terça-feira, 12 de julho de 2016

2005 - Projeto para bicicletas em São Paulo

Fiquei e continuo muito mordido com o pessoal que diz que antes deles não havia nada pró bicicleta. E tem muita gente neste barco. Para quem não aprendeu na escola, naquela do "be a bá", ou em casa aviso: nada se cria, tudo se transforma; ou melhor dizendo a frase de Lavoisier "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Ou seja, quem ainda crê no Brasil do nunca antes, seus ideólogos e marketeiros, a bicicleta e tudo o que está acontecendo não caiu do céu num cometa milagroso.  Como vivi o que o aconteceu antes sei do que falo. A vida é um passar de bastão.
Estou organizando minha estante e dei de cara com o documento "Leis para regulamentação e fomento do uso ordenado de Bicicletas no Município de São Paulo", um conjunto de 23 propostas de leis enviadas para a Câmera dos Vereadores em 2005 buscando dar suporte legal deste o uso do espaço público até a questão da educação dos ciclistas (através do que hoje são os Bike Anjos), passando pela criação de parques lineares. Este documento faz parte de uma política completa e integrada criada em 2005, na verdade em 2003 para o São Paulo 450 anos, por uma equipe multidisciplinar e não só de ciclistas. Sensivelmente diferente do que acontece hoje. Um pouquinho mais completo, só um pouquinho.
Publico este documento em homenagem a todos que vieram antes e que trabalharam muito para que a bicicleta se tornasse realidade, e em particular a meu grande amigo, já falecido, Sérgio Luís Bianco. Aliás, os esquecidos do passado sonhavam bem mais alto.

São Paulo dá Pedal



Política Abrangente de Viabilização do Uso de Bicicletas para todo Município de São Paulo


Há quatro projetos em estudo ou andamento na Prefeitura:
1.     Projeto Banco Mundial: introdução de melhorias para ciclistas em área de população carente específica, fazendo interligação com modais de transporte de massa. Em adiantado andamento. Verba: Banco Mundial.
2.     projeto Agita Sampa para bicicletas: programa de estímulo para exercitar a população pedalando. Secretaria Especial de Participação e Parcerias; Secretário Gilberto Natalini. Em estudo. Sem verba destinada.

3.     projeto São Paulo dá Pedal - Parque Ibirapuera e Centro: introdução de melhorias para ciclistas atendendo dois dos principais problemas de demanda existentes. Responsável: Escola de Bicicleta. Forte interesse da iniciativa privada.
4.     projeto Ciclo Rede: mapeamento de caminhos alternativos às avenidas e vias perigosas para ciclistas no Centro Expandido, mais até a Penha e até Santo Amaro. Propõe rotas, vias e cruzamentos seguros, sinalização, bicicletários, pontos de interesse e educação. Responsável: Escola de Bicicleta. Forte interesse da iniciativa privada.


Fatos:
·       Hoje os projetos para melhoria de segurança de ciclistas são desenvolvidos por especialistas em trânsito que não são ciclistas no dia a dia. Todos os procedimentos são tecnicamente corretos, mas ninguém que tenha experiência do uso de bicicleta pedala no local. O resultado final acaba sendo reflexo de manuais e não raro não alcança os resultados esperados.

·       O Município de São Paulo não conta hoje com experiência no tratar a bicicleta e o ciclista. E os projetos já realizados não condizem com a realidade.

Proposta Escola de Bicicleta - São Paulo dá Pedal:



  • Apresentar um conjunto de ações simultâneas que alcance o maior número de ciclistas paulistanos possível, independente do uso que façam da bicicleta. Olhar e respeitar, na medida do possível, os desejos destes.

  • Perenizar num curto prazo o uso da bicicleta como modo de transporte na maior área possível do Município através de ações inteligentes, de baixo custo e fáceis de implantar.

  • Respeitar, sempre que possível, o pré-existente, evitando conflitos ou gastos desnecessários. Saber encaixar a bicicleta no sistema de trânsito.

