- Os documentos sobre a privatização do Estádio do Pacaembu estão sobre sigilo da Justiça? Como assim?
- Um prefeito ganhou na justiça o direito de vender terras quilombolas?
- Famílias que estão num terreno invadido a mais de 40 anos e lutam a 30 anos para ter o direito de posse estão sendo despejadas por ordem de uma Juíza para construir um viaduto?
- Enquanto o dono do restaurante pesa os pratos alguém numa fila de uns 7 rouba o velho celular de vidro quebrado que tocava músicas?
- Em vez de acertar a questão da lei do silêncio a Câmara dos Vereadores quer aumentar o volume de ruído no entorno dos estádios de 55 decibéis para 85 decibéis?
- A Vale vende terras ricas em manganês avisando que não tem condição nem quer colocar seus pés lá. Será possível? A violência é tanta que nem a Vale consegue tomar posse de suas próprias terras?
Como?
Estamos todos loucos?
Eu devo estar. Fico preocupado com cidades, economia e turismo neste Brasil? Fico.
Em razão de minha sanidade mental solto este longo texto abaixo, Pensamentos perdidos sobre cidades, economia e turismo no Brasil, sem revisão, pelo menos até recuperar o fôlego.
Em Ilha Bela vi uma das situações mais civilizadas neste Brasil, não me lembro o ano, se 2008 ou 2009. Tivemos que ir até o centro para pegar pão logo cedo, lá pelas 7h30 ou 8h00 na manhã seguinte à festa de Ano Novo, que aliás foi bem animada e terminou com o dia amanhecendo. Sei por que ouvimos a barulheira toda a noite. O ponto é que tinha varredores por tudo quanto era canto e o centrinho, como eles chamam, já estava praticamente limpo, isto às 8h00. Bravo!
Me lembra a história que Leo contou sobre um Campeonato Mundial de Balonismo que aconteceu no Japão. Terminado o evento a organização juntou todos os participantes, entregou imensos sacos de lixo para as equipes, orientou que cada equipe fosse para as bordas e voltasse catando todo lixo, por menor que fosse, a juntar-se novamente no centro do imenso espaço. Quando o imenso local do evento estava completamente limpo todos foram liberados. Bravo!
O sul do país atrai o turismo da argentina, o que é ótimo, mas não tem o valor agregado dos turistas de
primeiro mundo. O que alegam é que Brasil é longe do primeiro mundo, uma espécie de ponta para o turismo internacional, e que isto faz com que a opção seja para outras paragens. Quem sou para contradizer especialistas, mas, pensar não ofende, será que se tivéssemos uma infraestrutura turística de melhor qualidade não atrairíamos mais turistas estrangeiros, por exemplos que vão para as praias do Índico?
As belezas deste país são incríveis, mas é necessário corrigir alguns pequenos detalhes, tipo, arrastão nas praias, farofeiro com som (horroroso) ensurdecendo toda a praia; nas montanhas os quartos dos hotéis e pousadas ter vedação apropriada para evitar que se congele mesmo debaixo das cobertas, não ficar esperando a bebida por mais de hora, manter as praias, cachoeiras, ruas e tudo mais limpo...
Mingau quente se come pela borda, é de uma sabedoria sem tamanho. É imperativo que alguém corrija os erros básicos, patéticos, que nosso turismo tem, e não poucos.
Caminho da Fé.
Quem já não ouviu falar no Caminho de Santiago de Compostela? Tem tanto "peregrino" que é difícil encontrar lugar para dormir depois da caminhada. É uma caminhada muito bem vendida, com uma forte imagem mágica não só para os religiosos.
Não faço ideia do que seja a paisagem do Caminho de Santiago de Compostela, mas conheço a Mantiqueira do Caminho da Fé e é um desbunde! Seja para um passeio, caminhada, pedalada, é um turismo com uma paisagem de matar de linda, e com certeza com um clima muito mais ameno, muito mais agradável que o da Europa. Quem divulga? Turista estrangeiro ali? Nunca vi ou ouvi falar. Europeu ou americano quando vê nossa natureza fica alucinado com a riquíssima beleza.
Infelizmente o Caminho da Fé está organizado para um pequeno e específico público. Os hotéis, pousadas e quartos para dormir são precários, os banheiros, até mesmo de ditos hotéis mais chiques, são patéticos. Choque de chuveiro elétrico... pois tome cuidado. Escada pomposa, imitação de gran hotel internacional com coluna no meio da escadaria que não permite a passagem da mala... Janela que não abre por completo tendo uma paisagem maravilhosa... Falta de orientação para os turistas ou peregrinos... Exagero um pouco, exagero sim, mas está muito longe de ser exagero. Falta dar um tapa, orientar, ter o Estado como participante, como fomentador, como educador...
A Represa de Guarapiranga é em boa parte de uma beleza rara. Alguns trechos muito deteriorados foram recuperados pela Prefeitura administração Serra junto com o Projeto Córrego Limpo. Dentro de uns dias vou voltar a vê-los para saber como estão. O projeto das ciclovias em torno da Guarapiranga que trabalhei simplesmente evaporou junto com o megaprojeto de transformação da represa. Me foi contado que era ligado ao projeto para trazer o Museu Guggenheim para São Paulo / Brasil. Fofoca, exagero, mentira ou verdade de quem disse jamais saberei, o que sei é a ciclovia seria contrapartida de um projeto. Mais um projeto que não sai do papel.
