sábado, 13 de agosto de 2016

Manisfesto aos candidatos a Prefeito

Por Arturo Alcorta e Sérgio Luiz Bianco, documento entregue aos candidatos até 2004. Um manifesto mais simples, mas com as mesmas ideias foi entregue a todos candidatos à Prefeitura, Governo Estadual, vereadores, deputados estaduais e federais a partir de 1986. O original chamava-se "Projeto de Viabilização de Bicicletas para Modo de Transporte, Esporte e Turismo". Sérgio passa a assinar o documento a partir de 1990. Junto com este documento eram entregues vários projetos de leis, incluindo algumas que hoje estão no CTB.

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Manifesto para a Viabilização do Uso de Bicicletas e outros Modos de Transporte Não Motorizados para o Município
POR UMA POLÍTICA MUNICIPAL PARA NÃO MOTORIZADOS

Sobre o número de ciclistas e bicicletas nas cidades brasileiras
A bicicleta deixou de ser só um meio de lazer, esporte ou brinquedo e se tornou definitivamente uma opção de transporte.
Nestes últimos anos o número de ciclistas circulando pelo Município não pára de crescer, seja por questões de praticidade, economia ou por causa das deficiências do transporte público. Cresce seu uso, independente da faixa etária, sexo, condição social, econômica e da ausência do Poder Público no implemento de melhorias e ordenamento garantido em Lei.

Há uma imensa demanda reprimida de usuários da bicicleta, o que pode ser comprovado nos fins de semana, quando a frota de bicicletas na rua aumenta sensivelmente. Somente um terço das bicicletas existentes no país saem às ruas.

Sobre o traçado urbano e a topografia, e o uso da bicicleta:

O trânsito denso e pesado na cidade está concentrado em avenidas e vias expressas específicas o cria ilhas de tranqüilidade no interior do bairro, o que pode ser usado como excelente opção de caminhos alternativos voltado para ciclistas e outros não motorizados.

A desculpa da topografia acidentada já não constitui problema porque a maioria das bicicletas é dotada de marchas, o que permite vencer com certa facilidade até aclives acentuados. Isto faz com que o padrão técnico de declividade para uso de bicicletas existentes hoje seja outro.

A bicicleta é veículo ideal para pequenas e médias distâncias, muito eficiente até 4km. Tem uma média de velocidade urbana entre 12 e 18km/h, dependendo do número de semáforos. Sua aceleração e manutenção de velocidade tornam incompatível o convívio do ciclista com trânsito de vias expressas. Portanto é dentro dos bairros e suas ruas tranqüilas onde há a situação mais apropriada para estabelecer o uso da bicicleta.

Pensada com inteligência a bicicleta traz notáveis benefícios para o seu usuário, para a comunidade local e para a economia da cidade como um todo. Bicicleta abre as portas para um desenvolvimento urbano mais justo para todos os outros não-motorizados.

O uso da bicicleta transforma e educa para a vida.

A vida do ciclista e dos não-motorizados hoje

Não resta dúvidas que o uso da bicicleta está e continuará crescendo, independente da presença ou vontade dos Governos, o que positivamente não é uma situação ideal. A conseqüência disto está nas poucas estatísticas que mostram o aumento de problemas.

O descuido beira o inaceitável.

Não é de interesse dos ciclistas e menos ainda de toda sociedade que, por descaso do poder público, haja mais um veículo gerando conflitos em vias que já estão no seu limite.

Esta situação pode apagar a imagem simpática que a bicicleta ainda tem, o que só faria piorar a situação.

Pela ordem e o progresso respeitando todos direitos.

Urge respeitar direitos e cumprir a Lei, fazer presente o poder público em suas obrigações com relação aos ciclistas e todos demais não-motorizados.

É conveniente abrir canais de comunicação e obter colaboração de ciclistas e outros não-motorizados experientes para a solução dos problemas.

Quem não usa veículos motorizados se encontra abandonado. É necessário rever a política de transporte para que esta inclua e integre todos os modais de transporte.

Infelizmente, parece ser necessário lembrar que todo cidadão tem direito à mobilidade, ao compartilhamento do espaço destinado ao trânsito, à saúde pública, à redução de acidentes, à preservação do meio ambiente, enfim, ao respeito e a dignidade.