  • Criar uma rede cicloviária baseada em todas alternativas técnicas possíveis.  Esta pode ou não necessitar de ciclovia; conceito que, da forma como é entendido hoje, está sendo colocado em dúvida até na Europa.

  • Dar formação e instrumentos para que o corpo técnico de trânsito e demais áreas envolvidas sinta segurança no tratar a bicicleta e o ciclista.

Como?
1.     Ensinar a mexer com gato antes de enfrentar leão. Concentrar as primeiras ações em áreas de mais fácil controle. Evitar que o CET fique exposto.
2.     Emprestar conhecimento da Escola de Bicicleta para ajudar no sucesso do Projeto Banco Mundial. Aproveitar o que oferecem os projetos “São Paulo dá Pedal e Ciclo Rede” como referência técnica e para fortalecimento de comunicação do projeto Banco Mundial e sua importância estratégica (periferia) para a cidade.
3.     Treinar o corpo técnico do CET através do projeto São Paulo dá Pedal. As suas soluções de implantação oferecem uma cesta de técnicas de trânsito específicas para ciclistas, checadas por ciclistas dos mais diversos níveis. Incluem algumas inovações, todas são baseadas na Lei e experimentadas em outros países, mas que não foram ainda tentadas aqui. São Paulo dá Pedal oferece opção que diminui muito os custos e complicações de implantação de qualquer projeto cicloviário. As duas áreas escolhidas, Parque Ibirapuera e Centro, são estratégicas em vários sentidos e fornecem um potencial de comunicação único. Quem paga é iniciativa privada.
4.     Sem um mapeamento direcionado não há projeto, qualquer que seja. O projeto Ciclo Rede oferece o mapeamento básico de caminhos alternativos para ciclistas do Centro Expandido, mais a baixada dos rios Tiete, Pinheiros e Tamanduateí. Inicia o trabalho onde o controle do trânsito já é mais apurado. É estabelecido por ciclistas experientes. Quem paga é iniciativa privada.
5.     Projeto Agita Sampa para bicicletas busca induzir o cidadão ao uso da bicicleta para fins de exercício e conseqüente melhora de saúde. Mas o programa necessita de uma base educacional e mapeamento local onde o ciclista pedalará ou ele estará exposto a riscos desnecessários. Ou seja, Agita Sampa para bicicletas necessita de um Ciclo Rede e de intervenções locais que são oferecidas pelo conceito do São Paulo dá Pedal.

·       É necessário aprovar uma série de Leis na Câmara Municipal, algumas já em ponto de votação, outras novas entregues em mãos do Vereador Ricardo Montoro. Versam desde a regulamentação de do estacionamento de bicicletas até o controle de bicicletas cargueiras, dentre outros temas.

O que falta?
Estes 4 projetos dão ao Município de São Paulo a possibilidade do paulistano ter, pela primeira vez na sua história, uma política abrangente para incentivo do uso seguro e confortável da bicicleta. É uma situação muito diferente da apresentação de um ou alguns projetos isolados.
Apresenta resposta sensata, de baixo custo e de resultados de curto prazo para os 350.000 ciclistas/dia útil, os 750.000 ciclistas de fim de semana, e a demanda reprimida para parte dos proprietários das mais de 4 milhões de bicicletas paradas em garagens (fonte ABRACICLO).

Há grande interesse de patrocinadores nos projetos São Paulo dá Pedal e Ciclo Rede. Sem aval definitivo e por escrito da Municipalidade para estes projetos não é possível seguir nas negociações com patrocinadores.

Dizem que é impossível usar a bicicleta em São Paulo, o que a cada dia novos ciclistas provam o contrário. 

A Escola de Bicicleta está disponível para qualquer explicação ou demonstração do que consistem os projetos. Ao nosso ver, a melhor forma de apresentar o que propomos é ir, pedalando de preferência, a qualquer local e fazer uma apresentação “in loco”.


Arturo Alcorta
Escola de Bicicleta
         
 

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