sábado, 14 de maio de 2022

barulhos e ruídos da cidade

Nós, brasileiros, somos barulhentos. A maioria gosta de som alto, ou está acostumado e não reclama. Não precisa ir a uma festa, show, carnaval, basta ir a padaria da esquina ou qualquer restaurante que o volume do som é alto, até pelo vozerio do povo; fica muito difícil conversar. 
 
Nestes tempos difíceis precisa pensar na parte financeira. Não é recomendável colocar em risco um importante equipamento urbano em nome do silêncio absoluto que no final de contas é o que quer boa parte dos moradores em volta do estádio do Palmeiras. Eles têm razão? Devem ter, também quero. Provavelmente o barulho deve ser infernal, mas há formas e formas de resolver - sempre. 
Um estádio multiuso como o Allianz é importantíssimo para a economia até de uma cidade rica como São Paulo. Acontecer o que aconteceu com o Estádio do Pacaembu que foi calado pelos moradores do bairro é burrice e ou irresponsabilidade sem tamanho. Simples, em nome do bairro um grupo de moradores inviabilizaram o estádio, o mais tradicional da cidade, e com isto só não decretaram sua falência porque nosso dinheiro público quem pagava as contas.

Um ouvinte da Rádio Eldorado sugeriu que se levasse o estádio para longe, dando como exemplo o Estádio do Corinthians em Itaquera. Ele esqueceu de perguntar aos moradores do entorno do Corinthians o que eles acham do mesmo barulho e da mesma bagunça inerente a qualquer jogo de futebol ou show. Depois esqueceram de pensar o que fazer com a enorme construção do Allianz sem promover shows. Provavelmente também não pensaram no que deve acontecer com os bairros do entorno e a cidade caso o grande e moderno estádio multiuso seja calado. Vão surgir outros problemas, provavelmente mais complicados de resolver. A falta de dinheiro é amiga do caos, disto ninguém duvida.
Os mesmos moradores no entorno do estádio que reclamam deveriam se levantar contra os pancadões que acontecem na periferia e que afetam profundamente a vida e saúde dos servidores, trabalhadores, operários, funcionários, que trabalham no entorno do mesmo estádio, possivelmente dentro de suas próprias casas, dos vizinhos, parentes e amigos.
 
Allianz parece estar disposto a instalar janelas antirruído na casa ou apartamentos dos incomodados. Sem dúvida resolve, mas de minha parte gostaria que também fossem aplicadas as leis vigentes. No caso que estas não apresentarem soluções convincentes que se lute por melhores, mais adequadas e próprias para os dias de hoje. Por sinal, já cortaram das leis municipais a lei que dita a forma correta de amarrar burros em vias públicas? Parece piada, mas não é; não faz muito ela estava válida. 

Dá o que pensar como seria resolvida uma situação destas nos Estados Unidos e Europa. Simplesmente não aconteceria porque o problema seria estudado e resolvido antes da construção e ou da habilitação da obra. Por outro lado, por uma questão de educação e cultura, duvido que o público de lá que vai a um show aceite som tão alto. O som aqui não é alto, é distorcido, uma aberração. É um crime não só com quem está em volta da barulheira, mas para quem pagou para assistir o show. Estava no último Paul McCartney no mesmo Allianz Parque e o som estava acima do limite, coisa para quem não entende de música, só quer berrar.

No Brasil tudo se resolve no berro. Nossas praias que o digam. Vi uma reportagem que uma cidade proibiu som alto na praia e o povo ficou revoltado. Enfim, "olha a pamonha, olha pamonha quentinha, são as pamonhas de Piracicaba..." 


Eu moro a um pouco mais de uns 400 metros do SESC Pinheiros. Não estou sequer em linha reta. Tem que dobrar esquina e há um monte de casas entre o SESC e minha casa, além de tudo é terreno de fundo. Mesmo assim quando o SESC faz shows na área externa, de frente para a rua, ouço perfeitamente como se estivesse tocando alto o rádio da minha sala. O que eu faço com isto? Brigo até proibir o barulho e com isto dou um tiro na cultura deste país que já é paupérrima? Luto para fechar o SESC?

Para terminar, no começo dos anos 80 aconteceu uma corrida de kart na Praça Charles Muller, praça que dá acesso ao Estádio do Pacaembu, com grande público, talvez o maior da historia do kartismo até então. Foi o primeiro passo para a volta de Emerson Fittipaldi às competições de alto nível e sua ida para a Fórmula Indy, onde seria Campeão como foi na F1. A confusão com os moradores do Pacaembu fez com que um evento destes nunca mais se repetisse lá. Parece um exemplo que não tem nada a ver, mas vamos lá explicar. O que representou aquela corrida? Quanto será o valor agregado das corridas de rua da Fórmula E para as cidades que acolhem a categoria? Qual a importância das corridas de rua que aconteceram no Brasil antes dos autódromos? Quanto foi e continua sendo o valor agregado do brasileiro Emerson Fittipaldi para a economia do Brasil? Qual é o valor agregado do Réveillon na Paulista para São Paulo? Do carnaval de Salvador? E aí vamos.

Sim, barulho é um saco, eu não gosto. Depois do pedalar em silêncio numa bicicleta gosto menos ainda. Como sempre falo em comer pelas bordas digo que começaria a redução de poluição sonora desta cidade pelos malditos canos de escapamento, principalmente das motos. Depois pelos bares... Silêncio é saúde, silêncio é lei, mas o silêncio só vem quanto as partes abaixam a voz e conversam feito gente. 

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