sábado, 21 de dezembro de 2013

Natal

Papai Noel nunca me trouxe uma bicicleta de Natal. Sacanagem! Também, não quero mais! Só de birra! Queria que Papai Noel me trouxesse um bom filme de Natal, daqueles que eu conseguia me divertir e ficar leve, mas já passou da hora. Baboseira qualquer no meio da neve, com gente tirando casaco, gorro e cachecol quando entra em casa, nas lojas ou nos cafés; tem desencontros, confusões previsíveis, mas risíveis, e final feliz. “O Expresso Polar” (genial) e “Um conto de Natal”, “Scrooge”, e outros que não consigo me lembrar o nome, mas que são programa de família. Programa de família! Assistíamos o filme umas semanas antes e embarcávamos no espírito do Natal. Tem um cara parecido com Papai Noel no Hobbyt, mas eu não entendi bem aqueles duendes.
Meus bisavós tiveram 14 filhos, 3 homens e 11 mulheres. Por sua vez estes tiveram uma média acima de 4 filhos cada um; e estes mais uns... No Natal era um mundo de gente dentro da casa, numa foto contados a dedo mais de 180. Chegava lá todo bem vestido, subia a pequena escada, cumpria as formalidades básicas, via a árvore de Natal toda decorada e o Papai Noel que ficavam de frente para a escada, e de lá desaparecia para encontrar os primos. No dia seguinte era a casa do meu outro avô, com poucos tios e primos, mas com direito a ir procurar lagartixas na era do jardim e ver se ainda restavam galinhas no galinheiro. Anos mais tarde, depois da adolescência, com o desaparecimento de meus bisavôs e avôs os pontos de encontro mudaram, mas não a diversão. O Natal na casa de Yeda com meus amados meio primos; os primos-irmãos na casa de Mino e Maria Elena, pular para casa de Nenê e Zico, procurar um tempinho para passar na casa de amigos no dia 25. Aos poucos ver o surgimento de uma nova geração. Os presentes eram poucos, mas o calor da confraternização alto.
E lá em casa. Minha mãe, dona Lollia, juntava sua pequena tropa com caprichos. Eu adorava ajudar no que ela pedia. Dinorah, minha irmã, durante alguns anos levou a festa para a casa dela, o que nos obrigava a ir de carro com cuidado especial para pratos, molhos e doces não capotarem no porta-malas. Não era muita gente, mas era muita risada junta. Depois de alguns drinks o pessoal fazia o que de melhor sabia fazer: chutar o politicamente correto para longe. Nosso presente era gargalhar até doer o peito. Papai Noel teria tomado umas e outras e se divertido muito por ali.
Foram passando os anos e aos poucos fui ficando perplexo com a bagunça do trânsito do Natal. Motoristas passaram a ficar irritados por que não conseguiam entrar nos shoppings. Um pouco depois já não conseguiam sequer sair do estacionamento com seus carros abarrotados de presentes. Faz um bom tempo estava indo para minha mãe e não havia espaço para minha bicicleta passar na rua e nem na calçada. Não havia enredo de filme que pudesse dar bom fim naquela história.
E chegam os netos. Maria Clara, Tomaz e Guilherme, mais os amiginhos João e Olivia, quase destruíram os quartos do apartamento do Fê. Os presentes foram abertos com ansiedade, mas logo deixados de lado. O que valeu mesmo foi a bagunça, gritar, correr, pedir socorro para consertar o lustre abatido pela bola, comer doces, desfazer as camas e ficar pulando no colchão... O apartamento virou um caos.
E o Eduardo, de poucos meses, que espero que a família deixe passar este primeiro Natal quieto no seu melhor sonho de bebe. Um dia ele saberá que seu pai, Rafa, alto, magro e forte, já foi o Papai Noel dos primos mais novos. E um dia será o seu. Será o melhor presente.

Feliz Magia do Natal

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