quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Ciclovia na Paulista? Sou contra!

Minha irritação com a ideia de se colocar uma ciclovia de canteiro central na av. Paulista foi tanto que não consegui escrever nada enquanto a notícia estava quente. Seria muitíssimo mais inteligente acalmar a av. Paulista, diminuindo mais ainda a velocidade máxima, corrigindo alguns tempos de semáforo, selecionando e treinando os motoristas de ônibus para o convívio com ciclistas, implementando forte fiscalização.
A av. Paulista, que é dita a avenida símbolo dos paulistanos, deveria também ser o símbolo do recolocar a maior cidade do país nos trilhos do bom futuro. Ciclovia em canteiro central, em especial ali, é olhar para trás, optar por uma solução pouco desafiadora, ultrapassada, medíocre.
Para quem não conhece, av. Paulista fica no topo do morro, é praticamente plana, uma reta, ligação direta entre bairros, sempre com movimento, até fora dos horários de pico, quando praticamente para. O trecho entre a Brigadeiro Luís Antônio e rua Augusta é o mais movimentado, tenso para pedalar. A velocidade máxima é 50 km/h, ainda alta para o número de pedestres circulando. Os atropelamentos diminuíram, mas não acabaram, mesmo com a diminuição de velocidade e com o reposicionamento das faixas de pedestres. Os tempos de travessia ainda são muito justos.
Pedalar no meio desta confusão é complicado por que a via é muito saturada, corre aos soluços, não sobra espaço entre faixas e veículos, a não ser na faixa exclusiva para ônibus quando estes param nos pontos ou semáforos. É mais fácil e seguro pedalar num sentido que noutro por causa do leve declive. Pedalar na calçada nem pensar por que está sempre cheia, mesmo assim tem ciclista que vai costurando e assustando os pedestres. As duas vias paralelas, rua São Carlos do Pinhal de um lado e al. Santos do outro, são um sobe e desce e normalmente têm menos espaço e trânsito até mais carregado que a própria Paulista. Ou seja, o caminho para o ciclista é mesmo pela av. Paulista, e passa muito ciclista por lá, bem mais que a princípio se possa imaginar.
Ciclovia de canteiro central é solução para quando não há alternativa, mas aqui no Brasil sempre parece o caminho natural. O mínimo que se tem que ter é espaço no canteiro central, o que na Paulista praticamente não há. Algum jornal ou revista mostrou que em certos pontos definitivamente não há espaço para uma ciclovia. É uma forçada de barra sem tamanho. Vão apertar mais ainda o espaço entre veículos e tornarão praticamente impossível a passagem de motos entre os carros e a entrega de pequenos volumes, que tem um valor agregado muito alto aqui em São Paulo. Sem motoboy a economia paulistana para, dizem e é a mais pura verdade.
O que se faz com a travessia de pedestres? Mesmo que tenham onde parar para esperar no meio da avenida para cruzar o segundo trecho de avenida os pedestres estarão muito expostos aos ciclistas, conflito certo e problema grave em todas as partes do mundo.
Para acertar a segurança dos ciclistas será necessário acertar os tempos de semáforos não só da Paulista, mas de uma vasta área no entorno, ou se vai para o caos completo no trânsito de toda região. Ou não se vai colocar semáforos específicos para ciclistas entrarem e saírem da ciclovia? E a caixa de retenção para quem quiser sair da ciclovia? Quem vem atrás para e espera, ou ultrapassa pela contramão? Imagine a confusão na saída para a rua Augusta...
Como em qualquer ciclovia de canteiro central o ciclista que não está de passagem, mas vai acessar um ponto qualquer da avenida, num meio de quarteirão, por exemplo, vai ter que cruzar do canteiro central para a calçada, espera-se que cruze a avenida em paralelo com os pedestres, o que nem sempre dá certo por diversas razões. Depois de cruzar ou irá circular pela avenida junto com carros e ônibus ou irá invadir a calçada dos pedestres para chegar onde quer ir. Detalhe: em qualquer lugar onde há ciclovia a tolerância de motoristas diminui muito com ciclista que está circulando fora da ciclovia.
Henrique Peñalosa, ex Prefeito de Bogotá, diz que é crucial que a ciclovia cruze o ponto mais simbólico da cidade para se transformar num marco. Mais ainda, tem a questão do marco político. Imagina só a av. Paulista pintada de vermelho, a cor oficial do PT. Isto não tem preço!

É inacreditável que não se faça os ciclistas circularem na faixa de ônibus, como acontece em Paris, Londres e em outras capitais do mundo. Basta treinar os motoristas, o que já se fez aqui em São Paulo com sucesso. Dizer, como dizem, que todo paulistano é mal educado e desrespeitoso é negar a história deste povo que fez desta cidade a mais rica e bem sucedida do país. Sucesso só acontece com gente boa.

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