Ainda novo, na faculdade, nas aulas de pedagogia e sociologia, aprendi o óbvio que hoje estamos vivenciando intensamente no dia a dia: qualquer espécie viva precisa de um determinado espaço para viver e quanto mais adensado for o ambiente, mais tenso se torna a relação entre os indivíduos. A demonstração científica é simples: basta em um espaço determinado ir aumentando progressivamente o número de ratos. A condição individual e coletiva vai degradando até o ponto de ruptura social, com a consequente luta pelo espaço próprio de sobrevivência, ou seja, explosão da violência.
Humanos
tem um grau de adaptabilidade enorme, se comparado a outras espécies. Como
espécie, chegamos onde estamos porque fomos capazes de organizar a vida comum
através de treinamento e educação. Mesmo assim estamos passando por uma época
de ruptura social de consequências ainda não definidas.
Até os animais passam por
estes estágios de aprendizado. O primeiro está relacionado às habilidades
físicas, hoje também considerada uma inteligência, que qualquer animal,
incluindo da espécie humana, forma através de testes que chamamos de
brincadeiras, o treinamento básico para a sobrevivência. A partir de um determinado
estado evolutivo é necessário educar para tarefas específicas, o que nós,
humanos, fazemos dentro de escolas e faculdades num trabalho mais mental, normalmente
pouco prático. Outras espécies educam pela prática, como mostra qualquer
documentário de vida animal.
Trânsito,
no sentido de movimentação de seres e objetos, é um dos sistemas de organização
social mais básico. Mesmo um retardado profundo, com suas limitações
claríssimas, aprende que tem que passar pela porta e não pela parede, e que para
caminhar na rua tem que desviar dos obstáculos do caminho. É um aprendizado que
parece simples, mas na realidade é muito complexo, dado a quantidade de
informações aprendidas, e é feito através principalmente de treinamento de
erros e acertos. Uma vez aprendido como “cruzar” as coisas sem se machucar o
resto do processo é procedimento normalmente simples de ser assimilado.
Qualquer
um consegue se locomover no trânsito das cidades atuais por que é
essencialmente uma questão física de sobrevivência. Um vira lata aprende a
cruzar a rua e caminhar nas calçadas. Mas as movimentações aumentaram, se
complicaram e sofisticaram a tal ponto se tornou necessário educar as pessoas
para sobreviver neste caos controlado. As regras do funcionamento de trânsito,
que existem a milênios, foram sendo desenvolvidas para facilitar a vida de
todos e ser cada dia mais segura, como de fato é. Hoje as informações para os
usuários das vias são simples, básicas, de fácil e rápida compreensão para
todos; independente da capacidade mental.
Adensamento
do trânsito e consequente aumento de agressividade; mais tempo gasto em
transporte e consequente perda de tempo de convívio; um sistema de comunicação
digital eficiente, e cada dia mais portátil, que supre o tempo perdido nos deslocamentos,
mas que reprime o treinamento do convívio humano, do partilhar, da
sobrevivência coletiva. Chegamos à comodidade da individualidade desconectada de
qualquer pressão de organização relacionada à sobrevivência coletiva. Grande
parte da sociedade está ou no vício do automóvel e ou profundamente contaminada
por seus traficantes. E novos vícios entranham a sociedade gerados pelo
computador e sua inteligência artificial. Interessante a expressão
“inteligência artificial”. Aumentar o número de ratos no mesmo espaço e
dar-lhes uma inteligência artificial.
Tendo
justamente neste momento de crescimento urbano a beira do colapso, e tendo em
vista que a educação formal, escola e faculdade, está cada vez mais rala,
incipiente, e provavelmente ainda deve piorar, e que ainda não fazemos ideia no
que vai dar esta formação mental gerada pela mídia eletrônica, só nos resta procurar
uma saída para sobrevivência geral. Acredito que o caminho está em reorganizar a
sociedade urbana através de um sistema simples, basicamente binário, permitido
– proibido, vai – fica, o que já vivemos no trânsito. A responsabilidade de
quem está envolvido neste meio é muito maior que possa parecer a princípio. É
crucial. É dos poucos nós que oferece resultados à curto prazo e ser desatado
com certa facilidade.
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