domingo, 29 de maio de 2022

Assassinado por falta de capacete?

Fórum do Leitor
O Estado de São Paulo

A história de Genivaldo de Jesus Santos é sintomática:

Um cidadão foi parado e assassinato por (pseudo) agentes da PRF é notícia por si só. O cidadão brasileiro circulava em moto sem capacete, o que é costume trivial no Nordeste, e por isto foi parado numa rodovia, daí para frente "houve uma (completa) perda de controle da situação" resultando na morte violenta do mesmo cidadão. Muitas das reportagens realizadas expuseram a condição clínica do cidadão, o que provavelmente servirá à defesa dos assassinos e manterá o maldito estigma que assola pessoas diferentes. Sob este prisma, fanáticos seguidores de políticos, religiosos e ideologias são exemplos de normalidade? 
A barbárie ocorrida aponta mais uma vez e sem deixar qualquer dúvida para o grave problema de seleção, formação e treinamento continuado dos policiais de todos níveis deste país.
A outra questão é sobre capacetes que parece só mais um detalhe. Não é, muito pelo contrário, é sintomático. O não uso de capacete no norte e nordeste, ou em qualquer região tórrida, tem várias razões, talvez a mais óbvia seja o calor. O problema de fato é a forma como é tradada a questão, ineficaz e míope, senão burra. Serve para esconder as deficiências graves no que diz respeito à engenharia de segurança no trânsito, o que se pode perceber na precária sinalização em até cidades médias e ricas deste país. Serve, isto sim, para manter intacto o nosso famigerado corporativismo. 

Caso a engenharia de trânsito e a educação para a segurança no trânsito sejam norma impecável, o que definitivamente não ocorre, a importância do capacete no salvar vidas diminui sensivelmente, podendo até a desaparecer. O que temos é condutores despreparados circulando em locais inseguros. Do jeito que as vias de nossas cidades estão não estará o condutor salvo sequer vestindo uma armadura militar, o que dirá de um simples capacete. Em razão da falta de nosso interesse, população brasileira, não temos dados precisos sobre o que realmente acontece. Não nos interessa nem perícia nem legistas, é fato. Mais, é sabido que boa parte dos acidentes são subnotificados em pelo menos em 35% e que dependendo da área mesmo os B.O.s contêm erros crassos. Não há uniformização nacional dos B.O.s e da coleta e distribuição de dados, o que torna impossível dar as razões reais sobre causas e consequências dos acidentes, e por que não dizer mortes violentas. Nunca se houve falar em erro das autoridades. O corporativismo dá vivas a este silêncio. 

Bolsonaro foi filmado circulando em moto com um capacete próprio para alpinismo ou skate levando um bombado sem capacete na garupa. Quem vai parar Bolsonaro? Que importa o capacete?

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