quinta-feira, 22 de março de 2012

Paris, projeto urbano e Velib


Ontem, finalmente, depois de uma longa luta para conseguir preencher os quesitos necessários, consegui sair pela primeira vez numa Velib. Basta desbloquear, ajustar o selim e sair pedalando. Há postos Velib por toda a cidade e é fácil largar a bicicleta. Mas foi para mim, um estrangeiro, uma luta conseguir preencher o formulário na internet. No final quem conseguiu foi uma amiga francesa.
A experiência foi até emocionante, mesmo sendo eu bem vivenciado nas coisas da bicicleta. A bicicleta em si é pesada, mas roda muito bem, é estável, tranquila, previsível. Tem 3 marchas internas no cubo e freios convencionais. Ao primeiro movimento o dínamo interno ao cubo de dianteira aciona automaticamente o farol e a lanterna traseira e mesmo depois de parado estas permanecem acesas por um bom tempo. A cestinha dianteira é obviamente prática e conta com um cabo de tranca em espiral. A conservação está sendo bem feita e é difícil ver alguma torta, desalinhada ou muito desajustada. Já usei 4 delas e só em uma o câmbio poderia estar mais bem ajustado. Tentei ajustar, mas obviamente o sistema, como toda bicicleta, é estanque a curiosos.
É possível contratar por um dia, sete dias ou um ano, que foi o que fiz. Dai as minhas complicações. Por um dia basta colocar o cartão de crédito e sair pedalando, o que muito turista faz, mas eu não consegui. Ontem tentei ajudar uma carioca que também não conseguiu.  Quando se vai para um ano há duas opções: 29 Euros para 30 minutos de uso por vez, ou 39 Euros para 45 minutos por vez. Optei pela segunda, mas mesmo assim creio que tenha estourado o tempo na numa das saídas. Vou ter que pagar um acréscimo.
Numa das saídas acabei seguindo uma senhora de uns 50 e poucos anos que também estava numa Velib. Ela estava pedalando numa ciclovia de avenida que termina na rotatória do Trocadero, que é um pouco complicada para ciclistas. Fiquei impressionado com a forma como ela se lançou ao transito. Quando ela terminou a rotatória conversei com ela, que confessou que passar por ali não é fácil, mas que o prazer e facilidade de pedalar compensa. O trânsito de Paris é bem fácil porque os motoristas estão bem acostumados com os ciclistas e não há agressões de ambas as partes. As avenidas são bem largas o que diminui o nível de tensão geral, mesmo quando a bicicleta está no interno de bairro que é muito estreito e faz com que o motorista tenha que se manter atrás.

O Velib, as tão famosas bicicletas comunitárias de Paris, não foi o passo inicial para estimular o uso da bicicleta, mas foi a sequencia final de um projeto de transformação da cidade. O problema no Brasil é que queremos discutir bicicleta sem fazer ideia do que é, ou deveria ser, uma cidade. Parece que vão colocar 300 postos de bicicletas comunitárias em São Paulo, mas o dever de casa da CET não foi cumprido e o ciclista está jogado a sua própria sorte. Infelizmente os políticos entendem mesmo é de festa e votos e repetem a Ciclo Faixa de Domingo de São Paulo em várias cidades do páis, mas não fazem praticamente nada pelo uso da bicicleta como modo de transporte. Repito: o caso da Ciclo Faixa de Domingo é resultado de uma briga de foice no escuro entre o primeiro escalão de Serra, que queria a bicicleta no dia a dia, e uma CET desinteressada por qualquer coisa que não fosse motorizado. Fazer para o lazer acabou virando propaganda política. Provavelmente como será o Velib paulistano, ou de qualquer outra cidade. Vai funcionar? Claro que sim. A demanda reprimida é enorme, em todas grandes cidades. A população não aguenta mais a cidade na qual vive. Nossa qualidade de vida é muito ruim.

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