segunda-feira, 6 de maio de 2013

mi Buenos Aires querida


Eu ainda me sinto em casa em Buenos Aires e acredito que sempre vou me sentir. Durante muitos anos foi minha cidade de alma. Quando a situação financeira de minha família estava bem ruim era mais barato que fosse mandado para lá nas férias de verão. Ficava no apartamento de meu amado avô Arturo. Foram muitos verões, principalmente entre 1969 a 1984. Gastei muita sola por aquelas ruas, olhando apaixonado a boa e arquitetura, vários épocas e estilos, rica, charmosa, cativante. Nunca tive dinheiro para aproveitar melhor e ir a bares, restaurantes, sair a noite estava fora de cogitação, mesmo assim curti demais.

Foi em Buenos Aires que aprendi na prática a olhar a cidade. Não entendia nem gostava de São Paulo. Meu avô e os Garcia Frugoni, principalmente Fernando filho, procuravam sempre que podiam me levar junto para algum trabalho na rua ou laser. Com seu primeiro carro, Fernando ficava rodando a esmo, tanto pelo prazer de dirigir, como para “levantar unas chicas” (paquerar), no que eu era muito útil por ser brasileiro. Bons tempos... E a ‘Capital Federal’ ia passando pela janela do carro. Ou com meu avô nos ‘micros’ (ônibus). Ou então a paisagem ia surgindo degrau a degrau surpreendente e imponente, cheia de vida, a cada saída estreita do ‘subte’ (subterrâneo, metro).
Nesta época pedalar em Buenos Aires era impensável por que o carro era prático, desejável, e havia uma lei que proibia a circulação de veículos movidos a sangue, portanto bicicletas incluídas. Creio que derrubaram esta lei lá pelos anos 90. Meu pai, nascido em 1932, conta que a circulação de carroças e carruagens era comum na sua juventude, fosse para vários tipos de entrega, transporte de cargas e passageiros, cortejos fúnebres; e a av. Santa Fé então tinha calçamento em madeira justamente não machucar as patas dos cavalos.

Só vim pedalar em Buenos Aires em 2008. Foi uma experiência ótima, tranquila, mesmo conhecendo bem a rápida desordem com que se movimenta o trânsito porteño. Ficamos dois dias com bicicletas alugadas, circulando por todas as partes. Pegamos as bicicletas em Flores, fomos até o estádio do River, passamos por todo Parque Palermo, que é grande e maravilhoso, circulamos pelos bairros mais chiques, pelo Centro, enfim, gastamos os pedais. A brincadeira só acabou no dia seguinte quando, no canal da Boca, me enfiaram uma 45 automática no meio da testa e levaram minha bicicleta. Tereza atendeu meu pedido e se afastou. A história é ridícula-cômica: parei para fotografar a ponte levadiça (da foto) e no banco da rua, justamente atrás de mim, estavam tirando ‘la siesta’ três moleques assaltantes. Acordados pelo turista não poderiam deixar passar a oportunidade. Ainda tomei um murro no olho, mas a máquina fotográfica e a foto voltaram para casa.
Acabo de voltar de Buenos Aires. O que me espantou é o aumento de ciclistas circulando por todas as partes. Nunca vi uma mudança tão grande. Entre os porteños não há quem não comente o fenômeno. Meus parentes disseram que a grande mudança vem de uns dois anos para cá, se tanto. O fato é que neste meio tempo, entre 2008 e agora, foi implantado o início de um sistema cicloviário integrado que é bem interessante e funcional. As ciclovias geralmente são estreitas, tem algo próximo a 1,50m para mão dupla, posicionadas a esquerda da mão de direção da via, com uma sinalização algumas vezes precária, mas funciona. As antigas faixas para ciclistas nas avenidas principais, também a esquerda, ainda são utilizadas, tanto por ciclistas como por veículos estacionados.

Os ciclistas vão de roupa e bicicleta normal, ou seja, pedalam para transportar-se e muito pouco para estar na moda ou mostrar status, como é comum aqui. Ciclista vestido de franga pedalando bicicleta cara, ou seja, brincando de ciclista profissional ou americano rico, é raro. Tem gente treinando, mas ai estão treinando, e nos parques, não no sistema cicloviário. A maioria quer sair de um ponto e chegar noutro com rapidez e sem pegar trânsito, que cada dia está pior, mesmo a cidade sendo toda quadriculada. É difícil ver alguém barbarizando, todos simplesmente vão. Muitas mulheres e idosos, numa proporção quase dos meus sonhos para terras tupinambás, tupiniquins e até guaranis.
Experimentei as bicicletas coletivas de Buenos Aires (http://mejorenbici.buenosaires.gob.ar/) e a experiência foi boa. A bicicletinha é simples, feminina, com uma geometria de quadro bem estranha, curta e com movimento central muito alto, todas um tanto judiadas e com manutenção um tanto precária, mas rodam. Tive que fazer ajuste nos freios, que simplesmente não paravam; desentortar o cobre corrente; mas a bicicletinha rodou, mesmo que algumas vezes a catraca tenha travado e virando fixa. Pontos negativos são o canote de selim, em metal de baixa qualidade, de pouco diâmetro e curto; e o grampo de selim, em aço estampado, portanto pontudo, que marca o canote e dificulta o ajuste. A sensação é que o projeto foi feito para mulheres e não homens, principalmente os mais altos.

Circular por esta nova Buenos Aires é uma experiência para lá de agradável. É só não pegar um grupo de ‘tarados’ protestando qualquer coisa ininteligível, o que fácil acontecer, principalmente na área central.
Como já escrevi, a Argentina está uma baderna econômica, com uma cotação de dólar oficial patética, o que faz com que o dólar paralelo seja cotado a quase o dobro do oficial. Estas palhaçadas populistas costumam ser ótimas para os turistas

Deixo umas dicas:
La Biela: http://www.labiela.com/esp/home.php - tradição pura

El Cuartito - http://www.guiaoleo.com.ar/restaurantes/El-Cuartito-104 - maravilhosa pizza de massa grossa, como a romana. A casa tem longa história na boemia porteña. Experimente a pizza de cebola
Rodi Bar - http://www.guiaoleo.com.ar/restaurantes/Rodi-408 - excelente. Restaurante tradicional da comunidade que está a mais de 40 anos com o mesmo dono, cardápio, gosto... Comparado aos ditos restaurantes chiques de São Paulo dá de 10 X 0. A recomendação pode ser o cardápio inteiro, mas principalmente a berinjela é memorável.

Via Flaminia Helados, na calle Florida 121, com seu ‘Super Dulce de Leche’, sorvete de doce de leite misturado com doce de leite....
Nucha - http://nucha.com.ar/ - o bolo, ou torta, de chocolate amargo com uma fina camada de doce de leite é um crime. Não é o único crime da casa. O que não recomendo é o chocolatinho que acompanha o café, indigno da casa.

Galeria Santa Fé – av. Santa Fé quase com calle Rodrigues Peña. Pequena galeria dos anos 50 – provavelmente – patrimônio de BsAs, com um charme arquitetônico quase único. Tem um belo café.


Tealosophy – Recoleta – Hotel Alvear - http://www.citylog.com.ar/tealosophyrecoleta - uma das melhores casas de chá da América do Sul. Sabores quase inigualáveis.

Palermo Soho – principalmente a Plazoleta Julio Cortaza – é o local da moda de BsAs e tem seu charme especial. Bons lugares para comer e se divertir, dia e noite

Guido Mocasines - http://www.guidomocasines.com.ar/  - referência em qualidade de sapatos – até entre os argentinos. Maravilhosos

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