Fui chamado para começar a fazer o trabalho de campo num outro megaprojeto, o da recuperação da av. Celso Garcia que evolveria US$ 1 bi. Evaporou, ninguém viu, ninguém sabe, ninguém nunca ouviu falar de tal coisa. "Esquece" foi a resposta que recebi quando perguntei quando começava; e assunto encerrado, ponto final.
Tem uma verdade que ninguém pode negar: shopping center é tudo igual. Pode ser mais rico ou mais pobre, mas o conceito, as lojas, a praça de alimentação, o estacionamento... se não é tudo exatamente igual, é tudo praticamente igual.
Qual é a vantagem de fazer turismo numa cidade onde a rua principal, a de maior atrativo, aquela que concentra o grande público, tem exatamente a mesma poluição visual que qualquer outra cidade?
Qual é a vantagem de fazer turismo em uma cidade típica onde todas as casas foram reformadas para ficarem "mudernas" e parecer com as do comércio de uma cidade grande ou shopping center?
Já bati nesta tecla e não vou me cansar de continuar neste samba de uma nota só: poluição visual.
Em Santa Catarina, por exemplo, que tem cidades bem simpáticas, colocando regras e limites para placas, anúncios e cartazes. Evitar que o patrimônio histórico da cidade seja desmantelado seria melhor ainda. O que aconteceu em Joinville definitivamente não pode se repetir.
Cidade Limpa de São Paulo mostrou-se um sucesso até por mostrar a arquitetura do passado. Mesmo o temor do "vou perder clientes, como eles vão me ver" não só não se realizou como, pelo contrário, os negócios acabaram descobrindo que menos poluição visual traz clientes. Dã! não, se jura?
Tomei café da manhã com dois brasileiros que vivem em Brasília, ela ainda trabalha no CNPQ, ele aposentado do sistema de águas e esgoto. Conversamos sobre o absurdo da falta de esgoto encanado e tratado neste país. Enquanto ouvia a história deles, para mim os reais heróis deste país, passou pela minha cabeça tudo que já vi de ruim, como o córrego que vi em Guarulhos que tinha exatamente a mesma consistência de um milk shake de chocolate, ou os horrores que vi em favelas fazendo inspeção para projetos, ou ainda o cheiro insuportável do rio Pinheiros e finalmente o rio Tiete absolutamente coberto de espuma de Santana do Parnaíba até Bom Jesus do Pirapora, todas lembranças de passagem bem rápidas, doloridas, que gostaria de ter motivos para esquecer, mas ainda não tenho. Pelo menos já vi um córrego completamente recuperado, águas límpidas, já desaguando no Tiquatira, fruto do Projeto Córrego Limpo que um dia deu frutos e não se ouve mais falar.
Água e esgoto encanados e tratados dão muito melhores resultados e saem muito mais barato que população doente. Num país de uma farmácia a cada esquina duvido que saúde preventiva seja interessante.
Informação é absolutamente crucial para a construção de qualquer sistema com qualidade. Uma das melhores formas de ver uma cidade é de dentro ou de um ônibus ou num bonde, na Europa chamado de "tram". Em Turim só encontrei o mapa dos bondes numa única parada. Nem na estação central de trem.
Em muitos hotéis da Europa a porta do banheiro é de correr. O resultado é que quem está no quarto consegue saber a evolução da cagada de quem se contorce no trono. Acho uma merda, um constrangimento, mas não há o que fazer, faz parte da cultura deles.
Quem é de minha geração viveu em casas que tinham um banheiro para toda tropa. Socialmente significa que todos tinham que controlar o que hoje, com banheiro para todo lado, parece ser incontrolável. "Espera seu irmão sair do banheiro" era aceito sem reclamação. Ontem uma jovem linda entrou na área dos banheiros visivelmente apertada. O banheiro feminino estava ocupado e ela cruzou as pernas. Eu abri a porta do masculino e disse para ela ir. Imediatamente entrou e ouvi uma explosão de alegria. Saiu sem constrangimento e me agradeceu umas dez vezes. O que teria acontecido nos anos 60? Flower Power?
Quanto melhor a qualidade do lugar, maior é a integração social e menor são os problemas sociais.
Depois de três dias viajando no navio de cruzeiro o comportamento dos passageiros acalmou, deixou de ser "eu sou bonito e gostoso" e começou a ser mais grupal. A ansiedade do embarque, da novidade, do deslumbre dos primeiros momentos se foi. O segundo fator para acalmar o pessoal, este preponderante, é a impecável qualidade do serviço prestado por toda a tripulação deste MSC. Confirma mais uma vez tantos casos onde a qualidade limpou problemas triviais com jeito de insolúveis. Não tenho receio de dizer que a equidade tão desejada está na qualidade total.
O exemplo da câmera de segurança da estação terminal Barra Funda que filmava a passagem dos usuários da antiga e decadente CPTM para o Metrô, isto lá pela década de 90, jogou luz confirmando a importância de dar a melhor qualidade possível para a população. O comportamento do povo na área CPTM, cheia de problemas, mudava completamente quando cruzavam a catraca para a área do Metrô. As imagens gritavam o caminho a ser seguido.