terça-feira, 31 de dezembro de 2013

São Silvestre! e Feliz Ano Novo

Terminar uma São Silvestre é um das boas sensações que se pode ter no fechamento ano paulistano. Terminar os 15 km da São Silvestre deste ano, com este trajeto mais acidentado e difícil, e sem certeza que terminaria é uma sensação muito melhor ainda. “Uh! Brigadeiro! Uh! Brigadeiro! Uh! Brigadeiro! Uh! Brigadeiro!” uníssono gritava o mar de corredores que tomava toda subida da av. Brigadeiro Luis Antonio, reta final e tido como o trecho mais duro da prova. Puro grito de guerra, de sentimento de bravura, de “chegamos até aqui agora ninguém nos para”. Nunca vi tanta gente, nunca vi tão poucos inscritos. A São Silvestre mudou muito. Mudou da noite para o dia, da tarde para a manha, mudou o trajeto para não atrapalhar o trânsito, inchou... O prazer de terminá-la não. Terminei! O mar de gente terminou feliz.

Terminar a São Silvestre é uma boa prova que, pelo menos com meu corpo, venho no caminho correto. Outro dia vi uma foto minha de maio ainda com a barriguinha dos 8 kg a mais. Não sou vaidoso, mas é nojento, principalmente para minha diabete. Em um ano perdi os malditos 8 kg, diminuindo a comida, e fazendo um esforço para manter o corpo em movimento um pouco na bicicleta, outro em pequenas corridas, e rápidas nadadas. Por causa da diabete sinto dores quase que constantes no corpo deste antes dos meus 18 anos. Joelhos e pernas, especialmente na esquerda, e lombar; ai minha lombar. Muitas vezes não é um prazer me mexer, mas uma obrigação clínica. É comum ter que sair para uma corrida ou pedal por que uma dor começa a incomodar ou mesmo imobilizar. Faz uns quatro anos tive que reduzir os exercícios por que além das dores comecei a apagar, ter pequenos desmaios ou coisa semelhante. Confesso que acreditei que era minha reta final, mas o diabo não me quis.

Minhas corridas a pé tem sido curtas, lá pelos 4 ou 5 km máximo, e espaçadas. Enfrentar uma prova de 15 km com forte desce e sobe é multiplicar por 3 o esforço natural, o que traz medo, muito medo de ter mais uma lesão na musculatura ou articulações, coisa comum entre diabéticos. A uns 7 dias fiz um treino que me tirou o balanço e deixou as pernas mais doloridas que o normal. Larguei na São Silvestre felizmente acompanhado por meu primo mais jovem, o Zé Guilherme, 28 anos mais moço, o que em parte me ajudou esquecer as dores e a musculatura rígida. E lá fomos nós, 3 km fim da estúpida descida, 5 km, 7 km e Zé comentou alegre que tínhamos chegado a metade com facilidade. “Mais ou menos”, pensei. Começo das subidas e no 10 km o Centro, e minhas pernas apitando. “Minha consciência diz para parar por aqui, o nosso Condomí Alcorta diz para terminar” disse eu para ele. E chegamos na Brigadeiro, o terror de todos...; ou a diversão da maioria. “Uh! Brigadeiro!!”. E debaixo do viaduto 13 de Maio vejo a placa de 14 km, e com ela o gás final. Correndo um pouco mais rápido as dores diminuíram. Vou terminar! Terminei!!!

Terminei a prova faz 10 horas. Estou sentindo bem minhas pernas, mas está claro que não tenho nenhuma lesão. Não posso deixar de lembrar que alguns ortopedistas me fizeram crer. “Meus joelhos estão arruinados”, “não vai dar mais para correr”, pensei. A avaliação foi errada. Somos uma espécie biológica com uma capacidade incrível de adaptação. Depois de uma longa recuperação de uma destas lesões mais graves passei meses primeiro andando mais rápido para depois, durante uns seis meses, atravessando algumas ruas correndo, o que parece nada, mas era simplesmente um feito. Um dia consegui fazer 800 metros correndo sem parar. Quando parei tive um acesso de choro de alegria. “800 metros!!!!” Com muita calma e paciência fui aumentando a distância. Na Runner’s World (Rodale Press) estava escrito: “Pense para longo prazo que os resultados viram mais cedo e com melhor qualidade”. Um passo por vez, esta é verdade, este é o espírito do bem.

Não desistir. Quase não corri minha última São Silvestre, isto faz uns 8 anos. Quatro dias antes quebrei duas costelas. Eu e o pai do Zé Guilherme, José Guilhermo, fomos tomar um expresso e assisti a largada dos deficientes. “Se estes caras correm, é uma vergonha ficar com frescura por que tenho duas costelas quebradas”. Liguei para o Bettarello, meu médico, ele me deu orientações, larguei e fiz o melhor tempo de minha vida, creio que 1h:26m. Desta vez fiz 1h:57m, mas fiz.
 
Feliz Ano Novo a todos.

Um comentário:

  1. Eu estava lá, no 14o km... poderia ter gritado se tivesse te visto. Acho bonito demais o pessoal que agita e grita "vamos lá, vocês são todos campeões!", porque realmente é campeão quem vence a si mesmo. Bjs, Lila

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