quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ciclo Faixa entre Parques de São Paulo aos domingos

Ontem, 18 de Agosto de 2009, às 17:45, houve uma reunião no novo gabinete de Walter Feldman para apresentação do projeto de Ciclo Faixa nos fins de semana entre os parques da Bicicleta, Ibirapuera e Parque do Povo, que deverá começar operar em breve. O gabinete estava lotado, sem espaço, com gente em pé e até sentada no chão. Walter mostrou o trabalho da FabraQuinteiro, a agência de propaganda, e logo depois fez ver o que a CET está desenvolvendo. O projeto é bom, deve dar resultados, tem que ser apoiado por todos, mas tem lá seus pontos questionaveis.
A idéia é estabelecer o funcionamento de uma ciclofaixa de 5 km através de sinalização vertical e horizontal – só nos fins de semanas, repito. Foram desenvolvidas placas aéreas (de poste) que serão fixadas ao longo e nas transversais da ciclo-faixa, e pintura de solo definindo o local de rolamento para os ciclistas. Nas avenidas República do Libano, Hélio Pelegrino e Faria Lima (até o retorno próximo à Juscelino Kubistchek) a ciclo-faixa será posicionada junto a canteiro central, e partir daí, na lateral tanto da Faria Lima quanto da Juscelino Kubistchek. Quando os ciclistas chegarem à altura do Parque do Povo passarão a circular pela calçada em transito partilhado. Pelo que entendi alguns cruzamentos serão realizados desmontados. Haverá uma equipe da CET operacionalizando e uma equipe de apoio previamente treinados.
André Pasqualine mostrou sua preocupação com a pintura da ciclo-faixa junto ao canteiro central porque pode induzir os ciclistas que passam por lá durante a semana a pedalar na ciclo-faixa de fim de semana. A CET respondeu que a sinalização deixa claro que aquela situação só é valida em fins de semana. E que tendo a ciclo-faixa junto ao canteiro central evita que se trave o trânsito de outros veículos no horário. Além do mais, dizem, há o problema de entrada e saída dos lotes lindeiros, no que estão corretos. Laura Ceneviva elogiou a idéia da CET em vista da situação existente. Mas daí um dos da CET afirmar que uma das razões para a ciclofaixa estar no canteiro central é problema do comportamento das motos, é esticar um pouco demais a corda e subestimar os presentes. A área em questão é nobre e nos fins de semana praticamente não circulam ai motoboys, que é o problema real.
Eu ponderei que a CET está abrindo a caixa de Pandora contra si própria, o que me preocupa. E faço as palavras do André as minhas. Ciclista é condutor de um veículo sim, e como tal é obrigado a seguir as leis de trânsito e sua sinalização. Mas ciclista é também um condutor não habilitado e pode ser menor de idade. Nos fins de semana provavelmente estará dentro do efeito manada e, com exceção de um ou outro, o geral deve acontecer dentro dos conformes, sem acidentes. Mas e durante a semana? Legalmente a CET está coberta e é isto que importa a eles. Como afirmam a cada momento: o importante é a segurança do ciclista. Se é por que não se faz absolutamente nada por aqueles que usam a bicicleta como transporte, portanto pedalam durante a semana? E por que será implantado um projeto que deixa dúvida.
É importante estimular o uso da bicicleta, diz a CET, para ir ampliando o processo, no que concordo. É preciso educar, afirma a CET, o que são de fato obrigados por lei, pelo Código de Transito Brasileiro, mas não me lembro que tenha sido cumprido, exceto numas poucas aulas dadas na Barra Funda. Se o Ministério Público sabe ou se satisfaz com a situação é outra história, mas não deveria. Trabalho de educação para a massa de 300 mil ciclistas dia de semana e 700 mil em um domingo eu não me lembro de ter sido realizado. Se foi, não atingiu os objetivos determinados pela lei. Os números provam o que digo. Daí a “preocupação” minha e de André com fazer a coisa correta, ou seja, a ciclo-faixa à direita, e não a esquerda, só para lazer, só para fins de semana, um pouco confusa para outros fins.
