segunda-feira, 23 de maio de 2022

Lei de Murphy por 3 diaS

Amanhã tenho que levar minha prima para Santos. Vai ser bom. Vamos passar a semana lá. O apartamento dela vai ser dedetizado contra cupim e ela teria que ficar dois dias longe dele, porque não passar 4 dias próximo ao mar, em Santos, cidade adorável. Ela gostou da ideia. Já começaram os preparativos.

Sábado eu teria que ter ido ao apartamento para acertar alguns detalhes sobre a viagem. Não muito longe dali marcaram uma reunião de amigos que não se viam desde antes da pandemia; 3:00 h num bar / boteco / restaurante próximo ao apartamento. Teresa já tinha me pedido para visitar Thereza, minha prima, e porque não juntar tudo, a reunião com os amigos que ela também estava convidada e a visita. Acertamos dar uma passada na Thereza e chegar mais cedo para almoçar no mesmo bar / boteco / restaurante. Maravilha!
A bicicleta de Teresa quebrou e o que era fácil de consertar demorou, demorou, demorou. "Deixa a bicicleta, vamos de metrô. Almoçamos, vemos o pessoal, depois passamos na Thereza ". Maravilha! 
O almoço foi bom, mas tive que trocar meu prato porque o vidro de pimenta explodiu em cima do feijão, pelo menos só do feijão; roupa limpa. Pimenta forte, boa, que desperdício. Bucho cheio, ainda meia hora para o pessoal chegar, andamos um pouco, tomamos um sorvete para empurrar o almoço apimentado. Espera, espera, espera e nada, ninguém chega. "Tem certeza que é às 3:00 h?". Pego o celular não só para ver o horário, mas o local. Junto com o endereço, que estava correto, escrito num cinza meio apagado estava 19:00h. "Que porra é este 3 com reloginho aqui?". 
Volta para casa, Teresa vai para a dela com a bicicleta que não engata. Eu tiro uma soneca. Soneca? Cai duro e preto, acordei torto. "Toma vergonha, vai cumprir seus deveres. Ver velhos amigos e passar na Thereza". Torto subo na bicicleta, subo a Rebouças, ufa! chego lá, opa! festa, boas conversas. Thereza fica para amanhã.

Entre amigos, todos mais jovens, pergunto "Que porra é este 3 com reloginho aqui?". "É uma informação do Google de quantas horas terá o evento. Das 19:00h às 22:00h, 3 horas de evento. Você não foi único que fez confusão". Pelo menos!

Domingo. De volta Teresa e sua bicicleta que não engata. Agora vai, e foi rápido. Lubrifico os cabos e bingo! Quase funciona, mas funciona. "Quanto tempo esta bicicleta ficou parada?" "Ah, mais de 15 anos". Upa! Ela se vai, abro o Whatsapp e dou com o aviso da morte da mãe de uma amiga. Velório precisamente às 14:00h em Vila Alpina, longe, mas bela pedalada. "Não vou para aqueles cantos faz tempo. Vai se divertido. Passo antes no apartamento de Thereza, dou um beijo nela, vejo os últimos detalhes da viagem, colo a cadeira e parto. Como um burguer pelo caminho. Vai dar tempo para tudo". Subo, bato na porta, silêncio. Toco a campainha, silêncio. Olho o relógio. Abro a mochila e deixo a cola no móvel do hall de entrada. Chamo o elevador, ele chega, ouço um barulho. No vizinho. Dou meia volta e o elevador desceu. Aperto o botão de novo, ele sobe, ouço vozes, vou até a porta e coloco o ouvido na madeira. Vizinho de novo. "Com este cachorro (do vizinho) que não para de latir fica difícil". Foi-se o elevador de novo. Aperto o botão, sobe mais uma vez, chega lotado, entro mesmo assim perguntando se posso. 
Pego a bicicleta e faço o caminho para Vila Alpina neste domingo lindo de tempo agradável. Chego no Ipiranga babando de fome, louco por um tradicional burguer da região. Passo por ele, dou meia volta, encosto a bicicleta e quando vou colocar a trava vejo que estão assistindo na TV o Programa do Ratinho. "Aí não, não dá. Ratinho em domingo ensolarado ainda com volume alto, aí não dá. Morro de fome, mas aqui não" e parto para o próximo. Circulo pelas ruas tradicionais ruas do Ipiranga. Encontro uma padaria que é legal, das velhas, já conheço. Não tem lugar para estacionar a bicicleta. Ando de um lado para outro procurando, mas só há vagas para carros, várias, nem um espaço para a bicicleta. "Morro de fome, mas aqui também não". Sigo em frente. "Quem sabe em Vila Alpina"

