Por conta de danos causados pela construção do edifício que fica nos fundos de minha casa tive que fazer reparos nela. Minha preocupação foi gerar o menor impacto ambiental possível, o que pelas circunstâncias traduzi como o menor número de caçambas de entulho possível. Das previstas 4 caçambas para toda obra consegui reduzir para 1 e meia. Boa parte desta redução se deu porque decidi correr o risco de reformar o telhado sem trocar todas telhas, como me foi recomendado. Funcionaria - se muito bem feito. O trabalho foi porco e na primeira chuva forte a casa virou um chuveiro.
A troca de todo o telhado se tornou inevitável, o que foi feito. Confesso que fiquei deprimido com a troca. Com meu sonho ambiental gastei dinheiro, tempo, paciência e ilusão. Dói mais uma vez a perda do sonho, da ilusão de fazer correto, de tentar ser ambientalmente honesto. Fica mais uma vez a certeza sobre quão crucial é a qualidade.
Já foi dito e repetido que é muito difícil conseguirmos qualidade ambiental sem educação ou pelo menos treinamento. Reformar o telhado dependia de colocar no nível, alinhar, assentar e encaixar corretamente uma telha na outra. Não conseguiram, ou não quiseram, sei lá.
Educação e treinamento não bastam. Tem que ter seriedade, vontade de fazer o correto, de ver o trabalho perfeitamente realizado.
Eu confiei nos pedreiros porque o trabalho que tinham feito até então foi bom, correto. Foi conversado sobre os cuidados que deveriam ser tomados para que o telhado ficasse bom. Não consegui acompanhar o trabalho do telhado porque fazia um calor estúpido e tenho pressão baixa. Velhinho caindo de telhado costuma não dar certo. Quando consegui subir lá fiquei horrorizado com a porcaria que vi.
Nesta troca de telhados ainda tentei evitar que as telhas antigas virassem entulho. É socialmente desonesto não conseguir que uns 50 m² de telha francesa não chegue a quem necessita. Fernando, da F2 Telhados que está instalando o telhado novo, entendeu minha preocupação e procurou entidades, como a Casa André Luiz, que normalmente recebem telhas usadas, mas todas responderam que não tem mais espaço para telhas. Fernando ainda procurou uma empresa que recebe as telhas, tritura elas e faz com elas uma espécie de pedrisco para jardins, mas a resposta foi que o mercado está completamente parado. Com profunda tristeza vi todo telhado se transformar em entulho numa caçamba.
É inevitável fazer uma comparação entre o que aconteceu com meu telhado e o que provavelmente vai acontecer com boa parte do cicloviário de São Paulo.
É inevitável fazer uma comparação entre o que aconteceu com meu telhado e o que provavelmente vai acontecer com boa parte do cicloviário de São Paulo.
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