Mossoró é uma cidade de
quase 300 mil habitantes. Tem dinheiro, é fácil perceber. Fica mais ou menos
entre Natal e Fortaleza, umas 4 horas sul ou norte por estradas boas, vários
trechos recém duplicados. Cheguei com a cidade dormindo e o que chamou a
atenção foi o grande número de edifícios novos, modernos e altos espalhados
aleatoriamente no meio de construções muito simples.
Na manha seguinte
saímos, eu e Eric, para as avenidas e ruas de trânsito muito desordenado. Não ensinaram
a este pessoal o que é uma linha reta. As conversões na avenida são realizadas
à esquerda em aberturas oficiais no canteiro central, mas que como projeto
viário é uma piada. O número de infrações que se vê é maluco, de todo tipo, da falta
de capacete na moto à qualquer outra falta de bom senso. “Perdoai os Senhor,
por que eles não fazem a mais remota ideia do que estão fazendo”.
A cidade, uma das poucas que tem dinheiro próprio no nordeste, poderia ser muito agradável, mas está muito curvada a vontade
particular de cada um. As calçadas... se é que se pode chamar aquilo de calçada...
é dos piores exemplos que vi: desniveladas entre si e em relação ao pavimento
da via, algumas quase com um abismo para o asfalto. Sinalização de solo, faixa
branca, amarela..., bom, existe, mas não me lembro de ter visto. Tachas, tachinhas
e tachões isto tem. Carros, motos, ciclistas, os pouquíssimos ônibus (uma frota
de 19 para toda cidade) de transporte coletivo, alguns caminhões, carroças e
montarias circulam por todos lados e em toda e qualquer direção, algumas tantas
vezes na contramão. Mesmo assim achei mais fácil pedalar em Mossoró do que em
Curitiba, onde o trânsito é mais agressivo.
(Estou escrevendo esta
no aeroporto de Fortaleza e os mosquitos me devorando. Que merda! A menina do
guichê está torrando os malditos com uma raquete elétrica e espalhando cheiro
de sangue queimado no ar).
Voltando a Mossoró,
morre muita gente no trânsito, os hospitais já chegaram a ter mais de 75% dos
leitos ocupados por motociclistas arrebentados. Mesmo assim creio que é
relativamente fácil melhorar esta situação num curto espaço de tempo e de quebra ter uma cidade chique, já que o traçado urbano está dividido em dois por um grande parque, uma reserva. Querendo dá para fazer.
Saímos num
sábado à noite e fiquei impressionado com a tranquilidade e boa educação do
povo nos bares e espaços públicos da avenida central. Conversam em voz baixa e
sujam menos o espaço público que nós paulistanos. A pracinha próxima de onde
fiquei fica lotada todo final de dia e é limpa.
Saí para pedalar pouco, só
nos horários de menos calor. O racha coco do meio dia e começo de tarde é bem
complicado. Todos me falaram barbaridades sobre os perigos de pedalar no meio
daquela loucura, mas mesmo em horário de pico da tarde não tive mais problemas
que em outras cidades, talvez por que eu seja previsível, sinalize e principalmente
por que agradeço, sou cordial. Só tive um incidente com um carro virando à
direita, mas se tem que dar desconto ao velhinho que estava dirigindo e que ainda
pensa que está montado num jegue. Esqueceu de fazer o jegue zurrar e não deu seta
com a orelhona do bichinho.
O número de ciclistas
circulando é grande, de toda idade, principalmente mais velhos. Há
bicicletarias sofisticadas e a moda já está na veia do pessoal mais abastado,
que às terças e quintas-feiras acordam de madrugada para ir para estrada. Um deles
que me disse que “se precisa fazer alguma coisa para parar as loucuras dos
ciclistas pobres...” No dia a dia ciclista gente fina não é visto pedalando.
Fui convidado a dar uma
palestra na Universidade Federal, outra na Secretaria de Mobilidade e um breve
treinamento para alguns poucos ciclistas. Sai com uma boa impressão tanto dos
alunos quanto dos funcionários da Secretaria. Bom sinal, tem gente querendo melhorar
a vida da cidade.
Num final de tarde
fomos, eu, Eric e Maria, filha de Eric, até o que seria uma praia paradisíaca. No
domingo fomos a outra. A estrada duplicada e com ótimo asfalto é praticamente
vazia. Passa um gato pingado muito de vez em quando. Não entendi para que tanta
estrada, ou entendi, vai lá saber. Infelizmente passamos por muitos jegues
atropelados e mais ainda soltos perambulando, prontos para morrer. A quantidade
de lixo na beira das estradas é deprimente. Lembrei imediatamente das estradas
que peguei na Turquia, impecáveis, limpíssimas, perfeitamente sinalizadas. A
estrada para Fortaleza então... é deprimente, um lixão linear a céu aberto. E muita
gente sentada a sombra. Triste!
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