Cruzando o viaduto, no meio dele, olho em frente e não faço ideia de onde estou. "Uai, não é aqui?". Termino de cruzar, paro, pergunto, sim é o caminho correto, estou em Vila Alpina, irreconhecível. Parece que nunca estive aqui e de fato nunca estive nesta novíssima Vila Alpina, irreconhecível. Na avenida dou com um fast food de comida japonesa que conheço da av. Jabaquara. "Legal!". Uma bosta! Nada a ver com o que provei antes da pandemia, nada a ver. Saio arrotando, mas alimentado. O velório é próximo.
Chego ao cemitério. Lotado. "Com licença. Com licença..." e assim vou cruzando a multidão. Encontro um funcionário e peço orientação. Ele olha a lista e diz que não faz ideia de quem é Terezinha. Não, não matei nenhuma Teresa, a morta de chama Teresinha, no diminutivo, mais precisamente Maria Teresinha. Parece piada, mas não é. Subo para o velório, encontro outro funcionário com lista na mão, ele também não faz ideia de quem se trata, pega o celular, liga para a chefia para mais informações, chega alguém com um caixão, ele sai andando com o celular no ouvido e some. Espero e nada do sujeito voltar. Olho o relógio, 13:56h. Volto para para o crematório. "Com licença. Com licença..." e sou agarrado pelo braço. Matheus, o neto. Ufa, cheguei a tempo. "Fica tranquilo que está tudo atrasado. Não se sabe que horas vai acontecer a cerimônia". Nada bom para quem ainda tem que dar uma passada no apartamento de Thereza. Saio de lá tarde e moído. De volta para casa. "Amanhã (segunda) vou até lá (Thereza)". O chuveiro quebra, banho gelado. "Amanhã acordo cedo e troco".
Faço uma lista do que será a segunda-feira corrida. 

Acordo às 4:44h. Como dizem no Whatsapp, KKKKKKK; melhor, qua, qua, qua. Não prego mais os olhos. Subo, trabalho um pouco nos textos. Chega 9:00h, loja aberta, lá vou eu. De volta para casa, ferramentas na mão, luz desligada, instalação completa, fiz correr água antes de religar a luz. Teste final e o chuveiro explode suave e docemente. Foi-se a resistência novinha. O que fiz errado? Penso, passo todos os passos, "Não, não fiz nada errado. Só pode ser piada, tenho que trocar de novo".  Lá vou eu, sol a pino não quente, mas queimando. Volto, repito todas operações, e... e... não funciona. Desisto. Vou almoçar. Paulo, o dono do restaurante, está furioso. Um cliente roubou o celular velho que só servia para tocar a excelente trilha sonora. Nunca vi Paulo tão bravo. "Ainda chamei e ouvi o celular tocando, mas (o restaurante) estava cheio, não deu para saber com quem, e não quis causar". 
Volto para casa, desmonto tudo, refaço, descubro que tem sujeira no cano. Desentupi e funcionou. Eu mereço uma soneca. Caí duro e preto, acordei no fim da tarde grogue. Pensa, pensa, pensa, meio acordado, meio chapado da soneca. "Que seja. Amanhã vai dar certo", e tem que ser por Thereza.

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