No Tâmisa curiosamente há dois tipos de ciclovias: duas expressas pintadas de azul claro que correm nos bordes da avenida, e uma sobre a calçada da margem do rio pintada de verde, provavelmente criada para pais com crianças ou velhinhos como eu. Não pedalei na expressa, mas provavelmente me sentiria tão desconfortável quanto me senti em Munique. Não é “bike friendly”.
Cheguei a pedalar nas bicicletas comunitárias do Barclays Cycle Hire, que é muitíssimo mais fácil de usar que o Velib de Paris. Nunca consegui pegar uma Velib com o cartão de crédito, o que foi fácil em Londres. A primeira estação não aceitou o cartão de crédito, mas na próxima, uns metros à frente, foi colocar o cartão, receber o tíquete com o código de retirada e sair pedalando. Em todas outras estações o cartão de crédito funcionou bem.
A bicicleta é um tanque de guerra com três marchas. Depois de quebrada a inércia roda bem muito por conta dos pneus de alta pressão duros feio pau. A sensação é que é mais forte e rígida que a Velib de Paris, com certeza mais pesada que a Bicing de Barcelona, e melhor que a mole, muito confortável, estranha de pedalar, aparentemente delicada bicicleta de Munique. Entre todas prefiro a Samba, que usamos no Rio de Janeiro, São Paulo, e mais outras cidades, pelo projeto simples, bem ‘bicicleta’ e apesar dos ajustes da manutenção que não me agradam.
Pedalar nas ruas de Londres fora da hora de pico é muito fácil. Mas não pensem que todo londrino continua parando para pedestre, que os motoristas não dão umas encoxadas nos ciclistas, que é segurança total. Pedalar em Londres é mais tranquilo do que as outras capitais até pela simples razão que as ruas são muito menos movimentadas, portanto menos tensas. A diferença para Manhattan, Paris ou São Paulo é grande, mas a técnica de sobrevivência é exatamente a mesma. Não se pode deixar de elogiar os ingleses, mais contidos e educados.
Londres tem poucas ciclovias. Usam muita pintura de solo e sinalização vertical. Não é difícil encontrar veículos invadindo o espaço definido para a bicicleta, mais por falta de espaço e situações típicas da fluidez de trânsito do que por desrespeito puro e simples ao ciclista. Em muitas rotas de passagem de ciclistas não há uma sinalização mais ostensiva. A maioria das vias não tem espaço suficiente para dar um espaço especial para a bicicleta e todos se acomodam como podem. Viajei no segundo andar de um double-decker bus (ônibus de dois andares) e o motorista foi lenta e silenciosamente empurrando um ciclista velhinho de tão perto que em certos momentos não o conseguia ver pelo para-brisa. Mas em nenhum momento tocou a buzina ou deu aquelas aceleradas ameaçadoras. Não ouvi sequer uma discussão ou troca de insultos, ou devido à educação, ou devido às janelas fechadas pelo frio intenso. Ciclista alucinando na calçada é muito raro, mas vi alguns ciclistas pouco preocupados com o pedestre.
Adorável é ver locais próprios para cavalgar dentro do Hyde Park, Green Park e na ‘avenida’The Mall, que sai de frente para o Palácio de Buckingham. Nos cruzamentos entre os parques há semaforização para carros, pedestres, ciclistas e montarias. Outro detalhe adorável é a Exhibition Road que já está no futuro: não tem qualquer elemento, como meio fio, que separe automóveis, pedestres e ciclistas. Uma espécie de calçadão para todos. A ideia surgiu na Holanda e está se espalhando pela Inglaterra onde várias cidades simplesmente tiraram tudo que se entende como elemento ou sinalização para segurança do trânsito. É um espaço limpo onde todos circulam juntos. O resultado? Aumentou a segurança.
Ótima matéria Arturo, parabéns
ResponderExcluirValéria VG
Experiência prazerosa de ler!
ResponderExcluirUm dia chegamos neste nível... quem sabe?!