemas. O que creio que tenha que ser feito imediatamente é abrir visitação acompanhada para pedestres. A questão dos ciclistas teria que ser trabalhada, mas é viável. A organização deste evento provou isto. É um dos locais mais lindos que já estive e é uma aula de como fazer uma obra monumental em uma mata virgem com o mínimo dano ambiental possível. É muito importante ter gente comum visitando a área para informar, educar, e discutir que futuro queremos.

Eu não achei apropriada a forma como durante as recomendações no início da descida trataram a questão da favela lá em baixo, mas o aviso foi pertinente. Infelizmente acabei sabendo que um ou vários babacas assaltaram alguém. Infeliz exemplo de como um simples babaca pode foder todo um grupo, uma comunidade. Nem importa se quem assaltou é da favela ou não porque quem fica com o ônus será a favela, o elo mais fraco, mais “desagradável”, mais estigmatizado. É aquela coisa, para muitos “ciclista é doido e irresponsável”, “favelado é bandido”, “motorista é assassino” e este tipo de comentário serve muito bem ao tapa olhos e a interesses nem sempre interessantes. Descriminar é crime. Conter ou frear os nossos desgarrados sempre é mais que uma medida boa, é dever. “Deixa estar” dá nas coisas que vemos dia a dia neste país.

Ainda na Estrada de Serviço da serra encontramos muita sujeira de macumbas. Há algum tempo um Babalorixá falou na TV que há uma preocupação com esta situação e que estão tomando providências. Espero que sim porque o que vimos é muito triste. Até onde sei as próprias tradições de religiões africanas tem uma conversa muito clara com a vida e o meio ambiente. Aquilo pode ser rito, mas vira sujeira e duvido que qualquer orixá fique feliz com o resultado.

Passar pela favela foi sem problemas, mas com muita gente olhando curiosa. De imediato posso dizer que o poder público poderia passar uma maquininha na rua principal que é uma buraqueira e barro só. Paramos numa vendinha que ainda volto para experimentar a feijoada bem servida e muito cheirosa. O banheiro de lá é a céu aberto, o que nunca havia visto. Deve ser o máximo sentar no trono com guarda-chuva numa mão e papel higiênico noutra. Papel que se você tiver levado de molhado irá ficar grudento. Tire suas conclusões. Pelo menos a tampa sempre estará lavada.

Cruzamos por baixo da Anchieta e logo estávamos muito próximos da Usina Henry Borden, o que nem sonhava ver tão perto. Maravilhosa. Impossível de imaginar o que seja quando se passa pela Anchieta. Cruzamos o canal das águas que desce da Represa Billings, contornamos um morro e ficamos entre a refinaria da Petrobrás e uma indústria que tem galpões em estilo parecido com a Duchen da Dutra, portanto deve ser de Oscar Niemeyer. Maravilhosa. Esta estradinha acaba no crucifixo no pé da Estrada Velha de Santos. A paisagem fabril é magnífica. Cruzamos por baixo da Rodovia Piaçagüera e entramos em Cubatão, que para minha total surpresa é limpa e organizada; pelo menos em sua avenida principal. A imagem que fazia daí definitivamente não era das melhores. Um pouco a frente caímos na Anchieta debaixo de um sol forte e cansativo, cruzamos o semáforo, mais um pouco de ciclovia já dentro de Santos e chegamos na Rodoviária, onde Amauri ficou.

Chegar até Santos e não ver o mar é um crime. Pensei que iria chegar lá moído. Quando o garoto no trem da CPTM disse que havia feito a vigem em 8 ou 9 horas, para os 77 km, achei meio absurdo. Saí às 7h30m e cheguei 16h em ponto, ou 8h30m de pedal calmo, paradas, muita conversa, uma paisagem maravilhosa que espero repetir. E depois disto estava inteiro. Desci para o Gonzaga, comi mais que devia, segui até a ponta da praia, tomei um ônibus com Daniel, sobrinho de Amauri e desaparecido desde a serra. Na rodoviária foram colocadas mais 6 bicicletas no porta-malas do ônibus da Ultra, sem problemas. Partimos de lá às 17h50m e quando passamos pela Anchieta ainda havia muito ciclista terminando o passeio. Mais ainda, quando tivemos a última vista da Estrada de Serviço vimos uma dezena de ciclistas descendo. Emocionante!


  • Parabéns pelo trabalho, pessoal da Bicicletada e quem mais eu desconheça. Brilhante, genial! Exemplar.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Fim de ano


Já não tenho mais o mesmo fascínio que tinha com este clima natalino, mas ainda acho simpático sair por ai e ver luzes, decoração, agitação do pessoal na rua, o espírito de festa. Infelizmente não é mais como há uma década, quando pegar trânsito um pouco mais carregado que o normal por uma boa causa era encarado com espírito leve. Hoje olho através do pára-brisa dos carros, que é o único vidro ainda transparente, e vejo expressões duras, distantes, preocupadas, chateadas, gente falando no celular; ou rezando para Papai Noel tirar da frente todos os carros e mandar para o inferno as malditas madames que não tem mais nada a fazer da vida além de ir às compras. Mulher sempre é a culpada; se for loira dirigindo SUV então... O outro é culpado. A maioria dos condutores se diz adulto e não acredita em Santa Klaus, prova disto é só querem mesmo é “kraus” no próximo, uma santa solução dos problemas de nossa endeusada individualidade motorizada.