Outra questão é o uso partilhado da calçada para acessar o Parque do Povo. Naquele trecho o número de pedestres é baixo, já que a maioria vem do Itaim Bibi, ou seja, do outro lado da avenida que contorna o parque. Mesmo assim, e de novo, este uso é preocupante porque dá falsa compreensão do que um ciclista pode fazer. A discussão sobre o uso da calçada por ciclistas é muito complicada. Pela lei só pode quando autorizado e sinalizado pelas autoridades, mas pela realidade não é assim que funciona porque a lei tem um buraco no que diz respeito à criança conduzindo a bicicleta, e esta pedalando na calçada. A opção por colocar os ciclistas naquela calçada sinaliza que os cruzamentos de pedestres para acesso ao parque são ineficientes. Sinaliza outros problemas de engenharia de trânsito, como a velocidade local. Por outro lado bicicleta sobre a calçada sempre foi um cavalo de batalha para a CET. Não, não e não. Mesmo quando foi pedido com sinalização, empurrando e tudo dentro da lei. Não, não e não. Estranho esta posição atual.
A CET está abrindo uma caixa de Pandora contra si própria porque neste projeto experimenta de uma maneira muito agressiva, porque está se posicionando perante a lei no limite, porque usa a prerrogativa que a lei permite dá de criar alternativas locais. Laura Ceneviva ressaltou isto, e é de fato muito bom. E concordo; em parte. Infelizmente vocês não participaram das reuniões que participei para ter ouvido as razões alegadas pela CET para frear todas as propostas apresentadas até hoje. Infelizmente não conhecem o histórico para compreender ao certo o que afirmo.
Laura diz que tudo tem seu tempo. Há muito venho pedindo, inclusive em proposta oficializada na própria Prefeitura e assinada por ex-funcionários da própria CET, que se diminua a velocidade nos fins de semana no entorno de parques e locais de atração pública. Vejam no http://www.saopaulodapedal.kit.net/ - http://www.saopaulodapedal.kit.net/sao%20paulo%20450%20anos/sao%20paulo%20450%20anos.htm . Hoje se propõe isto neste projeto, e parece que irão implantar com sinalização, ou seja, em cima da lei. Abre um precedente que se a população não usar contra a CET é porque é burra. Sempre lutei para que as coisas se transformassem e crescessem com calma, lentamente, em ordem. Sempre fui a favor de manter a caixa de Pandora sob controle. O crescimento do uso da bicicleta em São Paulo, como mostra o estudo de Carlos Paiva, da CET, está sendo mais rápido que o esperado e isto pode não ser bom tanto para os ciclistas como para a cidade. Tudo o que São Paulo não precisa é mais uma espécie de motoboy e seus problemas. Que eu esteja errado na minha avaliação.
Com os instrumentos legais que se abrirão com esta ciclo-faixa de fim de semana será possível fazer novos e interessantes pedidos de melhorias de segurança e conforto para ciclistas, pedestres e outros não motorizados.
Espero que dê certo e acredito piamente que venha a dar nos fins de semana. Tem que dar certo para se multiplicar na cidade. Mas não há dúvida que o correto seria fazer a implantação desta experiência baseado na sensatez de levar em consideração que a bicicleta é um veículo sim, que já é usado por 300 mil ciclistas/dia/ trabalho. Educar a futura população de ciclistas, que não para de crescer, seria mais fácil se o processo fosse único e para todos. Separar fins de semana com dias de trabalho pode ser um problemão. Espero que não seja, mas esterno minha preocupação. Que eu esteja “overreacting”.
Finalmente: seria educado e de extrema simpatia que não se repita o fato de ter diretor da CET fazendo comentários jocosos ou impertinentes pelas costas no meio da reunião. O fato já aconteceu outras vezes, uma delas numa apresentação de proposta, a do Dia sem Carro do Movimento Nossa São Paulo, com o Prefeito Kassab por perto. Eu, Arturo, tenho prazer ao debate, de expor idéias, de tentar provar minhas teses, até em campo se necessário. A CET, presta um serviço público e deveria, até por lei, ter apreço ao diálogo sincero. Pedestres sabem como é. A CET tem a lei e um poder político imenso a sua disposição e faz o que bem entende, geralmente faz correto, mas faria melhor se abrisse o diálogo. Como cidadão e com alguma noção do que falo creio que mereço ser ouvido. Tenho o maior respeito pelo trabalho da CET e os números da própria CET mostram quem ela é. Para quem estiver interessado, por favor, comparem os números daqui, São Paulo, com os números dos Estados Unidos - http://www.itsbenefits.its.dot.gov/its/benecost.nsf/SearchBenefits?SearchView&Query=Transportation AND Fatalities AND by AND Mode&SearchFuzzy=FALSE&SearchWV=TRUE. Tire suas conclusões.

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