No fim de uma de minhas
palestras veio um holandês elogiar minhas críticas e fazer uma correção: “Você
esqueceu uma coisa”. E fez uma breve pausa. “Acontecem muito acidentes
(colisões) entre ciclistas que circulam na ciclovia”. Alguns acidentes entre
ciclistas são mais graves que colisão contra um automóvel que esteja na mesma
velocidade de uma bicicleta. Carros tem a frente projetada para reduzir ferimentos
em pedestres e ciclistas, enquanto uma bicicleta é pontiaguda, o que machuca
muito no caso de colisão, principalmente frontal.
O que propunha na época
era a construção de um sistema cicloviário completo, que incluísse toda e
qualquer opção que pudesse realmente dar segurança e conforto para o ciclista.
O centro da ideia era tirar os ciclistas das vias e cruzamentos mais perigosos
e fazê-los descobrir o bairro, as alternativas, os caminhos não motorizados, o
prazer de pedalar numa dinâmica de espaço e tempo completamente diferente da
sociedade do automóvel. Difícil!
Provavelmente a forma de
meu discurso também atrapalhou. “Quem não se comunica se trumbica” já dizia
Chacrinha, um dos melhores apresentadores da história da TV brasileira. Passar
o recado completo e inequívoco é comunicar-se. O resto é soltar o verbo. Ser
direto, claro e sem rodeios. Infelizmente não é exatamente meu estilo. Mesmo
assim... dava para entender.
Enfim, mais de 30 anos repetindo
a mesma coisa praticamente sem qualquer eco. Nunca houve grande novidade em
minhas palavras. Eram fáceis de comprovar. Eu simplesmente li textos e
documentos internacionais, pensei um pouco e fiz algumas adaptações baseadas na
cultura brasileira. Mesmo que minha comunicação tenha sido errada, o que
espanta é falta de curiosidade em ir atrás de uma informação diferente da
corrente. O pior foi e continua sendo a relação com a imprensa, que tem por
princípio ético e moral a obrigação de investigar e não o faz, não cruza
informação, não lê, não busca novas fontes, não é capaz de pensar horizontal.
Estou escrevendo estas linhas
porque depois de mais 30 anos de interação com a imprensa pela primeira vez um
jornalista, Carlos do Valle, do Jornal da Tarde, (O Estado de São
Paulo, C8 | Cidades/Metropole | Domingo,
08 de Outubro de 2012 – O Estado de São Paulo Caio do Valle – JORNAL DA TARDE (link no final do texto)) agradeceu
os comentários e críticas que fiz a sua matéria, mostrando interesse em pontos
de vista novos. Senhores, mais de 30 anos para isto acontecer. Confesso que
tive um dos maiores acessos de choro de minha vida, não sei bem se de alegria
ou de depressão pela surdez geral brasileira. Definitivamente não sou dono da
verdade, que o tempo faz camaleoa. Mas adoraria deixar de ouvir que somos o país
do futuro – que nunca chega.
Pedalando
na ciclovia Faria Lima me sinto feliz. Mudou tudo; a cidade, o número de
pessoas nas ruas, a quantidade de carros e bicicletas circulando. As ciclovias
de canteiro central, contra as quais lutei, hoje são uma boa opção, até mesmo
por que praticamente não há outra. Só espero que os ciclistas se deem conta que
para ter a ciclovia ali boa parte do verde da avenida desapareceu. Eu preferia
o verde. Há outras alternativas. Espero também que não se caia na mesma
barbárie da decadente sociedade do automóvel que para abrir novos caminhos passaram
por cima da razão e bom senso. Bicicletas devem construir uma cidade nova, não seguir
as trilhas dos pneus da devastação. Para que isto não aconteça é necessário ter
a mente aberta. Nem burro gosta de tapa olho e cabresto.
Arturo, o que você repete há 30 anos é o que em mim é intrínseco!!! Não é uma questão de "eco", mas de cumplicidade e compartilhamento de ideias e conceitos: se todos se respeitarem, não há necessidade de SEGREGAÇÃO, compartilhar vias é ser educado, gentil, responsável e cidadão. Tenho 45 anos, aprendi a andar de bicicleta com minha mãe (uma das mais lindas memórias que tenho) ao 3 anos e sempre andei pelas ruas. Sofri um acidente de bicicleta pela 1ª vez o ano passado...adivinha aonde? Pois é fui atropelado por um pedestre na ciclovia da Zona Leste. Bem, aí já é outra história...Abçs e obgdo pelo Blog. Neto.
ResponderExcluirAntonio. Espero que estaja bem e de volta aos pedais
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