Papai Noel como conhecemos hoje, o bom velhinho de barba branca, gorducho, vestido de vermelho e saco de presentes nas costas, é uma figura socialmente forte. É uma fantasia, criação da Coca Cola no princípio do século XX. “Colou”. O espírito do Natal está brilhantemente colocado na famosa propaganda: vende um personagem bom, generoso, em um momento feliz, familiar, caseiro. Não transparece lembranças negócios, vendas e compras, o “com licença” dito no ranger dos dentes. O espírito do Natal do século XXI ultrapassou a propaganda, os interesses comerciais, as boas e más produções de Hollywood e acabou engolido por uma sociedade massiva, amorfa, deslumbrada. Não está morto, mas congestionado.

A maioria dos filmes é piegas, mas imbuído de boa fé, de um espírito de celebração da doação, da paz, da compreensão, de tantas coisas do bem. Faz rir e alguns realmente emocionam. Batem praticamente sempre no mesmo roteiro: quando se cai na bondade, se alcança o coletivo e o bem estar de todos. E é verdade. O saco do velhinho está cheio de doações e não há nada de mal em acreditar na esperança escondida ali. Eu realmente acredito em Papai Noel. Só acho meio estranho o gordo passar a barriga pela chaminé e entrar na sala limpinho, aí acho meio “over”. Natal pode até ser piegas, mas é um momento muito simpático.

A verdade fora das telas, ou realidade, é obviamente outra. Quem não acredita em Papai Noel não consegue mais ver o espírito da coisa. Seguramente não há renas puxando trenó, mas há o que crer. Definitivamente o que acontece atualmente no trânsito tem muito pouco a ver com o espírito natalino. Por mais que tenham criado roteiros e filmes de todo tipo sobre a festa, nunca, pelo menos que eu saiba, houve um no qual o automóvel fosse o centro da história. Não funciona porque o automóvel é individual, fechado, rápido, mortal, espírito praticamente oposto ao da festa do nascimento de um menino.

O trânsito parou. Que novidade! Está parado todo ano, todo dia, quase toda hora. Pegar um pouco de trânsito para fazer compras ou ver decoração virou um inferno, cujo personagem principal também usa vermelho, no caso na pele, e em vez de saco tem cornos. Não mais nenhuma graça em ficar parado dentro de um carro, nem para ir receber o prêmio da mega sena. Não há mais espaço, virou formigueiro, e até que me provem o contrário formigas não são humanas. Mas humanos se comportam como estúpidas formigas. Haja saco! Nem para a bicicleta sobra espaço.

Há um monte de grupos que saem pedalando nesta época do ano para ver o Natal em São Paulo. Para a maioria é novidade. Vão muito mais rápido e fluido que quem está no enformigamento dos carros. Não sei por quanto tempo ainda haverá graça de ir ver o Natal pedalando. Não há mais espaço, nas ruas ou calçadas, pelo menos para o ciclista. A boa notícia é que há cada dia mais gente nas calçadas.

Lembro claramente a primeira vez que entrei numa na av. Faria Lima e não havia espaço sequer para a bicicleta passar. Parei a bicicleta e fiquei muito assustado com a situação. Fuji por uma alternativa e voltei uns 10 quarteirões à frente. O nó era o estacionamento do Shopping Iguatemi, completamente entupido. Já naqueles idos os motoristas não estavam muito felizes dentro de seus carros, mas a perspectiva do dia de Natal suavizava o transtorno sazonal. Pelo menos os acompanhantes se mostravam vivos e esperançosos.

Desde então mudou tudo. Mudou o número de incluídos (e no que estão incluídos não sei muito bem), mudou o espírito, que deixou de ser um saco de felicidades para ser uma cueca dura de tijolinhos de notas de 100. O Papai Noel “muderno” gosta de falar um monte, distribui esmolas, matou a fome dos mensaleiros, e tem que ser mantido a distância a todo custo de um “mé”. Que santo é este? Que espírito é este?

Mudou tudo. Mudou tanto que até mudou a perspectiva com que se vê a decoração natalina. Passamos pela fase dos carros de grandes janelas transparentes e a visão das lampadinhas piscantes, enfeites chineses, papais noeis de todos tamanhos e formas, que enchiam os olhos pela novidade. Eram enfeites muito baratos e espero que não tenham sido fruto de trabalho escravo. Esperança meio vã. Quem se lembrava deste detalhe frente ao espírito feliz do bom homem da Coca Cola? Pensando bem, quem foi Santa (Klaus)? Vê como mudou tudo? Onde está o espírito? Melhor perguntar “sobre que espírito estamos falando?”

