Minha irritação com a ideia de se
colocar uma ciclovia de canteiro central na av. Paulista foi tanto que não
consegui escrever nada enquanto a notícia estava quente. Seria muitíssimo mais
inteligente acalmar a av. Paulista, diminuindo mais ainda a velocidade máxima, corrigindo
alguns tempos de semáforo, selecionando e treinando os motoristas de ônibus
para o convívio com ciclistas, implementando forte fiscalização.
A av. Paulista, que é dita a
avenida símbolo dos paulistanos, deveria também ser o símbolo do recolocar a
maior cidade do país nos trilhos do bom futuro. Ciclovia em canteiro central,
em especial ali, é olhar para trás, optar por uma solução pouco desafiadora, ultrapassada,
medíocre.
Para quem não conhece, av.
Paulista fica no topo do morro, é praticamente plana, uma reta, ligação direta
entre bairros, sempre com movimento, até fora dos horários de pico, quando
praticamente para. O trecho entre a Brigadeiro Luís Antônio e rua Augusta é o
mais movimentado, tenso para pedalar. A velocidade máxima é 50 km/h, ainda alta
para o número de pedestres circulando. Os atropelamentos diminuíram, mas não
acabaram, mesmo com a diminuição de velocidade e com o reposicionamento das
faixas de pedestres. Os tempos de travessia ainda são muito justos.
Pedalar no meio desta confusão é complicado
por que a via é muito saturada, corre aos soluços, não sobra espaço entre
faixas e veículos, a não ser na faixa exclusiva para ônibus quando estes param
nos pontos ou semáforos. É mais fácil e seguro pedalar num sentido que noutro
por causa do leve declive. Pedalar na calçada nem pensar por que está sempre
cheia, mesmo assim tem ciclista que vai costurando e assustando os pedestres. As
duas vias paralelas, rua São Carlos do Pinhal de um lado e al. Santos do outro,
são um sobe e desce e normalmente têm menos espaço e trânsito até mais
carregado que a própria Paulista. Ou seja, o caminho para o ciclista é mesmo
pela av. Paulista, e passa muito ciclista por lá, bem mais que a princípio se
possa imaginar.
Ciclovia de canteiro central é
solução para quando não há alternativa, mas aqui no Brasil sempre parece o
caminho natural. O mínimo que se tem que ter é espaço no canteiro central, o
que na Paulista praticamente não há. Algum jornal ou revista mostrou que em
certos pontos definitivamente não há espaço para uma ciclovia. É uma forçada de
barra sem tamanho. Vão apertar mais ainda o espaço entre veículos e tornarão praticamente
impossível a passagem de motos entre os carros e a entrega de pequenos volumes,
que tem um valor agregado muito alto aqui em São Paulo. Sem motoboy a economia
paulistana para, dizem e é a mais pura verdade.
O que se faz com a travessia de
pedestres? Mesmo que tenham onde parar para esperar no meio da avenida para
cruzar o segundo trecho de avenida os pedestres estarão muito expostos aos
ciclistas, conflito certo e problema grave em todas as partes do mundo.
Para acertar a segurança dos
ciclistas será necessário acertar os tempos de semáforos não só da Paulista,
mas de uma vasta área no entorno, ou se vai para o caos completo no trânsito de
toda região. Ou não se vai colocar semáforos específicos para ciclistas
entrarem e saírem da ciclovia? E a caixa de retenção para quem quiser sair da
ciclovia? Quem vem atrás para e espera, ou ultrapassa pela contramão? Imagine a
confusão na saída para a rua Augusta...
Como em qualquer ciclovia de
canteiro central o ciclista que não está de passagem, mas vai acessar um ponto
qualquer da avenida, num meio de quarteirão, por exemplo, vai ter que cruzar do
canteiro central para a calçada, espera-se que cruze a avenida em paralelo com
os pedestres, o que nem sempre dá certo por diversas razões. Depois de cruzar ou
irá circular pela avenida junto com carros e ônibus ou irá invadir a calçada
dos pedestres para chegar onde quer ir. Detalhe: em qualquer lugar onde há
ciclovia a tolerância de motoristas diminui muito com ciclista que está
circulando fora da ciclovia.
Henrique Peñalosa, ex Prefeito de
Bogotá, diz que é crucial que a ciclovia cruze o ponto mais simbólico da cidade
para se transformar num marco. Mais ainda, tem a questão do marco político.
Imagina só a av. Paulista pintada de vermelho, a cor oficial do PT. Isto não
tem preço!
É inacreditável que não se faça
os ciclistas circularem na faixa de ônibus, como acontece em Paris, Londres e
em outras capitais do mundo. Basta treinar os motoristas, o que já se fez aqui
em São Paulo com sucesso. Dizer, como dizem, que todo paulistano é mal educado
e desrespeitoso é negar a história deste povo que fez desta cidade a mais rica
e bem sucedida do país. Sucesso só acontece com gente boa.
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