quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Benção do Bom Velhinho

De novo na mesma esquina não! Rua Alemanha com av. Europa, minha predileta? Não! Da primeira vez parei ao lado da janela de um carro dirigido por um rapaz da mesma idade que eu tinha na época. Junto com o sinal fechado calmamente cruzou a rua uma gracinha toda sorridente, num vestido leve de verão, decotado, que lhe marcava o bem torneado do jovem corpo, e nós dois, eu e o motorista, ficamos olhando os passos suaves da linda menina. O motorista carregava um sorriso tão malicioso quanto o meu e eu brinquei sobre o sábado bonito. Ele, sem desviar o olhar dela, riu e respondeu “sol maravilhoso...” e o sinal abriu. Começamos a nos movimentar, eu pedalando em frente e ele dirigindo para esquerda, os dois com olhos sobre a menina. Acabei rolando por sobre o capô do carro e parei sentado no meio da avenida. O motorista parou o carro, abriu a porta, saiu e foi ver como eu estava. Sem perguntar nada nos olhamos rapidamente, procuramos a menina e caímos na gargalhada. A bicicleta estava quase inteira, eu aparentemente também.
São Paulo está praticamente vazia naquela noite que antecedeu o Natal. Parei na mesma esquina. Sinal fechado e completo silêncio. Um carro parado ao meu lado. Olho o cruzamento para um lado nada, olho para o outro nada, só ainda muito distante um carro vindo tranquilo. “Porque ficar parado marcando bobeira?” Vício destes nossos dias. Comecei lenta e despreocupadamente a me movimentar, cruzei a faixa de pedestres e com o canto do olho percebi uma luzinha fraca. Parei com meia roda já dentro da via, coloquei os dois pés no chão e empurrei a bicicleta para trás. E passou um carro de luxo silencioso que vinha só com a lanterna ligada e com a lâmpada da direita apagada. Por causa da luz do carro que vinha atrás e distante não o vi, simplesmente não o vi. Também não o ouvi. Silencioso, seguiu silencioso e se foi. Tivesse eu seguido inevitavelmente teria o luxuoso carro teria me pego na lateral, o que costuma ser grave ou fatal. A dor no joelho depois do acidente “causado” pela linda menina foi novamente sentida na consciência, mas desta vez não teria nenhuma graça.
O motorista talvez nem tenha se dado conta que os faróis estavam apagados. Nestes carros modernos o painel fica constantemente aceso. Muitos motoristas, principalmente os mais velhos e os distraídos, por causa da boa iluminação das vias se esquecem de girar o botão da lanterna e farol. Eu próprio já fiz algumas vezes a mesma besteira. Sou de uma geração que a luz do painel só ficava ligada quando os faróis estavam ligados. Caso houvesse acontecido o acidente não acredito a perícia fosse investigar se os faróis estavam ou não ligados.

Sinal aberto, cruzei a avenida. No céu límpido uma meia lua brilhando. Nada de trenó, mas algumas estrelinhas aqui e ali. É, mais uma vez Alguém lá de cima mandou o recado: aproveite, divirta-se, mas pedale com um mínimo de cuidado e atenção. Obrigado Velhinho. Foi muito bom pedalar de volta para casa. 

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