Não mudou o detalhe que somos animais sociais e que durante nossa história aprendemos que louvar o bem, a bondade e a coletividade funciona, ajuda a todos, ajuda a cada um de nós. Faz bem para o espírito, para alma, enfim funciona. Mesmo com todas as dúvidas, questionamentos, mesmo com todos os erros, as visões diferentes sobre esta festa, ninguém põe em dúvida que é simpática, que faz bem. Por que não acreditar uma vez ao ano no bem?

Filosofar sobre o Natal é o fundo do saco. Eu prefiro acreditar em Papai Noel e procurar preservar a festa e seu espírito.

Um detalhe faz muita diferença em nossas vidas: a capacidade de ver. O número de luzes cresceu, a festa começa mais cedo por razões comerciais, mas ficou mais difícil de ver sua fantasia. Os modelos de carros modernos têm colunas largas, janelas cada dia menores em nome da segurança. Junte-se o patético vidro fumê e de dentro do carro não se vê praticamente nada. Outro dia andei num pequeno de última geração e mal pude ver a cor do céu. A maioria dos carros modernos não permite uma visão ampla da paisagem em nome de uma estrutura mais forte que os salve de uma colisão a 40 km/h em obstáculo inerte. Ganhamos a possibilidade de sair vivos de um acidente, mas o que alimenta nossa alma, o prazer da visão, é a cada dia mais deixado às cegas. Ver além do que está na via pode ser perigoso para condutor e passageiros. É como colocar viseiras. Nestas, a festa do Natal fica literalmente engarrafada, mas a vida poderá ser salva. Salva?

Ver por janela pequena é como ter alegria controlada ou ganhar como esmola uma discreta mentira momentaneamente salvadora. Não ver para não sentir; não sentir para não sonhar; não sonhar para ver a liberdade. Que sentido faz ficar protegido e ver a felicidade do lado de fora. A TV e a Internet que o diga.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Muito próximo da marginalidade


Quando criança toda vez que era levado ao Centro de São Paulo recebia repetidas recomendações de não tocar a mão em nada que não fosse a saia de minha guia. “É perigoso sujar!” (leia-se “contaminar”). Chegando em casa era levado diretamente para lavar a mão também sem tocar em nada.

Ainda criança, subimos uma montanha e não tivemos tempo para voltar com a luz do dia. Acabamos sendo resgatados no meio da mata por um trabalhador da fazenda. Não passávamos de três meninos apavorados perdidos na mata fechada e na escuridão total. No dia seguinte fomos para a plantação agradecer o feito para um homem preto com inchada na mão, muito forte, calmo, e para ironia do destino chamado Hércules. Ele recebeu nossas palavras com uma serenidade espantosa. Talvez tenha sido a primeira vez na vida que tenha entendido com clareza que posição social nem sempre resolve tudo.

É óbvio que cheguei à maioridade como um feliz motorizado. Era um rito de passagem. Por acidente comecei a pedalar e a bicicleta acabou me apresentando a marginalidade sem que me desse conta. No pedal cheguei a lugares que me mostraram que a verdade social é definitivamente outra. A cidade, seus habitantes, os indivíduos, tudo, é infinitamente mais diversificado e complexo do que o paupérrimo discurso da elite. E, por favor, não pense em “elite” só como a financeira, mas a cultural e social.

Neste exato momento estou entrando em mais um rito de passagem. Desta vez a marginalidade se encontra bem a minha frente e não mais passando ao largo para ser observada e pensada ou em palavras a mim direcionadas. Não consigo, no momento, equilibrar minimamente as contas. O que foi trabalhado nestes últimos dois anos acabou não rolando. Mas isto não interessa. Vamos em frente que atrás vem gente.

O incrível deste país é a falta de capacidade de percepção do quanto a marginalidade é intrínseca a cada um de nós. Poderia ser diferente com todo este desnível social? Ele não é o reflexo perfeito de seus criadores?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Como colocar mais ciclistas nas ruas - atravez das mulheres


Desde 1981, quando vi pela primeira vez a menina mulher Maria Cristina pedalando, me dei conta que o ponto crucial para que a bicicleta se transforme efetivamente em modo de transporte e realidade urbana é  fazer com que qualquer mulher se sinta segura e cativada a pedalar pelas ruas. É tão óbvio, mas ainda hoje, depois de quase três décadas, ainda há os que querem planejar olhando para os herois, ou loucos, como queira, que vão de bicicleta para o trabalho. Mulher é sempre será a (deliciosa) solução.
Aproveito para convidar para a leitura deste texto - http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=getting-more-bicyclists-on-the-road