É absolutamente impossível continuar negando a existência da bicicleta, do ciclista, do cadeirante, do deficiente, do pedestre e de todos outros não-motorizados.

Por uma política de trânsito democrática.

Pela criação de uma política de mobilidades amplamente inclusiva.

Pontos básicos de reivindicação: 

Para todos:

1. pedestres!: lembrar sempre que nós todos somos pedestres!

2. iniciar política voltada para todas as mobilidades.

3. respeitar os direitos de menores, idosos e não motorizados

4. inclusão em curto prazo de deficientes (15% da população)


Para o estímulo ao uso da bicicleta:
- Levantamento geral da situação atual:
- Mapeamento feito sob o ponto de vista do ciclista
- Campanha Educativa
- Educação para o Trânsito voltada para Crianças e Adolescentes
- Bicicletários, pára-ciclos e estacionamentos
- Criação de órgão responsável pelas bicicletas e não-motorizados para o Município e área Metropolitana
- Dar treinamento específico para policiais e técnicos
- Criação de Polícia-ciclística
- Formação de orientadores / professores de segurança ciclistas
- Banco de dados específico
- Contato com entidades representativas de motorizados
- Rever Leis e tomar providências necessárias
- Levar em conta todas alternativas - não restringir se a ciclovias
- Planejamento e execução de projeto melhorias: Ciclorede
- Colocar na rua orientadores / professores de segurança no trânsito voltados para o ciclista comum, que trabalhem pedalando e vivenciando os problemas da bicicleta > educação + pesquisa = banco de dados = segurança = menor custo
- Cadastramento e controle imediato das bicicletas profissionais – bicicletas de carga / entrega, definindo responsabilidades.
- Criar facilidades em estradas que cortam o Município.
- Criar áreas de treinamento esportivo
- Definir responsabilidade legal sobre a criança ciclista e uso de calçada
- Definir regras de uso em parques e espaços públicos

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Ciclovias, corredores de ônibus, mas e o pedestre?

Caminhar em São Paulo não é muito fácil. Quando há calçada o piso é irregular, cheio de buracos e outros defeitos, obstáculos dos mais variados, começando por postes, que são endêmicos, bancas de jornais, gente digitando celular, vendedores ambulantes, gente dormindo em caixas de papelão, barraquinhas, mais vendedores ambulantes, bancas de jornal, mesinhas de bar em local proibido, gente parada com copos de cerveja na mão, alcoolizados, puxadinhos de propriedades particulares, coco de cachorro... Calçadas que não suportam tanto pedestre, especialmente em horário de pico. Em ruas íngremes são treinamento de alpinismo. Isto quando há calçada. É comum ver pedestres caminhando na via e disputando um mirado espaço com ônibus, vans, caminhões e motociclistas apressados. Encontrar péssimos exemplos é a coisa mais fácil.
Além de todos problemas com as calçadas, quando existem, pedestres sempre tiveram que enfrentar a fluidez do trânsito motorizado e agora a dos ciclistas. Fluidez esta que faz com que os cruzamentos sejam pouco amigáveis, não raro distantes ou em locais inapropriados, com erros grosseiros de sinalização vertical, horizontal, semafórica. O pedestre que se vire. Pedestres que não tem uma voz tão forte e ativa quanto a dos ciclistas, estes o mais novo problema para pedestres. 
Caminhar, portanto ser pedestre, é o básico do básico das mobilidades. Esta administração de São Paulo, que tanto fala em mobilidade, leia-se bicicletas e ônibus, passou praticamente todo mandato sem dar a importância devida aos pedestres. O estímulo ao caminhar requer boa condição de calçada, limpeza, ordem, paisagem bem cuidada, sombra, portanto arborização, certo grau de frescor e umidade, portanto ajardinamento, segurança viária e pessoal, ar de boa qualidade, portanto controle de emissões... São Paulo está um lixo, nunca foi tão desagradável para caminhar. 
Haddad estimulou a bicicleta, ótimo, mas esqueceu de educar os ciclistas, péssimo para os pedestres. Haddad fez muitos corredores de ônibus, ótimo, mas seus corredores de ônibus continuam sendo um grave risco para pedestres, o mesmo risco já conhecido faz tempo, muito tempo, péssimo para o pedestre. Haja desprezo pelo pedestre! Pedestres somos todos nós. Haja desprezo!